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por José Reis Chaves

 

Insustentabilidade das penas sem fim para faltas temporárias


Os teólogos procuraram interpretar certos textos da Bíblia de acordo com as doutrinas que eles criaram, e para isso, inclusive, modificam também seus textos. E uma das questões mais intrigantes da Bíblia é a das penas eternas, confusa como as perguntas de concursos!

Vamos à significação das palavras eternidade e eterno e suas correspondentes em hebraico: “ôlam”, da mesma raiz do verbo “âlam”, ocultar; em grego: “aêon”; e em latim: “eternitas”, da raiz “oetas”, idade. Todas elas têm a ver com um tempo longo, oculto ou indefinido, pois dependem da quantidade de faltas que o indivíduo tem de pagar. Quem possui mais pecados tem penas mais longas. Para quem pecou menos, elas são menos longas. E, realmente, essa doutrina confere com o que ensinou Jesus quando disse que ninguém deixará de pagar tudo até o último centavo (Mateus 5: 26). E isto quer dizer, claramente, que quando o indivíduo pagar sua última falta, ele estará com seu carma completamente quitado, não tendo, pois, que pagar mais nada, o que derruba por terra, totalmente, a crença das chamadas penas eternas para todas as eternidades. As ‘penas eternas’ no sentido de sem fim como passaram a ser entendidas erradamente, seriam em grego “aidios” e em latim e português ‘sempiternas’. E, então, a Bíblia, no sentido de penas sem fim, deveria registrar em português ‘penas sempiternas’ e não ‘penas eternas’ que, como foi dito, significam penas indeterminadas ou indefinidas.

Cremos, pois, que ficou bem claro que as penas bíblicas chamadas ‘eternas’ são penas de duração temporária e não para sempre como muito foi ensinado, o que acreditamos ser mais um erro de ignorância do que de propósito dos teólogos.

Os biblistas especiais, professores de Bíblia dos padres e dos pastores de curso superior bíblico, por uma questão de bom senso e mesmo de honestidade, deveriam ensinar essa verdade para os padres e pastores que, por sua vez, passariam a ensiná-las para os seus fiéis. Aliás, grande parte desses líderes religiosos sabe disso que estamos abordando aqui nesta matéria, por que, então, não as ensinam? Seguramente, prestarão contas dessa falta no tribunal das leis de causa e efeito, denominadas também de leis da semeadura livre, mas da colheita obrigatória do que foi semeado.

No sentido errado em que se passou a entender as penas eternas, pode-se dizer que elas são verdadeiras apenas no sentido de que a existência delas jamais terá fim, ou seja, sempre elas existirão por todas as eternidades, mas não aplicadas por todas as eternidades aos indivíduos.

Observe-se que usamos essa expressão ‘por todas as eternidades’ que aparece na Bíblia, mostrando-nos que as eternidades são muitas e têm fim, pois vêm outras. E, por isso, cada uma tem certa duração que pode ser menor ou maior do que a que termina e mesmo de duração igual à terminada, mas como dissemos, trata-se de duração sempiterna apenas das leis de causa e efeito e não da aplicação sempiterna delas aos indivíduos. E eis um exemplo bíblico da expressão à qual estamos nos referindo: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmo 90: 2).

E terminamos com uma ideia de Kardec própria para o assunto desta matéria: Deus é justo, mas, por ser o seu amor infinito, esse amor não pode faltar à sua justiça! 



 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita