Deus, o Servidor
“Quando Deus
quer suscitar
florestas, usa
pequeninas
sementes; quando
deseja encher
oceanos, se vale
de gotas d’água;
na construção de
mundos, utiliza
átomos; quando
quer redimir o
mundo pelo amor,
coloca uma
criança numa
manjedoura.”
– Anônimo
(Reformador
mar/81, p. 92).
No Youtube,
pode-se ouvir a
íntegra da
inspirada canção
de Gilberto Gil
– do disco LP
(vinil) editado
em 1981: A gente
precisa ver o
luar – e
dedicado à
memória de John
Lennon: “Se
eu quiser falar
com Deus,
(...) Tenho
que calar a voz.
(...)
Tenho que ter
mãos vazias,
(...) Tenho
que aceitar a
dor”.
Será Deus
invenção dos
homens?
O Livro dos
Médiuns
– Cap. XXVII,
item 301, 5ª –
admite
Sua existência,
quando registra:
“O essencial é
que (pessoas)
pratiquem o bem
e não façam o
mal. Para isso,
não há duas
doutrinas. O bem
é sempre o bem,
quer o façais em
nome de Alá,
quer em nome de
Jeová, visto que
existe um só
Deus para o
Universo
inteiro”.
Em o Antigo
Testamento,
conceito
semelhante é
expresso –
Isaías (1:15 a
17): “Que me
importa a
abundância das
vítimas? Julgais
que me contento
com o seu sangue
e os seus
holocaustos?
Tenho em
abominação os
vossos hinos, as
vossas festas e
as vossas
orações.
Purificai os
vossos corações;
tirai das minhas
vistas a
iniquidade dos
vossos
pensamentos; não
continueis a
praticar obras
perversas;
aprendei a fazer
o bem; procurai
adquirir o
discernimento;
socorrei o
oprimido; fazei
justiça ao órfão
e defendei o
perseguido”. –
CANTU, Césare.
História
Universal.
V. I. São Paulo:
Editora das
Américas, 1958,
p. 280.
Perde-se, pois,
na memória dos
tempos, uma vez
que é inata no
ser humano, a
crença em um Ser
superior. Não há
como precisar
seu início. Os
pagãos cultuavam
deuses
mitológicos; os
índios, o Deus
sol, o Deus lua.
Lemos em O
Livro dos
Espíritos:
Q. 1: “Que é
Deus?
Deus é a
inteligência
suprema, causa
primeira de
todas as
coisas.”
Q. 5: “Que
consequência se
pode tirar do
sentimento
intuitivo, que
todos os homens
trazem em si, da
existência de
Deus?
Que Deus existe;
pois, de onde
lhes viria esse
sentimento, se
não se apoiasse
em alguma coisa?
É ainda uma
consequência do
princípio de que
não há efeito
sem causa.”
Q. 6: “O
sentimento
íntimo que temos
da existência de
Deus não seria
fruto da
educação e das
ideias
adquiridas?
Se assim fosse,
por que os
vossos selvagens
teriam esse
sentimento?”
Na questão 13,
do mesmo livro,
lemos que, do
ponto de vista
humano, Deus é
“(...) eterno,
infinito,
imutável,
imaterial,
único,
onipotente,
soberanamente
justo e bom”.
Contudo, os
Espíritos
Superiores
dizem-nos que há
aspectos da
Divindade que
nossa
inteligência não
alcança e que
nossa linguagem
não expressa.
E mais: que Amor
e Conhecimento
nos aproximam
Dele.
*
Pestalozzi
(1746-1829)
preceitua: “Deus
fica perto de
onde as pessoas
demonstram amor
umas às outras”.
Jesus
ensina-nos:
“Aquele que não
ama não conhece
a Deus, pois
Deus é amor”. –
I Jo 4:8;
“Eu, porém, vos
digo: Amai os
vossos inimigos
e orai pelos que
vos perseguem;
para que vos
torneis filhos
do vosso Pai
celeste, (...)”
– Mt. 5:44/5.
Assim, o amor
recíproco nos
torna irmãos e
identifica-nos
como filhos de
Deus.
Ele é, para nós,
o maior exemplo
de humildade:
age tão
imperceptivelmente
que, em nossa
cegueira, não
vemos suas
ações. Sua obra
fala por Ele; de
Sua bondade,
sabedoria e
grandeza, a
partir do Mestre
a quem nos
confiou. Sejamos
dignos deles!
No Universo,
quanta beleza!
Em toda parte
vida, movimento!
Céus, Terra,
mar, astros,
planetas,
estrelas –
soltos no espaço
e não se chocam!
E a variedade de
árvores, de
seres vivos, de
frutos, de
cores, sabores e
formas!
Suas Leis tudo
governam: desde
o crescimento
das plantas (na
semente, em
potencial, está
a árvore) à rota
dos astros! Tudo
lembra Deus;
tudo fala do
Criador!
Atentemos para o
macro e para o
microcosmo –
este inacessível
aos cinco
sentidos a olho
nu!
Ao ler Voltaire,
num quintal, via
e ouvia
manifestações da
vida: árvores,
borboletas,
formigas,
minhocas,
passarinhos,
latidos de cães,
vozes de
crianças a
brincar...
Muitos não
sentem Sua
presença e
outros até
negam-Lhe a
existência. Mas
Deus é o Supremo
Servidor: serve
generosa e
anonimamente.
Gabriela
Mistral (Poetisa
chilena –
1889/1957), em
belíssimo poema,
leciona:
“DEUS, O
SERVIDOR”
Toda a natureza
é um anelo de
‘serviço’.
Serve a nuvem,
serve o vento,
serve o sulco.
Onde houver uma
árvore para
plantar,
planta-a tu;
onde houver um
erro para
corrigir,
corrige-o tu;
onde houver uma
tarefa que todos
recusam,
aceita-a tu.
Sê quem tira a
pedra do
caminho,
o ódio dos
corações
e as
dificuldades dos
problemas.
Há a alegria de
ser sincero e de
ser justo;
há, porém, mais
que isso, a
formosa, a
imensa alegria
de servir.
Como seria
triste o mundo
se tudo já
estivesse feito,
se não houvesse
uma roseira para
plantar, uma
iniciativa para
tomar!
Não te seduzam
as obras fáceis.
É belo fazer
tudo o que os
outros se
recusam
executar.
Não cometas,
porém, o erro de
pensar
que só tem
merecimento
executar as
grandes obras.
Há pequenos
préstimos que
são bons
serviços:
enfeitar uma
mesa, arrumar
uns livros,
pentear uma
criança.
Aquele é quem
critica,
Este é quem
destrói,
Sê tu quem
serve.
O servir não é
próprio de seres
inferiores.
Deus, que nos dá
o fruto e a luz,
serve.
Poderia
chamar-se: o
Servidor.
E tem seus olhos
fixos em nossas
mãos e nos
pergunta todos
os dias:
Serviste hoje? A
quem? À árvore,
ao teu amigo, à
tua mãe?”
Fonte:
Reformador, fev/77,
p. 63.