O Consolador
Revista Semanal de Divulgação Espírita 

 


BIOGRAFIAS


Hugo Gonçalves
(O Paizinho)
1913 - 2013

Hugo Gonçalves, o "Paizinho". Assim é conhecido e chamado, carinhosa-mente, em todo o norte do Paraná, o Missionário Hugo Gonçalves, discí-pulo de Cairbar Schutel e susten-táculo da Doutrina Espírita nesse Estado da Federação.

Já próximo dos 94 anos de idade, continua o que começou desde criança, sob a sábia orientação do saudoso Bandeirante do Espiritismo. Não apenas prega o amor e a caridade, mas principalmente os pratica. Por isso, por irradiar tanta simpatia, todos os que o conhecem de há muito ou o vem a conhecer, consideram-no uma verdadeira graça de Deus.

Em 1880 chegava ao Brasil uma família de imigrantes portugueses liderada por Francisco Ferreira e Conceição dos Santos. Dentre os filhos que constituíam a prole, chamava à atenção a caçulinha, de nome Cândida, com pouco mais de 1 ano. A família se instalou no povoado de Boa Esperança, nas proximidades de Rio Claro, no Estado de São Paulo. Alguns anos depois, em 1888, já com 20 anos e sozinho, chega ao Brasil e se instala no mesmo lugar, outro imigrante português com o imponente nome de José Maria Gonçalves. José Maria chegou sozinho, mas bem acompanhado por entidades espirituais que o conduziram até Boa Esperança, pois ali já estava sua prometida consorte e companheira de toda a vida 
 Cândida  ambos com um sério compromisso de gerarem o nosso abençoado Hugo Gonçalves. José Maria e Cândida se casaram em 1893 e mudaram-se para Matão por volta de 1897. Já, em seguida, fizeram amizade com o bondoso farmacêutico local, o Sr. Cairbar de Souza Schutel.

Hugo Gonçalves retornou ao mundo físico no dia 6 de outubro de 1913. O parteiro foi Cairbar Schutel, o qual sugeriu que o rebento se chamasse Vitor Hugo, seu autor literário preferido. Dona Cândida gostou de Hugo, mas não de Vitor.

Aos 12 anos de idade, revelou boa tendência literária, passando a escrever para o Jornal O Clarim, fundado e dirigido por seu mestre Cairbar Schutel, em Matão-SP. Vale a pena relembrar um poema que o menino Hugo escreveu nesse tempo:

MINHA ORAÇÃO

Jesus, Educador da Humanidade,
Que disseste: "Deixai que os pequeninos
Comigo venham ter..."
Ensina-me a formar os paladinos da justiça, do bem e da verdade.
Ensina-me a ensinar o bem-viver.
Com palavras, exemplos e carinhos,
Dá que eu conduza ao porto desejado
Estas almas em flor.
Que cada coração por mim tocado
Tenha perfume bom dos rosmarinhos
Onde esteja o divino amor. Que eu nunca seja pedra de tropeço,
Que eu nunca escandalize uma criança,
Que eu saiba respeitar seu coração,
Dá-me esta força poderosa e mansa,
Este dom de educar que não tem preço,
Talento, esforço, amor e inspiração.

A partir dos 13 anos, passou a trabalhar com os demais irmãos, executando duras tarefas na pedreira de propriedade do pai, tendo por companheira e instrumento, uma sisuda marreta. Ainda em plena adolescência, no âmbito escolar, todos os dias fulminava com o olhar uma bonita descendente de italianos, que descobriu chamar-se Dulce Ângela Caleffi ("A Mãezinha de Cambé"). Ela, só com o passar do tempo, veio a notar aquele olhar interesseiro. Não tardou a sentir umas fisgadas no coração. Por alguns anos o futuro romance ficou apenas na paquera.

O efetivo namoro somente se deu após a morte de Arturo, pai de Dulce, em 1930. Casaram-se no dia 21 de setembro de 1935. Por volta de 1940, já com o filho Cairbar, mudou-se para a região de Campinas, onde permaneceu alguns anos, também quebrando pedras. Retornou a Matão, agora com segundo filho, Emanuel, para continuar seu trabalho na pedreira da família. Logo depois, foi convidado a trabalhar na administração de uma grande fazenda, situada nas proximidades de Matão.

Em 1947, mudou-se para o Paraná, fixando-se na região de Londrina. Continuou a trabalhar em administração de fazendas, até 1953. Nesse ano, instalou-se em Cambé (Paraná), passando a dirigir o Lar Infantil Marília Barbosa, o que faz com muito amor e carinho até hoje.

Hugo Gonçalves teve treze irmãos, dos quais três desencarnaram ainda crianças. É o único sobrevivente da família. Diz ele porque sempre foi o mais teimoso. Tem dois filhos, treze netos, dezoito bisnetos e trinta e seis sobrinhos. É detentor de vários títulos honoríficos, pelo seu trabalho incessante e direcionado ao bem do próximo, notadamente das crianças e idosos desvalidos. Após uma semana de internamento em UTI, dona Dulce, sua adorada companheira de quase 68 anos, acometida de problemas cárdio-respiratórios, veio a desencarnar no dia 19 de maio de 2003, prestes a completar 87 anos de profícua e abençoada existência.

Em março de 2003, deu-se o lançamento do livro Hugo Gonçalves e o homem que se lembra do Sermão da Montanha. Trata-se de uma obra biográfica. A par da homenagem, é também um esforço no sentido de relegar eventual e injusto olvido de uma vida exemplar inteiramente dedicada ao amor preconizado pelo Cristo, nas décadas futuras, quando seus parentes, amigos e companheiros de hoje, já não mais estiverem no plano físico.

Instituições e Trabalhos Dirigidos por Hugo Gonçalves

Centro Espírita Allan Kardec

Fundado na década de 40, por Luiz Picinin, e mantido e dirigido por Hugo Gonçalves, desde 1953, o Centro Espírita Allan Kardec está devidamente registrado no CNPJ sob nº 75.759.399/0001-98, com sede à Rua Pará, 292, na cidade de Cambe - PR. Esse Núcleo vem funcionando, desde então, ininterruptamente. Em todos os dias há atividades. Às quartas-feiras, à tarde e à noite, há trabalhos doutrinários, com palestras, passes e distribuição gratuita de livros (sorteios). Às quintas e sextas, sessões mediúnicas. Nos demais dias, reuniões várias, inclusive de estudos do Evangelho.

A afluência de adeptos é muito grande. O auditório, que tem capacidade para umas 200 pessoas, de vez em quando fica lotado. Seguidamente, são convidados eminentes estudiosos da doutrina espírita para palestras. Tanto paranaenses como de outros Estados. Quando os palestrantes são oradores célebres, como Divaldo Franco, Raul Teixeira etc., os eventos são realizados em outros recintos mais amplos. Por esse Centro já passaram, além dos grandes oradores e palestrantes da atualidade (para citar apenas alguns: Divaldo, Raul, Baccelli, Heloisa Pires, Eliseu Mota, Felipe Salomão, Terezinha Oliveira, Richardo Simonetti, Sebastião M. Moura, Dayse Steagall Gomes, etc.), figuras eminentes como José Soares Cardoso, Eurícledes Formiga, João Leão Pitta, Urbano Assis Xavier, Sergio Lourenço e tantos outros.

Certa vez, Luiz Gonzaga, o famoso Rei do Baião, esteve em Londrina para um show. Hugo Gonçalves não deixou por menos. Depois da apresentação lhe falou sobre as crianças que mantinha no Lar e que elas gostariam muito de ouvi-lo. No dia seguinte Lua deu um magnífico show no salão do Centro.

Hugo faz "expediente" ali todos os dias, como se fosse um devotado e assíduo funcionário. Além do trabalho de direção, da coordenação das atividades, atende a numeroso público que o procura pelos mais variados motivos: ajuda espiritual, conselhos, pedidos de alimentos, roupas, dinheiro e por aí afora. Hugo não tem qualquer rendimento, a não ser uma mísera aposentadoria de um salário mínimo. Certo dia, no escritório, chegou uma senhora aparentando extrema pobreza. Queria uma ajuda em dinheiro para comprar leite e outras coisas para os filhos, alegando ter sido abandonada pelo marido. Era uma pobre de muita sorte. O caridoso Hugo devia ter recebido na véspera o seu pagamento. Ela pediu expressamente R$ 5,00. Hugo meteu a mão no bolso e arrancou o que tinha: uma única nota de R$ 50,00. Sem pestanejar, entregou-a àquela mulher. Ficou sem nada, mas feliz, pela grande felicidade que viu estampada no rosto dela. Ficamos imaginando o que Hugo pensou naquele momento. A mulher pediu cinco reais. Ele só tinha cinquenta. Como pedir troco de quarenta e cinco? Era dar tudo ou nada. Não teve dúvidas. Deu o tudo e ficou sem o nada. Mas de coisinhas em coisinhas como essa, ele vai acumulando tesouros no Reino dos Céus. Os milhões e as toneladas de ouro de nada servem na hora da verdade, da prestação de contas. A caridade é um valiosíssimo cartão de crédito que se leva.

Lar Infantil Marília Barbosa

O Lar Infantil Marília Barbosa é um Departamento do Centro Espírita Allan Kardec. Tem personalidade jurídica própria e está registrado no CNPJ sob nº 78.302.650/0001-89, com sede à Rua Dinamarca, 1.288, em Cambe - PR, com edificação no mesmo terreno onde funciona o Centro.

Quando se fala nessa abençoada e sempre sólida instituição, mister se faz lembrar de dois verdadeiros Atlas (gigante que carregava a Terra e o Firmamento nas costas) da caridade, responsáveis pelo sucesso ininterrupto há meio século: Luiz Picinin e Hugo Gonçalves.

Luiz Picinin, seu idealizador e fundador, tinha ascendência paterna italiana e materna alemã. Nasceu em Taquaritinga-SP, em 6 de janeiro de 1919. A partir dos 15 anos de idade, tomou gosto pela leitura de livros espíritas, abraçando a Doutrina. Aportou em Cambé em 1942, procedente de sua cidade natal. Enfrentou muitas dificuldades em razão dos preconceitos de que padeciam os alemães e italianos, por causa da guerra. Tal qual Hugo, que passou sua adolescência e boa parte da mocidade em duríssimo labor, Picinin trabalhou arduamente em serviços pesados. Trabalhando como saqueiro em uma máquina de café, não tardou, muito inteligente e dinâmico que era, a idealizar um negócio próprio, com seus colegas: abriram uma beneficiadora. Picinin sugeriu e todos os sócios aceitaram em destinar 20% dos lucros para obras assistenciais.

Por influência dele, a maioria se tornou espírita. O espiritismo também em Cambé não era bem visto pela população, fato que atrapalhava o negócio. Mesmo assim, não houve desânimo. Ao contrário, Picinin e seus companheiros resolveram fundar um Centro e posteriormente um albergue noturno. Quando Picinin chegou a Cambé, muitas famílias de imigrantes, desprovidas de quaisquer recursos, ficavam amontoadas na praça central, dormindo ao relento, até conseguirem alguma colocação.

Em uma noite de frio intenso, uma criança morreu enregelada. Esse fato trágico calou fundo na alma sensível de Picinin. Em visita à cidade de Nova Iguaçu-RJ, conheceu uma instituição dirigida por Leopoldo Machado, a qual abrigava crianças desamparadas. Uma imagem lhe ficou sempre viva na mente, pela generosidade e disposição para aquele trabalho: dona Marília Barbosa, professora e dedicada esposa de Leopoldo. Entusiasmado, Picinin e seus amigos espíritas resolveram criar, em Cambé, uma instituição semelhante àquela que tanto o encantara.

Aí nasceu a ideia do Lar que não tardaria a florescer. Foi inaugurado, em sede própria, no dia 29 de março de 1953. Após poucos meses, Hugo passou a dirigi-lo, contando com a colaboração essencial e o trabalho heroico e incansável de dona Dulce, sua saudosa esposa. Nesse meio século por ali passaram, em regime de internato, mais de 300 meninas.

A maioria chegou em tenra idade, saindo somente pelo casamento ou após adquirir, por profissão ou emprego, condições do próprio sustento. O Lar Infantil Marília Barbosa, em razão dos relevantes serviços que vem prestando à comunidade, desde sua fundação, é municipal, estadual e nacionalmente reconhecida como de utilidade pública. Para tanto, Hugo Gonçalves não mediu esforços e contou com o apoio da classe política. O Lar sobrevive de doações que generosamente lhe são dispensadas.

Creche

Além do internato, o Lar mantém uma bem organizada creche com todos os requisitos indispensáveis ao desenvolvimento físico e mental das crianças, em número nunca inferior a 70.

Clube das Mães

Há vários anos um grupo de senhoras vem prestando relevantes serviços ao Centro e ao Lar. São costureiras voluntárias que se revezam, de sorte que todos os dias há algumas trabalhando em sala apropriada. Fazem e reformam roupas para as internas do Lar, para as crianças da creche, bem como para os recém-nascidos de famílias carentes, nas maternidades de Cambé. Os materiais são adquiridos com recursos do Lar. Há também doações.

Gabinete Dentário

Também, há vários anos, o Centro Espírita Allan Kardec mantém um gabinete dentário em suas dependências. Todos os equipamentos, inclusive cadeira, foram doados por terceiros. O atendimento é feito por dentistas formados, do quadro de servidores do município, o qual fornece, também, os materiais necessários. Ali são regularmente atendidas todas as crianças.

Atendimento Médico

Embora contando com um consultório próprio, geralmente os atendimentos são feitos nos consultórios dos médicos. Isso em razão dos maiores recursos e maior comodidade dos profissionais que atendem gratuitamente todas as crianças da creche e internas do Lar. Toda a classe médica de Cambé colabora. Não há nenhum caso de recusa de atendimento às solicitações de Hugo Gonçalves. Quando há necessidade de tratamento mais especializado, os pacientes são encaminhados pelos próprios médicos aos colegas de Londrina, sem nenhum custo. Se os médicos não têm, em seus consultórios, amostras grátis dos remédios, estes são comprados pela Entidade.

Cestas de Alimentos

Todos os sábados, ininterruptamente, o Centro Espírita Allan Kardec distribui cerca de 100 cestas de alimentos para famílias carentes, com predominância de produtos hortifrutigranjeiros. Antes da distribuição, as pessoas que ali acorrem, em busca de alimentos para o corpo, recebem alimentos para a alma. Ouvem, no auditório, ensinamentos doutrinários. A presença não é condição para o recebimento das cestas, mas todas as pessoas, professando religiões diversas, ouvem com atenção as lições evangélicas, à luz do Espiritismo.

O IMORTAL

Esse jornal é um capítulo importante na vida de Hugo Gonçalves. Circula no Brasil inteiro, chegando também a alguns outros países. Discretamente, mas chega. Circula ininterruptamente desde dezembro de 1953. Em algumas ocasiões, quando pessoas foram visitar Chico Xavier, disse o venerado Apóstolo do Mestre, ao se identificarem como moradores de Cambé: "Ah!, de Cambé, a terra de Hugo e do Imortal? Chico era um assíduo leitor. As propagandas e o produto das assinaturas têm dado, frequentemente com déficit, apenas para cobertura das despesas de edição e postagem. Seja você, amigo leitor, também um assinante desse jornal do futuro, como o classificou Cairbar Schutel, em manifestação mediúnica. A assinatura pode ser solicitada à caixa postal 63, em Cambé, ou telefonando para (043) 254-3261. O e-mail é: jornalimortal@onda.com.br

Albergue Noturno

O albergue noturno foi também ideia de Luiz Picinin e cuja direção foi passada a Hugo Gonçalves, juntamente com o Lar. Funcionou desde 1942 até a década de 70, sendo desativado em razão da paulatina ausência de usuários.

No escritório de Hugo há um vetusto livro, bastante marcado pelo intenso manuseio que teve, onde eram registradas as entradas de usuários do albergue. Na última folha utilizada, consta a entrada de Laudelina Cândida Talara, que recebeu o nº 46.233. Esse teria sido o número de pessoas (as registradas) atendidas no albergue noturno fundado por Luiz Picinin e carinhosamente mantido por Hugo Gonçalves, até o último dia de funcionamento.

Coral

O Coral Hugo Gonçalves foi criado em 3 de agosto de 1997 e, desde então, apesar de todas as dificuldades, principalmente financeiras, vem desenvolvendo suas atividades com muita pujança e brilho. Cada apresentação é um sucesso, arrancando calorosos aplausos dos auditórios. Em seu vasto repertório estão músicas de cunho religioso e também de natureza popular e folclórica. Muitas peças encerram um conteúdo doutrinário, com ensinamentos cristãos. A regência está a cargo do competente maestro José Mário Tomal. O Coral já fez apresentações em vários Estados e participou de muitos festivais e encontros de Corais, com grupos até estrangeiros, obtendo singulares destaques. Recentemente fez uma pequena temporada no nordeste, cantando com muito êxito em Maceió e Salvador. Na capital soteropolitana, a apresentação foi na magnífica Mansão do Caminho, recebendo altos elogios de Divaldo Franco. Em razão das dificuldades financeiras já esteve várias vezes à beira da extinção. Como cada integrante paga uma cota de manutenção, hoje o número está reduzido a menos da metade. Mesmo assim vai em frente, transmitindo a todos muita alegria, enlevamento e paz.

Sexteto

Além do Coral, o Centro Espírita Allan Kardec conta com um grupo musical (ainda sem nome, mas que ficaria bem sendo chamado Sexteto Hugo Gonçalves) composto por 6 integrantes doCoral que se apresenta nas reuniões noturnas de 4ª feira, cantando músicas exclusivamente de cunho religioso. Não dispõe de um maestro, mas é orientado por Wilson, um dos integrantes, com seu conhecido violão. Um grupo bem afinado que prepara o ambiente para os trabalhos de doutrinação, esparzindo eflúvios de paz com seus cânticos suaves.
 

 


 
 

     
     

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