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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 267 - 1º de Julho de 2012

MARIA ENY ROSSETINI PAIVA
menylins@terra.com.br
Lins, SP (Brasil)
                                        

O reino de Deus, na visão do filósofo Herculano

Os atalhos


O Capítulo VI do livro O Reino reserva-nos uma surpresa! Só mesmo uma mente privilegiada, uma cultura incomum como a do professor Herculano poderia entender os grandes desvios, os atalhos, ásperos, estreitos, pelos quais os homens fascinados pelo sonho do Reino tentam implantá-lo sobre a Terra.

Herculano termina o Capítulo V com a indagação: “Quem pode tirar do Espírito dos homens a eterna miragem do Reino?”.

Começa seu estudo falando das heresias, contra as quais a Igreja lutou séculos. Muitas delas isolavam seus profitentes na zona rural, longe dos soldados repressores. Herculano assim as descreve: “Seitas de aldeões simplórios em delírio místico visualizando em sonho as torres e mirantes do Reino. Grupos fanáticos de visionários ilustrados que se consideravam profetas, missionários, e arrastavam multidões sedentas de uma verdade mal entrevista”.

Assim ele define as heresias: “Seitas ao mesmo tempo humildes e arrogantes, de camponeses ansiosos por amor e justiça, tentando estabelecer na Terra o Amor e a Justiça do Reino”. Uma definição que nos faz lembrar Antonio Conselheiro no Nordeste e o movimento do Contestado no Sul. O anseio por Justiça e Amor movimentou sempre os corações e muitas vezes se autodestruiu, porque não soube alterar o modelo de poder, querendo estabelecer outros reis e dominadores, para na verdade, apenas e tão somente mudar os arreios, ao invés de eliminá-los na condução da sociedade.
Ainda ressoam, sem eco, as palavras de Jesus: “Aquele que quiser ser o primeiro, que seja servo dos demais”, ou seja, poder é serviço para os outros e não domínio sobre o outro.

Herculano reconhece também que “ao lado das heresias surgiram também as ideologias desesperadas, contraditoriamente alimentadas de esperanças. Mártires do Reino arderam em fogueiras assassinas, morreram em torturas piedosas, foram degolados e torturados”...

Surpreende Herculano, então, falando-nos que assassinos que a História nos mostra como destruidores da civilização romana também ouviram o chamado do Reino. Quiseram pela violência e morte implantar um novo Reino. Assim, coloca que Átila visualizou o Reino ainda que a distância e as hordas de bárbaros derrubaram impérios. Então pergunta: “Quem poderia segurar os homens alucinados pelo anseio de Amor e Justiça?”.

Cita então os mouros na Espanha, com seu alfanje devorando as cidades cristãs, em nome da república islâmica, trazendo para a ignorância dos monges, que destruíram em nome da fé toda a cultura grega romana, os escritos dos filósofos antigos, que sua cultura considerada “infiel e bárbara” pelos cristãos (a pretensão e o orgulho dos israelenses e romanos de novo, repetido na História), e que eles, mulçumanos, preservaram, ensinando aos povos analfabetos e ignorantes a matemática, a álgebra e os números arábicos. “Ah, como o fascínio do reino perdurou nos corações perjuros, torturando-os através dos séculos!” exclama o professor Herculano.

Apenas os que se detiverem a ler com atenção esse capítulo VI de O Reino poderão entender a beleza com que Herculano coloca como um dos precursores do Reino: Jean Jacques Rousseau, o maldito, o incoerente revolucionário que coloca seus quatro filhos na

“roda dos indigentes” em Paris e, com sua pena, estabelece os fundamentos das modernas sociedades, escrevendo O contrato social. Mostra o homem novo, fundamento da educação natural moderna em O Emílio, e apresenta “o novo amor que cimenta a família nova, formada pelo sentimento puro, livre das impurezas e do jugo doloroso das ambições” em Heloísa.

Uma conduta pessoal lamentável que o transforma em réprobo social, mas essas obras produziram “a Revolução Francesa, a Queda da Bastilha, a derrubada dos privilégios da Nobreza”. Com ele surge o primeiro esboço da Religião Racional, da Nova Educação, e a proclamação do Reino na fórmula revolucionária: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

É preciso conhecer Filosofia, ter uma cultura universalista para superar os preconceitos, como Herculano, que continua nesse capítulo a enumerar os atalhos pelos quais os homens tentam atingir o Reino do Amor e da Justiça.

Fala-nos de Karl Marx e de sua luta que lhe devorou a saúde, dos dezesseis volumes alentados de “O Capital”, onde disseca com análise rigorosa o corpo de uma sociedade injusta. A imagem com que ele encerra a visão de Marx, o “profeta extemporâneo, que salta da Bíblia e tenta esmagá-la com os pés”, sem conseguir, porque estava velho demais, é algo inesquecível.

Então, inesperadamente, novamente o autor nos surpreende e nos fala de Mussolini “um Rei transformado em títere. Os direitos humanos violados. A mentira do corporativismo escravizando as massas. O servilismo, a arrogância, a brutalidade, o ódio erigido em valores novos”. 

A seguir nos fala de Hitler. E completa: “Tanta impiedade, tanta loucura no desvario do Reino”.

De uma forma suave e branda como uma brisa matinal, Herculano nos faz ver que mudavam-se as estrutura, mudavam-se os donos do poder, mas faltava a mudança que o Jovem Carpinteiro havia começado. Jesus ensinara que o Reino não começa por sinais exteriores, mas está dentro de nós. Mas os homens continuaram a buscar poder, dinheiro, grandeza, sonhando como os discípulos e os revolucionários do tempo de Jesus na Glória de Israel e em seu domínio sobre todos os povos. Os atalhos só nos trouxeram sofrimentos!

Ele termina o capítulo citando Gandhi: o meio é caminho do fim. Ninguém pode atingir Paris, se tomar o caminho para Roma, da mesma forma, esses confusos atalhos nos enleiam em uma prisão. Mas, ao mesmo tempo, caminhamos para a libertação. É isso que ele nos explica no próximo capítulo seguinte: A CONFLUÊNCIA.

É aqui que o Reino deve ser implantado. No entanto, isso requer, além da compreensão de seus fundamentos, a vivência pessoal deles, porque O Reino de Deus está dentro de nós. Apenas os que vivem essa realidade podem entender que lutar pela implantação do Reino de Deus não é esperar indefinidamente por sua implantação, em uma matemática absurda e infantil: “O mundo será regenerado, dizem, quando todas as pessoas entenderem a mensagem de Jesus e a praticarem. Será a reforma íntima de cada um que nos levará à mudança social que, então, será possível de modo brando e pacífico. Será a soma da reforma íntima de cada um que levará o mundo a se tornar um mundo de regeneração”.

Dizer isso é desconhecer a obra da Codificação e os mais comezinhos princípios de sociologia.  Imaginemos que no Brasil, que carrega a vergonha histórica de ser o último país do mundo a abolir a escravidão dos negros, as Igrejas e as Escolas principiassem em 1888, exatamente no dia 13 de maio, uma campanha para libertar os escravos, mostrando como é desumano escravizar alguém, como isso leva à indignidade do escravizador e do escravizado, e outras questões para reformar pela educação e sem a utilização das leis punitivas, que estabelecem sanções a quem não as cumprir.  Por acaso alguém pode ser tão ingênuo de imaginar que os escravocratas, as senhoras que utilizavam os escravos iriam se sensibilizar? Todas as Igrejas, que utilizavam e utilizam a Bíblia para justificar a escravidão, iriam modificar seu discurso e libertar os cativos que mantinham?  Na verdade, se a comunidade internacional não interferisse, respeitando nossa liberdade, seríamos hoje o único país do mundo a manter os negros cativos.

Alguém poderá argumentar que a liberdade dos negros os empurrou para as favelas, que ninguém se preocupou em educá-los para fazer deles cidadãos brasileiros com as mesmas possibilidades dos brancos... Com certeza, isso é verdade, mas também nos mostra que, cedo ou tarde, esses excluídos acordam, e se as leis os favorecem, e já existem, EXIGEM que lhes sejam dados os direitos usurpados, por organizações injustas e cruéis. É o que se passa hoje no Brasil, quando o racismo, se comprovado, pode custar ao infrator até três anos de cadeia.



 


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