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por Bruno Abreu

 

A personagem terrena


Nascemos, morremos e renascemos. Este é o movimento da reencarnação.

Quem nasce? O personagem que irá viver na Terra, pois o Espírito já nasceu há muitas reencarnações. Esse não morre nem renasce, apena vivência uma nova experiência no teatro terreno através de um personagem novo, em uma nova família, em determinado país, envolto em uma cultura local, ou em certos casos em determinadas reencarnações, em outro planeta.

Como não nos lembramos da vida de reencarnações anteriores, levamos o personagem actual de forma extremamente “séria”, como se fosse ele o ser imortal. Lutamos com os outros, conosco e com o que nos aparece pela frente, incluindo a vida.  Uma luta alimentada pela razão, pela ideia de que sabemos o que estamos a fazer, motivada pelos parâmetros do caráter que nos individualiza psiquicamente, o famoso Ego.

O caminho do crescimento espiritual é precisamente o contrário, a consciência de que este personagem é transitório, levando-nos ao desapego desta forma egoísta e orgulhosa de vida.

Aprendermos a estar com os outros, de forma indulgente, não é o abandono de nós próprios, mas o abandono do Ego que nos individualiza, jogando abaixo as barreiras que nos afastam do dos outros e de Deus, encarcerando-nos nas masmorras do individualismo.

Jesus pedia a quem o seguia para se abandonar, e este era o abandono que tinha que acontecer para que nascesse o novo homem, liberto dos velhos vícios mentais.

A proposta de Kardec é no seguimento deste ensinamento do Mestre, combatermos as nossas más tendências, abandonarmos o velho para que exista espaço para o aparecimento do novo.

As más tendências acontecem através do pensamento, do nosso próprio ser terreno. A constituição psíquica de cada um, acumula seus desejos, as suas tendências que forma o seu caráter. Novamente voltamos ao tal Ego e este é formado psiquicamente por camadas ou vibrações.

No centro do ser terreno, no seu interior mais profundo, está o Espírito, aqui é onde acontece o Reino de Deus. Descobrirmos na Terra o que somos é descobrirmos a realidade ou o Reino de Deus. Daqui nasce a paz que os Espíritos evoluídos sentem, Jesus se referia a esta parte como o Filho de Deus.

Após este ou em volta, está o corpo mental. O corpo mencionado por André Luiz. Este faz parte da composição do corpo espiritual. Quando desencarnamos, largamos o envolto terreno, o corpo físico, mas nem todos chegam a condição livre de Espírito.

Todos nós, ouvimos falar que ficamos presos à matéria, aos vícios, ao ódio, etc. Onde tudo isto vive na Terra? Em nossa mente, podemos chamar de corpo mental, e acompanha-nos no desencarne neste mesmo corpo. Este corpo mental traz necessidades que o Espirito em forma evoluída ou seja libertado deste condicionamento, não tem. Este corpo reencarna de umas vidas para as outras, levando as tendências, os hábitos que temos que combater. Podemos perceber isto, no caráter, nas tendências ou nos gostos de um bebé.

Para chegarmos ao estado de Espírito evoluído ou puro, temos que “vazar” este corpo mental, tornando-o leve e puro, chegando a desaparecer, pois este é a nossa individualidade mental, na Terra ou fora dela.

Este corpo faz parte do “famoso” perispírito, adensando-o pelo seu peso ou fluidificando-o pelo desapego aos vícios morais e biológicos terrenos. O perispírito não se esgota neste, este “corpo” é apenas parte de sua composição. É tão importante que André Luís viu a necessidade, em tempo certo, de falar sobre ele.

O corpo físico é apenas um “cavalo” que serve a reencarnação. Não é um corpo qualquer, é algo muito especial e inteligente, com um trilião de células, cada uma em sua função.  O corpo físico, ao serviço do aprendizado do ser espiritual, grava em ADN ou matéria, os nossos hábitos, os nossos desejos e tendências. Por exemplo, um fumador, o homem que opta por este vicio, quando quer deixar de fumar, tem a dificuldade acrescida por ter o vício corporal, para além do mental. O homem que permite o seu caráter desenvolver para o lado da agressividade, desenvolve no corpo humano um sistema nervoso em constante sobressalto, desestabilizando biologicamente os momentos que tenta ter calma.

Este corpo, que tem instintos próprios do ser humano, como o de reprodução ou o de sobrevivência, é um catalisador e impulsionador das nossas tendências, tornando-se o nosso “personal trainer” na Terra.

Todo este conjunto é a personagem terrena, uma personagem momentânea e passageira, como foram as outras anteriores. Se nós tivéssemos consciência disto como uma realidade absoluta, facilmente abdicávamos dos motivos das lutas, dos desejos viciantes e dos impulsos que nos cegam que trocamos pela felicidade da paz e desfrutávamos deste “teatro” terreno.  
 

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita