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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 248 - 19 de Fevereiro de 2012

MILTON SIMON PIRES 
cardiopires@gmail.com

Porto Alegre, RS (Brasil)
 

O silêncio do abismo

 
Muito já foi escrito sobre o poder e a sua justificativa. História, filosofia, direito e sociologia vêm abordando o tema há séculos e sou daqueles que acreditam que depois de Hannah Arendt e Bertrand de Jouvenel, muito pouco resta a ser dito. O que poderia um simples médico acrescentar sobre o assunto? Talvez um médico de Porto Alegre devesse escrever sobre o fim do poder de sua classe e denunciar os políticos semianalfabetos e administradores corruptos que tomam decisões de vida ou morte dentro de hospitais superlotados, mas não é este o meu objetivo aqui. Não vou perder tempo denunciando gente que pensa que o “fígado fica do lado esquerdo do abdômen” ou que a “veia aorta é a mais importante do pescoço”. O lugar destas pessoas é em Brasília... O objetivo deste artigo é sustentar que o verdadeiro poder “total” é resultado, não daquilo que ele (poder) faz ou diz, mas daquilo que ele não faz e não diz.

Entre 1964 e 1985 o Brasil viveu um período em que as pessoas eram presas, torturadas, desapareciam..., enfim, sofriam na pele as consequências de uma ditadura militar. Não há dúvida da força daquele regime e do seu controle sobre a vida privada do cidadão, mas, mesmo assim, eu sustento que aquele não era um poder total. Tenho, nas minhas recordações de infância, a lembrança do Jornal Nacional entrando no ar todas as noites, às 20 horas. Inúmeras foram as vezes a que eu assisti um general, brigadeiro, ou almirante, dando explicações sobre a situação política do país e justificando medidas de força. Isto mesmo, a ditadura se justificava! Simples ou complexas, verdadeiras ou falsas, com repercussão ou sem, sempre havia explicações sobre a inflação, prisões, atos institucionais... Havia a Revista Cruzeiro, a Manchete, gente como Chico, Caetano, Gil, e jornalistas como Vladimir Herzog, que cobravam e estimulavam toda uma sociedade a buscar explicações. Daí decorre que, por mais cruel que fosse, o poder nunca foi total. Sua capacidade de se justificar se esgotou e ele chegou ao seu fim.

Entre 1985 e hoje decorreram 26 anos. O que aconteceu neste meio tempo? Colégios particulares (com mensalidade cara) em Porto Alegre têm cocaína oferecida para os estudantes, quase em suas portas. Nossas filhas aprendem (às vezes com 3 anos de idade) a “dança da garrafa”. Nossos filhos têm que aceitar a ideia de que ser homossexual é uma opção, que Deus não existe, que, de fato, vagas para afrodescendentes são justas, que a Terra está aquecendo e que jamais deverá ser cobrado qualquer tipo de atendimento médico no sistema público.

Sem entrar no mérito destas questões, faço apenas uma observação – não é mais possível discordar destas ideias sem ser considerado um reacionário ou ser acusado de querer a ditadura de volta. Este é, na minha opinião, o verdadeiro poder total. Um poder que não precisa mais justificativa porque já não tem mais adversários que possam ser levados a sério. O poder aprendeu com Hannah Arendt que seu maior inimigo é o deboche e sua maior arma a risada. Ele próprio passou a ridicularizar seus adversários como sendo anacrônicos, usando categorias do pensamento invariavelmente ligadas ao marxismo ou à psicanálise. O poder sustenta que, sendo democrático, sempre se justifica. A ética parece ter se tornado, como diria Jorge Luís Borges, um ramo da estatística. Não contestamos mais o poder do Estado, já que este parece ser definitivamente o melhor Estado possível e, como eu escrevi em outro texto, substituímos verdade por consenso. O sonho, segundo o poder, não acabou, ele se realizou através da democracia.

Todas estas transformações vêm ocorrendo de forma lenta, irreversível e, acreditem ou não, planejada. A sociedade inteira parece vítima de uma paralisia moral e é impossível deixar de lembrar Maquiavel com seu aviso: quando as coisas mais graves são percebidas pelas pessoas mais simples, já é tarde demais.

Sobre tudo que escrevi aqui, decorre uma conclusão que me parece inevitável: ou não é verdade e vai ser (publicado ou não) esquecido; ou é verdade, e, neste caso, caminhamos todos nós rumo ao abismo..., um abismo sem algemas, torturas, prisões ou desaparecimentos. Um abismo sem censura, mas preenchido pelo mais angustiante, absoluto, covarde, e devastador silêncio.


O autor, radicado em Porto Alegre-RS, é médico.

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita