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Clássicos do Espiritismo
Ano 6 - N° 279 - 23 de Setembro de 2012
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


A Personalidade Humana

Fredrich Myers

(Parte 4)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro A Personalidade Humana, de Fredrich W. H. Myers, cujo título no original inglês é Human Personality and Its Survival of Bodily Death. 

Questões preliminares 

A. É certo afirmar que todo homem é profundamente unitário e infinitamente complexo?  

Sim. Herdamos de nossos antepassados terrestres um organismo múltiplo, por assim dizer polizoico (1) e, talvez, também polipsíquico no mais alto grau, mas ao mesmo tempo trazemos uma alma ou Espírito, absolutamente inacessíveis aos nossos atuais meios de análise, que dirige e unifica esse organismo – alma nascida num meio espiritual ou metaetéreo e que, mesmo encarnada num corpo, permanece em comunicação com esse meio e volta a ele após a morte corporal. (A Personalidade Humana. Capítulo II – As desintegrações da personalidade.)

B. Como definir a consciência?

As primeiras reflexões que os homens fizeram a respeito da consciência tiveram um caráter puramente moral ou legal e tinham por objetivo determinar se, em certo momento, o homem era ou não responsável por seus atos ante o tribunal humano ou divino. O senso comum parecia estimular esse método de demarcação definitiva. Julgamos facilmente, do ponto de vista prático, se um homem é consciente ou não, sem levar em conta os estados intermediários. Mas desde o momento em que o problema é considerado como essencialmente psicológico, submetido à observação e à experiência, essa linha divisória se desfaz até o ponto de desaparecer e somos levados a considerar a consciência como um atributo geral que caracteriza, em maior ou menor grau, todos os estados da vida animal e vegetal, como a equivalência psíquica da vida e de toda a existência fenomênica. (Obra citada. Capítulo II – As desintegrações da personalidade.)

C. É verdade que à medida que ascendemos na escala animal os organismos se tornam mais complexos?

Evidentemente. Os organismos se tornam cada vez mais complicados e encontramos no homem a expressão mais pura dessa complexidade colonial e do seu controle centralizado.  (Obra citada. Capítulo II – As desintegrações da personalidade.)

Texto para leitura

68. Tratarei no capítulo II desta obra dos casos de desintegração da personalidade.

69. Todo homem é profundamente unitário e infinitamente complexo; herda de seus antepassados terrestres um organismo múltiplo, por assim dizer polizoico (1) e, talvez, também polipsíquico no mais alto grau, mas ao mesmo tempo traz uma alma ou Espírito, absolutamente inacessíveis aos nossos atuais meios de análise, que dirige e unifica esse organismo – alma nascida num meio espiritual ou metaetéreo e que, mesmo encarnada num corpo, permanece em comunicação com esse meio e volta a ele após a morte corporal.

70. Impossível representar a forma em que a vida individual de cada célula de nosso corpo está relacionada com a unidade da vida central que preside o corpo em seu conjunto. Mas essa dificuldade não corrobora de modo algum a hipótese de uma alma separada e persistente. Não existe hipótese capaz de nos explicar a colaboração e a subordinação das vidas celulares de um animal multicelular. Esse fenômeno continua tão misterioso para a estrela do mar como para Platão, e os oito cérebros de Aurélia, com sua vida individual e comum, são tão inconcebíveis como a relação da vida dos fagócitos que habitam as veias do filósofo com o pensamento central deste.

71. Considero que a antiga hipótese de uma alma inserida no organismo, possuindo-o e servindo-se dele, mas representando um vínculo real, ainda que obscuro, com os diferentes grupos conscientes, díspares de um modo mais ou menos aparente e manifestando sua existência em conexão com o organismo e com os grupos mais ou menos localizados da matéria nervosa, considero que essa hipótese não é nem mais obscura nem mais embaraçosa que as demais, propostas até o dia de hoje. Afirmo ainda que pode ser provada – e no meu caso a prova já foi realizada – mediante a observação direta.

72. Está provado para mim que certas manifestações de individualidades centrais, associadas na atualidade ou anteriormente a organismos definidos, foram observadas independentemente desses organismos, quer durante a vida destes últimos, quer depois de sua morte. Mas esteja ou não esse fato suficientemente provado, isso não o põe em desacordo com nenhum princípio científico nem com nenhum fato estabelecido. Parece mais provável que uma observação contínua acabe por fornecer a prova suficiente.

73. Pelo contrário, a tese negativa é uma tese de equilíbrio instável, pois não se pode prová-la de forma absoluta através de argumentos negativos, qualquer que seja o número destes, e pode, ao contrário, ser inteiramente refutada por um único argumento positivo. Possivelmente goza na atualidade do maior favor científico, mas não possui nenhuma autoridade verdadeiramente científica no que diz respeito à opinião que defendemos.

74. Deixando, no momento, essas questões de lado, podemos admitir que o organismo, tal como o observamos na vida comum, longe de apresentar uma completa unidade e invariabilidade, constitui uma hierarquia complexa de grupos celulares que exercem funções vagamente delimitadas e funcionam simultaneamente com uma precisão desigual, uma harmonia moderada, um êxito favorável. Nada prova que essas potências funcionem simultaneamente de um modo perfeito. Nosso sentido de saúde nada mais é do que uma síntese grosseira do que ocorre dentro de nós. É, com efeito, impossível imaginar um estado ideal permanente de um organismo em equilíbrio instável, sempre em movimento, cuja vida se constitui pela explosão de componentes instáveis e que busca sempre a realização de novos fins às custas dos antigos.

75. Iniciamos, pois, a descrição das perturbações e desintegrações da personalidade. Mas o leitor que me quiser seguir deve ter presente o ponto de vista em que me coloco ao escrever este livro. O fim de minha análise não é o de destruir, mas o de completar, ou melhor dizendo, mostrar que o modo pelo qual a personalidade humana tende a se desintegrar é de natureza a sugerir métodos suscetíveis de favorecer sua integração mais completa.

76. A melhora das condições naturais do organismo não é coisa desconhecida. Da mesma forma que o estudo da histeria se relaciona comumente com as instabilidades do umbral da consciência, o estudo das enfermidades zimóticas (2) relaciona-se principalmente com a instabilidade da constituição sanguínea. O objetivo comum do médico é pôr fim a essas instabilidades, substituir o sangue viciado por sangue normal. Mas o objetivo do biólogo que pesquisa vai mais longe: propõe-se a proporcionar ao homem um sangue melhor que o que lhe proporcionou a Natureza, extrair do vírus um elemento cuja infusão nas veias seja suscetível de o imunizar contra as invasões microbianas.

77. Da mesma forma que o adulto, graças ao seu desenvolvimento melhor, está mais garantido contra essas invasões do que a criança, o adulto imunizado está mais protegido do que o homem comum. As mudanças que se produziram em seu sangue com a maturidade protegem-no contra a coqueluche. As mudanças que se produzem em seu sangue, como consequência de uma injeção antitóxica, protegem-no temporariamente da difteria. Em vista disso, melhoramos a natureza e nosso procedimento foi profilático, antecipando em certo sentido a evolução.

78. Por que a Psicologia experimental não poderia chegar a resultados semelhantes? Mas antes de abordar a discussão do fenômeno da desintegração da personalidade temos que nos pôr de acordo quanto ao sentido que vamos dar à palavra consciência. Porque, particularmente, consideramos como conscientes outros atos além dos nossos, assim agimos quer porque esses atos nos parecem complexos, isto é, realizados com um fim determinado, quer porque sabemos que são suscetíveis de passar ao estado de lembrança.

79. Assim, o atirador ou o jogador de xadrez parecem-nos completamente conscientes; dizemos a mesma coisa de um homem que parecia ter perdido a memória como consequência de um golpe recebido na cabeça, mas que estava, na realidade, consciente durante todo o tempo porque recordava os menores incidentes. A reminiscência de um ato constitui, com efeito, uma prova melhor de seu caráter consciente do que de sua complexidade.

80. Negou-se a consciência às pessoas hipnotizadas e aos cães; mas é mais fácil provar o estado consciente de uma pessoa hipnotizada do que o de um cão, porque o primeiro, mesmo sendo capaz de esquecer, quando desperto, os incidentes que ocorreram enquanto estava em estado de hipnose, pode recordá-los durante o estado seguinte e predispor-se a recordar em estado de vigília, enquanto que nos é difícil tirar alguma conclusão da complexidade dos atos dos cães, em que medida têm consciência desses atos.

81. No caso do cão a recordação dos atos transcorridos constituiria a melhor prova e, sem dúvida, ainda que todos reconheçam que a nossa memória grandiloquente é uma prova de nossa consciência passada, poucas pessoas admitiriam que o mesmo pode ocorrer com a memória do cão. Sem dúvida, dizem, o organismo do cão reage de maneira diversa a cada repetição de um mesmo estímulo, mas esse fato é observado mais ou menos em todos os organismos vivos e também nas porções do organismo e em atos que todos estão de acordo em reconhecer como totalmente desprovidos de consciência.

82. O conceito de consciência tem, portanto, que ser ampliado. As primeiras reflexões que os homens fizeram a respeito da consciência tiveram um caráter puramente moral ou legal e tinham por objetivo determinar se, em certo momento, o homem era ou não responsável por seus atos ante o tribunal humano ou divino. O senso comum parecia estimular esse método de demarcação definitiva. Julgamos facilmente, do ponto de vista prático, se um homem é consciente ou não, sem levar em conta os estados intermediários. Mas desde o momento em que o problema é considerado como essencialmente psicológico, submetido à observação e à experiência, essa linha divisória se desfaz até o ponto de desaparecer e somos levados a considerar a consciência como um atributo geral que caracteriza, em maior ou menor grau, todos os estados da vida animal e vegetal, como a equivalência psíquica da vida e de toda a existência fenomênica.

83. Todo ato ou estado pode, portanto, ser considerado como consciente, quando é passível de ser lembrado, quando o sujeito é capaz de lembrar-se dele em circunstâncias determinadas. Que estas circunstâncias se apresentem enquanto o indivíduo está encarnado neste planeta ou não, pouco importa: somos incapazes de recordar a maioria de nossos sonhos e é de se presumir que esses sonhos, desaparecidos de nossa memória, não sejam menos conscientes que os que a invadem quando somos despertados bruscamente.

84. Alguns indivíduos hipnotizados, nos quais a sugestão desperta a lembrança de seus sonhos, recordam, aparentemente, os sonhos latentes até então, com a mesma facilidade que os que recordaram durante muito tempo. E poderíamos citar muitos outros exemplos de lembranças aparecidas de modo inesperado, relacionadas com experiências e atos que se admitiam desaparecidos completamente da memória.

85. Creio estarmos autorizados a tirar esta conclusão negativa: nada prova que o que chamamos nossa consciência central difira completamente da natureza da consciência menor da qual parece, de certo modo, ter surgido. Creio, a meu ver, que a diferença existente entre essas duas variedades de consciência não é desprezível, mas que a apontada diferença não se baseia em nossas sensações subjetivas.

86. Devemos abordar o estudo da multiplicação ou do desdobramento da personalidade sem qualquer ideia preconcebida contra a possibilidade de determinado ajuste ou de uma certa divisão da soma total de nossa consciência. Mas antes de apresentarmos a forma pela qual se produz a desintegração da soma total da consciência, seria conveniente fazer-se uma ideia do modo pelo qual se produz sua integração.

87. Deparamo-nos, no entanto, com uma dificuldade cuja origem remonta ao momento determinado em que o ser unicelular se transforma em organismo pluricelular. Se o modo pelo qual uma simples célula é capaz de se manter e conservar sua unidade constitui um mistério para nós, o fato da união de várias células em função de uma vida comum e independente é um mistério ainda maior. Na unidade coletiva de certas colônias animais temos uma espécie de esboço ou de paródia de uma existência determinada complexa.

88. As inteligências superiores podem nos considerar, tal como nós consideramos os hidrozoários(3), isto é, como criaturas compostas de diferentes pessoas, uma pessoa hidriforme que se alimenta, uma pessoa meduziforme incumbida da propagação da espécie e assim sucessivamente.

89. Outros tantos elementos do animal, diferenciados em razão de seus diferentes fins, que de um lado estão em relação de mútua dependência, como o nosso cérebro e o nosso estômago, são capazes de, por outro lado, ter uma existência separada e suscetíveis de uma regeneração independente. À medida que ascendemos na escala animal os organismos se tornam, ainda que de uma forma menos aparente, cada vez mais complicados e encontramos no homem a expressão mais pura dessa complexidade colonial e do seu controle centralizado.

90. Não necessito dizer que, no tocante à natureza íntima dessa estreita coordenação, desse governo centralizado, se encontra a Ciência, no momento, precariamente informada. É possível, numa certa medida, seguir a evolução e a progressiva complexidade do mecanismo nervoso; mas, quanto a saber como está governado esse mecanismo, em virtude de que tendência se realiza a sua unidade, onde reside esta última, que relação existe entre ela e as diferentes partes do organismo pluricelular; esses são os problemas que concernem à natureza da vida, problema cuja solução ainda se desconhece.

91. Considero que a solução desse problema só poderá encontrar-se com o descobrimento das leis primitivas que regem essa parte invisível e espiritual da existência, na qual vejo a origem mesma da vida. Se pudéssemos ver na telepatia o primeiro indício de uma lei desse gênero, considerá-la como desempenhando no mundo espiritual um papel semelhante ao da gravitação no mundo material, estaríamos autorizados a imaginar uma força semelhante à força de coesão que realizasse a síntese psíquica da personalidade humana.

92. A lei da passagem dos organismos inferiores aos superiores mostra, com efeito, que a personalidade humana constitui uma reunião de inumeráveis entidades psíquicas inferiores, na qual cada uma delas conserva suas próprias características, com a restrição de que uma entidade psíquica mais extensa, preexistente ou não, mantém o conjunto unificado, do qual as entidades inferiores são unicamente os fragmentos sobre os quais exerce um domínio contínuo, ainda que incompleto.

93. Uma vez que se admita isso, pode-se afirmar que todas as nossas operações psíquicas penetraram, ao mesmo tempo, ou num momento qualquer, na mesma corrente central de percepções, ou que flutuaram sobre o que chamamos de limiar ordinário da consciência. Estamos seguros de que isso não se dará com algumas pessoas, mas pode-se saber por antecipação em quais pessoas se dará?

94. Podemos responder somente que a percepção das sensações pela consciência supraliminar se realiza em virtude de uma espécie de exercício funcional e que, igual a outros milhares de casos onde exerce uma função, uma parte dessa faculdade compreende as operações que o organismo realiza em virtude de sua estrutura elementar e a outra parte (uma vez determinada a estrutura) as operações impostas pela seleção natural, e que por isso significam uma vantagem prática.

95. Desse modo, o fato de que a consciência acompanha as combinações cerebrais pouco familiares pode ser considerado como um resultado necessário da estrutura nervosa, da mesma forma que o fato de abrir novos caminhos deve estar acompanhado por uma sensação perceptível de novidade. Como por outro lado é possível que a conscientização de combinações cerebrais novas constitua uma aquisição posterior e se deva simplesmente à vantagem evidente de impedir que essas novas combinações se consolidem antes que tenha sido confirmada sua utilidade – da mesma forma que um músico executa uma nova peça com atenção concentrada, para impedir que sua execução se torne automática, antes que tenha aprendido a tocar a peça como ele deseja.

96. Parece que, numa certa medida, a maior parte do conteúdo de nossa consciência supraliminar tenha nascido em virtude da seleção natural, de forma a operar tendo sob seu domínio as percepções que nos são mais imprescindíveis na vida.

97. Essas noções elementares da constituição da personalidade já nos indicam o caminho pelo qual se pode operar a sua dissolução. É possível que, se nos fosse dado o discernimento de modo mais minucioso, a Psicologia dessa infinidade de mudanças, que contém modificações demasiadamente ínfimas para ser consideradas como anormais, até transformações completas e radicais do caráter e da inteligência, parecer-nos-ia ininterrupta e veríamos os elementos psíquicos se distanciarem lentamente e de maneira contínua, um atrás do outro, da síntese primitiva. (Continua no próximo número.)

 

(1) Polizoico diz-se dos animais que vivem em colônias.

(2) Zimótica: relativa ou inerente à fermentação.

(3) Classe de celenterados caracterizados por pólipos, geralmente coloniais, com cavidade digestiva sem estomodeu e septos, e medusas craspedotas. São bastante conhecidas as hidras de água doce e as caravelas marinhas, representantes do grupo.




 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita