A. Ante a sanha dos
inimigos desencarnados,
como deve agir o
espírita?
Sabemos dos
constrangimentos
decorrentes do ódio
entre desencarnados, que
se atiram, tresloucados,
uns contra os outros. O
espírita não está
isento de tais inimigos,
pelos quais deve envidar
esforços espirituais, a
fim de os dulcificar e
aplacar-lhes a ira,
mediante exemplos de
renovação e humildade,
elevação pelo trabalho
nobre e aprendizagem das
técnicas iluminativas e
salutares, bem como de
estudos e conversações
edificantes, que podem
induzir os que os odeiam
a mudar de
comportamento,
realizando a edificação
própria.
(Tramas do Destino, cap.
15, págs. 138 a 140.)
B. Qual é o único
antídoto realmente
eficiente ante o mal?
O amor é o único
eficiente antídoto ante
qualquer mal.
Sintetizando no amor
todos os deveres e
aspirações que nos
devemos impor, Jesus foi
peremptório, em sua
inapelável sabedoria:
“Amai os vossos
inimigos”. Pacificar-se
com os inimigos,
enquanto se está no
caminho com eles, é
medida de urgência.
Ideal, portanto, não ter
inimigos, não estar
contra ninguém, não se
rebelar... Se alguém não
nos quer bem, o problema
é dele; porém, se damos
motivo para que tal
ocorra, já é nosso o
problema.
(Obra citada, cap. 15,
págs. 140 a 142.)
C. É certo dizer que o
sofrimento é uma pena
imposta pela Divindade?
Não. O sofrimento e a
soledade não são penas
impostas pela Divindade;
antes constituem
corrigenda salvadora,
com que a criatura se
arma para cometimentos
elevados.
(Obra citada, cap. 16,
págs. 143 e 144.)
Texto para leitura
59. Os efeitos
maléficos do ódio
- Feita ligeira pausa,
os ouvintes aguardavam,
atentos, o
prosseguimento da lição,
enquanto Artêmis
exultava, perguntando a
si mesmo como pudera
obstinar-se em adiar por
tanto tempo o contacto
com o Espiritismo. A
palestrante continuou:
"O ódio, o ciúme, a
inveja, o despeito que
intoxicam a vida por
longos anos não podem,
a passe de mágica,
desaparecer dos painéis
mentais e dos
sentimentos morais de
quem lhes deu guarida
insensatamente".
Referiu, então, que o
ódio, em particular,
açoda os instintos e faz
daquele que o hospeda um
tresvariado, que,
despertando para as
novas realidades da vida
post-mortem, que não
deseja, investe contra
quem detesta,
convertendo-se em
verdadeira sombra
imantada à sua vítima.
"Esse inditoso conúbio –
asseverou a expositora
– não ocorre, apenas,
durante uma existência.
É mais nefasto quando
procede dos ódios
pretéritos, em que o
litigante infeliz, que
se supõe prejudicado,
esclarece-se quanto aos
recursos que pode
movimentar no estado em
que se encontra,
articulando planos
cavilosos, programando
perseguições
implacáveis, detendo-se
à espreita de brechas
morais, incansável e
insensível até lograr o
tentame que prefere..."
A médium, visivelmente
inspirada pela Entidade
desencarnada, relanceou
seu olhar pelo recinto e
advertiu: "Ninguém se
equivoque, porém. O ódio
termina sempre por
calcinar aquele que o
gera e conserva, qual o
escorpião que sucumbe em
face do veneno que
carrega consigo e um dia
o aplica em si mesmo...
A sanha dos inimigos
desencarnados somente se
aplaca ao preço da
renúncia e da
autoiluminação dos que
transitam no corpo". Em
seguida, ela falou sobre
os constrangimentos
decorrentes do ódio
entre desencarnados, que
se atiram, tresloucados,
uns contra os outros,
advertindo que o
espírita não está
isento de tais inimigos,
pelos quais deve envidar
esforços espirituais, a
fim de os dulcificar e
aplacar-lhes a ira,
mediante exemplos de
renovação e humildade,
elevação pelo trabalho
nobre e aprendizagem das
técnicas iluminativas e
salutares, bem como de
estudos e conversações
edificantes, que podem
induzir os que os odeiam
a mudar de
comportamento,
realizando a edificação
própria. (Cap. 15, págs.
138 a 140)
60. O amor é o
único antídoto a
qualquer mal - A
expositora lembrou
também que a oração e a
prática da caridade
criam uma psicosfera
favorável que favorece a
própria criatura e atua
nos seus sicários como
clima refazente de
terapia eficaz. "Não são
poucos os invejosos, os
ciumentos e os perversos
– acentuou a Entidade –
que, em estado
espiritual, se comprazem
em destilar sua peçonha
enfermiça nos homens
honestos, aos quais
combatem por motivos
óbvios, desejando
comprazer-se ante os
sofrimentos que lhes
impõem..."
"Interpenetram-se e se
comunicam os dois
mundos – do espírito e
da matéria, e seus
membros, homens e
Espíritos – mais do que
se pensa ou se supõe."
Os espíritas defrontam,
pois, além do próprio
passado donde provêm, os
Espíritos ociosos e
perturbados que os
anatematizam, porque, em
considerando os
propósitos elevados a
que se dedicam,
consideram-nos
erroneamente como
inimigos, por lhes
obstarem a sanha
perseguidora e a
insensatez. A
palestrante então
arrematou: "Por essa
razão, o amor é o único
eficiente antídoto a
qualquer mal.
Sintetizando no amor
todos os deveres e
aspirações que nos
devemos impor, foi
imperativo Jesus, na sua
inapelável sabedoria:
Amai os vossos inimigos.
Da mesma forma como a
morte do desafeto não
lava a honra do
ofendido, um inimigo
desencarnado é muitas
vezes pior do que
encarnado. Pacificar-se
com os inimigos,
enquanto se está no
caminho com eles, é
medida de urgência.
Ideal, portanto, não ter
inimigos, não estar
contra ninguém, não se
rebelar... Se alguém não
nos quer bem, o problema
é dele; porém, se damos
motivo para que tal
ocorra, já é nosso o
problema. Pacificados em
Cristo, apaziguemos com
a nossa atitude
caridosa, que transforma
todo ódio em amor,
tenhamos esperança e
alegria de viver".
Concluída a mensagem,
aragem balsâmica
adentrou-se pelo
recinto. Sem ruído ou
contração de qualquer
natureza, a jovem
Epifânia sentou-se,
apoiou a mão direita à
cabeça e recompôs-se,
retornando à normalidade
objetiva. Em seguida,
iniciou-se a terapêutica
dos passes. A reunião
ali se encerrava, na sua
primeira parte e Artêmis
e Gilberto
transferiram-se,
juntamente com Cândido,
para outra sala, onde
algumas pessoas já se
postavam em seus
lugares. (Cap. 15,
págs. 140 a 142)
61. Adelaide
comunica-se - Na
câmara, Cândido
apresentou os Fergusons
à médium Epifânia, que
osculou a destra de
Artêmis e saudou
cortesmente Gilberto. Em
seguida, pediu-lhes que
se sentassem,
conservando-se em
atitude de prece.
Aplicou-lhes então
passes individuais, após
o que falou com
naturalidade: "Os
senhores estão muito bem
acompanhados,
espiritualmente, o que
traduz o equilíbrio
íntimo que se reservam.
Vejo entre ambos, em
atitude maternal,
veneranda Entidade que
me diz chamar-se
Adelaide Nepomuceno
Vieira, afirmando ser a
genitora e a avó,
respectivamente, da
senhora e do jovem".
Artêmis e Gilberto não
dominaram a emoção, e o
rapaz debulhou-se em
lágrimas convulsas. A
médium, transmitindo as
palavras da Benfeitora
desencarnada, mediante
aguçada audiência,
disse-lhe: "Chore,
filho! Necessário romper
os diques da mágoa para
que as águas generosas e
refrescantes da
esperança possam acalmar
o coração. Muito
solitária tem sido sua
jornada. No entanto,
fite o amanhã e avance,
encorajado, no rumo do
porvir. Mantenha os
espinhos do pretérito
cravados no coração,
tentando adubá-los com o
sacrifício, e eles
florescerão,
abençoados. O
sofrimento, a soledade
não são penas impostas
pela Divindade; antes
constituem corrigenda
salvadora, com que a
criatura se arma para
cometimentos elevados.
Quem não é capaz de
superar pequenos óbices
de sombra, não merece
contemplar os horizontes
infinitos da beleza.
Jesus lhe ofertou por
agora a colheita de
frutos azedos, em
decorrência da má
sementeira do seu pomar
de realizações. Todavia,
faculta-lhe novo ensejo
de produção. Use a
lucidez e plante a messe
da paz com que
enriquecer os
companheiros de lutas,
adquirindo preciosos
valores para entesourar
no espírito. Os seus
dias apenas começam. Não
recue, a relacionar
insucessos. Avance a
produzir oportunidades,
abençoando sua atual
existência com a alegria
de sofrer e servir.
Estão-lhe reservadas
realizações profícuas.
Prepare-se e ame, sirva
ao bem, indistintamente,
e aguarde. A hora máxima
da noite é, também, o
prelúdio do instante
primeiro do dia. Siga o
rumo da madrugada".
(Cap. 16, págs. 143 e
144)
62. O calvário é a
véspera da felicidade
- Com as palavras da
Entidade, ditas através
de Epifânia, Gilberto
readquiriu o controle da
emoção. A médium
voltou-se então para
Artêmis, de quem tomou
as mãos frias entre as
suas, em atitude de
acolhimento e ternura. A
Sra. Ferguson recordou
que esse era um hábito
de sua mãe, sempre que
aconselhava os filhos.
"Pede-me a nossa bondosa
Adelaide – disse a
médium – para dizer-lhe
que toda cruz é símbolo
de libertação. As duas
traves que se conjugam
hoje para o sacrifício
convertem-se, depois, em
asas para a ascensão
vitoriosa". Seguiu-se
então uma mensagem
confortadora em que
Adelaide repetiu o que
já dissera à sua filha
no encontro espiritual,
em momento de sono do
corpo físico. Elas
estavam juntas; na
esfera dos sonhos
encontravam-se
regularmente; Lisandra e
Gilberto se redimem. "O
calvário é uma estação
que precede à
ressurreição em triunfo,
à comunhão em júbilo
entre os amigos e à
ascensão em glória para
todos nós", asseverou a
venerável Entidade.
"Não tenhamos pressa
para que passe o cálice,
antes nos encorajemos
para sorvê-lo trago a
trago, gota a gota, até
secar-lhe o conteúdo e
fel e vinagre." Em
seguida, Adelaide
referiu-se de modo
afetuoso à Doutrina
Espírita: "O Espiritismo
é a prova cabal do amor
de Nosso Pai pelos
homens em agonia,
vencidos, ainda, pelo
egoísmo. É a simbólica
Escada de Jacó para quem
deseja abandonar os
peraus pantanosos dos
erros e erguer-se aos
céus da felicidade,
sequer sonhada".
(N.R.: perau ‚
caminho-falso, barranco,
declive áspero junto à
costa de um rio.) E,
por fim, estimulou a
filha a perseverar na
paciência e na fé,
agradecendo a Deus o
quinhão de bênçãos que,
na forma de aparente
infortúnio, constituíam
a porta de acesso de
todos à paz. Artêmis e
Gilberto tornaram ao
lar, com as almas
luarizadas e em paz.
Nada comentaram no
percurso, nem poderiam
fazê-lo. Só os profundos
silêncios falam as
grandes, as
intraduzíveis gratidões.
(Cap. 16, págs. 145 e
146)
63. A
iniciação de Epifânia
- O mediunato de
Epifânia transcorria em
clima de bênçãos, após
sucessivos embates. De
formação católica a
princípio, sofreu por
muitos anos, procurando
explicação para os
fenômenos mediúnicos de
que era objeto e que a
afetaram muito com a sua
carga de aflições.
Crente na interferência
diabólica, supunha serem
demônios maus os
Espíritos que lhe
apareciam, embora a
negativa destes.
Assustada pelo sacerdote
quanto às armadilhas
satânicas de que se
devem livrar as almas,
por meio de penitências,
jejuns e orações, mais
se lhe aumentavam as
percepções sob a
rigorosa dieta
espiritual. Com a
adolescência,
defrontando antigos
adversários, sofreu
tormentosas e complexas
investidas dos
malfeitores
desencarnados e por
diversas vezes planejou
autoaniquilar-se,
fugindo assim aos
constrangimentos e às
dores. Tornou-se então
arredia, embora amável,
silenciosa e triste.
Registrava, nessa época,
a presença de venerável
religiosa desencarnada,
que a sustentava com
diretrizes e conselhos
sábios e, com
sacrifícios e renúncias,
acabou superando as
dificuldades de
entendimento espiritual,
passando a confiar na
aristocrática
Benfeitora. Ao completar
catorze anos,
desencarnou-lhe uma
irmã, vitimada por soez
obsessão, que culminou
em espetaculoso e
infeliz suicídio. O
choque desarticulou-a,
levando-a ao leito. Foi
então que um amigo da
família fez com que a
jovem recorresse ao
Espiritismo,
iniciando-se assim o
exercício e o
desdobramento correto de
suas faculdades
mediúnicas. Conseguiu
libertar-se das
perseguições dos
inimigos desencarnados,
adquirindo com grande
esforço o necessário
equilíbrio dos
sentimentos e da razão,
mas as dificuldades não
pararam aí; antes
aumentaram. Calúnias
lhe rondavam os passos;
censuras por
conservar-se solteira,
"correndo perigos
desnecessários",
eram-lhe frequentes, e
mais de um cavalheiro
pretendeu-lhe a mão para
o matrimônio. "A mulher
somente se realiza
quando se consorcia e se
torna mãe", diziam-lhes
os familiares e os
confrades impertinentes,
mas Epifânia se
escusava, fazendo-se
desentendida e
prosseguia, inalterável,
a sua tarefa. (Cap. 16,
págs. 147 e 148)
(Continua no próximo
número.)