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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 270 - 22 de Julho de 2012

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com

Brasília, DF (Brasil) 
 

Sobre bodes e cabras


Antigo adágio popular assevera que: “prendo minhas cabras, porque os bodes estão soltos”, referindo-se à necessidade de supervisão da conduta afetiva das jovens do gênero feminino, a despeito da liberdade inerente atribuída ao gênero masculino. Como todo ditado, revela uma sabedoria do senso comum, presente na cultura das comunidades e no cotidiano das ações.

Quando vejo jovens moças acompanhando os pais e esses se orgulhando de dizer que a menina, quase na maioridade, ainda não namorou, estampando na face a tranquilidade da “zona de conforto”, pelo fato de estar protelando problemas e desafios dessa experiência, me preocupo muito. Causa espanto e apreensão essa negação da vivência afetiva, entendida como uma coisa positiva, como se o relacionamento afetivo fosse uma coisa sempre nefasta, que deve ser adiada o máximo possível.

Essa visão dos pais, de que a menina está bem por não ter interesse em relações afetivas, pode trazer prejuízos sérios à formação de sua personalidade, decorrentes da fuga dos conflitos e das experiências naturais da adolescência, por vezes encontrando até na religião um refúgio, como no caso do voto de clausura[1]. Preocupa-me muito mais a solidão juvenil.

O isolamento juvenil da vida amorosa diminui aparentemente os riscos e as incertezas da vida, pode prometer curar chagas de dores mal resolvidas e ainda, adiar a luta contra a timidez. Entretanto, ao mesmo tempo, nega a vivência saudável e produtiva de uma relação afetiva, onde se experimenta a dor da saudade, a força da paixão e a confusão do ciúme, tendo a adolescência também esse caráter de “escola dos sentimentos”, preparando para a vida.

A ausência de relacionamentos pode criar jovens amedrontadas, inseguras e frágeis para a vida que se segue, onde se incluirá a inevitável vivência de relacionamentos mais sérios e provavelmente o casamento. Não ver óbices e até exaltar a jovem de uma certa idade que não vivencia o namoro, por mais cômodo que seja para os pais, pode mascarar as frustrações de uma mente reprimida, que sofrerá mais à frente, quando a vida a empurrar do galho, tendo que, então, voar sozinha.

Da mesma forma, essa repressão polarizada no polo feminino pode romper o diálogo, criando um reino de mentira, de pessoas de duas caras, apresentando a família uma faceta e ao mundo masculino outra. O diálogo com a família permite repartir dúvidas e fortalecer a visão da jovem, às vezes ingênua diante das armadilhas da juventude, na divisão de impressões diante dos “cantos de sereia” típicos à idade.

O dito popular citado reforça essa normalidade da pseudopreservação feminina, que pode representar uma virtude aparente, ocultando um sufocamento do convívio social, privando-a de uma das coisas belas da vida, que é namorar. Essa visão sexista traz embutida uma percepção negativa da afetividade, da relação entre as pessoas, do amor romântico, proscrevendo estas potencialidades naturais do ser humano, sagradas e benditas, como já nos asseverava Chico Xavier no programa “pinga fogo” (1971), revelando que o problema não está na potencialidade e sim na imperfeição humana.

 O complexo, o desafio posto, é encontrar o ponto de equilíbrio entre o zelo pela criação da jovem e o medo da vida, associado às questões mal trabalhadas nos corações dos próprios pais. A juventude é um momento de cuidado, crítico para pais e jovens, em que todo o processo de educação, associado à bagagem do Espírito, se vê confrontado com o mundo, na formação da personalidade.

Por isso, adiar conflitos não conduz à solução dos mesmos, cabendo a orientação e o diálogo, como remédios em doses homeopáticas diante das dificuldades, inexoráveis, na existência do Espírito encarnado.

E para os jovens leitores e leitoras, bem como seus pais, concluo a reflexão com um trecho da poesia “Ter ou Não Ter Namorado? Eis a Questão!!!”, de Carlos Drummond de Andrade:

"Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrimas, nuvem, quindim, brisa e filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado mesmo, é muito difícil. (...)”.



 

 

(1) A palavra clausura vem do verbo “claudo” = fechar, de onde deriva o claustro, que se refere à ideia de um ambiente fechado. O voto de clausura trata de um compromisso de religiosas católicas, tradicionalmente ligadas a Clara de Assis, que se isolam do convívio comum para vivenciar a sua fé.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita