Entrevista

por Wilson Czerski

O jornalismo espírita não é uma “coluna social” para agradar a terceiros

O jornalista Carlos Antônio de Barros (foto) é natural de Campina Grande-PB, tem 69 anos e aposentou-se como microempresário. Casado com Carmem Paiva de Barros, tem quatro filhos – da primeira união dela -, três netos e uma bisneta.

No Movimento Espírita iniciou-se na década de 1970, em São Paulo. Na área da Comunicação Social Espírita, a partir de 1980, já em João Pessoa-PB, onde reside.

Foi diretor regional de vários periódicos espíritas brasileiros, como Jornal EspíritaRevista Internacional de Espiritismo, em Matão, Correio FraternoA Voz do Espírito, de Ribeirão Preto, todos do estado de São Paulo; revista Harmonia, de Santa Catarina. Idealizador da ANESPB – Agência de Notícias Espíritas da Paraíba, substituída há pouco tempo, depois de quase dez anos, pela CEI – Central Espírita de Informação.

Fundador, editor e redator de periódicos digitais como o Kardec Ponto ComGente Espírita e Pensador, Carlos é um grande incentivador de escritores, companheiros de profissão na área espírita, artistas e divulgadores em geral.

Carlos Antônio Barros é o nosso entrevistado desta edição.

Fale-nos da sua militância no Movimento Espírita: como e quando começou, que atividades já desenvolveu e, especificamente, como tem sido a sua experiência na área da Comunicação Social Espírita?

Meu envolvimento com o Espiritismo começou em São Paulo, quando morei por lá entre os anos 1975 a 1980. Foi quando conheci o “Centro de Estudo e Desenvolvimento Espiritual Os Caminheiros”, com sede localizada no bairro Ipiranga. A instituição era administrada pela Família Gasparetto, tendo como dirigentes dona Zíbia e seu filho Antônio Gasparetto. Fui tratar-me de uma incômoda obsessão e acabei ficando com eles durante quatro anos. Aprendi muito em todas as áreas por onde passei, atuando como voluntário em trabalhos de assistência social (em núcleos da instituição, fora e dentro de favela) e como médium de psicofonia em trabalho de desobsessão. Em conversa reservada com a saudosa e estimada dona Zíbia, fiquei sabendo que voltaria a ser jornalista, mas, dessa vez, atuando na divulgação do Espiritismo, sempre defendendo e exaltando os valores das minorias sociais. A minha primeira experiência com a comunicação social espírita começou em 1980 – já morando na capital paraibana – quando comecei com um informativo vinculado ao Clube do Livro Espírita de João Pessoa, fundado com apoio de minha esposa e alguns amigos que atuavam como “agenciadores” – entregando os pacotes de literatura (mensalmente) nas Casas Espíritas frequentadas pelos associados.

Depois do informativo do CLE-João Pessoa, distribuído via Correios para simpatizantes do nosso trabalho pelo Brasil afora, surgiram os convites para correspondente e editor regional em João Pessoa dos seguintes impressos: jornal “Nova Luz” (Florianópolis, SC); revista “Harmonia” (São José, SC); “Jornal Espírita” (da FEESP, São Paulo); jornal “Correio Fraterno” (São Bernardo do Campo, SP); jornal “A Voz do Espírito” (São José do Rio Preto, SP); revista “Tribuna Espírita” (João Pessoa, PB); e a “Revista Internacional de Espiritismo” (Matão, SP). Depois dessas proveitosas experiências, com o fim do vínculo com cada um desses impressos, decidi editar o jornal “Pensador” e criar a primeira agência noticiosa espírita do Nordeste – Agência de Notícias Espíritas da Paraíba. O jornal durou pouco menos de cinco anos. A ANESPB teve suas atividades encerradas antes de completar dez anos.

Você, através da CEI – Central Espírita de Informação – é responsável por diversos periódicos no formato digital. Quais as principais diferenças para os periódicos impressos?

A CEI foi criada para substituir a ANESPB. A produção e distribuição dos seus impressos digitais – Kardec Ponto ComKardec JáGente Espírita e, agora, Pensador – é online e gratuita. Esses impressos são diagramados pela Oficina CABarros de Editoração Digital, criada para minimizar custos operacionais e de distribuição que, no caso dos impressos em papel, é bem “salgado” sobretudo no custo final de cada edição. O impresso em papel – jornal e revista – está com seus dias contados.

Algumas pessoas não concordam com a linha editorial adotada pelos órgãos noticiosos de sua responsabilidade, vendo neles, algumas vezes, um tom muito crítico em relação a posturas e mesmo pessoas. Como você responde a isso?

A linha editorial adotada por todos os impressos digitais nos quais sou editor e jornalista responsável é plural, alteritária, democrática e sem nenhuma censura prévia à liberdade de expressão. Obviamente, sem ofensas morais a quem quer que seja. O jornalismo espírita não deve se apresentar como “coluna social”, agradando “gregos e troianos” em busca de mimos e afagos de lideranças e leitores espíritas melindrosos. Tem quem goste dessa linha editorial de bajulação pessoal para obter reconhecimento daqueles que nenhum valor dá ao seu trabalho. O valor é sempre depreciado pelo interesse de quem quer usar o jornalismo espírita apenas para “aparecer” como bom moço.

Por falar em crítica, a CEI proporciona uma grande oportunidade de intercâmbio com dezenas, talvez centenas de trabalhadores espíritas como jornalistas, escritores, palestrantes, lideranças diversas, presidentes de Centros e órgãos federativos. De tudo o que você lê, vê e ouve, como está o nosso Movimento?

Na Paraíba, está excelente. Bem orientado e unificado pela Federação Espírita Paraibana e por suas eficientes coordenadorias regionais. Tudo conforme a política determinada pela Federação Espírita Brasileira. O que não inibe o surgimento de algumas diferenças e controvérsias entre dirigentes de Casas Espíritas que entendem o Espiritismo mais filosófico e científico legado por Kardec, do que aquele que os religiosos místicos – estudiosos de Roustaing e da Bíblia – ensinam como complementado e acabado.

Muita gente não alinhada à forma como as federativas conduzem o Movimento Espírita dito oficial, queixa-se de sofrer boicotes para palestrar em eventos ou na divulgação e disponibilização de livros de sua autoria, por exemplo. Já as federativas respondem que precisam exercer o controle para evitar conflitos de interpretação doutrinária e unificar pensamentos e ações. Quem está certo?

As Federações Espíritas têm uma política social e doutrinária explicitamente definida. Ou seja, trabalhadores, voluntários, associados e colaboradores são obrigados, por força do seu Estatuto, a manter uma conduta pessoal que não comprometa sua integridade histórica na condução do movimento. Tudo lá funciona na base do “faça o que eu digo...”. A hierarquia é rígida e não tolera questionamentos. Palestrantes e escritores convidados para ter acesso às suas dependências só aqueles que as Federativas Espíritas julgarem simpáticos à sua política doutrinária. Fora disso, não há como o palestrante falar e o escritor expor seu livro nessas instituições.

Qual é a posição atual dos espíritas em relação à política? A passividade é aparente e pode estar havendo algum tipo de ideologização em nosso Movimento?

Política e Espiritismo ainda não se misturam adequadamente. A questão não é ideológica, fisiológica ou maniqueísta. Parece ser de simples entendimento que a Política não se ajusta aos verdadeiros e elevados interesses que o Espiritismo deve despertar em seus adeptos. Uma nasceu para dividir o povo para melhor administrar interesses públicos e privados, quase sempre inescrupulosos. A outra, Doutrina Espírita, surgiu com propósito de educar, orientar, esclarecer e iluminar a consciência do ser humano (espírito encarnado) equivocado no trato de sua melhoria ética e moral. Quem está usando o nome do Espiritismo para criar segmento político-partidário no Movimento está perdendo seu precioso tempo. O Espiritismo não precisa da Política, como a que está sendo praticada, para oferecer uma perspectiva de futuro melhor aos seus adeptos e às minorias sociais.

Tema inevitável: o que os espíritas estão falando sobre a pandemia da Covid-19?

A origem e a causa do surgimento da doença ainda não foi investigada, nem devidamente esclarecida pelas autoridades médicas chinesas. Isso deu margem a controvérsias e especulações responsabilizando a China por todo esse caos epidêmico mundial. Espíritas religiosos e espiritualistas místicos dividiram as atenções dos seus interlocutores, nas redes sociais, com opiniões temerárias e catastróficas. A Covid-19 é um vírus que se tornou mutante de outros vírus da mesma família (Sars-Cov-2), segundo explicação dos cientistas que estão pesquisando-o para descobrir uma vacina capaz de imunizar a população mundial de sua rápida e agressiva letalidade. Fora desse contexto, tudo não passa de falácia dos “procuradores de Deus” para tudo explicar a seu modo de ver as coisas.

Você e sua esposa passaram há alguns anos por uma experiência muito difícil envolvendo um filho vítima da violência urbana. Considerando a condição de espíritas, como foi passar por tudo isso? O causador foi punido? Que tipo de sentimento prevaleceu em vocês?

A morte física do meu enteado Luiz Claudio, filho mais velho de dona Carmem, há cerca de 15 anos, deixou-nos chocados pela forma brutal e covarde do latrocínio que ele sofreu de “amigos” nos quais confiava. Se ele tivesse sobrevivido, teria ficado tetraplégico pelos danos que sofreu na cabeça e no pescoço quando foi agredido a pedradas, numa parada de ônibus próximo ao condomínio onde morava, no bairro dos Ipês, em João Pessoa. Dona Carmem não soube superar a “perda” do filho que mais amava. Daí veio a depressão do luto e, depois dos problemas cardíacos e vasculares, o pânico tomou conta de sua vida. Foram 15 anos de cuidados psicoterapêuticos com base em ensinamentos contidos em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, passes magnéticos e prática mediúnica para afastar espíritos que estavam por trás dos males psicossomáticos. Até mesmo o filho desencarnado aparecia em casa completamente fora de si, deixando dona Carmem mais perturbada, já que é portadora de mediunidade psicofônica e vidência. Quanto aos algozes do meu enteado, um deles apareceu para dona Carmem pedindo perdão pelo mal que fez. Ou seja, já havia desencarnado. O sentimento que prevalece em todos nós é de plena confiança na justiça divina, em face da fragilidade e inoperância da justiça terrena. Todos foram perdoados por nós (três criminosos) e, no tempo certo de Deus, eles serão julgados e punidos conforme a sentença determinada por suas consciências espirituais. 

JOGO RÁPIDO

Para que os nossos leitores possam conhecer um pouco mais da vida pessoal dos entrevistados, costumamos encerrar com algumas perguntas diretas e respostas esperadas também breves.

- Um escritor espírita encarnado e outro desencarnado: Octávio Caúmo (encarnado) e Deolindo Amorim (desencarnado).

- Lazer: Ler bons livros, ouvir músicas de qualidade, interagir com familiares e amigos por intermédio das redes sociais.

- Uma virtude e um defeito: Sou otimista por natureza. Fui implicante até os 50 anos de idade.

- Espiritismo: Está transformando-me em um renovado ser espiritual.

- Um sonho: Saber que ninguém mais “morrerá” de sede, fome, solidão e guerras.

- Uma lembrança: Da avó materna, dona Bia Conceição (desencarnada). Minha eterna gratidão por seu amor e sua proteção, como filho único de pais separados.

- Uma meta pessoal: Sair desta encarnação com “passaporte aprovado” para retornar ao planeta Terra depois de sua transição regenerativa.

- Uma música: “É preciso saber viver”, composição de Roberto Carlos.

- Uma esperança: Que nenhuma esperança morra definitivamente.

- Um livro (espírita ou não): Estou lendo “Os Procuradores de Deus”, de Hermínio Miranda, com selo da Editora Correio Fraterno.

- Brasil: Merece um destino melhor, sem a ingerência dos políticos desonestos e da elite gananciosa que, há 520 anos, manipulam a boa fé do seu povo.

- A vida: Como prova ou expiação, é a vida que pedimos para Deus.

 

Nota da Redação:

A entrevista acima foi publicada originalmente na edição 140 do jornal Comunica Ação Espírita, órgão de difusão da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Estado do Paraná (ADE-PR), que comemorou na última terça-feira, dia 27 de outubro, 25 anos de fundação.

A Associação mantém, além do citado periódico, o programa de TV Diálogo Espírita. As pessoas interessadas em colaborar com as atividades da ADE-PR podem fazer contato através do e-mail adepr@adepr.org.br ou acessando diretamente o website www.adepr.org.br.

O contato pode ser feito também pelo telefone (41) 3278-0961 e pelo WhatsApp (41-98881-2825). O endereço da entidade é: Rua João Soares Barcelos, 2715 B-6 Curitiba – Paraná – 81.670-080.

Há vários tipos de apoio possíveis: inscrever-se no quadro de Associados-efetivos (R$20,00 mensais), assinar o jornal Comunica Ação Espírita (R$20,00 anuais), inserir anúncios no jornal e/ou colaborar com contribuições específicas para manutenção do programa de TV Diálogo Espírita.

 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita