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por Rogério Coelho

 

Obreiros e obreiros

 

Quem muito abarca, pouco aperta.


“O trabalhador de Jesus não será tão somente o condutor de si mesmo, mas também o amigo, o orientador, o sacerdote e o médico espiritual dos irmãos sofredores.” 
- Eurípedes Barsanulfo

 

Chico Xavier foi (e será sempre) o exemplo do trabalhador bem-aventurado, organicamente frágil, mas espiritualmente fortalecido e sempre renovado em suas energias pelo Pai Celestial até o crepúsculo da sua existência que o encontrou com as mãos nas charruas do Bem incessante em favor dos Filhos do Calvário que pululam à nossa volta. Trabalhou até o limite máximo de suas forças...

“(...) e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”[1]

O obreiro sem fé jamais logrará êxito em seus empreendimentos no Bem.  Conseguirá tão somente espalhar ao seu redor a inquietação e o desânimo, pois o equilíbrio e a persistência jamais estarão presentes em seu desempenho. Terá sempre uma justificativa na ponta da língua para suas omissões e defecções...

Não é sem motivo que Emmanuel, através da luminosa mediunidade de Chico Xavier, afirma[2] que a fé sem obras não passa de perigosa embriaguez da Alma.  E como ébrio, o obreiro sem fé permanece colado ao chão do mundo, perdido no intricado báratro dos interesses subalternos quão imediatistas e transitórios, ávido que se encontra pelo usufruto das mordomias terrestres.  É a esses indivíduos que os juízes cósmicos um dia dirão[3]“(...) já recebestes na Terra a vossa recompensa, tal como a quisestes.  Nada mais vos cabe pedir; as recompensas celestes são para os que não tenham buscado as recompensas da Terra”.

A nobre mentora Joanna de Ângelis, através da não menos luminosa mediunidade de Divaldo Pereira Franco, esclarece[4] que “(...) todo empreendimento de alta magnitude enfrenta obstáculos e defecções de muitos combatentes. Entanto, exatamente por isso, merece insistência e continuidade. Se fora fácil, estaria destituído de relevância, não possuindo profunda significação para alterar as vidas que se beneficiem.

Define-te pelo que irás realizar e persevera na sua execução... Inicialmente, convence-te que é exatamente isso que deves e que podes realizar, evitando novos envolvimentos e multiplicação de compromissos que não poderás atender. Quem muito abarca, pouco aperta, afirma a sabedoria popular, conclamando à eleição de um compromisso que seja expressivo, porém, sem desvios para a diversidade que dilui o trabalho.

(...) Sê decidido no teu mister, mesmo que a sós. No princípio, serão muitas as dificuldades a vencer, e depois continuarão outras dificuldades a serem superadas.

Ninguém atinge o acume de um monte sem os problemas das baixadas. Todavia, vencendo-os, a pouco e pouco, se é compensado pela beleza e deslumbramento das alturas.  O mesmo ocorre na atividade espiritual a que te afervoras: não vivas trocando de tipo de serviço, acumulando decepções do passado e anelando por esperanças em relação ao futuro. Qualquer trabalho a executar terá sempre o seu peso moral para ser carregado. Silencia as ansiedades do coração e procura fazer o que possas. O teu serviço valerá não pelo número de realizações, mas pela qualidade dele, pelos resultados na área da beneficência e do amor, da iluminação de consciências e de libertação de vidas das algemas da ignorância.

Esta é a tua hora de realizar.  Já dispuseste de muito tempo para eleger o que fazer e deste início ao que realmente te cumpre desenvolver. Se a tua é uma terra árida, utiliza-te da adubação; se for sáfara, busca fertilizá-la; se for seca e ingrata, recorre à água generosa; mas seja qual for o tipo que tenhas para trabalhar, insiste e persevera, por­que somente o tempo futuro se encarregará de oferecer-te a resposta da sementeira que pretendes realizar”.

Lembra-nos o dr. Vitor Ronaldo Costa[5], que no início das atividades redentoras no mundo espiritual, André Luiz foi tomado de um comportamento entusiástico, como se quisesse recuperar o tempo perdido e decidiu abraçar responsabilidades que excederiam as doze horas máximas de trabalho diário recomendados na colônia. Daí ser carinhosamente advertido por Tobias para não se precipitar solicitando acréscimo de responsabilidade, pois a responsabilidade perante a rotina de vida, nos solicita honestidade, dedicação, amor ao trabalho e respeito aos limites estabelecidos.  Se observarmos as regras e contivermos o entusiasmo, certamente, atingiremos com equilíbrio e oportunidade os objetivos em mente.

Lembra-nos ainda, o confrade amigo4 que cada tipo de atividade laboriosa, se executada com sabedoria, torna-se produtiva e não sobrecarrega o trabalhador... É interessante notar que sempre ao lado dos embromadores renitentes, situam-se os responsáveis em demasia, verdadeiras máquinas de trabalhar. Há que se lembrar a esses últimos de que tudo aquilo que ultrapassa certos limites, torna-se pernicioso. É preciso analisar esta questão com o devido cuidado, para que se não peque por negligência ou excesso, pondo-se em risco a própria saúde.  O equilíbrio deve ser a baliza das tarefas.

Não podemos aqui nos olvidar que o próprio Allan Kardec foi – inúmeras vezes – advertido pelos Espíritos amigos quanto à moderação com a qual devia pautar suas redentoras e profícuas atividades, incluindo-se aí o dr. Demeure que nem mesmo a desencarnação fê-lo desligar-se dos zelos e cuidados para com o Mestre Lionês.  Na verdade, não foi fácil conter o ímpeto de trabalho do Codificador, até que, finalmente, no fatídico 31 de março de 1869, “deu-se com ele o que se dá com todas as almas de forte têmpera: a lâmina gastou a bainha”.

O importante não é se matar de trabalhar, mas trabalhar com sabedoria e senso de oportunidade na direção certa e da maneira adequada, uma vez que não podemos nos esquecer da profecia do Espírito de Verdade, quando nos adverte com sua proverbial sabedoria2: “(...) aproxima-se o tempo em que se cumprirão as coisas anunciadas para a transformação da humanidade. Ditosos serão os que houverem trabalhado no campo do Senhor, com desinteresse e sem outro móvel, senão a Caridade! Seus dias de trabalho serão pagos pelo cêntuplo do que tiverem esperado.

Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas, ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão!

Discernimento, sabedoria, eficiência, persistência, coragem, abnegação, devotamento e equilíbrio, tal a equação da saúde e dos sadios corolários no labor com Jesus.

 


[1] - Tiago, 2:18.

[2] - XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. 10. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1982, cap. 26.

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XX, item 5, § 1º.

[4] - FRANCO, Divaldo. Nascente de Bênçãos.  Salvador: LEAL, 2001, cap. 26.

[5] - COSTA, Vitor Ronaldo. O visitador da saúde” – Belo Horizonte: FONTE VIVA, 2002, 4ª parte, cap. 13.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita