B. Como explicar o
fenômeno da
“transfiguração” se
excluirmos nele a
hipótese espírita?
É muito difícil explicar esse fenômeno, se não se recorrer à
intervenção de uma
entidade de defunto que
se tivesse apoderado do
organismo do "sensitivo"
em condições de sono. No
Caso 5, por exemplo, o
filho, que velava o pai
adormecido, viu
transformar-se o rosto
deste no da própria mãe,
enquanto a camareira
notara o mesmo fato em
um caso semelhante.
(A Morte e os seus Mistérios, Caso 15.)
C. Os relatos
pertinentes à
“transfiguração” não
podem ser atribuídos à
alucinação?
A hipótese de alucinação poderia, sim, ser cogitada se o fenômeno
não tivesse sido notado
por dois, cinco ou mais
observadores, como
Bozzano deixou bem claro
ao relatar os casos 5,
7, 8, 11 e 14, fato que
serve para eliminar de
vez a hipótese
alucinatória.
(A Morte e os seus
Mistérios, Caso 15.)
Texto para leitura
95. O Caso 15 reporta um fato que se realizou espontaneamente com a
médium Sra. Barkel, que
possui faculdades de
"clarividência" e é uma
"oradora por
inspiração", como há
tantas em países
anglo-saxões. Aquele a
quem foi dado observar
nela o fenômeno da
transfiguração do rosto
foi o Sr. Leonard
Farqhuar, um céptico,
que se dirigira à
reunião com a intenção
de formar uma opinião
pessoal a respeito de
semelhantes
experiências.
96. Escreveu Leonard Farqhuar: "Declaro que não sou espírita, mas
sei manter-me
prudentemente neutro
quando se trata de
assuntos que não conheço
e os meus conhecimentos
a respeito remontam a
uma semana antes da
sessão de que me
proponho a falar. Eu sou
positivista materialista
e, em consequência, não
se poderia dizer que
tivesse tendência para
ter visões por
autossugestão. Na minha
qualidade de neófito,
propus-me a vigiar,
atentamente, a médium no
momento em que caísse em
‘transe’. Assim
procedendo não me
pareceu notar indícios
de sua passagem a
condições anormais
quando se pôs de pé para
começar o sermão, o qual
me deixou profundamente
decepcionado. Nada
encontrara que fosse de
molde a sugerir uma
origem supranormal... e
foi para mim verdadeiro
alívio quando vi a Sra.
Barkel tornar a
sentar-se. Sentia-me
mais decepcionado,
irritado e quase
hostil.”
97. Continua o relato: “A ‘presidente’ pôs-se a falar por sua vez,
mas eu não a escutava e
fixava o olhar
perscrutador sobre a
médium, com o escopo de
assegurar-me se
realmente se
manifestariam indícios
da sua emergência em um
estado anormal. Pois
bem: desta vez houve
indícios, e de um gênero
inspirado. A Sra. Barkel
estava sentada
tranquilamente, com a
cabeça levemente
reclinada. Pouco depois
observei um movimento
dos seus ombros, que se
puseram em linha
horizontal, enquanto a
cabeça caía bruscamente
para frente, indo
apoiar-se com o queixo
sobre o peito, mas o
queixo se mostrava
particularmente
indistinto. Depois, a
médium permaneceu imóvel
como uma estátua. Eu
continuava a observá-la
com impassível
insistência, enquanto a
‘presidente’ prosseguia
no seu discurso. De
repente, com imenso
estupor meu, notei que a
cabeça e o rosto da Sra.
Barkel estavam
totalmente mudados, ou
melhor, tinham sido
substituídos pela cabeça
e o rosto de um homem.
Entretanto, eu não
notara mesmo o mais
insignificante
movimento! Isto não
impedia que, no lugar do
rosto da Sra. Barkel,
reclinado sobre o peito,
se achasse o másculo
rosto de um homem, que
se sobrepusera ao
primeiro, mas sem o
menor movimento
perceptível e apesar de
redobrada atenção.
Depois esfreguei os
olhos e lancei rápido
olhar à assembleia, para
assegurar-me se alguém
se apercebera do
fenômeno, mas todos
escutavam atentamente o
discurso da ‘presidente’
e ninguém prestava
atenção à médium. Voltei
a contemplar o
espetáculo com o mais
vivo interesse. Se se
tratasse de uma visão
fugaz, teria acabado por
dar de ombros, pensando
nas estranhas ilusões
que os ‘jogos de sombra’
chegam a criar, mas
aquele rosto de homem
permaneceu diante de mim
vários minutos, não
apenas um instante
fugacíssimo.”
98. Segundo Leonard Farqhuar, a Sra. Barkel envergava um comprido
vestido preto, ornado de
um colar branco, o que
fazia grotesco contraste
gerado pelo fato de ela
achar-se sentada imóvel,
como morta, e com uma
cabeça que não era a
sua, mas a de um homem!
Do canto de onde Leonard
olhava, não era possível
distinguir o rosto do
homem. O mesmo ocorria
com seus cabelos. A
parte do queixo, que se
lhe apresentava, era
imberbe e amarelada como
pergaminho, mas no
conjunto o rosto parecia
acinzentado e na base
das faces se distinguiam
rugas, que pareciam
produzidas pela pressão
do queixo sobre o peito.
Na região das orelhas
observavam-se
"costeletas", que se
prolongavam até o
queixo, e o resto do
rosto era barbeado.
99. Ele ficou a contemplar o fenômeno por vários minutos (não
simplesmente "segundos",
é bom notar), até que
viu a Sra. Barkel
mover-se durante um
instante na cadeira,
para depois levantar-se
e olhar em torno com
expressão de estupor.
Ela voltara a si, com
transformação
instantânea, e os seus
cabelos de ouro
brilhavam novamente à
luz!
100. No que se refere à classificação das manifestações, tudo
concorre para demonstrar
que Leonard Farqhuar
presenciou um fenômeno
de transfiguração
verdadeiro, porquanto se
notaram nela alguns
sinais de adição
ectoplásmica sobre o
rosto do médium, tais
como as "costeletas"
que, partindo das
orelhas, se prolongavam
até o queixo do rosto
másculo que se veio
sobre por ao outro,
feminino. Acrescente-se
que o fato do
percipiente insistir
sobre a aparência
indistinta dos traços
daquele rosto tende a
reforçar a mesma tese,
porquanto se deveria
presumir que os traços
indistintos derivassem
de uma produção
imperfeita da
materialização, o que
equivale a admitir a
existência de um
processo de
exteriorização
ectoplásmica.
101. Observa-se ainda que o percipiente teve a impressão de que o
fenômeno consistisse em
uma máscara de
ectoplasma concretizada,
não se sabe como, sobre
o rosto do médium e tal
observação adquire valor
teórico pelo fato de que
quem assim se exprimiu é
um leigo, absolutamente
ignorante da técnica dos
fenômenos a que
assistiu, o que leva a
reconhecer que a
semelhança de sua
expressão com as de
vários outros que
assistiram a idêntico
fenômeno tende a fazer
presumir que, para a
classe das manifestações
em apreço, deva
realizar-se algo de
semelhante.
102. É assaz difícil explicar tais formas de transfiguração
espontânea, se não se
recorrer à intervenção
de uma entidade de
defunto que se tivesse
apoderado do organismo
do "sensitivo" em
condições de sono.
Assim, por exemplo, no
Caso 5, em que o filho
vela o pai adormecido e
vê transformar-se o seu
rosto no da própria mãe,
enquanto a camareira
notara o mesmo fato em
um caso semelhante, o
único modo de explicar o
fenômeno é o de presumir
que a mãe defunta, que
por várias vezes
aparecera ao marido
enfermo e prestes a
morrer, tenha querido
manifestar-se ao filho
pela única forma por que
podia atingir o seu
objetivo.
103. Por outro lado, caso se quisesse explicar o fenômeno com uma
hipótese naturalista,
dever-se-ia admitir que
a transfiguração do
rosto do enfermo fosse
devida à circunstância
de o enfermo ter sonhado
encontrar-se com a
mulher defunta, o que
parece ser uma hipótese
literalmente gratuita e
insustentável, tanto
mais se se considerar
que, para provocar a
transformação do rosto
do adormecido no da
pessoa sonhada, não
basta que ele a veja
diante de si.
104. Suponho que não se conheçam exemplos de pessoas que hajam
sonhado terem mudado de
sexo, sem contar que um
sonho semelhante não
poderia determinar um
fenômeno de
transfiguração em um
adormecido que não seja
médium. Além disso,
recordo que a mesma
hipótese tornar-se-ia
mais do que nunca
insustentável nos casos
do gênero em
transfiguração do rosto
do adormecido assume o
caráter geração
ectoplásmica, e isto por
força das considerações
desenvolvidas nos
comentários aos Casos 10
e 11.
105. Bozzano enumerou, em seguida, o pouco do experimentalmente
adequado que se contém
nos casos relatados,
notando, antes de tudo,
que entre eles se
notaram seis casos
observados coletivamente
por dois, por cinco, ou
por numerosos
observadores (casos 5,
7, 8, 11 e 14), o que
serve para eliminar a
hipótese alucinatória.
Para excluir a outra
hipótese, ou melhor, a
outra objeção da
insuficiência dos dados
para prova de que nas
transfigurações
intervenham elementos de
integração ectoplásmica,
podem aduzir-se os casos
4, 8, 10, 11, 13, 14 e
15, em que foram
observadas
materializações de
supercílios inexistentes
sobre o rosto do médium,
de bigodes e de barba
aparecidos em rostos
femininos, de cabelos
branquíssimos em rostos
juvenis de médiuns, de
narizes que mudaram
radicalmente de forma, e
de alongamentos
supranormais do corpo do
médium no caso de Home.
O autor recorda, enfim,
que três dos casos em
apreço são acompanhados
de documentação
permanente, em uma das
quais ela consiste em
desenhos da realidade,
tomados simultaneamente
com a produção dos
fenômenos, e nos outros
consiste em uma copiosa
coleção de fotografias.
Esta última
circunstância assinala
já a introdução dos
métodos de indagação
científicos nas
experiências em apreço,
conquanto o que por ora
se obtém seja ainda de
ordem particular e em
consequência
dificilmente utilizável
em serviço da ciência.
(Continua na próxima
edição.)