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Clássicos do Espiritismo
Ano 6 - N° 284 - 28 de Outubro de 2012
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 


A Personalidade Humana

Fredrich Myers

(Parte 9)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro A Personalidade Humana, de Fredrich W. H. Myers, cujo título no original inglês é Human Personality and Its Survival of Bodily Death. 

Questões preliminares 

A. O dom dos meninos prodígios persiste na idade adulta?

Em alguns casos, sim, como o de Bidder, em que o dom persistiu durante toda a vida, mas debilitou-se com a idade. Na maior parte dos casos, segundo Myers, ele desaparece por completo com o passar dos anos.  (A Personalidade Humana. Capítulo III – O gênio.)

B. Como alguns escritores, artistas e poetas explicam a origem da obra por eles produzida?

Condilac disse que muitas vezes acordou com uma obra já elaborada em sua mente e que não existia na noite anterior. Ratté, poeta, contou ao Dr. Chabaneix que frequentemente adormecia com uma estrofe por terminar e no dia seguinte a encontrava terminada. Alfred de Musset escreveu: “Não se trabalha, escuta-se, é como se um desconhecido falasse ao ouvido”. Remy de Gourmont: “Meus conceitos invadem-me a consciência com a rapidez de um relâmpago ou o voo de um pássaro”. Lamartine disse: “Não sou eu quem pensa, são minhas ideias que pensam por mim”. M. S. escreveu: “Ao escrever esses dramas, parecia assistir como espectador à sua representação; olhava o que se passava em cena com a espera impaciente do que se seguiria. E ao mesmo tempo sentia que tudo isso vinha do âmago de meu ser”. (Obra citada. Capítulo III – O gênio.)

C. Myers concorda com os que consideram o gênio como uma espécie de doença nervosa?

Não. Por imperfeitas e incompletas que sejam a estatística e as observações que ele cita nesta obra, Myers diz que elas parecem encaminhar-nos para uma direção mais racional do que a que nos indicam os fatos reunidos por esse grupo de antropólogos modernos que consideram o gênio como uma espécie de doença nervosa, como uma perturbação do equilíbrio mental semelhante à que se observa entre os loucos e criminosos.  (Obra citada. Capítulo III – O gênio.)

Texto para leitura

185. Devemos ainda notar que quando o dom de cálculo desaparece logo, é capaz de não deixar qualquer vestígio na memória do sujeito. E mesmo quando, após ter persistido durante muito tempo num espírito capaz de reflexão, esse dom acaba por ser (digamos assim) adotado pela consciência supraliminar, é ainda suscetível de se manifestar através de verdadeiros relâmpagos de inspiração, quando a resposta se apresenta à mente sem qualquer percepção dos estados intermediários.

186. Sobre o dom de Gauss e de Ampère possuímos alguns xistes encantadores. Após ter-se manifestado numa idade em que não poderia, ainda, ser questão de esforço mental supraliminar, parece ter desaparecido logo na corrente geral de seu gênio. No caso de Bidder, o dom persistiu durante toda a vida, mas debilitou-se com a idade.

187. Num ensaio publicado no volume XV dos Proceedings of the Institute of Civil Engineers, ele dá aos calculadores certos conselhos práticos e demonstra que as operações de cálculo mental só são possíveis graças a uma singular facilidade de comunicação entre as diversas camadas mentais. “Sempre – explicou – que me convidavam a recorrer às reservas de meu espírito, estas pareciam vir à tona com a rapidez de um relâmpago”.

188. No volume CIII da mesma coleção, W. Pole, ao descrever a forma pela qual Bidder podia determinar o logaritmo de um número, composto de 7 a 8 algarismos, descreve: “Possuía uma capacidade quase milagrosa de encontrar, por assim dizer, intuitivamente, os fatores cuja multiplicação dava um número tão avantajado. Assim é que, no número 17.861, achava instantaneamente ser o resultado da multiplicação de 337 por 53... Não sabia, segundo declarava, explicar como o fazia: era nele um instinto quase natural”.

189. No que diz respeito ao Arcebispo Whately, recorro a Scripture, que nos informa o seguinte: “Minha capacidade de cálculo apresentava certa particularidade. Manifestou-se entre os 5 e 6 anos e continuou por 3 anos. Fazia mentalmente as mais complicadas somas e com maior rapidez do que aqueles que as faziam no papel. E nunca foi provado qualquer erro nas minhas operações. À idade em que comecei a ir à escola minha capacidade de calcular desaparecera e desde então fiquei deveras deficiente em matemáticas.”

190. O caso do Professor Safford é ainda mais notável. Possuidor de verdadeira aptidão para a Matemática, atualmente professor de Astronomia, é capaz, como qualquer um, de cálculo mental, enquanto que aos 10 anos fazia de memória, e sem errar nunca, multiplicações cujo resultado era composto de 36 algarismos.

191. Van R..., de Útica – diz Scripture, de acordo com informações de Gall –, apresentava, aos 6 anos, uma extraordinária capacidade de cálculo mental, que desapareceu completamente passados 2 anos. Ele não tinha a menor noção sobre a maneira pela qual realizava suas operações mentais.

192. Entre os prodígios inteligentes, ou que não receberam qualquer instrução, somente Dase parece ter conservado sua capacidade durante toda a vida. Colburn e Mondeux, e talvez Prolongeau e Mangiamele, perderam-na logo que vez saídos da infância.

193. Ainda que não tenhamos qualquer dado sobre a forma pela qual os prodígios desta última categoria executavam suas operações mentais, temos razões para supor que a separação entre a corrente supraliminar e a camada subliminar do pensamento devia ser perfeita. Buxton resolvia seus problemas enquanto falava sobre assuntos totalmente estranhos à questão de que se ocupava. A focalização e a clareza da visão interna parecem, com efeito, constituir as únicas condições necessárias ao funcionamento dessa capacidade, e o controle supraliminar nada mais é que uma condição totalmente acessória.

194. Em determinados casos a atividade subliminar mostra-se deveras intensa e engenhosa. Assim, Mangiamele, filho de pastor siciliano, que não recebera qualquer instrução, aos 10 anos e 4 meses foi apresentado por Arago à Academia de Ciências, encontrando em menos de um minuto a raiz cúbica do número 3.496.416, e em tempo equivalente o resultado de duas equações.

195. No que diz respeito à constituição física e ao estado orgânico dos prodígios citados, sabemos apenas que Colburn possuía dedos supernumerários e que Mondeux era histérico. Quanto aos demais, parecem ter permanecido imunes a qualquer tara física ou nervosa.

196. Antes de estudar o papel que corresponde à atividade subliminar no funcionamento de nossos sentidos altamente diferenciados da vista e do ouvido, vejamos até que ponto as percepções menos diferenciadas, aparecidas no transcurso do tempo pela sensação do peso ou pela resistência muscular, são suscetíveis de sofrer uma intensificação da atividade subliminar. As sensações desta categoria constituem os elementos mais profundos de nossa existência orgânica e o sentido do tempo, em particular, apresenta-se em muitos lugares como uma faculdade eminentemente subliminar.

197. Possuímos muitos testemunhos demonstrando que esse sentido é muito mais exato durante o sono do que durante a vigília nos sujeitos hipnotizados. As observações de sonambulismo espontâneo estão repletas de fatos em que as ordens dadas pelo sujeito a si mesmo foram executadas, talvez em virtude da autossugestão, na hora precisa, fixada de antemão, sem auxílio de relógio. Esse conhecimento oculto pode, inclusive, tomar a forma de uma imagem de sonho, como no caso publicado pelo professor Roger, de Harvard, no qual um sujeito vira em sonhos um enorme relógio brilhante, cujos ponteiros marcavam as 2:20 e que, ao despertar, logo a seguir, constatou que eram, de fato, 2:20.

198. Passando às produções subliminares de tipo visual, apraz-me poder citar a seguinte passagem, em que encontro uma confirmação de minha teoria, da lavra de um dos mais lúcidos pensadores da geração precedente. Esta passagem é citada de um artigo sobre a Visão Sensorial, publicado por Sir Herschel no seu Familiar Lectures on Scientific Subjects (1816).

199. Nela, Sir John descreve algumas experiências pessoais que consistiam na produção involuntária de impressões visuais cuja regularidade geométrica constituía o caráter principal em circunstâncias que tornavam absolutamente inútil qualquer explicação tirada da possível regularidade da estrutura da retina e dos nervos ópticos.

200. Duas vezes essas figuras apareceram no estado de vigília, em pleno dia, sem que sua aparição tenha sido seguida pela menor indisposição. Frequentemente apresentavam-se na semiobscuridade, mas sempre durante a vigília. Da mesma forma apresentaram-se duas vezes também, quando o paciente estava sob os efeitos do clorofórmio, mas – diz ele – tinha a consciência de estar acordado e na plena posse de meu espírito, ainda que totalmente insensível ao que se passava.

201. Qual era a natureza desses espectros geométricos, como e em que parte do organismo corpóreo ou mental nasceram? Na certa, não se tratava de sonhos. O espírito, longe de adormecer, estava ativo e consciente na direção de seus pensamentos; mas as figuras em causa impunham-se à sua atenção e arrastavam a corrente das ideias numa direção que ela não tomara sozinha.

202. Sir John expõe a opinião de que essas figuras complexas, que invadem o espírito desta forma arbitrária e aparente, lançam alguma luz sobre o princípio sugestivo que atua de maneira determinante e decisiva sobre a nossa vontade, quando esta passa à ação. Na minha maneira pessoal de encarar, não posso deixar de admirar a sagacidade de que dá mostras o grande pensador, apesar do número escasso de observações de que dispunha.

203. Não parece ele ter captado as relações existentes entre essas alucinações esquemáticas, para usar a expressão do Prof. Ladd,  e as figuras ilusórias de homens ou de animais que enxergamos, quer no gozo de perfeita saúde, quer durante a doença. Mas  sua conclusão me parece irrefutável: “Achamo-nos na presença de um pensamento, de uma inteligência que funciona em nós, mas é diferente da nossa personalidade.”

204. Um jovem médico francês consignou num livro os resultados de uma pesquisa direta, com diversos de seus ilustres compatriotas, sobre os seus métodos de trabalho mental.  Citarei algumas das respostas que recebeu, iniciando pela de Sully-Prudhomme, psicólogo e poeta, que fala da clareza subconsciente de uma cadeia de raciocínios abstratos: “Às vezes aconteceu-me captar subitamente uma demonstração geométrica que me apresentaram um ano antes, e isto sem o menor esforço de atenção. Dir-se-ia que os conceitos arraigados no espírito por minhas leituras amadureceram espontaneamente, fazendo nascer, da mesma forma, as provas eficazes a seu favor.”

205. Pode-se antepor a essa resposta o aforismo seguinte, de Arago: “Ao invés de insistir na compreensão imediata de uma proposição, admito, provisoriamente, que é verdadeira; no dia seguinte espanto-me ao compreender perfeitamente o que no dia anterior me parecera obscuro.”

206. Condilac conta também que muitas vezes acordou com uma obra já elaborada em sua mente e que não existia na noite anterior. Ratté,  poeta, conta por sua vez ao Dr. Chabaneix que frequentemente adormecia com uma estrofe por terminar e no dia seguinte a encontrava terminada. E Vincent d’Indy, compositor, diz que com frequência percebia, durante a vigília, o brilho efêmero de um efeito musical que, como a lembrança de um sonho, só pode ser retido através de absoluta e imediata concentração do espírito.

207. Alfred de Musset escreveu: “Não se trabalha, escuta-se, é como se um desconhecido falasse ao ouvido.” Remy de Gourmont: “Meus conceitos invadem-me a consciência com a rapidez de um relâmpago ou o voo de um pássaro.” Lamartine diz: “Não sou eu quem pensa, são minhas ideias que pensam por mim.” M. S. escreve: “Ao escrever esses dramas, parecia assistir como espectador à sua representação; olhava o que se passava em cena com a espera impaciente do que se seguiria. E ao mesmo tempo sentia que tudo isso vinha do âmago de meu ser.” Saint-Saëns só tinha de escutar, como Sócrates escutava o seu demônio. E Ribot, resumindo determinado número de casos semelhantes, diz: “O inconsciente é o produtor do que vulgarmente se chama inspiração. Esse estado é um fato positivo que apresenta caracteres físicos e psíquicos próprios. Antes de tudo, é pessoal e involuntário, age como um instinto, quando e como quer. Pode ser solicitado, mas não suporta pressões. Nem a reflexão, nem a vontade podem substituí-lo na criação original... Os hábitos estranhos que os artistas adquirem, no momento em que compõem a sós, tendem a criar um estado psicológico especial, a aumentar a circulação do cérebro de forma a provocar ou manter a atividade inconsciente.”

208. Desconhecemos as modificações que se produzem na circulação do cérebro. Mas diversas conclusões de ordem psicológica parecem advir dos fatos que acabamos de citar. Em primeiro lugar deve-se notar que uma submersão pouco profunda e de curta duração, sob o limiar da consciência, é suficiente para transmitir novo vigor à corrente supraliminar do pensamento. As ideias que amadurecem, sem que nos ocupemos delas, durante alguns dias ou durante uma noite, não descem demasiadamente sob a consciência. Representam, por assim dizer, a primeira fase do processo que, se bem com frequência invisível, não é por isso contínuo, isto é, a manutenção da vida supraliminar se faz por meio de impulsos que vêm de baixo. Em segundo lugar, temos em alguns desses casos de abstração profunda e fértil um início de desdobramento da personalidade. 

209. John Stuart Mill, que compunha capítulos inteiros da sua Lógica, enquanto empurravam-no nas filas de Leadenhall Street, faz pensar em determinados casos mórbidos de distração histérica, com a diferença de que no caso dele o processo era de integração ao invés de dissolução, resumindo-se não por uma diminuição, mas por um aumento de poder de seu organismo.

210. Vemos finalmente, em alguns casos dos quais nos ocupamos, que o homem de gênio chega espontaneamente a resultados semelhantes aos que o sujeito hipnotizado só chega através de artifícios apropriados. E isso porque o gênio coordena, com efeito, na sua existência, os estados de vigília e sono. Traz ao sono seus conhecimentos e intenções das horas de vigília e reintroduz no estado de vigília o benefício dessas assimilações profundas que se realizam durante o sono. A sugestão hipnótica mostra precisamente essa cooperação entre o estado de vigília, durante o qual a sugestão proporciona, por exemplo, o projeto de alguma modificação funcional, e o sono, durante o qual se produz a transformação cujo benefício se estende durante o estado subsequente de vigília. O estado hipnótico, que é um sono desenvolvido, realiza para o homem comum o que o sono realiza para o homem de gênio.

211. Por imperfeitas e incompletas que sejam a estatística e as observações que acabamos de citar, parecem encaminhar-nos para uma direção mais racional do que a que nos indicam os fatos reunidos por esse grupo de antropólogos modernos que consideram o gênio como uma espécie de doença nervosa, como uma perturbação do equilíbrio mental semelhante à que se observa entre os loucos e criminosos. (Continua no próximo número.)  
 


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita