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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 293 - 6 de Janeiro de 2013

MILTON SIMON PIRES 
cardiopires@gmail.com

Porto Alegre, RS (Brasil)
 


Vingança e perdão na Ilíada - A contribuição de Homero para a Doutrina Espírita 


Há alguns dias atrás realizei um sonho: concluir a leitura completa da Ilíada. Curioso a respeito de uma história de aproximadamente três mil anos, eu imaginava o porquê de sua importância para a literatura e para a própria cultura ocidentais sem conseguir perceber sua ligação com a nossa tradição filosófica e religiosa. Terminado o livro, decidi pesquisar um pouco a vida de Homero e saber quanto de verdade histórica pode haver no legado que nos deixou. É sobre isso que quero escrever aqui. Até onde consegui entender, ninguém pode afirmar com certeza se existiu alguém chamado Homero. Se de fato existiu, presume-se que tenha escrito a Ilíada aproximadamente 500 anos depois dos fatos apresentados no poema que leva esse nome. A chamada Guerra de Troia, ou Guerras Troianas, como dizem alguns autores, teriam ocorrido por volta século XIII A.C., no final da chamada Idade do Bronze. Assim, entre 1280 e 1250 antes da nossa era, o mundo teria assistido à maior reunião de forças militares até então jamais ocorrida, e realizada com o objetivo de atacar o Reino de Troia. Mais do que o feito militar em si, a importância reside na formação da própria identidade da Grécia como nação e é fundamental compreender que os relatos apresentados na Ilíada e na Odisseia são aquilo que existe de mais próximo de uma "Bíblia da Grécia Antiga". Tal afirmativa pode ser feita à medida que compreendemos que não existia até então um país ou reino conhecido como Hélade. Micenas, Esparta, Ítaca e tantos outros correspondiam a cidades-estado que, compartilhando de uma mesma língua, teriam se unido aos chamados Átridas (Menelau e Agamenon) em virtude de um juramento em defesa da honra destes governantes. Atribui-se ao rapto de Helena a causa da Guerra de Troia. Ocorre que, além de não sabermos se houve ou não tal batalha (já que não existe prova histórica definitiva), jamais se encontrou qualquer indício da existência ou não de uma mulher com esse nome. 

Mas, se não sabemos se existiu ou não (com certeza absoluta) uma cidade com nome de Troia, se não é possível comprovar a existência histórica de personagens fundamentais da Ilíada, como Aquiles, Agamenon e Heitor, e se a própria existência do autor desta epopeia - Homero - é questionada, como explicar que esta história tenha atravessado 3 mil anos inspirando poetas, pintores, escultores...? Como aceitar que ela tenha se tornado uma espécie de cânone da cultura ocidental servindo de base para vários temas da filosofia e com seus deuses e mitos ajudando a criar as próprias bases da psicanálise?

Longe de querer apresentar uma resposta definitiva, faço aqui apenas uma proposta (sem falsa modéstia, nada original): - Atribuir toda genialidade do autor a um fato inédito até então em qualquer obra escrita: a sacralização do humano e a humanização do sagrado. Explico. Homero nos apresenta uma história em que humanos têm atitudes divinas, e os deuses da mitologia, atitudes humanas. Sem questionar a existência ou não de Zeus, Hera, Atena, Apolo e tantos outros, é maravilhoso perceber que tanto eles como os personagens humanos da Ilíada e da Odisseia são vítimas das mais primitivas emoções e ao mesmo tempo capazes dos atos mais divinos de caridade e compaixão.

Lendo alguns textos acadêmicos a respeito da Ilíada, me pareceu que aos pesquisadores frequentemente coloca-se (entre outros dilemas) a questão: se Homero quis apresentar uma obra que mostra a História através de um poema, ou se era sua intenção escrever um poema que fizesse História. Mais uma vez, acredito que não há resposta para esta pergunta. Ela vai acabar se somando à chamada "Questão Homérica" – que discute inclusive se teriam sido um ou mais os autores da Ilíada e da Odisseia.  Apesar disso, o que me parece livre de discussão é entender que, do ponto de vista espírita, são a vingança e o perdão os temas principais da Ilíada e que, entre todos os outros, é Aquiles seu personagem fundamental. Aquiles, apesar de sua origem em parte divina, é um dos mais humanos personagens de Homero. São seu orgulho, vaidade e apego à matéria que atravessam toda Ilíada e que são a fonte de sua glória e, ao mesmo tempo, de sua desgraça. Irritado com Agamenon, que lhe tomou a escrava Briseide, ele se retira da Guerra de Troia levando assim grandes derrotas aos exércitos gregos e, orgulhoso, só muda sua decisão por ocasião da morte do amigo Pátroclo. A partir deste ponto de vista, a ira de Aquiles e sua vingança contra Heitor são o ponto máximo da narrativa de Homero. Ainda que permeada de episódios mediúnicos, toda Ilíada não alcança (do ponto de vista da Doutrina) o seu verdadeiro sentido até o chamado "Canto XXIV", quando Homero, de forma comovente, nos descreve o episódio em que Príamo - máximo de Troia - vai até a tenda de Aquiles e, em lágrimas, implora que este lhe permita levar o corpo do filho Heitor para prestar-lhe as devidas homenagens. Choram, tanto Aquiles quanto o pai de Heitor, e é somente naquele momento de reconciliação que existe alguma paz nesta epopeia.

Mesmo sabendo que a guerra não termina assim, que Troia depois foi invadida e destruída, é impossível deixar de perceber, entre tanta desgraça, a clara alusão feita por Homero à ideia de que são a caridade o perdão o único caminho para a paz entre os povos. Talvez tenha sido essa a maior mensagem que a Ilíada deixou e a razão de, ainda hoje, sua história atravessar o tempo.


O autor é médico em Porto Alegre, RS.


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita