Artigos

por Marcos Paulo de Oliveira Santos

 

O ódio


O famoso médico Dráuzio Varella escreveu na Folha de São Paulo interessante artigo a respeito do “ódio”. Disse ele: “A depender das condições, o ódio adquire características de epidemia que se dissemina pela vizinhança, pela cidade, por um país e até por um concerto de nações. Pode ser dirigido contra uma única pessoa, contra um grupo, raça, etnia, habitantes de um país inteiro ou de uma região do planeta”.

Ainda de acordo com o esculápio, o ódio tem uma dupla feição: fazer mal a quem é dirigido e envenenar o próprio emitente.

Trata-se, portanto, de uma virulência de difícil resolução. Observamos o ódio nas relações sociais das mais diversas, quais sejam, nos grupos étnicos; nas discordâncias políticas; nas ideologias; na aporofobia; nos posicionamentos de gênero; nos segmentos religiosos; na política; nas redes sociais; nos meios de comunicação de massa; no esporte etc.

Muitos dos que são contaminados por este vírus moral demoram para se curar, porque são incapazes de refletir; de ponderar; de meditar no processo de insanidade e desumanização a que se submetem e que infligem ao outro.

Aquele que sente e propaga o ódio é brutal; irracional; irrefletido; incapaz de ter empatia e precisa de ajuda! Precisa conhecer o outro lado da vida, necessita do amor!

Nos ensinamentos espíritas acerca deste tema, encontramos a seguinte reflexão de Fénelon: “Penoso vos é o sacrifício de amardes os que vos ultrajam e perseguem; mas, precisamente, esse sacrifício é que vos torna superiores a eles. Se os odiásseis, como vos odeiam, não valeríeis mais do que eles. Amá-los é a hóstia imácula que ofereceis a Deus na ara dos vossos corações, hóstia de agradável aroma e cujo perfume lhe sobe até o seio” (KARDEC, 2015, p. 171).

Nesta hora grave da humanidade em que se enfrenta uma pandemia terrível, que tem ceifado milhares de vidas; neste momento truanesco em que se têm líderes pouco afeitos ao diálogo, à diplomacia, à paz; em que se espraiam os discursos de ódio, difamação, calúnia, contra pessoas, instituições e até mesmo, contra as evidências da Ciência; torna-se fundamental que as pessoas voltem à racionalidade, que demonstrem propensão àquilo que nos caracteriza como seres humanos, que se voltem à civilidade.

Jesus deixou o exemplo a ser seguido. Mas não só Ele. Recordemo-nos dos homens e mulheres pacíficos que abrilhantaram as páginas da História.

O amor de uma única pessoa é capaz de neutralizar o ódio de milhões. Assim o fizeram Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa ou Nelson Mandela. Sabedoria, bondade, pacifismo, generosidade são categorias que nunca estão fora de moda, preservam a nossa paz interior e favorecem a paz exterior.

O ódio deve ser combatido!

Os discursos de ódio devem ser denunciados e se deve explicar, educar, orientar quem os faz do porquê do equívoco.

Silenciar diante de um ódio no bojo de um lar ou de atitude de um policial que se ajoelha sobre uma pessoa que não oferece resistência até que ela morra é compactuar com esse vírus. 

Permitir que um líder instigue o ódio e a exclusão no âmbito de uma sociedade não pode ganhar ressonância num Estado que se diz democrático e de direitos; que se fundamenta numa Carta Magna que traz em sua intimidade o respeito à dignidade da pessoa humana.

A nós, que nos identificamos com o Espiritismo, compete pelo exemplo, pelo respeito às leis, pelo combate constitucional e legal, não permitir que o ódio grasse na sociedade brasileira.

Os duelos de ódios não podem prosperar na nação que se pretende ser a Pátria do Evangelho, o Coração do Mundo. “O Espiritismo apagará esses últimos vestígios da barbárie, incutindo nos homens o espírito de caridade e fraternidade” (KARDEC, 2015, p. 176).

 

Referência:

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 131. ed. Brasília: FEB, 2015.

        



 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita