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Clássicos do Espiritismo
Ano 6 - N° 303 - 17 de Março de 2013
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

A Personalidade Humana

Fredrich Myers

(Parte 28)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro A Personalidade Humana, de Fredrich W. H. Myers, cujo título no original inglês é Human Personality and Its Survival of Bodily Death. 

Questões preliminares 

A. Que significa percepção refratada?

O exemplo que Fredrich Myers menciona diz melhor sobre o assunto do que qualquer definição. No caso da senhora Clerke (Phantasms of the Living, II, 61), seu irmão moribundo (ou morto) não conseguiu atrair a atenção dela, mas foi percebido por uma enfermeira que não o conhecia nem nunca o vira. Parece que a enfermeira foi simplesmente uma assistente dotada de sensibilidade especial, que deu mostras de ser mais eficaz do que o parentesco de sua ama. (A Personalidade Humana. Capítulo VI – Automatismo sensorial.)

B. Existe uma certa transição entre hiperestesia e telestesia?

A título de suposição, sim. Se isso for verdade, é provável que, quando a sensação periférica não seja possível, a percepção central consiga agir através de obstáculos de outro modo invencíveis. Assim sendo, pode ser que a percepção central se adapte às formas de percepção a que estão acostumadas as trajetórias centrais do cérebro, e que o conhecimento superior, o conhecimento telestésico, de alguma forma adquirido, se apresente antes de tudo, quer como clarividência, quer como clariaudiência, como certa forma da vista e do ouvido. (Obra citada. Capítulo VI – Automatismo sensorial.)

C. A solidez da matéria, qual a conhecemos, é real para os Espíritos superiores a nós?

Não parece. A matéria sensível, que vemos e tocamos, possui uma realidade “sólida” para os Espíritos constituídos de forma que tenham a sensação subjetiva de sua solidez. Mas para os outros Espíritos, dotados de outra forma de sensibilidade, para os Espíritos talvez superiores aos nossos, essa matéria sólida pode parecer discutível e irreal, enquanto o pensamento e a emoção, percebidos por vias desconhecidas para nós, representam para eles a única realidade. (Obra citada. Capítulo VI  – Automatismo sensorial.)

 Texto para leitura

666. Citarei, como exemplo de percepção refratada, o caso da senhora Clerke (Phantasms of the Living, II, 61), cujo irmão moribundo (ou morto) não conseguiu atrair sua atenção e só foi percebido por uma enfermeira que não o conhecia nem o havia visto nunca em carne e osso. Parece-me que a enfermeira foi simplesmente uma assistente dotada de sensibilidade especial, que deu mostras de ser mais eficaz do que o parentesco de sua ama.

667. Abordarei agora um novo grupo de casos, os de telestesia, onde o agente e o sujeito invadido estão reunidos na mesma pessoa, que faz uma incursão clarividente (de caráter mais sério do que as meras psicorragias descritas até aqui) e supõe uma certa recordação da cena vista psiquicamente. Essa lembrança pode não existir ou então a pessoa interessada não quer dar ciência dela. Nos casos desse gênero, como nos de telepatia de que já falei, acontece que o fantasma incursivo foi observado por um assistente e isso em circunstâncias que excluem qualquer ideia de uma alucinação subjetiva deste último.

668. A Sra. Mc Alpine estava sentada, num belo dia de verão, às margens de um lago nos arredores de Castleblaney, aguardando sua irmã que devia chegar por trem, quando, de repente, sentiu um calafrio e uma rigidez nas pernas até o ponto de não poder levantar-se do lugar onde se encontrava e sentiu o olhar fixo, como através de uma força externa, na superfície do lago. A seguir, apareceu uma nuvem negra, no centro da qual encontrava-se um homem de enorme envergadura que caiu no lago e desapareceu.

669. Dias depois inteirou-se de que um certo Espy, homem muito alto e que, de acordo com a descrição, vestia-se da mesma forma que o viu a Sra. Alpine, afogara-se naquele lago, e isso vários dias após a visão de seu suicídio, tida pela referida senhora. Ao que parece, Espy concebera de há muito a ideia de suicidar-se, afogando-se no lago de Castleblaney (informação da Comissão de Alucinações, em Proceedings of the S. P. R., X, pág. 332. O relato do suicídio apareceu no Northern Standard, de 6 de julho de 1889).

670. É possível explicar essa aparição como um simples pressentimento, como uma imagem do futuro que se apresentara, de uma forma desconhecida, diante da visão interna do sujeito. Logo, encontramo-nos na presença de casos que parecem justificar essa hipótese extrema. Mas aqui parece mais simples supor que o infeliz premeditara o afogamento, no instante em que a senhora Alpine encontrava-se sentada na margem do lago, e sua ideia foi autoprojetada, consciente ou não, de uma parte do seu eu.

671. As reflexões desse gênero se referem a um suicídio projetado e proporcionam, talvez, o exemplo mais notável da preocupação mental, relacionada com um determinado lugar. Mas tendo em vista nossa ignorância da verdadeira qualidade do pensamento e da emoção necessária para auxiliar uma incursão psíquica, não é de surpreender que em certos casos essa incursão nos pareça idêntica à que se observa nos chamados casos de aproximação, como o do coronel Bigge, anteriormente citado. O que tornou notável esse caso foi a roupa incomum, na qual estava metido o colega do coronel, enquanto que a chegada deste último ao lugar onde aparecera era um fato totalmente provável e possível.

672. Citarei agora os casos em que a chegada de um homem é inesperada, de forma que o fato de seu fantasma ser visto num lugar para o qual se dirige, antes que chegue realmente, constitui uma verdadeira coincidência. O senhor Carroll (Phantasms of the Living, II, pág. 96) viu, certa noite, em seu quarto, quando ainda não pensava em deitar-se, a imagem de seu irmão que vivia em Londres, enquanto ele vivia em Sholebrook Lodge, Towcester, Northamptonshire. Assustou-se um pouco com a aparição e, antes que tivesse tempo de se recobrar da emoção, ouviu que o chamavam, através da janela do quarto: era seu irmão, desta vez em carne e osso, que viera expressamente de Londres para vê-lo, sem anunciar-lhe previamente sua visita. Temos de acrescentar que o irmão de Carroll desconhecia o local onde habitava este último e, como ele mesmo disse, encontrou a casa e chamou à janela, certo de encontrar o irmão naquela casa e atrás daquela janela.

673. Eis agora um caso de pressentimento auditivo de uma chegada (Phantasms of the Living, II, pág. 100). O senhor Stevenson estava em sua casa, sentado junto à sua esposa. Eram 19 horas. O quarto encontrava-se em silêncio, quando distinguiu claramente estas palavras: “David chega”. Pensando que sua mulher as pronunciara, interrogou-a; mas ela assegurou-lhe que não dissera uma só palavra. David era o irmão de Stevenson, que tinha o hábito de sair todas as tardes entre as 5 e 6 e não voltava nunca antes das 10. Mas não transcorreram mais do que três minutos, desde que Stevenson ouvira a frase citada anteriormente, quando a porta se abriu e David entrou, sem que o esperassem àquela hora.

674. Não acho necessário dizer que minha hipótese de uma manifestação real do espaço que se acha transformado num centro fantasmogenético aplica-se tanto à voz fantasmal como às figuras fantasmais. A voz não se distingue acusticamente, nem a figura é vista oticamente. Mas uma voz fantasmal pode vir de determinado lugar, no usual sentido da palavra. Sem dúvida, nos casos como o de Stevenson, onde a voz foi ouvida somente por uma pessoa, é mais simples supor que a trajetória auditiva do sujeito invadido foi o único trecho do espaço afetado.

675. Esses casos de telestesia e outros semelhantes têm como particularidade a incursão psíquica que não supõe qualquer aquisição de conhecimentos supraliminares. Existem, não obstante, casos caracterizados por uma verdadeira aquisição de novos conhecimentos. De que forma se realiza essa aquisição?

676. Esses conhecimentos podem, primeiramente, ser adquiridos graças ao acréscimo do potencial dos sentidos comuns. Outras vezes a aquisição é feita por intermédio de artifícios particulares que utilizam os sentidos comuns num caminho novo, como na cristaloscopia. Um terceiro modo é constituído pela telepatia, que frequentemente adquire a forma da telestesia pura, quando o Espírito incursivo é atraído não por outro Espírito distante, antes por uma cena distante. Finalmente, acredito ser útil rememorar que os exemplos mais notáveis de telestesia aqui citados produziram-se principalmente sob a forma de sonho e visão.

677. Existe um meio de relacionar entre si todos esses diversos meios de percepção? Podemos encontrar, no próprio estado do sujeito invadido, um elemento que seja comum a todos? Até determinado grau é possível essa coordenação. Assim, a telestesia é caracterizada quase sempre por uma tendência a algo semelhante ao sonho; e, ainda que a hiperestesia se observe, às vezes, entre pessoas totalmente acordadas, constitui um atributo característico dos estados sonambúlicos.

678. Durante o desenrolar de nossa discussão sobre o hipnotismo, vimos que às vezes era possível estender, mediante uma sugestão gradual, a potência perceptiva do sujeito, até o ponto de transformar uma hiperestesia, que pode inclusive aplicar-se pela ação dos órgãos dos sentidos, numa telestesia que não explica essa ação. Note-se que, nos casos desse gênero, os sujeitos, ao descreverem suas sensações, falam, com frequência, de impressões recebidas ou de imagens vistas, como se estivessem colocados diante deles; outras vezes acreditam estar viajando e visitar cenas distantes; ou, igualmente, a sensação oscila entre os dois gêneros de impressão, da mesma forma que o sentido da relação do tempo na imagem vista oscila entre o presente, passado e futuro.

679. Os fenômenos de cristaloscopia apresentam analogias bastante estreitas com todas essas sensações tão complexas. Insisti sobre o fato curioso de que o simples artifício de olhar num cristal tem como efeito provocar fenômenos que pertencem a todos esses grupos diversos. Em si, as imagens que no cristal apresentam o mesmo aspecto podem ter origens diversas e estar acompanhadas de determinadas sensações, não só da sensação de contemplação, mas também (ainda que raramente) da possessão, bilocação e presença psíquicas entre as cenas desenhadas no cristal, mas que não estão limitadas nem contidas nele.

680. Essa ideia da incursão psíquica deve, portanto, ser reconciliada com o caráter frequentemente simbólico dessas visões. Na cristaloscopia, trata-se, com frequência, não de uma simples transcrição de fatos materiais, antes de uma seleção sucinta que age entre esses fatos e, inclusive, de uma modificação audaciosa desses mesmos fatos, com o fim de tornar o relato da história mais claro e completo. Conhecemos essa mesma sucessão de cenas simbólicas no sonho, no sono e na vigília.

681. Um elemento semelhante é comum a todas as visões telestésicas, indício de que o Espírito colaborou na construção da imagem, de que a cena não foi apresentada, por assim dizer, na sua objetividade crua, antes com uma certa seleção de detalhes e um certo simbolismo, no modo em que estes foram apresentados.

682. Vejamos agora o modo pelo qual essas particularidades afetam as teorias que concernem ao mecanismo da clarividência. Suponhamos primeiro que existe uma certa transição entre hiperestesia e telestesia, de forma que quando a sensação periférica não é possível, a percepção central pode agir sempre através de obstáculos de outro modo invencíveis. Assim sendo, é muito provável que a percepção central se adapte às formas de percepção a que estão acostumadas as trajetórias centrais do cérebro, e que o conhecimento superior, o conhecimento telestésico, de alguma forma adquirido, se apresente antes de tudo, quer como clarividência, quer como clariaudiência, como certa forma da vista e do ouvido.

683. Essa vista e esse ouvido telestésicos guardam, contudo, certos resquícios de sua origem inusitada. Apresentam, por exemplo, uma coordenação imperfeita com as sensações visuais e acústicas proporcionadas pelos órgãos externos e, como constituem, por assim dizer, uma tradução de impressões supranormais, em termos sensoriais, apresentam, com certeza, um caráter simbólico.

684. Em cada uma das etapas de nossas investigações tropeçamos com essa tendência ao simbolismo subliminar. Como exemplo de sua forma mais simples, citarei aqui o caso do estudante de botânica que, passando distraidamente diante de um restaurante francês, acreditou ter lido no cartaz: Verbascum Thapsus. Mas a palavra que realmente estava impressa era Bonillon; e a palavra Bonillon constituía a designação francesa vulgar da planta Verbascum Thapsus. Aqui produziu-se uma transformação subliminar da percepção ótica real, e as palavras Verbascum Thapsus foram uma mensagem enviada ao eu supraliminar distraído, pelo eu subliminar, mais preocupado com a botânica do que com a comida.

685. Sabemos ainda que nossa própria percepção ótica é, no seu gênero, simbólica no mais alto grau. A cena que a criança vê instintivamente, que o pintor impressionista trata de ver, através de uma autossimplificação forçada, é muito diferente da forma pela qual um homem maduro comum interpreta o mundo visível e se representa a distribuição das cores. Mas nos adultos adotamos, a respeito do simbolismo subliminar, a mesma atitude que tem a criança sobre nosso simbolismo ótico aperfeiçoado.

686. Da mesma forma que a criança não capta a terceira dimensão, nós não captamos a quarta, ou o que quer que seja a lei do conhecimento superior, que dá ao homem, de forma fragmentada, o que seus sentidos comuns são incapazes de discernir.

687. Não quero dizer, de forma alguma, que todo conhecimento simbólico seja um conhecimento que nos vem de um Espírito externo ao nosso. O simbolismo pode ser a linguagem inevitável, através da qual uma das camadas de nossa personalidade se comunica com outra. Resumindo: o simbolismo pode ser a lembrança psíquica, mais fácil ou possível, dos fatos objetivos atuais, e esses fatos podem ter sido fornecidos nessa forma por outros Espíritos, dispostos para serem digeridos pelo nosso, como o alimento normal é elaborado tendo em vista a nossa digestão corporal, a partir de um primitivo estado de crueza.

688. Do ponto de vista idealista, podemos, contudo, nos perguntar se nos casos desse gênero existe uma diferença real entre o simbolismo e a realidade, entre o subjetivo e o objetivo, no sentido comum dessa palavra. A matéria sensível, que vemos e tocamos, possui uma realidade “sólida” para os Espíritos constituídos de forma que tenham a sensação subjetiva de sua solidez. Mas para os outros Espíritos, dotados de outra forma de sensibilidade, para os Espíritos talvez superiores aos nossos, e mais numerosos que os nossos, essa matéria sólida pode parecer discutível e irreal, enquanto o pensamento e a emoção, percebidos por vias desconhecidas para nós, representam para eles a única realidade.

689. Este mundo material constitui, com efeito, um “caso específico”, um exemplo simplificado, entre todos os mundos perceptíveis aos Espíritos encarnados. Para os Espíritos desencarnados não é já um “caso específico”; é-lhes, aparentemente, mais fácil discernir os pensamentos e as emoções com ajuda de signos imateriais. Todavia não estão desprovidos totalmente da faculdade de perceber as coisas materiais, como os Espíritos encarnados não estão desprovidos da faculdade de perceber as coisas imateriais, as emoções e as ideias, simbolizadas de forma fantasmal.

690. Parece emanar dessas reflexões a existência de uma contínua transição da telestesia à telepatia, da percepção supranormal de ideias existentes nos outros Espíritos à percepção supranormal do que conhecemos como matéria. (Continua no próximo número.) 




 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita