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Clássicos do Espiritismo
Ano 6 - N° 288 - 25 de Novembro de 2012
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 


A Personalidade Humana

Fredrich Myers

(Parte 13)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro A Personalidade Humana, de Fredrich W. H. Myers, cujo título no original inglês é Human Personality and Its Survival of Bodily Death. 

Questões preliminares 

A. Que fenômeno é chamado por Myers de visões hipnagógicas?

Esse é nome dado às imagens vivas que surgem diante da visão interna de determinadas pessoas, entre o sono e a vigília. Alfred Maury foi quem lhes deu esse nome. As visões podem apresentar-se no momento em que o sono se dissipa ou no momento em que se inicia. Nos dois casos, as visões estão totalmente unidas aos sonhos, mas as “ilusões hipnagógicas” renovam-se, às vezes, nos sonhos. (A Personalidade Humana. Capítulo IV – O sono.)

B. Que diferença há entre as imagens hipnagógicas e as hipnopômpicas?

As primeiras – hipnagógicas – ocorrem no momento em que o sono se inicia. As imagens hipnopômpicas produzem-se no momento em que o sono se dissipa, mas nem por isso são menos notáveis. É que, frequentemente, uma figura que era parte num sonho continua sendo observada sob a forma de uma alucinação, durante os primeiros instantes que se seguem ao sono, o que prova a força dessa capacidade visionária que engendra os sonhos. (Obra citada. Capítulo IV – O sono.)

C. Há sonhos que desempenham o papel de uma sugestão pós-hipnótica potente?

Sim. Exemplo disso é o que foi relatado por Kraft-Ebbing, no qual uma enferma de nome Ilma S., ao despertar do sonho, apresentava dores em certa região do corpo e mantinha firme o propósito de se confessar com o sacerdote de determinada igreja, tal como lhe fora sugerido durante o sonho. (Obra citada. Capítulo IV – O sono.)

Texto para leitura

283. A ruptura da consciência está associada, em certo grau, a uma modificação fisiológica potente, o que vale dizer que mesmo nos casos de sono comum momentâneo observamos já a aparição dessa energia reparadora especial, que é característica do sono prolongado e que alcança, como veremos adiante, um grau ainda mais elevado durante o sono hipnótico.

284. Essa energia reparadora se encontra além da linha vermelha do espectro de nossa consciência desperta. Nessa região obscura enxergamos somente um crescimento de potência e de domínio sobre as funções fundamentais da vida corporal. Mas, se passamos além dos limites do espectro da consciência desperta, quando chegamos ao domínio dos músculos voluntários ou à capacidade sensorial, percebemos que nossa comparação entre o sono e a vigília torna-se bem menos simples.

285. De um lado, constatamos uma lacuna geral e a ausência de qualquer controle sobre o domínio das energias despertas, ou melhor, como no sono parcial, uma simples paródia fantástica dessas energias num sono incoerente. Por outro lado, constatamos que o sono é capaz de estranhos desenvolvimentos e que à noite pode, às vezes, superar subitamente as operações mais complexas do dia.

286. Tomemos, primeiramente, o controle sobre os músculos voluntários. No sono comum, esse controle não existe nem é desejado; no pesadelo, a perda desse controle está exagerada de uma forma quase histérica e dá lugar a um imenso terror; enquanto que no sonambulismo, espécie de personalidade desenvolvida ad hoc, o que dorme, como mais tarde veremos, atravessa os caminhos mais perigosos com passo firme.

287. De modo geral, o sonambulismo mórbido é, com relação ao sono normal, o que a histeria é com relação à vida normal. Mas entre o sonâmbulo sadio e a vítima de um pesadelo constatamos, de outro ponto de vista, uma diferença que lembra a que existe entre o homem de gênio e o histérico. Como o homem de gênio, o sonâmbulo coloca em jogo recursos inacessíveis ao homem comum e ao estado normal.

288. Por outro lado, da mesma forma que entre alguns histéricos certos movimentos comuns caem sob o controle da vontade, da mesma forma o sonhador que deseja vagamente mover uma perna intumescida é, com frequência, incapaz de dirigir-lhe uma corrente de energia motriz suficiente para efetuar a mudança de posição desejada. Essa incapacidade angustiante de movimento que sentimos no sonho “quando o que foge é incapaz de fugir e o que persegue incapaz de perseguir”, essa sensação que Virgílio e Homero tomaram como o tipo de extravio paralisante, constitui precisamente a abulia dos histéricos, esse estado em que um homem leva meia hora para colocar o chapéu, enquanto que uma mulher passa uma tarde inteira contemplando seu bordado sem ser capaz de dar um único ponto.

289. O termo “sonambulismo” é, no entanto, demasiado vago e indefinido para nossa presente discussão. Somente através da comparação com o hipnotismo, no capítulo seguinte, chegaremos a um conceito um pouco mais claro a respeito dos estados de semivigília.

290. Consideremos a capacidade sensorial encefálica, a capacidade da “vida espiritual”, tal como se manifesta no sono ou no sonho. Aqui encontramos a mesma que preside a capacidade motriz, isto é, de maneira geral a capacidade sensorial está obscurecida e inibida pelo sono, mas também existem indícios de um poder persistente, com a mesma vivacidade anterior e, às vezes, mesmo com uma acuidade mais evidente.

291. À primeira vista, parece paradoxo falar de hiperestesia durante o estado de sonolência; de sensação viva num estado descrito geralmente como caracterizado por um toldar ou extinguir progressivo dos sentidos. E, naturalmente, na produção de imagens interiores, mais do que nas percepções de imagens exteriores, se manifestará a atividade durante o sono.

292. Existe um fenômeno que, apesar de sua frequência relativa e de sua evidência, passou, até agora, inadvertido à ciência, nisto semelhante a tantos outros fenômenos humanos que apresentam um interesse mais científico do que terapêutico. Baillarger, na França, e Griesinger, na Alemanha, foram os primeiros (por volta de 1895) a chamar a atenção sobre as imagens vivas que surgem diante da visão interna de determinadas pessoas, entre o sono e a vigília. Alfred Maury, o conhecido helenista, deu, alguns anos mais tarde, a essas imagens o nome de ilusões hipnagógicas (1) e publicou uma série notável de observações sobre si mesmo. Galton faz referência a elas, na sua obra Inquiry into Human Faculty, e se encontrarão vários casos desse gênero no Proceedings of the S. P. R.,  págs. 390-473, etc.

293. As visões podem ser hipnopômpicas ou hipnagógicas, isto é, podem-se apresentar no momento em que o sono se dissipa ou no momento em que inicia. Nos dois casos, as visões estão totalmente unidas aos sonhos; as “ilusões hipnagógicas” renovam-se, às vezes, nos sonhos; as imagens hipnopômpicas consistem, principalmente, na persistência de uma imagem de sonho durante os primeiros momentos de vigília.

294. Em ambos os casos as imagens são testemunhos de uma intensificação da visão interna num momento significativo, num momento que é, real e virtualmente, do sono, mas confunde-se quase com os momentos próximos da vigília. Podemos qualificar esse estado de hiperestesia da visão cerebral ou espiritual e considerá-lo como o efeito de uma sensibilidade exagerada de centros cerebrais especiais, determinada por esses estímulos internos desconhecidos que, inclusive durante a vigília, originam visões internas análogas, ainda que mais débeis.

295. Para os que já são bons visionários, esses fenômenos, ainda que suficientemente notáveis, não constituem uma experiência extraordinária. Pelo contrário, para os maus visionários, a vivacidade dessas imagens hipnagógicas pode parecer uma verdadeira revelação. A meu ver, posso dizer que, sem esses resplendores ocasionais que sobrevêm entre o sono e a vigília, seria incapaz de conceber o que é realmente um bom visionário. As imagens vagas, obscuras, instáveis, que constituem tudo quanto minha vontade é capaz de evocar são substituídas, num momento de sonolência, por uma pintura que aparece ante meus olhos espantados, tão clara e brilhante como o próprio objeto. A diferença se assemelha à existente entre um instantâneo (fotografia), em cores naturais, e uma vista vaga e difusa, projetada por uma lanterna mágica, quase no momento de apagar-se. Muitas pessoas devem ter feito essa experiência, espantando-se ante a força insuspeita de uma capacidade revelada nesses momentos.

296. As imagens que chamei hipnopômpicas, isto é, as que se produzem no momento em que o sono se dissipa, não são menos notáveis. Frequentemente sucede que uma figura que era parte num sonho continua sendo observada sob a forma de uma alucinação, durante os primeiros instantes que se seguem ao sono, o que prova a força dessa capacidade visionária que engendra os sonhos. A produção de uma figura alucinatória constitui, provavelmente, independentemente da utilidade ou inutilidade dessa produção, o ponto mais elevado que a capacidade visionária do homem é capaz de alcançar, e é notável que na maioria das pessoas esse ponto só seja alcançado durante o sono.

297. Às vezes essa persistência da alucinação pode ser considerada como uma pós-imagem e outras vezes como resultado de uma “sugestão” inspirada pelo sono. Nesses casos hipnopômpicos, o visionário parece nascer durante o sono; nos casos hipnagógicos pertence a uma fase intermediária.

298. O grau de acuidade de todos os sentidos no sonho forma um objeto de observação direta e, inclusive, nas pessoas capazes de dominar seus sonhos, de experiência direta. Descrevi, por outro lado, alguns dos esforços que, pessoalmente, fiz para dar-me conta da potência de visualização do sonho, e devo dizer que o resultado foi que esse poder não era superior ao poder de que sou capaz no estado de vigília mais comum.

299. Alguns correspondentes acusam, no entanto, um considerável acréscimo do poder sensorial quando sonham. Um caso notável é o sonho tido pela Sra. A. W. C. Verrall, de Cambridge, e minuciosamente anotado; desde o início apresenta uma identificação de todos os sentidos. A Sra. Verrall nada mais tem do que rudimentares percepções musicais e, quando lhe disseram no seu sonho que aquelas percepções iriam ficar excitadas, não experimentou de início senão um prazer medíocre. Sem dúvida, a sensação surgiu como algo totalmente novo. Disse ela, como uma “verdadeira harmonia que até então só ouvira sob a forma de ecos, no ritmo de um verso ou no suspirar do vento entre os pinheirais”. “Meu ouvido achou-se purificado, menos, talvez, devido à realização de um desejo, que graças à criação de um desejo que, nem bem nascera, alcançou a plenitude do gozo.” 300. Outros falam do acréscimo de vivacidade das concepções dramáticas, ou do que, entre os sujeitos hipnóticos, foi chamado de “objetivação dos tipos”. Em cada um desses sonhos, escreve uma mulher, eu era homem; num deles, era um ser brutal e covarde e noutro um dipsomaníaco. Nunca, antes dessas experiências, tivera a menor noção quanto à maneira de sentir e pensar das pessoas dessa espécie.

301. Outro correspondente fala de dois sonhos, sem relação um com o outro, tidos simultaneamente, um sonho emocional e outro geométrico, e da sensação de confusão e fadiga que depois experimentou.

302. O Capítulo dos Sonhos, da novela de R. L. Stevenson: Across the Plains, comporta a descrição de experiências sobre os sonhos que pertencem às mais bem relatadas que conhecemos. Com auxílio da autossugestão, antes do sono, Stevenson era capaz de produzir, durante o sonho, imagens cuja clareza e intensidade eram suficientes para proporcionar-lhe os temas de suas melhores novelas. Seu relato escrito com admirável sagacidade psicológica deve ser lido por todos os que se ocupam dessa questão. Menciono esses conhecidíssimos fenômenos, sob um ponto de vista novo, para mostrar particularmente que as percepções sensoriais internas ou a capacidade imaginativa do sonho podem deixar para trás o que se observa sobre isso no estado de vigília, da mesma forma que a força reparadora do sono supera a vis medicatrix de nossas horas de vigília.

303. Passo a fenômenos menos frequentes que nos mostram, ao mesmo tempo, a intensidade de imaginação durante o sonho e o vestígio duradouro que os produtos dessa imaginação imprimem ao organismo desperto: uma autossugestão involuntária que podemos comparar à autossugestão voluntária de Stevenson.

304. O resultado constante de um sonho é frequentemente de tal gênero que nos mostra claramente que o sonho não é o efeito de uma mera confusão das experiências despertas da vida pregressa, mas que possui um inexplicável poder que lhe é próprio e que extrai, como no caso da sugestão hipnótica, das profundezas de nossa existência, o que a vida de vigília é incapaz de alcançar.

305. Dois grupos de casos dessa espécie são suficientemente manifestos para poderem ser facilmente reconhecidos, particularmente o caso em que o sonho deu lugar a uma conversão, ou a uma transformação religiosa notável. É o caso em que o sonho foi o ponto de partida de uma ideia obsessiva, ou de um acesso real de loucura. 

306. Os sonhos que convertem, reformam, mudam o caráter e a fé têm, à primeira vista, a pretensão de ser considerados como algo além do que sonhos comuns; e sua discussão pode ser deixada para mais tarde. Os que, por outro lado, degeneram rapidamente em ideias fixas irracionais são, íntima e manifestamente, semelhantes às sugestões pós-hipnóticas, a que o eu que as inspirou é incapaz de se opor. Assim é o sonho relatado por Taine, em que um policial, impressionado por ter assistido a uma execução capital, sonha que vai ser guilhotinado e termina por sofrer de tal modo a influência do sonho que se suicida. Muitos casos desse gênero foram reunidos por Faure. E Tissié, no seu interessante livro Les Rêves, publicou algumas observações notáveis.

307. O caso seguinte, narrado por Kraft-Ebbing, é ainda mais impressionante:

“Seis de maio de 1888 – A doente (Ilma S...) encontra-se hoje agitada. Queixa-se à irmã de dores intensas sob o seio esquerdo, acredita que o professor queimou-a durante a noite e pede à monja que obtenha sua mudança para um convento, onde esteja ao abrigo de semelhantes intervenções. A negativa da monja ocasiona nela uma crise de histerismo. Finalmente, no sono hipnótico, a doente explica sua dor, da seguinte forma: ‘Recebi, na noite passada, a visita de um velho que parecia um sacerdote e que se fazia acompanhar de uma freira, cuja esclavina (2) trazia uma grande letra B, em ouro. A freira assustou-me, mas o velho era amistoso e amável. Molhou uma pena no bolso da freira e escreveu sob meu seio esquerdo as letras W e B. Numa das vezes, molhou mal a pena e fez uma mancha entre as duas letras. Nesse lugar e onde se encontra a letra B sinto dores, mas no local da letra W não. O homem explicou que o W significava que eu deveria ir à igreja de M e confessar-me no confessionário W”. Nem bem terminara essa estória, a doente exclamou: “Eis novamente o velho, leva correntes em torno das mãos”.

308. Quando a doente despertou para a vida comum, sofria dores na região indicada, onde havia “perdas superficiais de substância, que penetravam no cório (3) e que assemelhavam-se a um W invertido e a um B e entre essas duas letras uma pequena superfície hiperemiada”. (4) Essa alteração trófica, singular, da pele, semelhante às que se produziram experimentalmente sobre a doente, não apresentava qualquer vestígio de inflamação. A dor e a lembrança do sonho foram suprimidas pela sugestão; mas a autossugestão de confessar na igreja M persiste, e a enferma, sem saber por quê, vai confessar-se com o sacerdote da sua visão.”

309. Neste caso, achamo-nos na presença de um sonho que desempenha o papel de uma sugestão pós-hipnótica potente. No capítulo seguinte discutiremos o sentido vago do termo “sugestão”. Basta ver aqui o poder intenso de uma sugestão subliminar que pode deixar uma impressão que supera, em força, não só um sonho fugaz comum, como também a impressão resultante das experiências da vida de vigília. Mas o mesmo caso nos sugere, igualmente, reflexões ligadas às relações que existem entre a memória, como funciona normalmente, nos sonhos, e a memória hipnótica, relações que, como veremos, indicam a existência de uma memória subliminar contínua, situada mais profundamente do que a memória da vida comum, isto é, essa provisão de lembranças conscientes da qual podemos chegar à vontade. (Continua no próximo número.) 


(1)
Hipnagógicas: diz-se das alucinações e visões que ocorrem ao cair no sono. 

(2) Esclavina: cabeção que os peregrinos usavam sobre a túnica.

(3) Cório: derme, isto é, o tecido conjuntivo sobre o qual se apoia a epiderme.

(4) Hiperemiada: irritada, avermelhada.



 


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