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Clássicos do Espiritismo
Ano 6 - N° 277 - 9 de Setembro de 2012
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)


A Personalidade Humana

Fredrich Myers

(Parte 2)

Damos sequência ao estudo metódico e sequencial do livro A Personalidade Humana, de Fredrich W. H. Myers, cujo título no original inglês é Human Personality and Its Survival of Bodily Death. 

Questões preliminares 

A. São antigas em nosso mundo as manifestações de êxtase ou de possessão? 

Sim. Segundo Myers, em nenhuma das épocas que conhecemos, nem antes nem depois da era cristã, a série de manifestações de êxtase ou de possessão, que se presumia em comunicação com um mundo superior, deixaram de existir inteiramente. (A Personalidade Humana. Capítulo I, Introdução.) 

B. Que precursores da pesquisa dos fatos ditos paranormais são mencionados por Myers? 

O primeiro foi Swedenborg, que Myers considera um ilustre precursor desta grande ciência à qual ele próprio se propôs trazer sua contribuição. O segundo foi o célebre físico e químico Sir William Crookes. (Obra citada. Capítulo I, Introdução.) 

C. Os fenômenos paranormais se devem, na totalidade, à interferência dos Espíritos dos mortos? 

Segundo alguns, como Alfred Russel Wallace, sim. Myers, contudo, entende que eles são devidos, na sua maioria, à ação de Espíritos encarnados, quer do próprio sujeito ou de um agente qualquer. (Obra citada. Capítulo I, Introdução.)

Texto para leitura 

23. O mesmerismo – As possibilidades latentes da sugestão, ainda que sob outro nome e associadas a muitos elementos estranhos, saíram novamente à luz com o movimento inaugurado por Mesmer, simultaneamente inventor e charlatão. Ainda desta vez a época não estava bastante madura e a oposição científica, embora menos avassalante que a oposição religiosa que mandava os feiticeiros para a fogueira, foi suficientemente forte para deter de novo a ciência nascente. Em nossa geração, apenas uma terceira tentativa recebeu melhor acolhida. E atualmente o Hipnotismo e a Psicoterapia, nas quais todo fato bem provado de feitiçaria e de mesmerismo encontra, se não a sua explicação, pelo menos a sua analogia, estão a ponto de impor-se como métodos excelentes de alívio das misérias humanas.[i]

24. Em nenhuma das épocas que conhecemos, nem antes nem depois da era cristã, a série de manifestações de êxtase ou de possessão, que se presumia em comunicação com um mundo superior, deixaram de existir inteiramente. Às vezes, como na época de Santa Teresa, os êxtases desse gênero constituíam, por assim dizer, o fato central ou culminante do mundo cristão. Não vou me ocupar aqui desses experimentos. As provas existentes a seu favor são de caráter eminentemente subjetivo e estarão mais bem colocadas numa discussão ulterior, relacionada com o grau de confiança que se pode conceder à interpretação dada a seus próprios fenômenos pelas pessoas interessadas. Contudo, entre essas largas séries encontra-se a história excepcional, por assim dizer, de Emanuel Swedenborg.

25. É sabido que, neste caso, parecem ter existido provas objetivas excelentes, tanto de clarividência e telestesia como de comunicação com os mortos. E não podemos deixar de lamentar que o filósofo Kant, que estava em parte convencido do poder paranormal de Swedenborg,[ii] não tenha levado mais longe uma análise que valeria, pelo menos, tanto quanto as demais a que aplicou o seu espírito superior. Mas, independentemente dessas provas objetivas, o fato era em si mesmo suficientemente interessante para atrair a atenção durante mais tempo.

26. É-me impossível discutir aqui a estranha mistura que apresentam as revelações de Swedenborg, de literalismo servil e de especulação exaltada, de ortodoxia pedante e de temeridade que lhe permitiram olhar e ver muito mais adiante do que era acessível à sua época. Basta-me dizer que, se Sócrates fez descer a Filosofia do céu à terra, Swedenborg, noutro sentido um pouco diferente, fê-la subir novamente ao céu, criando a noção de ciência do mundo espiritual de forma tão séria, ainda que de uma maneira menos persuasiva, como Sócrates criou a ideia da ciência do mundo, tal como a conhecemos.

27. Swedenborg foi o primeiro para quem o mundo invisível era principalmente um domínio das leis, como uma região onde reinam não só a emoção etérea e a adoração imóvel, mas um progresso definido, resultado de relações definidas entre causas e efeitos, de leis fundamentais que presidem a existência e as relações espirituais, que um dia chegaremos a perceber e formular. Não considero Swedenborg nem como um profeta inspirado nem como um comentarista digno de confiança no tocante às suas próprias experiências, senão como um ilustre precursor desta grande ciência à qual nos propomos trazer nossa contribuição.

28. O precursor seguinte, que felizmente ainda vive, que devo mencionar nesta breve nota, é o célebre físico e químico Sir William Crookes.[iii] Da mesma forma que Swedenborg, foi o primeiro cientista ilustre que tratou de, honestamente, provar mediante experiências de uma precisão científica as recíprocas influências que existem entre o mundo espiritual e o nosso e sua contínua interpenetração. Mas enquanto Crookes contentou-se com estabelecer certos fatos paranormais, sem ir mais além, há um grupo de pessoas que fundamentaram sobre esses fatos e outros análogos um esquema de crença, conhecido sob o nome de Espiritualismo Moderno ou Espiritismo.

29. Os capítulos seguintes mostrarão tudo o que devo às observações feitas pelos membros desse grupo. E, ao mesmo tempo, ver-se-á que mais de uma vez minhas conclusões coincidem com as conclusões a que eles chegaram anteriormente. Por esse motivo esta obra constitui, na maior parte, uma refutação crítica do principal dogma espírita, do qual Alfred Russel Wallace é atualmente o partidário mais ilustre, segundo o qual todos os fenômenos paranormais se devem à interferência dos espíritos dos mortos.[iv]

30. Acredito, ao contrário, serem devidos, na sua maioria, à ação de espíritos encarnados, quer do próprio sujeito ou de um agente qualquer. Mas, apesar das diferenças especulativas que nos separam, estou concorde com ele em não desejar que o que considero como um ramo da investigação científica, que decorre naturalmente de nossos conhecimentos atuais, degenere numa crença sectária. Acredito que, na maior parte, deve-se à adesão irracional que, com frequência, degenera numa credulidade cega, o escasso progresso da literatura espírita e os estímulos que os cientistas encontraram num grande número de manifestações fraudulentas para se declararem hostis ao estudo dos fenômenos registrados e defendidos por meios e procedimentos tão contrários à Ciência.

31. Não sei que grau de originalidade e de importância atribuiriam nossos pósteros à contribuição que trouxemos para a solução desses problemas. Por volta de 1873, quando o materialismo que acabava de invadir nossas costas estava, por assim dizer, em seu apogeu, um pequeno grupo de amigos, reunidos em Cambridge, imbuiu-se da convicção de que as profundas questões em litígio mereciam uma atenção e um esforço mais sério do que o que lhes tinham sido consagrados até então. A meu ver, nenhuma tentativa digna de tal nome havia sido feita até então para determinar se somos ou não capazes de saber algo a respeito do mundo invisível. E adquiri a convicção de que se algo relacionado a esse mundo podia ser conhecido, de tal forma que a Ciência pudesse adotar e manter esse conhecimento, não era como consequência do exame da tradição, nem com ajuda de especulações metafísicas, senão simplesmente pela experiência e a observação, pela aplicação aos fenômenos que se passam em torno de nós e dentro de nós, dos mesmos métodos de investigação exata, imparcial, prudente, aos quais devemos o conhecimento do mundo visível e palpável.[v]

32. Alguns de meus atuais leitores verão nisto, talvez, uma redundância, outros um paradoxo. Mas, redundância ou paradoxo, este pensamento tornava necessário um esforço que, segundo entendo, não havia sido feito anteriormente. As investigações que se impunham não podiam se limitar à simples análise de documentos históricos ou às origens desta ou daquela revelação do passado. Essas investigações deveriam basear-se, como toda investigação científica, no sentido estrito da palavra, em fatos subjetivos realmente observáveis, e repousar em experiências que pudéssemos repetir hoje com a esperança de superá-las amanhã. Não se podia tratar mais que de investigações baseadas, para empregar uma expressão ultrapassada, na hipótese uniformizada, isto é, na proposição de que, se existe um mundo espiritual, e se esse mundo foi, numa época qualquer, suscetível de se manifestar e de ser descoberto, pode-se fazer o mesmo em nossos dias.

33. Deste lado, e partindo dessas considerações, o grupo ao qual pertencia abordara o tema. Nossos métodos, nossos princípios, tudo estava por fazer. Fazendo todo o possível para descobrir as provas, reunindo em torno de nós um pequeno grupo de pessoas desejosas de ajudar-nos na investigação dos fenômenos obscuros, relativos à natureza e à experiência do homem, finalmente tivemos a sorte de descobrir num ponto definido e importante um acordo entre os dados experimentais e os dados espontâneos. Chegamos a acreditar que não estava desprovida de verdade a tese que, desde Swedenborg e os primeiros mesmeristas, foi formulada frequentemente, ainda que de um modo superficial e ineficaz, segundo a qual podem estabelecer-se comunicações de espírito a espírito sem intervenção de órgãos sensoriais conhecidos.

34. Achamos que o fator por meio do qual se produzem as comunicações desse gênero, susceptíveis de serem discernidas com ajuda de provas apropriadas em ocasiões habituais, parecia associado a um fator mais ativo e, em todo caso, mais reconhecível, que se manifestava nos momentos críticos ou na hora da morte. Edmund Gurney, o colaborador e amigo imprescindível, cujo desaparecimento, ocorrido em 1888, foi para nós uma fonte de profundos desânimos, havia exposto esses dados numa grande obra, Phantasms of the Living, em cujo preparo Gurney e eu tivemos somente um papel secundário. Os quinze anos transcorridos desde a publicação desse livro aumentaram os elementos de que dispunha Gurney e mostraram (atrevo-me a afirmar) o valor geral do conjunto de provas e de argumentos que serviram de materiais à sua obra.

35. É, com efeito, de importância capital a doutrina da telepatia, que se pode considerar como a primeira lei oferecida à curiosidade humana e que, mesmo operando no mundo material, é, na minha opinião, ao menos uma lei do mundo espiritual ou metaetéreo. Tratarei de mostrar, no desenvolver desta obra, mediante numerosos exemplos, a importância das consequências que se depreendem da doutrina das comunicações interespirituais diretas ou parassensoriais. Entre essas consequências, a mais importante é a luz que derrama essa descoberta sobre a natureza íntima do homem e sobre a possibilidade da sua sobrevivência após a morte.

36. Descobrimos gradualmente que as narrações que tratam das aparições no momento da morte, e são testemunhos de uma comunicação parassensorial entre o moribundo e o amigo que o vê, conduzem-nos diretamente, sem nenhuma aparente solução de continuidade, às aparições que sobrevivem à morte da pessoa vista, sem que o sujeito tivesse conhecimento da morte, as quais são devidas, não à emergência de latente recordação, mas antes à ação persistente do espírito da pessoa morta. A tarefa que nos incumbia, imediatamente, era a de colecionar e analisar os dados desta categoria e muitos outros, com o fim de provar a sobrevivência espiritual do homem.

37. Mas, após haver continuado nessa tarefa durante alguns anos, dei-me conta de que a passagem da ação do espírito encarnado para a do espírito desencarnado era de uma natureza demasiadamente brusca, quer me parecer. À medida que se acumulavam as provas a favor das aparições, o indivíduo percebia que as aparições dos vivos formavam uma sequência contínua com as dos defuntos. Mas todo o conjunto de provas que, à primeira vista, propendia a mostrar a sobrevivência do homem, era de um gênero muito mais complexo. Essas provas consistiam, por exemplo, em grande parte, em manifestações faladas e escritas que se traduziam por intermédio da mão e da voz da pessoa viva, mas empenhadas em fazer crer que tinham sua origem num espírito desencarnado. A essas manifestações, apreciadas em seu todo, não se aplicou, até agora, um critério satisfatório.

38. Considerando os casos desse gênero, vi claramente que, antes de poder afirmar com certeza que tal conjunto de manifestações implica uma influência de além-túmulo, era necessário submeter as faculdades da personalidade encarnada do homem a uma análise mais profunda do que a considerada pelos psicólogos, pouco a par dos novos dados, como suficiente.

39. Lentamente, e como impulsionado pela necessidade, propus-me uma tarefa que, para ser realizada completamente, exigia conhecimentos e capacidades superiores aos que eu possuía. O esboço, realmente sumário, que constitui o fruto de meus esforços, não é, a meu ver, mais do que um ensaio preparatório que precederá a um tratamento mais completo e profundo do tema que o novo século receberá, estou seguro, de mãos mais competentes. Este livro terá já alcançado um grande sucesso se puder ser logo superado por outro melhor; porque isso será a prova de que não me equivoquei ao afirmar que o tratamento sério dessas questões nada mais é que o complemento e a conclusão inevitáveis do processo lento pelo qual o homem reuniu seguidamente, no domínio da Ciência, todos os grupos de fenômenos acessíveis. [vi]

40. Abordo, sem mais preâmbulo, o exame das faculdades humanas, tal como se manifestam nas diferentes fases da personalidade, com a esperança de tirar delas os elementos que nos permitam compreender melhor esses fenômenos pouco conhecidos. Evitarei, quanto possível, nesta discussão, tudo o que seja do domínio da Metafísica ou da Teologia. Evitarei a Teologia porque penso, como já disse, que usando os argumentos fundados na experiência e na observação, não tenho o direito de apelar para as considerações tradicionais ou subjetivas, qualquer que seja a sua importância.

41. Por análogas razões não quero começar a expor a ideia da personalidade por um resumo histórico das opiniões filosóficas que diferentes pensadores professaram a respeito, nem especular sobre matérias não susceptíveis de uma prova objetiva. Nada mais farei do que resumir, com a maior brevidade possível, duas opiniões sobre a personalidade humana que não podemos separar, ou seja: o antigo ponto de vista do bom senso, e que é ainda o da maioria das criaturas, e o ponto de vista mais recente da Psicologia experimental, que considera a personalidade humana ou animal como um conjunto de elementos heterogêneos, um composto.

42. O seguinte trecho, de uma famosa obra de Reid, Essai sur les facultés intellectuelles de l’homme, expressa o primeiro desses pontos de vista: “A convicção que todo homem possui de sua própria identidade, por mais distantes que remontem as suas recordações, não necessita do socorro da Filosofia para ser reforçada e nenhuma filosofia é capaz de debilitá-la sem haver determinado previamente um certo grau de loucura... Minha identidade pessoal implica, consequentemente, a existência contínua dessa coisa indivisível que chamamos eu. Seja o que for esse eu, é algo que pensa, reflete, resolve, trabalha e sofre. Não sou nem pensamento, nem ação, nem sentimento; sou algo que pensa, trabalha e sofre. Meus pensamentos, atos e sentimentos mudam constantemente; constituem uma existência sucessiva, não contínua; mas o eu ao qual pertencem é permanente e conserva uma posição invariável com relação a todos os pensamentos, todas as ações e todos os sentimentos que se sucedem e que eu chamo de meus... A identidade de uma pessoa é uma identidade perfeita; no que é real, não admite graus, é impossível que uma pessoa seja em parte a mesma, em parte diferente, porque uma pessoa é uma mônada, isto é, indivisível. A identidade aplicada às pessoas não sofre nenhuma ambiguidade, não admite graus de mais ou menos. É a base de todos os direitos, de todas as obrigações e de todas as responsabilidades, e sua noção é fixa e precisa.” [vii]

43. Em oposição a esse trecho citaremos o que forma a conclusão do ensaio de Ribot sobre As Enfermidades da Personalidade: “A personalidade consiste no organismo e no cérebro, sua manifestação suprema, contendo em si os restos de tudo aquilo que fomos e as possibilidades de tudo o que seremos. O caráter individual inteiro está ali inscrito, com suas aptidões ativas ou passivas, suas simpatias e antipatias, seu gênio, seu talento ou sua imbecilidade, suas virtudes ou seus vícios, sua inércia ou sua atividade. O que emerge até à consciência é pouco em comparação com o que fica enterrado, posto que ativo. A personalidade consciente nada mais é que uma débil parte da personalidade física. A unidade do eu não é, pois, a da entidade una dos espíritas que se dissolve em múltiplos fenômenos, senão a coordenação de determinado número de estados que renascem sem interrupção e que têm como único ponto de apoio o sentimento vago de nosso corpo. Essa unidade não vai de cima para baixo, mas de baixo para cima; não é um ponto inicial, mas um ponto final. Existe a unidade perfeita? No sentido rigoroso, matemático, evidentemente não. No relativo encontra-se raramente e de passagem. No excelente atirador que aponta, no hábil cirurgião que opera, o sentimento da personalidade real desaparece, o indivíduo consciente fica reduzido a uma ideia, de forma que a perfeita unidade de consciência e o sentido da personalidade se excluem. Retornamos, por outro caminho, à mesma conclusão: o eu é uma coordenação. Ele oscila entre esses dois pontos extremos, além dos quais deixa de ser a unidade pura, a não-coordenação absoluta. A última palavra sobre isso é que o consenso da consciência, estando subordinado ao consenso do organismo, o problema da unidade do eu é, em sua forma íntima, um problema biológico. Cabe à biologia explicar, se puder, a gênese dos organismos e a solidariedade de suas partes. A interpretação psicológica não pode deixar de segui-la.” [viii]

44. Eis duas maneiras de ver que se nos afiguram incompatíveis, uma sugerida pela nossa consciência interna e a outra pela observação que não admite réplica. Os partidários do conceito: o eu é uma coordenação, isto é, da Psicologia experimental, abandonaram honestamente toda noção de unidade, de vida independente do organismo, numa palavra, de alma humana. Por outro lado, os partidários da unidade do eu, ainda que não tenham sido sempre suficientemente explícitos na sua negação da opinião exposta, contentaram-se em ignorá-la. Que eu saiba, não se fez esforço algum para conciliar as duas opiniões mediante uma síntese mais profunda. E se me iludo de haver realizado nesta obra um esforço nesse sentido, não o foi remendando os velhos e gastos argumentos metafísicos. Essa é uma tarefa da qual não me sinto capaz, mas pensei humildemente que estamos de posse de novos dados que permitem considerar a questão sob uma nova luz e ao mesmo tempo resolver a controvérsia por um juízo a favor de ambas as partes, e mais decisivo do que era lícito esperar. (Continua no próximo número.)


 

[i]  Os avanços atuais nesse campo são referidos e analisados no volume Parapsicologia Hoje e Amanhã, de J. Herculano Pires. (N. E.)

[ii] Tomei a liberdade de compor a palavra paranormal para aplicá-la aos fenômenos que se encontram além do que ordinariamente acontece, isto é, em virtude de leis psíquicas que suponho desconhecidas. Esta palavra formou-se por analogia com a palavra normal. Por fenômenos anormais designamos não os fenômenos contrários às leis naturais, antes os que nos apresentam estas leis sob uma forma inusitada e inexplicável. Igualmente, um fenômeno paranormal não é, para mim, um fenômeno que excede as leis da Natureza, porque, na minha opinião, tal fenômeno não existe, senão o fenômeno pelo qual se manifestam leis, do ponto de vista psíquico, superiores às que vigoram na vida cotidiana. E por superior (no sentido fisiológico ou psíquico da palavra) entendo o que corresponde a uma fase mais avançada da evolução.

[iii] Outros sábios eminentes (entre eles Alfred Russel Wallace) estavam convencidos, igualmente, da realidade desses estranhos fenômenos, mas não verificaram essa realidade com o necessário cuidado (Richard Granvil, John Wesley, Samuel Johnson, etc.).

[iv]  Nesse ponto Myers se enganou, tomando por Espiritismo o Neo-Espiritualismo anglo-saxão. No Espiritismo, desde a primeira publicação de Kardec em 1857, os fenômenos paranormais têm duas causas: a anímica, ou seja, a alma humana, o psiquismo do médium, e a espírita, ou a ação dos espíritos sobre os médiuns. Ver isto no volume Parapsicologia Hoje e Amanhã, de J. Herculano Pires. (N. E.)

[v]  Faltava a Myers o conhecimento exato do trabalho de Kardec na Société Parisienne d’Etudes Spirites, hoje acessível ao leitor de língua portuguesa graças à tradução e edição da Revue Spirite (Revista Espírita) em São Paulo. (N. E.)

[vi] Os fenômenos paranormais são por assim dizer uma continuidade natural do campo dos fenômenos chamados normais. Charles Richet propôs a classificação de fenômenos habituais e inabituais. O estudo e a pesquisa do paranormal são, portanto, um desenvolvimento legítimo e necessário do processo científico, como Myers pretende. (N. E.)

[vii] Reid apoia-se em Descartes e Leibniz: a essência da personalidade é espiritual e se manifesta pelo pensamento (posição cartesiana) e a sua forma ou estrutura, que é unitária, se define pelo conceito leibniziano da mônada, espécie de átomo espiritual que é a fonte de toda a vida. (N. E.)

[viii]  Th. Ribot, Les maladies de la personalité, 9ª edição, pág. 170-172, Paris, F. Alcan. A palavra consenso é aplicada nesse trecho em seu sentido filosófico de unidade formada pela interdependência das partes. Assim, a unidade consciencial, segundo a opinião materialista de Ribot, decorre da unidade corporal, formando ambas, em seu acordo somatopsíquico, a personalidade humana. A alma, nesse caso, seria um efeito da matéria. (N. E.)



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita