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Clássicos do Espiritismo
Ano 6 - N° 283 - 21 de Outubro de 2012
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


 

A Personalidade Humana

Fredrich Myers

(Parte 8)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro A Personalidade Humana, de Fredrich W. H. Myers, cujo título no original inglês é Human Personality and Its Survival of Bodily Death. 

Questões preliminares 

A. Qual é o sentido da palavra normal aplicada ao homem? 

Segundo Myers, na linguagem comum a palavra normal significa duas coisas, frequentemente bem diferenciadas: conformidade com um modelo, posição intermediária entre dois extremos. Com frequência esta posição intermediária constitui precisamente a conformidade com seu modelo, como quando se diz que um gás apresenta uma densidade normal. Mas quando se trata de organismos vivos, entra em jogo um novo fator. Vida significa mudança; todo organismo vivo muda; cada geração é diferente da anterior. Atribuir uma norma fixa a uma espécie que está em estado de constante mudança é como atirar num pássaro voando. (A Personalidade Humana. Capítulo III – O gênio.) 

B. Dentre todas as criaturas, ao longo da evolução, quem fez os maiores progressos? 

Para Myers, foi o homem que fez os maiores progressos, tanto do ponto de vista da diferenciação quanto da integração. Depois de haver ativado o maior número de faculdades que o gérmen primitivo virtualmente encerrava, estabeleceu sobre elas um domínio central dos mais severos, e esse processo continua sempre. Essa evolução só pode continuar no sentido de uma extensão e uma intensidade maiores, e o homem de gênio é quem está mais perto desse ideal. (Obra citada. Capítulo III – O gênio.) 

C. Que é que caracteriza o homem de gênio? 

O que o caracteriza é que nele os elementos subliminares aumentam a intensidade do espectro da consciência e projetam um pouco de luz sobre suas partes obscuras. O gênio representa uma seleção restrita entre uma multidão de outros fenômenos semelhantes, dentre os numerosos elementos subliminares que emergem nos limites do espectro da consciência ou fora de tais limites. (Obra citada. Capítulo III – O gênio.) 

Texto para leitura 

162. O dogma da perfectibilidade humana engendrou muito entusiasmo e sugeriu numerosos projetos de sociedades utópicas que postulavam, para os homens e as mulheres do futuro, um acréscimo indefinido de saúde e de vigor físico e moral. É verdade que, de uma forma geral, a seleção natural, a seleção sexual e os progressos da Ciência contribuíram em muito para aperfeiçoamentos desse gênero. Mas é também verdade que essas tendências, em comparação com os nossos desejos e aspirações, são lentas e incertas, e poderemos supor que o progresso aparente de nossa espécie seja um produto da melhora de nosso meio material através das nossas conquistas científicas e não um aperfeiçoamento real do caráter e das faculdades do homem durante o decorrer do período histórico.

163. Mas como não temos nenhuma possibilidade de saber até que ponto chega, para uma espécie determinada, a virtualidade interna do aperfeiçoamento, os pessimistas poderiam afirmar, com alguma aparência de razão, que a espécie humana já atingiu o limite de sua evolução. É possível a domesticação de algumas espécies de animais selvagens (e talvez de algumas tribos de homens selvagens) sem deter ao mesmo tempo a sua potência de reprodução. Também naqueles animais que são mais fáceis de domesticar e que se prestam mais à mestiçagem com variedades já domesticadas, como a pomba, é impossível levar o desenvolvimento de certos órgãos para além de certos limites, sem determinar uma fragilidade de constituição que provocará, mais tarde, a extinção da espécie.

164. Certas conhecidas diatribes foram inspiradas por temores desse gênero. Max Nordau, por exemplo, escreveu uma obra para protestar contra a estafa e o esgotamento nervoso de nossa época. Reduzindo essa vaga discussão a exemplos concretos, Lombroso e outros antropólogos analisaram o homem de gênio e chegaram à conclusão de que o gênio não representa o ponto mais alto da espécie, sendo apenas, pelo contrário, uma manifestação anormal, uma aberração semelhante à do criminoso ou do psicopata; que os homens de gênio sofrem falta de equilíbrio e apresentam uma organização incompleta, com desenvolvimento exagerado de uma parte de sua natureza que, dependendo da ocasião, pode ser útil ou daninha para os outros.

165. Para mim o gênio é, pelo contrário, uma potência que permite, aos que o possuem, utilizar em medida maior que o resto dos mortais suas faculdades inatas e submeter os resultados do processo mental subliminar à corrente supraliminar do pensamento. A inspiração genial é, para mim, apenas um aparecimento, no domínio das ideias conscientes, de outras ideias em cuja elaboração a consciência não participou, mas que se formaram sozinhas, isto é, independentemente da vontade, nas regiões profundas de nosso ser. Não há ali nenhum desvio do estado normal, ou pelo menos nenhuma anomalia, nenhuma expressão de degenerescência, mas um aperfeiçoamento do estado normal, um estado supranormal, uma fase nova, superior, que se manifesta no decurso da evolução.

166. Não se pense, por isso, que estou afirmando a superioridade intrínseca do subliminar sobre o supraliminar; o que eu quero dizer é que o homem de gênio constitui o tipo acabado do homem normal pela sua possibilidade de utilizar mais elementos de sua personalidade do que as pessoas comuns. A distinção entre o subliminar e o supraliminar é, portanto, puramente psicológica e visa à descoberta das relações existentes entre duas categorias de percepções e de faculdades humanas. Acreditamos apenas que o que se processa por baixo do limiar da consciência e fora dos limites da porção de nosso campo de consciência adaptado às necessidades da vida ordinária é, ao mesmo tempo, mais extenso e complexo do que aquilo que se contém nos referidos limites. Achamos em um dos extremos da escala subliminar os sonhos, um produto subliminar normal, porém menos útil do que qualquer produto supraliminar; na outra extremidade achamos os conhecimentos mais raros e preciosos que nos proporcionam a telepatia, a telestesia, o êxtase. Entre esses dois pontos extremos encontramos uma multidão de produtos intermediários cuja origem é a mesma, mas de importância eminentemente variável.

167. Hoje distinguimos, na região supraliminar, os centros superiores que presidem aos nossos pensamentos mais complexos e à nossa vontade, os centros intermediários, cuja atividade determina o movimento dos músculos voluntários, e finalmente os centros inferiores (que, na minha opinião, são puramente subliminares), dos quais dependem nossas funções automáticas, como a respiração e a circulação, que se realizam fora da consciência, mas que são indispensáveis à vida. É relativamente fácil saber se certo ato foi determinado pelos centros superiores ou se foi realizado fora do controle destes centros, devido apenas à atividade dos centros intermediários. Assim sendo, a palavra e a escrita ordinárias dependem dos centros superiores. Mas quando esses centros ficam esgotados em consequência de uma descarga epiléptica de energia nervosa, os centros intermediários funcionam sem controle e determinam os movimentos convulsivos dos braços e das pernas, característicos do ataque. E quando também os centros intermediários ficam esgotados, os centros inferiores funcionam sozinhos e o doente entra em estado de coma, embora continue respirando regularmente.

168. No domínio subliminar assistimos a uma subdivisão semelhante. Parece-nos, realmente, que nossas percepções e faculdades subliminares convergem para um único fim, que formam um verdadeiro eu coordenado em alguma harmoniosa inspiração genial ou em alguma transformação profunda e razoável, como o sono hipnótico ou na realização paranormal de alguma visão clarividente, ou, finalmente, em uma projeção de toda a personalidade num mundo espiritual. Os elementos subliminares que entram em jogo nos casos deste gênero correspondem aos centros superiores da vida supraliminar. Mas esse grau de clareza e de coesão não pode durar muito tempo.

169. As faculdades e percepções subliminares agem, frequentemente, de maneira menos coerente e coordenada. Na maioria dos casos nos encontramos na presença de produtos que, embora apresentando indícios de uma faculdade fora do nosso alcance, não parecem menos acidentais e irracionais do que as convulsões dos braços e das pernas nos ataques epilépticos. Trata-se da série de fenômenos que designamos pelo nome de sonhos e que podemos considerar dependentes dos centros intermediários do eu subliminar. Quando esses centros intermediários subliminares, que escapam ao controle dos centros superiores, manifestam sua atividade no homem de gênio, já não provocam o surgimento da obra-prima, mas de uma obra estranha, atormentada.

170. Avançando mais ainda, chegaremos a esses estados hipnóticos em que as pessoas aspiram deleitadas o cheiro do amoníaco e comem com prazer velas de sebo, ou aos movimentos automáticos confusos e incoerentes que são atribuídos à inspiração do diabo, e assim até que os centros intermediários ficam também esgotados e são visíveis apenas as manifestações psíquicas ainda compatíveis com a circulação cerebral, como no ataque de epilepsia, quando a falta de coordenação dos movimentos das pernas provoca, com o esgotamento dos centros intermediários, a respiração estertorosa do estado de coma.

171. É esse o paralelismo aparente que existe entre nossa região supraliminar e a região subliminar. Nós homens, clausi tenebris et carcere caeco, podemos alargar ou limitar nossa visão da realidade das coisas. Na mania e na epilepsia perdemos o controle dos centros supraliminares superiores, dos quais depende a nossa vida racional terrestre. Mas no automatismo, no êxtase ou nos estados semelhantes desviamos para nossa vida supraliminar uma parte da corrente subliminar. Quando os centros subliminares que influem em nosso estado de vigília pertencem ao nível intermediário, fazem nascer em nós apenas o erro e a confusão; quando, inversamente, eles fazem parte do nível superior, são capazes de revelar-nos verdades insuspeitas.

172. A obra em cuja elaboração participam esses elementos subliminares constitui precisamente o que se chama obra genial. Essa obra deve preencher duas condições. Deve implicar qualquer coisa de original, de espontâneo, não aprendido, inesperado, e deve despertar também a admiração da Humanidade. Mas, psicologicamente falando, enquanto a primeira dessas duas condições supõe um fato real, a segunda é puramente acidental. O que o poeta sente ao escrever um poema constitui um fato psicológico de sua história; o que seus amigos sentem lendo o mesmo poema pode constituir um fato psicológico da história deles.

173. Repito: como psicólogos, devemos basear nossa definição do gênio em um critério estritamente psicológico e não nos sinais exteriores que nos guiam como artistas ou literatos e que apenas exprimem o grau de prazer que nos proporciona uma outra obra. O artista falará do gênio artístico de Rafael, não do de Haydn, do gênio dramático de Corneille, não do de Voltaire. Mas a autobiografia de Haydn, de uma intensidade trágica que acabou no suicídio, mostra que as figuras contorcidas de sua Ressurreição de Lázaro lhe apareceram com o intenso sentimento de uma inspiração direta. Voltaire, em certa oportunidade, escrevia ao presidente Henault sobre a sua ilegível tragédia Catilina.

174. Seria completamente absurdo classificar A Ressurreição de Lázaro na mesma categoria artística da Madonna Sixtina. (1) Mas essas duas obras pertencem incontestavelmente à mesma categoria psicológica. Não obstante a diferença de gênero, os dois pintores experimentaram o mesmo processo interior, a mesma invasão de seu ser por uma corrente subliminar, essa concentração mental que atrai à consciência imediata produtos e elementos ocultos até então no fundo do eu.

175. Falamos até aqui de faculdades paranormais. Antes de começar a análise não seria inútil estabelecer o sentido exato da palavra normal aplicada ao homem. Na linguagem comum a palavra normal significa duas coisas, frequentemente bem diferenciadas: conformidade com um modelo, posição intermediária entre dois extremos. Com frequência esta posição intermediária constitui precisamente a conformidade com seu modelo, como quando se diz que um gás apresenta uma densidade normal. Mas quando se trata de organismos vivos, entra em jogo um novo fator. Vida significa mudança; todo organismo vivo muda; cada geração é diferente da anterior. Atribuir uma norma fixa a uma espécie que está em estado de constante mudança é como atirar num pássaro voando. Em nenhum momento o estado intermediário corresponde ao modelo ideal. A última fase da evolução atualmente realizada terá a tendência, se o meio permanecer estável, de converter-se no estado intermediário do futuro.

176. A evolução humana não é tão simples nem tão aparente quanto a evolução de uma espécie de pombas. Mas seria ousado afirmar que ela não é mais rápida do que a que sofrem os animais domésticos. Apenas cem gerações nos separam do começo da História; cem gerações separam também o vencedor moderno do Derby do corcel de Gustavo Adolfo; e certas espécies de micróbios atravessam em apenas um mês o mesmo número de gerações.

177. Do ponto de vista físico, as mudanças sofridas pelo homem são menos acentuadas que as sofridas pelo cavalo, provavelmente porque o homem não foi educado para o mesmo fim, nem com as mesmas intenções; mas, levando em conta o poder de adaptação ao meio, o homem descreveu nesses trinta séculos uma curva de evolução infinitamente mais vasta do que qualquer espécie cavalar desde o hippos. Se formos até às origens primitivas, vemos que os antepassados do homem variaram muito mais do que os dos animais, pois percorreram no mesmo lapso de tempo um trajeto muito mais longo. Variaram ainda em direções mais numerosas e integraram em maior número as infinitas faculdades que se achavam latentes em um punhado de matéria.

178. Entre todas as criaturas, foi o homem que fez os maiores progressos, tanto do ponto de vista da diferenciação quanto da integração; depois de haver ativado o maior número de faculdades que o gérmen primitivo virtualmente encerrava, estabeleceu sobre elas um domínio central dos mais severos. O processo continua sempre. Essa evolução só pode continuar no sentido de uma extensão e uma intensidade maiores. E eu afirmo que o homem de gênio é quem está mais perto desse ideal.

179. O que caracteriza o gênio é que nele os elementos subliminares aumentam a intensidade do espectro da consciência e projetam um pouco de luz sobre suas partes obscuras. Mas é possível, ao mesmo tempo, colocar na mesma categoria do gênio certos automatismos motores e sensoriais que, à primeira vista, parecem não estar relacionados com ele. O gênio representa uma seleção restrita entre uma multidão de outros fenômenos semelhantes, dentre os numerosos elementos subliminares que emergem nos limites do espectro da consciência ou fora de tais limites.

180. Examinaremos mais tarde os casos de automatismo motor e sensorial e veremos que não existe uma percepção que não seja capaz de emergir das capas inferiores da consciência, sob uma forma muito intensificada, com a mesma rapidez de impressão e de ação que as inspirações mais altas do gênio. Veremos, por exemplo, que o homem pode ter uma inspiração como a que teve Virgílio, da segunda metade de um hexâmetro difícil.

181. Ao fim de algum tempo o público das grandes cidades teve frequentemente ocasião de se divertir e de ser surpreendido pelo que se chama de jovens calculadores, os prodígios aritméticos, jovens geralmente capazes de resolver mentalmente e quase instantaneamente problemas que a maior parte de nós teria que resolver com o lápis na mão e durante um tempo muito maior, sem estar sempre seguros de acertar.

182. A vantagem especial que apresenta o estudo desses prodígios é que neles a impressão subjetiva coincide quase exatamente com o resultado objetivo. O calculador subliminar sente que o resultado é exato, e com efeito o é, o que nem sempre sucede com as verdadeiras inspirações do gênio. Um psicólogo americano e um francês reuniram algumas explicações dadas por esses prodígios ao seu método de trabalho. Mas o resultado foi muito pequeno, ainda que os dados que possuímos bastem para demonstrar que, na realidade, o trabalho havia começado por ser subliminar e o esforço consciente ou supraliminar está completo e absolutamente ausente ou não entrava em jogo, até que a capacidade em questão houvesse sofrido um prolongado exercício, até o ponto de facilitar as comunicações entre as duas camadas.

183. O prodígio, ao chegar à idade adulta e ao reconhecer os artifícios aritméticos a que recorrera inconscientemente quando jovem, assemelha-se a um sujeito hipnotizável exercitado através da sugestão para lembrar durante a vigília os acontecimentos que tiveram lugar durante o sono hipnótico. Sob todos os pontos de vista é possível a comparação: achamos que o dom de cálculo se parece às outras manifestações da faculdade subliminar, mais que os resultados de um esforço francamente supraliminar como a faculdade de análise lógica.

184. Em primeiro lugar, essa capacidade, apesar de seu aparente relacionamento com a aptidão genérica pelas matemáticas, observa-se indiferentemente, quer entre as pessoas que não possuem dotes matemáticos e que, inclusive, não são inteligentes, quer entre os verdadeiros matemáticos. Em segundo lugar, manifesta-se com maior intensidade durante a infância e com os anos atenua-se, até desaparecer totalmente, assemelhando-se nisto à capacidade visionária em geral, à de evocar as visões alucinatórias em particular, cujas faculdades, de acordo com os resultados de Galton e os nossos, são mais frequentes durante a infância e a juventude do que na idade adulta. (Continua no próximo número.)  
 

Nota: 

(1) A Madonna Sixtina é um quadro do artista renascentista italiano Rafael, pintado aproximadamente entre 1513 e 1514.

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita