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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 243 - 15 de Janeiro de 2012

MATHEUS A. TUNES
matheus.tunes@usp.br

São Paulo, SP (Brasil)
 

Resposta ao artigo:
Espiritismo não é ciência

 

O presente artigo é uma carta-resposta a um aluno de pós-doutorado do departamento de Física Matemática do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, que escreveu no mês de outubro de 2011, para o jornal acadêmico “O Caos”, um texto onde expõe críticas vazias e sem fundamentação e/ou escrutínio científico pertinente. Resolvi escrever este texto não em virtude das críticas do doutor à doutrina espírita, pois estas se resolveriam apenas com o estudo dos princípios espíritas, uma vez que as prerrogativas levantadas são fruto de uma clara ignorância do acadêmico para com as bases do Espiritismo, conforme qualquer leitor iniciado na doutrina poderá observar. O texto é resultado de minha indignação para com uma atitude anticientífica de um doutor frente a novas possibilidades de pesquisas que a doutrina espírita fornece a cientistas versados nas ciências físicas, tal como propiciou há muito tempo com sir William Crookes, Camille Flammarion, entre tantos outros. 

Sobre o artigo intitulado Espiritismo não é ciência de autoria do Dr. Sérgio Giardino, publicado na edição anterior do jornal “O Caos”, gostaria de tecer alguns comentários, sem perder o caráter imparcial e pacífico das discussões neste jornal, que é uma iniciativa muito interessante do CEFISMA para integração e disseminação de ideias do corpo discente do IF.

Se o nobre físico teórico, embasado pelas concepções filosóficas de Bachelard, acredita mesmo que a filosofia é um sistema de conhecimento fechado e que a ciência deve verter sua metodologia de pesquisa apenas “aos fatos exteriores”, então, há de convir que, caso seja esse o estrito papel do cientista, caberá então ao filósofo a formulação mais aprofundada dos conceitos e teorias baseados nos dados obtidos e sabemos que isso não é verdade.  

O próprio cientista, portanto, atua como filósofo no sentido de possuir igual liberdade e criatividade para penetrar profundamente no âmago do desenvolver de suas teorias e muitas vezes sem recorrer ao universo exterior, sem observar lógica aparente (pelo menos em um primeiro momento), salientando a existência de uma linha tênue que une a metodologia de trabalho nos universos filosófico e físico. 

Para embasar bibliograficamente essas ideias, sugiro a leitura do filósofo Raymond Aron [1] que procura enfatizar uma identidade da filosofia com a ciência, definindo que “a filosofia é um trabalho científico que, inspirado ou iluminado pela psicologia e pela teoria do conhecimento, conserva uma orientação para generalização”. Diante disso, convido-o a refletir se este não é o real trabalho do físico, o de formular teorias e buscar suas generalizações, analisando seus domínios, limites de validade e outras nuances que são características para estas generalizações, e novamente observamos os pontos de contato entre os dois universos supracitados.

Se ainda não observar a aproximação existente no sentido empírico e metodológico, veja que Einstein salienta [2] “que a tarefa suprema de um físico é a investigação daquelas leis sumamente universais (...) a partir das quais se pode obter uma imagem do mundo através da dedução pura, mas não existe caminho lógico que conduza a essas leis. Somente se pode alcançá-las através da intuição, baseada em alguma coisa parecida com um amor intelectual aos objetos da experiência”. Será mesmo que a Física deva estar a todo tempo submetida à lógica matemática irrestrita e à “dependência dos fatos exteriores”, conforme ressalta o Dr. Sérgio em seu artigo?

Ainda baseado na argumentação colocada sobre o fato de a ciência ser um sistema aberto e a filosofia um sistema fechado, convidamos novamente o amigo físico a considerar a teoria geral dos sistemas, iniciada em meados de 1950 pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy (e por outros), que afirma em seu escopo que os sistemas fechados são caracterizados pela não influência do ‘universo exterior’ em seu funcionamento e da não influência do sistema no meio (fechado nas duas direções). Uma simples pergunta o porá em reflexão: em nenhum momento a Física influenciou os trabalhos da filosofia e vice-versa?

Se o nobre doutor se dedicasse a estudar as bases da doutrina espírita, saberia em primeiro lugar, que o livro básico do Espiritismo chama-se O Livro dos Espíritos e verificaria que a chamada doutrina espírita foi organizada por Hyppolite Léon Denizard Rivail (cujo pseudônimo era Allan Kardec), que apenas compilou as informações que resultaram de pesquisas realizadas com o método científico da época em comunicações espíritas através de médiuns de efeitos físicos. Gostaria de ainda salientar que o Espiritismo muito se distancia de doutrinas religiosas que na idade média, conforme o Dr. Sérgio diz em seu artigo, “decidiam questões desse tipo [científicas]”: por mais que tente, não vai encontrar na história do Espiritismo atuações dessa natureza.

Além do mais, quem estudar filosofia espírita irá verificar que Ramatis não é aceito pela comunidade espírita porque suas pretensas revelações não passam pelos crivos da racionalidade e da universalidade dos ensinos dos Espíritos. Saberia também que o critério de verdade no Espiritismo não é a revelação e sim a racionalidade. No devido tempo, aquilo que for demonstrado pela observação e pela ciência em sua construção, desde que não sejam teorias científicas, mas verdades práticas, abandonando o terreno estritamente teórico assim como bem diz o ilustre doutor, “basear-se em fatos exteriores comprovados por experimentações variadas e feitas por experimentadores diversos” , para isso diz textualmente Allan Kardec [3]: “caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado. Se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará". Ainda enfatiza que o Espiritismo “assimilará sempre todas as doutrinas progressivas (...) sem o que ele se suicidaria”. Isso é um sistema filosófico-científico aberto ou fechado?

Para quem se interessar pelo estudo do aspecto filosófico do Espiritismo, recomendamos as obras do filósofo José Herculano Pires (formado pela Faculdade de Filosofia da USP e pós-graduado pela mesma) que, atuando em sua área, escreveu dezenas de compêndios acerca da atuação e da conceitualização teórico-filosófica do Espiritismo.

Aliás, se tratarmos de autoridades científicas, gostaria de indagar-lhe se conhece os trabalhos do físico e químico inglês, sir William Crookes (o mesmo das ampolas que levam o seu nome e que foram tão úteis para os estudos com gases e vácuo no início do século XX), na seara da investigação dos fenômenos de materialização espiritual, publicando inclusive um livro intitulado Recherches sur les phenomenes du spiritualisme [4], onde relata e documenta com rigor científico os fenômenos observados nas sessões espíritas que frequentava em Londres e por toda a Europa. Outros cientistas como Aksakof, Lombroso, Doyle e, no campo da Física, Robert Hare (além de Crookes), se dedicaram a estudar os fenômenos espíritas, concluindo pela veracidade da hipótese espírita.

Será que ao afirmar que o Espiritismo não tenha pelo menos um aspecto científico não é desconsiderar o trabalho sério de inúmeros cientistas e pesquisadores que se propõem imparcialmente a investigar esses fenômenos, e tantos outros, inclusive na USP, que participam de atividades de pesquisa nessa área? Será que, se o estudo desses fenômenos não tivesse lançado pelo menos as bases de uma ciência revolucionária que destrói pelas suas assertivas a filosofia materialista, não deveriam aqueles que não aceitam a hipótese espírita, instigados pela curiosidade e pelo desejo de refutar uma hipótese, planejar pesquisas para refutar ou confirmar tais fenômenos?

Os fatos espíritas são realmente negáveis, como bem diz o ilustre articulista: “não tentei negar aqui os fatos usados pelo Espiritismo, pois fatos não podem ser negados por argumentos, mas mostrar que suas explicações não são válidas”. Porém, dizer baseado em argumentos pessoais que chama “provas factuais” que as explicações espíritas não são válidas é uma atitude não científica e é contra isso que devemos lutar na Universidade.

Para encerrar, apenas recomendaria: como graduando, aspirante à pesquisa, que estudasse melhor a questão sobre a teoria da evolução contida em O Livro dos Espíritos e cotejasse com as teorias modernas e revolucionárias de Humberto Maturana, doutor em Biologia, e com as teorias sobre a inteligência das células, contidas no livro “A Biologia da Crença”, do phD Bruce Lipton, pois as colocações que faz o Espiritismo estão absolutamente de acordo com essas novas teorias que tratam da evolução, na visão sistêmica.

 

Referências:

[1] ARON, R. La Philosophie Critique de l’Historie. Libraire Philosophique J. Vrin (1969);

[2] EINSTEIN, A. em citação no livro de SMITH, C. M. The problem of life. An essay in the origins of biological though. Macmillan Press (1976);

[3] KARDEC, A. A Gênese. Capítulo 01, item 55. Editora Federação Espírita Brasileira (1967);

[4] CROOKES, William. Recherches sur les phenomenes du spiritualisme. Paris: Ed. de la B.P.S. (1923);

 

Matheus A. Tunes é aluno do curso de bacharelado em Física, na USP, em São Paulo-SP.


 


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