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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Automotivação: combustível para o espírito


Conforme nos esclarecem as entidades espirituais, voltamos ao cenáculo físico para o enfrentamento das nossas (ainda) imensas imperfeições, bem como cumprir relevantes desígnios que o Criador nos inspira a fixar. Assim sendo, cada um de nós traz em sua bagagem uma “lista” relativa ao que nos compete realizar, sutilmente gravada em nosso subconsciente. Na monumental obra, O Livro dos Espíritos, de autoria de Allan Kardec, temos (ver a questão nº 132) o esclarecimento de que Deus estabelece o mecanismo da encarnação como único meio de chegarmos à perfeição. No entanto, cumpre entender que para uns ela funciona como experiência expiatória, enquanto para outros tem o caráter de missão.

Sejam quais forem os objetivos delineados pelo Pai Celestial a nosso favor, importa compreender que para atingirmos um dia tal condição, é necessário que soframos todas as vicissitudes e reveses inerentes à via corporal. Em tal imperativo, portanto, reside a expiação. Não obstante, o outro aspecto da encarnação que devemos considerar, é o fato de que Deus nos proporciona as condições adequadas para suportarmos a parte que nos cabe na obra da sua criação. E ao obedecermos às diretrizes de Deus, cooperamos automaticamente para a obra geral e, por extensão, avançamos em sabedoria e amor.

Indo um pouco mais adiante, Kardec questionou (questão nº 576) as entidades se os Espíritos seriam predestinados à execução de uma missão importante, assim como se teriam dela conhecimento. E a resposta foi clara:

“Algumas vezes, assim é. Quase sempre, porém, o ignoram. Baixando à Terra, colimam um vago objetivo. Depois do nascimento e de acordo com as circunstâncias é que suas missões se lhes desenham às vistas. Deus os impele para a senda onde devam executar-lhe os desígnios”.

Curiosa essa resposta e ao mesmo tempo convidativa à reflexão. Conclui-se por ela que temos um plano traçado previamente pelo Criador não havendo espaço, assim, para o acaso. De modo geral, pode-se crer que, se o nosso livre-arbítrio for bem empregado, provavelmente não nos desviaremos dos objetivos estabelecidos.

Revendo recentemente este assunto, fui compelido a ligá-lo a um acontecimento digno de nota. Explicando melhor, o dia 18 de fevereiro passado ganhou notoriedade não apenas na história da exploração espacial. Recordando: a rover Perseverance, da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana), o mais sofisticado veículo de exploração já enviado pela humanidade ao espaço, pousou com sucesso em solo marciano quase sete meses após deixar a Terra. Não bastasse o extraordinário feito, que merece todos os encômios dado que coloca a nossa civilização num outro patamar nesse campo, pela primeira vez, uma aterrisagem em outro mundo foi narrada em espanhol. Algo nada desprezível considerando que o inglês é, de certo modo, a língua oficial do planeta.

A responsável por tal iniciativa foi a engenheira aeroespacial colombiana Diana Trujillo, diretora de voo dessa missão. A propósito, o objetivo desse empreendimento é encontrar vestígios de atividades microbianas no planeta vermelho. Mas, segundo o seu relato ao jornal El País, “O objetivo era que este momento histórico chegasse não só aos cientistas e aos engenheiros que falam inglês, mas também às avós, aos avôs, às mães, aos pais e sobretudo às meninas e meninos da América Latina e Espanha".

Além do fato em si, o que chama a atenção é a própria história de Diana, isto é, de como ela chegou à Nasa, assumindo um cargo tão expressivo. Num vídeo publicado pela agência espacial americana, ela esclareceu que “limpava casas” e hoje está empenhada em “descobrir se existe vida em outro planeta". A sua origem é relativamente modesta. Conforme a reportagem do UOL apurou, ela nasceu na cidade de Cali, na Colômbia, e lá viveu no país até os 17 anos, quando decidiu literalmente buscar outros horizontes indo para os Estados Unidos sem dinheiro e sem falar inglês.

A sua experiência de vida é digna de menção, pois cresceu na Colômbia na década de 1980, época em que aquele país era assolado pela violência extrema. Aparentemente, foram o medo e a insegurança decorrentes daquele cenário macabro que a impulsionaram para o céu. Diana confessou numa live que apreciava se deitar sobre a grama, sentindo o cheiro da terra e das plantas, enquanto apreciava a imensidão. Mais ainda: ela sentia segurança em simplesmente olhar para as estrelas. Em suas palavras, “É insano o quanto de paz o céu pode trazer. Nada está colidindo com nada, nada parece estar brigando. Tudo parece ótimo. Cada estrela é um mundo em si mesmo, além de serem mágicas por si só".

Ao concluir o colégio, ela se mudou para os Estados Unidos visando aprender inglês. Levou consigo apenas 300 dólares, único dinheiro que conseguiu economizar antes da viagem. Diana admitiu que a ideia de ir para o exterior tinha sido do próprio pai ao notar seu interesse pela ciência, assim como pela sua opinião de que ela poderia ter um futuro melhor no referido país. No entanto, como nada na vida são flores, ao chegar em Miami, se viu forçada a encarar a atividade de faxineira – única maneira de angariar recursos para frequentar o curso do idioma, que durou três anos. Ela relatou que um dia, “por acaso”, leu uma reportagem que aludia ao papel das mulheres na Nasa - a maioria delas ocupando carreiras de engenharia e medicina. Tal leitura lhe foi altamente inspiradora, pois, conforme contou ao jornal El Tiempo, embora não falasse fluentemente inglês, era competente em matemática. Assim sendo, decidiu que era aquilo o que iria fazer na vida profissional.

Posto isto, é inevitável ficar imaginando a “mãozinha” do Além soprando-lhe sugestões para perseguir bons caminhos e decisões... Estando na faixa dos 20 anos, ela se sentia um tanto "velha" para os padrões dos graduandos nos EUA. Apesar dessa inquietação, decidiu matricular-se no curso de Engenharia Aeroespacial na Universidade da Flórida. Durante o curso teve a oportunidade de ter mais contato com coisas tecnológicas – na verdade, apenas alguns minutos durante as aulas, em computadores sem internet. Mas também foi nessa época que conseguiu ser a primeira mulher imigrante (e hispânica) a ser admitida na Academia da Nasa, através de um programa de treinamento para estudantes universitários em que a agência espacial buscava novos talentos.

Na vida quase sempre encontramos um “padrinho”, “benfeitor” ou “mecenas” que nos abrem portas. De certa maneira, são colocados por Deus em nosso caminho para que possamos avançar em nosso plano existencial. Indubitavelmente, esse também foi o caso de Diana. Afinal de contas, pouco depois ela conheceu um pesquisador da Universidade de Maryland, cujo trabalho focava em robôs usados em operações espaciais, e que a convenceu a trocar de escola. Desse modo, Diana passou a fazer parte da equipe de pesquisa liderada por ele e, assim, obteve uma oportunidade profissional no departamento de educação da Nasa como gerente de operações da Academia. No fim de 2009, já formada, Diana se mudou para Los Angeles com o marido e participou de um processo seletivo para trabalhar no Laboratório de Propulsão a Jato da agência espacial. A partir daí, Diana se engajou ativamente em muitos projetos e, agora, não há mais limites. O seu caso é, sem dúvida, emblemático em matéria de automotivação.

Concluindo, façamos a nossa parte. Jamais deixemos de sonhar e aprender. Se estivermos, de fato, imbuídos de bons ideais e pensamentos, a nossa vez certamente chegará um dia...

O que é inquestionável é o fato de que Deus sempre zela por nós.


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita