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Crônicas e Artigos

Ano 6 - N° 263 - 3 de Junho de 2012

LEONARDO MACHADO
leomachadot@gmail.com
Recife, PE (Brasil)
 

Mito de Er, sansara e a visão espírita

Renascimento [1]

A Alma não fica inteiramente morta!
Vagas Ressurreições do Sentimento
Abrem já, devagar, porta por porta,
Os palácios reais do Encantamento!

Morrer! Findar! Desfalecer! que importa
Para o secreto e fundo movimento
Que a alma transporta, sublimiza e exorta,
Ao grande Bem do grande Pensamento!

Chamas novas e belas vão raiando,
Vão se acendendo os límpidos altares
E as almas vão sorrindo e vão orando...

E pela curva dos longínquos ares
Ei-las que vêm, como o imprevisto bando
Dos albatrozes dos estranhos mares...

Cruz e Sousa (1861 – 1898)

 

O simbolismo do poeta nos aponta para a mesma direção socrática – a alma renasce, preexistindo ao nascimento biológico.

Para explicar esta questão, Platão lança mão do chamado Mito de Er.

Segundo a história, em certa ocasião, o pastor Er foi conduzido por uma deusa até o Hades, o reino dos mortos. E, em lá chegando, encontrou as almas contemplando, de modo sereno, as ideias. No momento, porém, em que precisavam voltar à vida física, por meio da reencarnação, eram levadas a escolher suas novas existências na Terra. Tinham, contudo, liberdade para fazê-lo. Em seguida, depois da escolha, eram conduzidas por uma planície na qual corriam águas do rio Léthe – o esquecimento.

Umas escolhiam a vida de prazeres fugazes e, para tanto, bebiam bastante da água. Outras, no entanto, escolhiam a sabedoria e, assim, quase não bebiam da água.

Como consequência, as primeiras esqueciam as ideias que tinham contemplado, enquanto que as segundas conseguiam lembrar as verdades vislumbradas.

Por isto, Sócrates falava que a verdade era uma lembrança e o conhecimento, uma reminiscência. Desse modo, o filósofo com a dialética, da mesma forma que o médico com a anamnese, tinha a função de favorecer esta reativação de algo latente. E, quando se recorda de alguma ideia, outras correlatas ressumam.

O mito é, no mínimo, interessante. Mas o fato é que a reencarnação sempre foi levantada como hipótese para explicar inúmeros fatos no bojo das civilizações.

No Bagavad Gita, por exemplo, Krishna explica a Arjuna que, da mesma forma que a alma experimenta a infância, a juventude e a velhice no atual corpo, e do mesmo modo que o homem se despe de roupas usadas para vestir outras novas, também a alma encarnada abandona os corpos gastos e passa para outros novos.

Nesse sentido, no pensamento hindu e budista, verifica-se o conceito do sansara[2] - o ciclo de nascimento e de morte do qual os seres estão presos, pelos seus próprios atos, e do qual devem buscar se libertar, igualmente pelas suas ações.

Mais recentemente, o Espiritismo reaviva no Ocidente estas teorias reencarnacionistas, não somente para explicar o porquê dos diferentes conhecimentos nos seres, mas, indo ao encontro das tradições orientais, para ponderar acerca da justiça divina. A origem das mais variadas diferenças sociais, sobretudo quando estas vêm desde o berço – intelectual, saúde, aptidões, ideias inatas, prodígios – encontrariam sua explicação também na teoria das múltiplas vidas, além das outras contribuições estudadas pelas ciências tradicionais.

Como seja, com o mito das reminiscências, a obra platônica lança mão no pensamento filosófico ocidental da teoria reencarnacionista. E, de certo modo, passeia pelas antigas tradições da Índia e se assemelha aos modernos ensinamentos espíritas – aqueles que muito bebem das águas do rio Léthe antes de reencarnar ficam mais facilmente presos na ilusão do sansara.  

*

“Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito.” Jesus.  [3] [4]

 

Leonardo Machado é médico, residente de psiquiatria, palestrante, compositor e escritor. Atua no NEIL, na Federação Espírita Pernambucana e na AME-EPE.


 

[1] Poesia inserida no livro “Últimos sonetos” (1905) do poeta catarinense simbolista Cruz e Sousa.
 

[2] Sansara, Samsara ou Samskara em sânscrito pode ser traduzido como viajando, embora tenha amplas significações semelhantes.


[3] João 3:1-8.


[4] Maiores análises desta passagem podem ser encontradas em nosso livro “A Sabedoria de Sócrates e o Cristianismo redivivo”.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita