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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

A serenidade da tentativa


Dentre as muitas belas passagens da vida de Francisco de Assis, destaca-se aquela na qual ele estava já idoso, um tanto adoecido, cuidando do seu jardim, quando lhe perguntaram o que faria se soubesse que ia desencarnar amanhã. O sol de Assis responde que continuaria, serenamente, a cuidar de seu jardim.

A serenidade demonstrada por Francisco tem lastro em uma vida correta, não perfeita. Uma vida na qual se tentou fazer o máximo, e que mantém o equilíbrio por conta de uma consciência tranquila advinda de se ter feito o que pôde ao seu alcance. Isso é que espera de nós a espiritualidade superior.

A serenidade da tentativa independe de resultados, se relacionando a nossa tentativa sincera de fazer o melhor, que às vezes não depende de nós. Claro, é importante buscarmos os resultados, a concretude, mas sem o apego e a vaidade de achar que vamos dominar todos os processos, nas questões por vezes insondáveis dos desígnios divinos.

Ter tentado fazer o máximo em relação àquele filho, àquele irmão, é o nosso dever. É o que nos cabe. Difícil encontrar essa serenidade quando vemos que apesar do esforço nada deu certo. Mas, é preciso lembrar que as coisas não dependem apenas de nós. Cada um tem a sua cota de participação na construção do reino de Deus, e essa visão nos leva a uma compreensão maior da vida.

Para uma ilustração final, o final de 2021 nos brindou com uma pérola cinematográfica, o filme “Não olhe para cima”, exibido pela Netflix, uma comédia dirigida por Adam McKay, e que causou grande movimentação nas redes sociais, tratando da vinda de um meteoro na direção da Terra. Se você ainda não assistiu ao filme, vou revelar alguns detalhes dele agora, o que pode prejudicar a sua experiência ao assistir.

Nessa película, com a informação já disseminada de que o meteoro se chocaria com a Terra e nada havia a ser feito, os protagonistas, que lutaram durante todo o filme para reverter essa situação, se reúnem em um jantar, um sereno jantar, para esperar o fim do mundo.

Nessa refeição, uma das protagonistas, vivida pela atriz Jennifer Lawrence, destaca que, apesar de estarem ali aguardando o fim trazido pelo meteoro algoz, eles pelo menos tentaram. Destaca de forma emocionante a bênção da tentativa, como o Francisco de Assis de outrora. Mais que um consolo, é uma certeza de que se fez o que pôde, e que as coisas aconteceram como tinham de acontecer.

Em tempos tão conflituosos, de crise, de pandemia, de tensões sociais, é preciso encontrar a serenidade da tentativa para se enxergar o que nos cabe fazer e em que momento fizemos o máximo possível, para entender que somos partes da criação, na construção de um mundo melhor, e que, como nos assevera o Espiritismo, só sofreremos o que for relevante para o nosso processo evolutivo.



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita