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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 
Crianças órfãs: outra consequência da fé cega


Amplamente noticiada e celebrada pela mídia internacional, a derrota do último bastião do movimento Estado Islâmico (EI), na vila de Baghouz, no leste sírio, representa, antes de tudo, a rejeição global às ideias bizarras e extemporâneas. A tentativa de constituir uma espécie de califado no século XXI, apoiado pela violência indiscriminada, leis draconianas e desrespeito total à diversidade religiosa, não representava um ideal são. Felizmente, essa macabra iniciativa fracassou, embora tenha deixado sequelas visíveis que demandam enfrentamento. Afinal, atitudes insanas sempre deixam consequências indesejáveis.

Uma delas, lamentavelmente, são as crianças refugiadas, isto é, os filhos dos integrantes do nefasto grupo - fragorosamente derrotado. Por exemplo, num dos maiores campos de refugiados, o de Al-Hol, localizado no deserto da Síria, há aproximadamente 9000 mulheres e crianças estrangeiras apátridas. As crianças representam 65% da população total do campo – que, aliás, não para de crescer - sendo 5000 órfãs.

O campo abriga muitas mulheres estrangeiras que, inadvertidamente, se engajaram ao EI, transformando-se em esposas de soldados e militantes fiéis ao mais radical movimento religioso que se tem notícia na história humana. Portanto, os rebentos dessas infelizes uniões viram cenas dantescas, bem como conviveram e sentiram os horrores de uma guerra ensandecida promovida pelos seus próprios pais.

Em decorrência disso, as mães e principalmente as crianças não têm pra onde ir. Exceção à boa vontade de algumas poucas nações, que concordaram em receber um pequeno número desses refugiados, a maioria tem justificado receio em aceitá-las. Embora o EI tenha sido vencido, seus ideais e visão continuam vivos, influenciando as mentes de cidadãos, digamos, pouco afeitos à razão e ao bom senso. 

As crianças, frutos dessa empreitada bizarra, são, obviamente, problemáticas. Muitas são agressivas, traumatizadas, sem uma nacionalidade e escolaridade. Portanto, dada a sua origem obscura, certamente continuarão a enfrentar uma duríssima existência. Em suma, são seres indesejados praticamente em escala planetária. Os países que caridosamente aceitarem acolhê-las devem saber que enfrentarão sérios riscos, pois supõem-se que serão cidadãos com grande propensão ao desajuste social e às maléficas causas do EI.

Posto isto, qual é a identidade espiritual desses refugiados? Por que nascer e viver sob tamanhas privações? Como avançar diante de tão implacável estigma? Convenhamos, sabemos perfeitamente que Deus não erra nem se equivoca. Assim sendo, é mais do que provável que tais seres não foram arrastados para tais palcos sombrios sem uma justificável razão. Desse modo, comecemos por lembrar que o Evangelho, a mais pura fonte de revelação moral, nos informa que “... cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos”. (Lucas 6: 42-44)

Em essência, o Pai Celestial não comete injustiças. Portanto, essas criaturas foram levadas a enfrentar esse quadro porque provavelmente já faziam parte dele como incentivadoras dessa tragédia moral. A partir dessa premissa pode-se especular que lá estavam “do outro lado” atuando como duros obsessores dos imprudentes jovens soldados e suas respectivas esposas. Raciocinemos: como podem pessoas vivendo sob condições favoráveis largar absolutamente tudo pra se envolverem de corpo e alma em tal disparate?

Mas foi exatamente isso que se sucedeu. Muitos jovens de várias partes do mundo deixaram-se “seduzir” pela promessa de mudança global divisada pelo EI, que desejava implantá-la através da violência desmedida. Entretanto, tal caminho, como se sabe, sempre traz efeitos perversos. Assim sendo, e ao que tudo indica, os seus idealizadores e apologistas – os Espíritos dessas crianças - começam a pagar um justo preço, já que recebemos de acordo com as nossas obras(Matheus, 16: 27). Com base nisso, pode-se supor que muitos enfrentam agora as consequências da propagação da fé cega. Nesse sentido, pode-se prever que um longo e áspero percurso os aguarda, até poderem se escoimar definitivamente dos sentimentos malsãos, e se alinharem às tropas do amor universal. 


  

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita