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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 249 - 26 de Fevereiro de 2012

JULIANA DEMARCHI 
julianagodoydemarchi@yahoo.com.br

Cambé, PR (Brasil)
 

A história de um Espírito completista 

Na simplicidade de um lar, sob a divina incumbência da maternidade, Espíritos endividados do ontem se elevam pela via do amor
e da resignação

 
É interessante observarmos a reação de alunos diante do sistema de avaliação escolar. Poucos conseguem manter o equilíbrio emocional necessário obtendo êxito completo, e muitos, mesmo sabendo o conteúdo de forma suficiente, se vêm derrotados por causa das emoções em desalinho. Assim estamos nós, Espíritos eternos no palco deste mundo de provas e expiações, onde o próprio nome já define a escala em que se encontra o nosso planeta, e isto, por causa da nossa própria evolução moral ainda em atraso.

Como alunos assustados diante de uma avaliação, tantas vezes falhamos e somos encaminhados à inevitável repetência, porém há os que nos deixam um exemplo sublime desta importante aprovação e o fazem com louvor. Pensando nisto, lembrei-me de uma pessoa muito especial com a qual tive o prazer de conviver, e que me possibilitou conhecer de perto as histórias de sua vida, que alimentaram minha infância e hoje me levam a refletir sobre o nosso papel como Espíritos em evolução. Uma mulher ímpar e detentora de alta envergadura moral.

Casou-se ainda na adolescência – fato comum na época de nossos avós – recebendo por marido um homem extremamente rude e dado aos prazeres da vida. Além de desempenhar a função de esposa e mãe, passava os dias sentada numa máquina de costura, através da qual conseguiu custear a educação de todos os filhos em colégio pago, pois achava que, assim, acabariam tendo uma vida financeiramente mais estruturada que a sua.

Foi mãe de dezesseis crianças, mas nem todas atingiram a idade adulta, pois na época a mortalidade infantil chegava a níveis absurdos por causa de simples males que hoje estão plenamente controlados. Logo no início do casamento foi morar numa fazenda e, durante as noites, ela que era pouco mais que uma menina, sofria muito com as ausências do marido. Certa feita confessou-me que seu maior medo era a possibilidade de ver algum fantasma entrando na casa porta adentro, e por isso preferia ficar sentada do lado de fora, que na verdade não passava de um rancho no meio do pasto. Com o lampião do lado e o primeiro filho no colo, dizia que era possível sentir as baforadas dos búfalos que se aproximavam por causa da luz.

Era uma mãe dedicada e amorosa, detentora de uma personalidade permeada pela mansuetude, distribuindo carinho e atenção a todos, inclusive para mim. Um dia me contou que além dos filhos biológicos que Deus lhe dera, havia acolhido a filha de um sobrinho, pois diante da eminência de uma doença fatal, o rapaz, que era pai solteiro, lhe pedira para criar a filha, justificando que ele não conhecia ninguém melhor no mundo para servir de mãe à menina. E assim, chegou aos seus braços a décima sétima criança, a quem criou com o mesmo zelo e amor que dedicara aos outros.

Anos antes de sua morte, um dos filhos ficou muito doente e resolvi fazer-lhe uma visita. Na ocasião conversamos um bom tempo dividindo um bule de café, e ela me falou com detalhes desde o nascimento deste filho. O dilema da descoberta da paralisia infantil logo nos primeiros anos de vida, das limitações que a doença impôs, e da promessa de levá-lo todos os dias à igrejinha da cidade ao nascer do dia, pois lá ela rogava a Maria de Nazaré, dizendo “só a senhora sabe o que é padecer pelo sofrimento de um filho”.

Segundo ela, conforme o garoto ia crescendo, mesmo com a dificuldade de carregá-lo nos braços sozinha, não deixou de ir à igreja nem um dia sequer, e quando ele já estava com sete anos de idade, numa manhã, ele lhe pediu que o colocasse em pé porque andaria até o altar. Foi uma surpresa e ao mesmo tempo uma alegria ver o filho dando os primeiros passos sem a ajuda de ninguém – “eu fiz a minha parte, Juliana. E Maria fez a dela” – me disse. Deste momento em diante o filho nunca mais parou de andar e enfrentou suas lutas contando sempre com a ajuda da mãe adorada. Concluiu três faculdades, se tornou funcionário público federal, casou-se e formou a própria família.

Ela ia mesclando a narrativa com lágrimas de emoção e a alegria que lhe era peculiar, mas não terminamos a história e nem o bule de café, porque enquanto narrava com tanto carinho aqueles fatos, o filho desencarnava na UTI do hospital. Então, eu vi em seus olhos a dor comum que dilacera o coração de uma mãe diante da partida de um filho, mas também fui capaz de ver além destas coisas, vi a resignação viva frente à vontade divina, e posso dizer que resignar-se foi a marca característica deste Espírito.

Apesar da gritante diferença moral entre ela e o marido, os dois chegaram a completar 75 anos de casamento – algo raríssimo. Na ocasião dei-lhe um abraço e perguntei em particular o que representava para ela todos aqueles anos. A resposta veio embrulhada cuidadosamente em um meio sorriso, “Ah, minha filha! Mesmo não tendo vivido um dia sequer de felicidade ao lado dele, agradeço a Deus pelo homem que me deu o tesouro que foi os meus filhos”.

Pouco tempo depois o marido adoeceu e estava presente na noite do seu desencarne, feito de forma sofrida e desassossegada, e ela estava lá, sentada ao seu lado prestando-lhe assistência. Fiquei um bom tempo analisando em silêncio a cena, e ela me contou que há mais de uma semana ele vinha chamando-a incessantemente, pedindo perdão sem parar, citando erros e ofensas, faltas cometidas como marido e como pai, cenas de um passado muito distante que ela havia superado, mas que para ele continuavam nítidas na consciência. Segundo os filhos, que também estavam presentes, a cada pedido de perdão ela respondia, “esqueça isso, porque na verdade nunca consegui sentir raiva ou cheguei a ficar ofendida. Apenas fique em paz”.

Tendo ultrapassado a marca dos 90 anos de idade, esta mulher certamente se tornou um Espírito completista, como define André Luiz nas obras de Chico Xavier, referindo-se àqueles que conseguem retornar ao plano espiritual após ter cumprido a maior parte de sua programação reencarnatória. O exemplo vivo de que invariavelmente todos nós seremos submetidos às provas, mas que a diferença fundamental de sermos ou não aprovados é a aplicação efetiva do amor.

Quando aprendermos a amar, não nos revoltaremos com as dificuldades, revezes e amarguras da vida, assim como as faltas dos que caminham conosco não nos afetarão mais. Como disse Kardec, “quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu me elevava pelo pensamento acima da humanidade e me colocava antecipadamente na região dos Espíritos e, desse ponto culminante, donde divisava o da minha chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me perturbaram”.  


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita