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por Rogério Coelho

 

Progredir sem cessar, tal é a lei!


A marcha do progresso é inestancável e faz parte do processo de evolução das criaturas


“(...) Aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, perscrute a sua   consciência, a   fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas”. 
- Santo Agostinho[1]


Os Benfeitores Espirituais responderam a Allan Kardec[2] que “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes”, mas que progressivamente atingiriam a perfeição, ajustados à célebre conclamação de Jesus[3]“sede perfeitos, como perfeito é o Pai Celestial”.

Existem duas modalidades de progresso que evidentemente interagem entre si: o progresso intelectual e o progresso moral, sendo que o progresso intelectual é o encarregado de abrir espaço e aplainar o caminho para o progresso moral.

O mundo apresenta hoje altos índices de intelectualidade, mas quanto à moralidade... Deixa muito a desejar!  E é por isso que estamos testemunhando nos diversos patamares da escala social tantas esquisitices e despautérios.

Com extrema sabedoria, Joanna de Ângelis ensina[4]: “a mudança dos hábitos viciosos para saudáveis exige esforço hercúleo e prolongado... Certamente, não é de um para outro momento que se anulam condicionamentos negativos, substituindo-os por novos costumes que se de­vem incorporar de tal forma que se automati­zem, funcionando sem imposições mentais. 

As fixações anteriores res­sumam amiúde, impondo falsas necessidades que, quase sempre, se fazem atendidas, reinici­ando o círculo pernicioso. Enquanto se não desperta para a valori­zação da saúde em todos os seus aspectos, particularmente naquele de natureza moral, a consciência de responsabilidade para com a vida se demora bloqueada, dificultando a alteração de conduta.  

O amadurecimento psicológico proporciona a se­leção natural daquilo que é bom e útil em detrimento do que é prejudicial e desgastante. Nessa ocasião, surge, espontaneamente, uma alteração na escala de valores humanos, que passam a ter novas medidas na prioridade de uns sobre os outros, assim proporcionando a eleição daqueles que preservam a existência em substituição aos que lhe são prejudiciais.

Essa ocorrência pode dar-se mediante o suceder de experiências, através do estudo ético e da aquisição do co­nhecimento em torno do ser real, assim como pela descoberta do significado e dos objetivos do Si sobre o ego, transitório e devorador.

A consciência, que jaz adormecida, estimulada pe­los fatores externos e as necessidades de autorrealização, libera recursos latentes, ampliando as aspirações do ser e passando a dirigir-lhe o processo renovador.  As velhas indumentárias que lhe escamoteavam a legitimidade são destruídas, e apresenta-se, esplendente, a nova proposta de harmonia e bem-estar que mais se desen­volve quanto mais se desvela.  Assim, o letargo, na comodidade do menor esforço, cede lugar à ação constante em favor do crescimento íntimo, que amplia o campo das percepções e dos interesses que pas­sam a comandar a vontade, direcionando-a para mais be­los cometimentos e realizações.

Todos os indivíduos que se dignificaram e contri­buíram para o progresso da sociedade viveram esse mo­mento de decisão, de escolha, de renovação: saturaram-se dos hábitos perturbadores e os subs­tituíram por novos processos de autorrealização; viveram momentos de transe e de dor até que se firmassem as inusitadas experiências, que se deveriam trans­formar em questões naturais, em processos de comporta­mento normal. Não poucas vezes se viram sitiados pelos costumes antigos, experimentando agonia e frustração, re­ceio e desencanto, mas não desistiram, e, por isso mesmo, lograram as modificações a que se propuseram, libertan­do-se das conjunturas infelizes.

O vício, na sua trajetória danosa, termina por consumir a vítima que o aceita como direcionador do seu des­tino. Não obstante, momento chega, no qual ele perde o encanto mentiroso e dá-se uma verdadeira revolução inter­na, que o obriga a desalojar-se, deixando o espaço para a instalação de diferentes costumes, que se incorporarão ao cotidiano, alterando, por completo, a conduta do ser.

Para que seja lograda a meta, tornam-se urgentes, a constatação dos danos sofridos e daqueles que virão mais tarde, o desejo sincero de mudar, a disposição para pagar o ônus do desafio que se aceita, a perseverança na ação iniciada. E mesmo quando ocorre alguma recidiva, em razão da fragilidade do caráter ainda não forjado na resistência que precisa ser mantida, deve-se recomeçar, sem qualquer conflito, permitindo-se o direito de tombar, mas impondo-se o compromisso de prosseguir sem desfalecimento. 

A conquista dos valores morais é árdua, enquanto que as condições viciosas já se encontram ínsitas no comportamento, em razão da sua ancestralidade em experiências anteriores por onde a criatura transitou.

Agora, portanto, é o momento da decisão e, de imediato, soa o da ação correta, mediante cujo começo se abrem as possibilidades para o êxito.

Enquanto se acredita na impossibilidade da liber­tação, ei-la, realmente inexequível, por falta de sustentação emocional para o projeto em pauta.  Aceito o raciocínio de que cada um é aquilo a que se propõe, torna-se mais fácil a execução da tarefa em delineamento.

O despertamento da consciência de valores consti­tui o passo avançado para o ser humano alcançar as metas, para as quais se encontra na Terra...”

“(...) O homem é a medida das suas realizações interiores, quando vence as paixões anestesiantes ou alucinadoras, as tendências perniciosas, os vícios escravizadores, as ambições desordenadas. Enquanto não se resolva por travar essa batalha sem quartel nem assistentes, conquistará o Cosmo e perder-se-á a si mesmo no báratro das aflições que acumula pela negligência e descontrole do instinto.

Este é um período de glórias para a inteligência e de sombras para o sentimento, porquanto uma grande nuvem paira sobre a sociedade, ameaçando-a de sofrimentos dantes jamais experimentados. Essa borrasca aterradora resulta do comportamento dos seus membros, que se não querem convencer da necessidade de desincumbir-se com distinção dos compromissos que têm pela frente.  Ao invés da renovação interior, porém, dá-se o inverso: mais mergulham nas águas viscosas do prazer e do crime, individual como coletivo, atraindo as tempestades por sobre suas cabeças.

Nunca hão faltado advertências espirituais, conclamando-os à mudança de conduta, felicitando-se com as lutas retamente travadas, tendo sempre em mira que se encontra na Terra em trânsito, não sendo este o seu lar permanente.

Autoconhecendo-se, é mais fácil a alguém conhecer, com mais precisão, aqueles que se encontram à sua volta.  Descobrindo as próprias deficiências, nasce-lhe a tolerância para com os limites que encarceram outras pessoas na ignorância e na maneira rude de se apresentarem. Trabalhando o granito dos defeitos, torna-se-lhe fácil auxiliar a lapidação de arestas outras, que se encontram fora, em diferentes pessoas.   


 


[1] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 83.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2002, q. 919 a, § 3º.

[2] - Idem, Ibidem, q. 115.         

[3] - BÍBLIA, N.T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 5. vers 48.              

[4] - FRANCO, Divaldo. Sendas luminosas. E.ed.Votuporanga: DIDIER, 2002, capítulos 29 e 30, p. 173-185.

 

 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita