O Consolador
Revista Semanal de Divulgação Espírita 

 


BIOGRAFIAS


Frederico Figner
1866 - 1946

Israelita de nascimento, viveu no lar paterno os preconceitos de sua raça contra o Carpinteiro de Nazaré. Na verdade, porém, Figner, como muitos outros judeus, não tinha religião alguma.

Foi no Brasil, e quando já negociante próspero, com seu estabelecimento comercial e industrial no Rio de Janeiro e uma sucursal em São Paulo, que Figner foi chamado a conhecer a verdade. Nos últimos anos do século passado ou nos primeiros deste século, Figner travou relações de amizade com Pedro Sayão, filho do saudoso doutrinador Antônio Luís Sayão, pai da célebre cantora Bidu Sayão. Pedro Sayão, durante cerca de dois anos, frequentava sua loja e palestrava sobre Espiritismo e Cristianismo, sem que Figner se impressionasse muito pelo assunto; porém, numa de suas visitas ao seu estabelecimento de São Paulo, Figner ouviu a dolorosa história de um empregado seu, cuja esposa se achava gravemente enferma e necessitada de melindrosa intervenção cirúrgica. Ao regressar ao Rio, Figner pediu a Pedro Sayão lhe obtivesse receita para cura da enferma de São Paulo. Veio a receita e a cura da doente, sem intervenção alguma dos médicos. Foi esse fato que inclinou Figner a favor do Espiritismo.

Já impressionado com a cura da doente mediante uma receita mediúnica, Figner foi procurado em sua loja por um pobre pai de família desempregado e em penosa situação econômica. Ouviu-lhe o relato de suas aflições, deu-lhe um pouco de dinheiro e disse-lhe que voltasse oito dias mais tarde. Ao sair o necessitado, pela primeira vez na vida Figner fez um pedido ao Carpinteiro de Nazaré : Se é como dizem os cristãos que Tu tens poder, ajuda a esse pobre pai de família; arranja-Lhe trabalho e meios de vida!

Oito dias mais tarde, voltava o homem com o sorriso dos felizes e lhe narrava: “Já estou trabalhando e brevemente virei restituir seu dinheiro, Sr. Figner. Fui procurado por uma pessoa que me convidou para um emprego inteiramente inesperado“.

Figner se entusiasmou e repetiu semelhantes pedidos, com resultados sempre positivos. Em vez de pedir a Jesus, passou a pedir a Maria e igualmente os resultados não se faziam esperar. Encheu-se de fé que transporta montanhas e estudou com entusiasmo o Espiritismo e o Cristianismo. Passou a consagrar sua vida ao serviço dos outros.

Não se sabe ao certo quando se deu essa conversão, mas, em 1903, já se encontram vestígios das atividades espíritas de Figner na Federação Espírita Brasileira.

Por ocasião da gripe espanhola, em 1918, com 14 doentes em seu próprio lar e ele mesmo adoentado e febril, passava os dias inteiros na Federação, atendendo a doentes e necessitados que lá iam, em avalanches, buscar recursos para situações aflitivas.

Sua vida normal durante longos anos consistia em ir à Federação tomar ditados de receitas de diversos médiuns, chegando a tomar 150 a 200 receitas por dia e a dar passes em numerosos doentes. Levantava-se às cinco horas da manhã e, antes de ir à loja, ia à Federação, de onde só saía quando terminava esse serviço de tomar ditados de receitas. Às quatro horas da tarde lá estava de novo para orar e dar passes em doentes. E curava mesmo os enfermos, pois que seus “fregueses“, como ele lhes chamava na intimidade, cresciam sempre de números.

Como propagandista da Doutrina, manteve sempre uma seção no Correio da Manhã, que era lida no País todo. Em 1921, polemizou com o Padre Florêncio Dubois pela Folha do Norte, do Pará. Promoveu a publicação de muitos livros, custeando as edições. Foi à Inglaterra visitar o célebre Circle of Crew, onde o médium Willy Hope obtinha as famosas fotografias de extras; visitou, então, Sir Arthur Conan Doyle e outros grandes vultos do Espiritismo inglês.

Em 1920, perdeu a filha primogênita, e sua esposa ficou inconsolável. Ouvindo ele falar da médium de materialização D. Ana Prado, de Belém do Pará, decidiu-se a partir para o Norte. No dia 1º de Abril, de 1921, embarcou com toda a família. O que sucedeu naquelas sessões acha-se relatado no livro do Dr. Nogueira de Faria, intitulado O Trabalho dos Mortos, pela senhora D. Esther Figner, esposa de Frederico Figner, a qual, apenas regressando das sessões e assistida por sua filha Leontina, escrevia relato minucioso de tudo que ocorrera.

Frederico Figner nasceu na madrugada de 2 de dezembro de 1866, na casa humilde de nº 37, da rua Teynska, em Milevsko, perto de Tabor, Tchecoeslováquia, então Boêmia e parte do Império austro-húngaro.

Era, portanto, compatriota de outro missionário que como ele vinha cumprir sua tarefa no Brasil, durante longa existência como brasileiro, entre os melhores, Francisco Valdomiro Lorenz, nascido em Zbislav, perto de Tcháslav, e chegado ao Brasil dois anos depois de Figner. Ambos vinham da Pátria dos grandes mártires do Cristianismo, João Huss e Jerônimo de Praga, divulgar aqui os ideais superiores que conduziram os dois heróis aos tormentos da Inquisição. Figner e Lorenz gravitaram para a Federação Espírita Brasileira que era muito jovem quando eles chegaram ao Brasil. Figner venceu galhardamente a escorregadiça e perigosa prova da riqueza, Lorenz venceu com igual bravura os tormentos da pobreza e se tornou um dos mais cultos esperantistas do mundo, com várias obras publicadas.

Filho de pais pobres, Figner tinha que imigrar para o Novo Mundo, como faziam os jovens da Europa Central, naquele tempo. Aos treze anos sai do lar paterno e vai para a cidade de Bechim aprender um ofício. Em 1882, aos 16 anos, deixa definitivamente a terra natal. Parte com sua maleta de emigrante para Bremershafen, de onde, a bordo do vapor Elbe (como passageiro de terceira classe), ruma para os Estados Unidos só levando dinheiro para a travessia. Contava Figner um pormenor interessante dessa viagem. Sua mãe fizera e lhe dera para a viagem uma trança de pão doce. Chegando a bordo, nota que a alimentação de terceira classe é absolutamente insuportável. Divide então o seu pão doce, de sorte a bastar para todo tempo da travessia que durou 14 dias. Foi essa a sua única alimentação durante duas semanas.

Levava como modelo de conduta a tenacidade dos pais. Era o exemplo a imitar para vencer na vida.

Uma tempestade violenta foi o único incidente da travessia, mas foi-lhe rude a luta para adquirir estabilidade econômica, de sorte a manter-se e ajudar os pais e irmãos. Estados Unidos, México, América Central e, finalmente, América do Sul, foram seus campos de luta econômica. No Brasil, esse filho de Israel, encontrou sua Canaã. Estabeleceu-se, prosperou, conheceu uma jovem de peregrinas virtudes e alma de artista, D. Esther de Freitas Reys, filha de família ilustre.

Em 1897, Frederico Figner e D. Esther de Freitas Reys fundavam, pelo matrimônio, seu lar feliz. Recebia ele o prêmio de suas grandes lutas de trinta anos, mas não sonhava repouso, que não era ideal de seu caráter vibrante. Desse feliz enlace nasceram seis filhos: Rachel, Aluízio, Gabriel, desaparecidos do mundo antes do venerado genitor; Leonilda, Helena e Lélia, muito devotados ao seu velho pai.

O serviço de Figner, nas obras de assistência e no trabalho profissional, afastava-o muito do lar, mas isso não prejudicava o cultivo de um afeto extremo entre pai e filhos. Amavam-se com ardor e respeitavam reciprocamente as ideias e crenças particulares de cada um.

Ainda nos últimos dias de sua vida, distribuía ele principescamente donativos para instituições e pessoas pobres de sua amizade, guiando-se pelo coração e nem sempre pelo cérebro, e só respeitando a fortuna das filhas.

Trabalhou e serviu abnegadamente até que a enfermidade o prendeu ao leito, poucos dias antes da partida. Completou oitenta anos em 2 de dezembro de 1946 e, em 19 de janeiro de 1947, às 20 horas, partiu para o mundo espiritual, deixando abertos caminhos de luz sobre a Terra que pisara por tanto tempo.

Ao funeral compareceu uma multidão de amigos e admiradores. Diante da câmara mortuária, o Presidente da Federação pronunciou palavras de despedida e o Vice-Presidente fez uma prece. Ao descer o ataúde ao jazigo, no Cemitério de São Francisco Xavier, falaram com sentimento os Drs. Miranda Ludolf, Lins de Vasconcellos e o Capitão Silva Pinto.

A Federação Espírita Brasileira, após a morte de Figner, publicou-lhe alguns dos escritos no livro intitulado
  Crônicas Espíritas.

 
 


 
 

     
     

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