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Correio Mediúnico
Ano 6 - N° 264 - 10 de Junho de 2012
 

 

Alcoólatra 

Joaquim Dias

 

Alcoólatra!

Que outra palavra existirá na Terra, encerrando consigo tantas potencialidades para o crime?

O alcoólatra não é somente o destruidor de si mesmo. É o perigoso instrumento das trevas, ponte viva para as forças arrasadoras da lama abismal.

O incêndio que provoca desolação aparece numa chispa. O alcoolismo que carreia a miséria nasce num copinho.

De chispa em chispa, transforma-se o incêndio em chamas devoradoras. De copinho a copinho, o vício alcança a delinquência.

Hoje, farrapo de alma que foi homem, reconheço que, ontem, a minha tragédia começou assim...

Um aperitivo inocente...

Uma hora de recreio...

Uma noite festiva...

Era eu um homem feliz e trabalhador, vivendo em companhia de meus pais, de minha esposa e um filhinho. Uma ocasião, porém, surgiu em que tive a infelicidade de sorver alguns goles do veneno terrível; disfarçado em bebida elegante, tentando afugentar pequeninos problemas da vida e, desde então, converti-me em zona pestilencial para os abutres da crueldade.

Velhos inimigos desencarnados de nossa equipe familiar fizeram de mim seu intérprete. A breve tempo, abandonei o trabalho, fugi à higiene e apodreci meu caráter, trocando o lar venturoso pela taverna infeliz.

Bebendo por mim e por todas as entidades viciosas que nos hostilizavam a casa, falsifiquei documentos, matando meu pai com medicação indevida, depois de arrojá-lo à extrema ruína. Mais tarde, tornando-me bestial e inconsciente, espanquei minha mãe, impondo-lhe a enfermidade que a transportou para a sepultura.

Depois de algum tempo, constrangi minha esposa ao meretrício, para extorquir-lhe dinheiro, assassinando-a numa noite de horror e fazendo crer que a infeliz se envenenara usando as próprias mãos e, de meu filho, fiz um jovem salteador e beberrão, muito cedo eliminado pela polícia...

Réprobo social, colhia tão-somente as aversões que eu plantava.

Muitas vezes, em relâmpagos de lucidez, admoestava-me a consciência:

– Ainda é tempo! Recomeça! Recomeça!

Entretanto, fizera-me um homem vencido e cercado pelas sombras daqueles que, quanto eu, se haviam consagrado no corpo físico à criminalidade e à viciação, e essas sombras rodeavam-me apressadas, gritando-me, irresistíveis:

– Bebe e esquece! Bebe, Joaquim!

E eu me embriagava, sequioso de olvidar a mim mesmo, até que o delírio agudo me sitiou num catre de amargura e indigência.

A febre, a enfermidade e a loucura consumiram-me a carne, mas não percebi a visitação da morte, porque fui atraído, de roldão, para a turba de delinquentes a que antes me afeiçoara.

Sofri-lhes a pressão, assimilei-lhes os desvarios e, com eles, procurei novamente embebedar-me.

A taverna era o meu mundo, com a demência irresponsável por meu modo de ser...

Ai de mim, contudo! Chegou o instante em que não mais pude engodar minha sede!...

A insatisfação arrasava-me por dentro, sem que meus lábios conseguissem tocar, de leve, numa gota do liquido tentador.

Deplorando a inexplicável inibição que me agravava os padecimentos, afastei-me dos companheiros para ocultar a desdita de que me via objeto.

Caminhei sem destino, angustiado e semilouco, até que me vi prostrado num leito espinhoso de terra seca...

Sede implacável dominava-me totalmente... Clamei por socorro em vão, invejando os vermes do subsolo. Palavra alguma conseguiria relatar a aflição com que implorei do Céu uma gota d’água que sustasse a alucinação de minhas células gustativas...

Meu suplício ultrapassava toda humana expressão...

Não passava de uma fogueira circunscrita a mim mesmo.

Começaram, então, para mim, as miragens expiatórias.

Via-me em noite fresca e tranquila, procurando o orvalho que caía do céu para dessedentar-me, enfim, mas, buscando as bagas do celeste elixir, elas não eram, aos meus olhos, senão lágrimas de minha mãe, cuja voz me atingia, pranteando em desconsolo:

– Não me batas, meu filho! Não me batas, meu filho!...

Devolvido à flagelação, via-me sob a chuva renovadora, mas, tentando sorver-lhe o jorro, nele reconhecia o pranto de meu pai, cujas palavras derradeiras me impunham desalento e vergonha:

– Filho meu, por que me arruinaste assim?

Arrojava-me ao chão, mergulhando meu ser na corrente poluída que o temporal engrossava sempre, na esperança de aliviar a sede terrível, mas, na própria lama do enxurro, encontrava somente as lágrimas de minha esposa, de mistura com recriminações dolorosas, fustigando-me a consciência:

– Por que me atiraste ao lodo? e por que me mataste, bandido?

E de novo regressava ao deserto que me acolhia, para logo após me entregar à visão de fontes cristalinas...

Enlouquecido de sede, colava a boca ao manancial, que se convertia em taça de fel candente, da qual transbordavam as lágrimas de meu filho, a bradar-me, em desespero:

– Meu pai, meu pai, que fizeste de mim?

Em toda parte, não surpreendia senão lágrimas... Arrastei-me pelos medonhos caminhos de minha peregrinação dolorosa, como um Espírito amaldiçoado que o vício metamorfoseara em peçonhento réptil... Suspirava por água que me aliviasse o tormento, mas só encontrava pranto... Pranto de meu pai, de minha mãe, de minha esposa e de meu filho a perseguir-me implacável...

Alma acicatada por remorsos intraduzíveis, amarguei provações espantosas, até que mãos fraternas me trouxeram a bênção da oração...

Piedosos enfermeiros da Vida Espiritual e mensageiros da Bondade Divina, pelos talentos da prece, aplacaram-me a sede, ofertando-me água pura...

Atenuou-se-me o estranho martírio, embora a consciência me acuse...

Ainda assim, amparado por aqueles que vos inspiram, ofereço-vos o triste exemplo de meu caso particular par escarmento daqueles que começam de copinho a copinho, no aperitivo inocente, na hora de recreio ou na noite festiva, descendo desprevenidos para o desequilíbrio e para a morte...

E, em vos falando, com o meu sofrimento transformado em palavras, rogo-vos a esmola dos pensamentos amigos para que eu regresse a mim mesmo, na escabrosa jornada da própria restauração.

 

Mensagem psicofônica transmitida na noite de 12 de janeiro de 1956 pelo médium Francisco Cândido Xavier, inserida no livro Vozes do Grande Além, de autoria de Espíritos Diversos, por intermédio do saudoso médium.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita