Grilhões Partidos
Manoel Philomeno de
Miranda
(Parte
9)
Continuamos a apresentar
o
estudo do livro
Grilhões Partidos,
de Manoel Philomeno de
Miranda, obra
psicografada por Divaldo
P. Franco e publicada
inicialmente no
ano de 1974.
Questões preliminares
A. Que
ensinamentos nos traz o
caso Vivianne, acometida
nesta existência de
epilepsia?
Vivianne vivenciava uma
problemática epiléptica
genuína, embora seus
efeitos se assemelhassem
ao que se dá durante o
transe mediúnico
provocado pelas
entidades sofredoras ou
malévolas. As causas
reais e remotas da
epilepsia estão no
Espírito que ressarce
débitos, mas há fatores
orgânicos que expressam
essas causas, em que se
fundamentam os
estudiosos para
conhecerem e tratarem a
enfermidade com maior
segurança, por meio dos
anticonvulsivos. "Pela
lei das afinidades –
informou Dr. Bezerra –,
o Espírito calceta é
atraído antes da
reencarnação à progênie,
na qual se encontram os
fatores genéticos de
que tem necessidade para
a redenção.” E aduziu
que em todos os variados
tipos de epilepsia há
sempre de se ter em
conta os fatores
cármicos incidentes, que
impõem ao devedor o
reajuste com as leis
divinas, utilizando-se
do recurso da
enfermidade-resgate, de
elevado benefício para
todos.
(Grilhões Partidos, cap. 11, pp. 101 a 105.)
B. A quais
terapêuticas, utilizadas
pela Justiça Divina para
a cura de determinados
Espíritos doentes, se
refere Dr. Bezerra de
Menezes?
Manoel Philomeno
supunha, quando
encarnado, que na
epilepsia havia sempre o
fenômeno obsessivo, sem
entender que no
organismo vêm impressas
as necessidades de cada
um, a se traduzirem como
deficiências,
limitações, coarctações,
problemas de saúde etc.
Idiotia, oligofrenia,
mongolismo, epilepsia,
psicoses várias,
esquizofrenia, demência
são terapêuticas
de que se utiliza a
Justiça Divina para
alcançar os Espíritos
doentes que tentam fugir
à verdade, mancomunados
com o crime e a ilusão.
Essas, as terapêuticas a
que Dr. Bezerra se
referiu. (Obra citada, cap. 11, pp. 105 a 108.)
C. Em que
consiste a histeria e
quais as suas causas?
A histeria já era,
segundo Dr. Bezerra,
conhecida na
antiguidade. Fenômenos
psíquicos, por serem
ignorados, muitas vezes
foram com ela
confundidos, como
reciprocamente ocorria.
Em verdade, o homem é o
juiz de si mesmo e
recolhe da atividade em
que se envolve os frutos
merecidos da plantação
realizada. A
reencarnação, nesse
contexto, afigura-se a
todos nós como uma
escola de recuperação,
em que os Espíritos se
aprimoram e recuperam,
pelo trabalho, o
patrimônio da paz
malbaratada nas
aventuras da insensatez
e da perversidade. Essa
realidade era visível na
problemática das
enfermidades mentais, em
que melhor se desvelam
as paisagens íntimas de
cada ser, uma vez que o
impositivo do resgate
exige da organização
fisiopsicológica a
exteriorização dos
abusos e crimes
anteriormente
perpetrados. Essa a
causa de várias doenças
mentais e, dentre elas,
a histeria, de que se
derivam sonhos
desagradáveis, por
automatismo psicológico,
fruto das recordações
impressas na memória
perispiritual e ataques
violentos de psicastenia
dolorosa, acompanhados
por outros distúrbios de
ordem motora.
(Obra citada, cap. 12,
pp. 109 a 112.)
D. Qual foi a causa
da doença catalogada
como histeria que
acometeu Angélica?
Jovem e atraente, aos
primeiros dias do século
20, Angélica
consorciou-se por
imposição paterna com um
homem a quem não amava,
mais idoso do que ela e,
além disso,
impossibilitado para o
matrimônio.
Confessando-lhe o seu
problema, o esposo
concedeu-lhe regular
liberdade, desde que se
mantivessem as
conveniências sociais,
para ele relevantes.
Essa conjuntura afetiva
constituía já uma medida
coercitiva de que a Vida
se utilizava a fim de
discipliná-los
corretamente. Se ela
aproveitasse a
oportunidade, mediante
a austeridade moral que
se impunha, isso a
guindaria a relevante
posição espiritual. Mas
não foi o que aconteceu.
Acobertada pelo marido
insensato, tombou em
quedas sucessivas,
ocultando os frutos das
dissipações por meio de
infanticídios impiedosos
que se repetiram por
quatro vezes
consecutivas, até que
veio a falecer, por
ocasião do último
aborto, em consequência
de hemorragia violenta.
Ao despertar no Além,
reencontrou aqueles que
impedira de renascer,
passando a sofrer-lhes
acrimônias, injúrias e
rudes perseguições. A
Lei, porém, sempre chama
a necessárias contas
todos os seus
desrespeitadores. Ao
reencarnar, fixou no
centro coronário, onde
se situa a epífise, os
abusos anteriormente
cometidos, que foram
sendo revelados à medida
que a puberdade ativava
o centro genésico,
produzindo-lhe o estado
atual e,
simultaneamente, fazendo
que a memória dos
sucessos infelizes
começasse a trasladar-se
do inconsciente profundo
para o consciente atual,
em forma de tormentosas
crises evocativas das
sensações experimentadas
nas pavorosas regiões de
dor donde proveio.
(Obra citada, cap. 12,
pp. 113 e 114.)
Texto para leitura
56. Mecanismo da
demência -
Depois de breve
silêncio, Bezerra de
Menezes concluiu: "Os
núcleos desarticulados
no perispírito
produziram as condições
físicas do encéfalo, que
se desconectaram quando
completou trinta anos,
idade em que se deixara
assediar pela fúria do
desequilíbrio, embora
as distonias graves que
a perturbavam desde a
adolescência... Apesar
de a maior incidência de
hebefrenia ocorrer na
puberdade, conforme foi
analisada e descrita em
1871, sendo
posteriormente incluída
por Kraepelin como uma
das `demências
precoces', esta surge
como se agrava em
qualquer idade... A
enfermidade, que afeta a
área da personalidade,
produzindo deterioração,
gera estados antípodas
de comportamento em
calma e fúria,
modificação do humor,
jocosidade, com
tendências, às vezes,
para o crime, é o
resultado natural do
abuso e desrespeito ao
amor, à vida, ao
próximo". E ele
acrescentou dizendo que
Eudóxia purgaria ainda
um pouco, até que a
desencarnação lhe
tomasse de volta as
vestes, a fim de
recomeçar noutra
condição o que
espontânea e
levianamente adiou.
Manoel Philomeno estava
surpreso. Na verdade,
muitos fatores estudados
pela moderna Psiquiatria
são legítimos, mas
falta a essa Ciência um
maior contato com as
questões do Espírito,
do que hauriria
suficiente luz para
incluir a obsessão como
uma das causas das
alienações mentais e
penetrar, assim, nas
realidades da alma
encarnada, desvendando
os variados processos
que sempre se originam
no ser espiritual, ao
longo de sua jornada
evolutiva. (Cap. 10,
pág. 99)
57. Um caso de
epilepsia -
Abrindo o capítulo, eis
a lição transcrita pelo
autor, contida na
questão 266 d' O Livro
dos Espíritos: "Não
parece natural que se
escolham as provas menos
dolorosas? – Pode
parecer-vos a vós; ao
Espírito, não. Logo que
este se desliga da
matéria, cessa toda
ilusão e outra passa a
ser a sua maneira de
pensar". Bezerra,
findo o atendimento a
Eudóxia, socorreu
Vivianne, uma jovem que
não ultrapassara os
vinte anos e dormia
desassossegadamente,
sacudida de quando em
quando por tremores
violentos. Philomeno
notou que a jovem não
se encontrava
exteriorizada, antes
parecia agitada em
espírito, com visíveis
sinais de perturbação
psíquica. De repente a
moça pareceu despertar
e, assustada, com os
olhos bem abertos,
pôs-se a gritar como se
estivesse possuída por
sevícias rigorosas.
Depois, ergueu-se
contorcendo-se,
tremendo como vara
verde, e tombou,
convulsionada. Seu
rosto experimentou forte
congestão e os membros
mantiveram-se rígidos
por alguns segundos,
após as convulsões
hipertônicas. Em
seguida,
retorceu-se-lhe a face
e a boca cerrou-se
mordendo fortemente a
língua. Advieram as
convulsões espasmódicas,
com os movimentos de
flexão e extensão dos
membros e da cabeça em
desconcerto, expulsão da
urina e o consequente
estado de coma, que a
dominou mantendo-a
inconsciente por breves
minutos. Cessada a crise
epiléptica, despertou
ignorando o que
ocorrera e, embora o
cansaço que denotava,
levantou-se atônita, com
cefaleia, sendo vitimada
por novo acesso, como se
fora acometida de
violenta incorporação
mediúnica. Não havia
ali, contudo, nenhum
agressor desencarnado.
Bezerra elucidou que
estavam diante de uma
problemática epiléptica
genuína. No caso em
pauta a progressão da
enfermidade estava
conduzindo a jovem ao
estado de mal
epiléptico, graças ao
fato de se prolongarem
as crises sucessivamente
por várias horas, o que
poderia ocasionar a
desencarnação, ou, em
alguns casos, a demência
total irreversível.
(Cap. 11, pp. 101 e
102)
58. O erro de
muitos dirigentes
espíritas -
Bezerra, aludindo ao
caso de Vivianne, disse
que a epilepsia é
importante capítulo da
Neuropatologia que
merece acurada atenção,
particularmente dos
estudiosos do
Espiritismo, tendo em
vista a semelhança das
síndromes epilépticas
com as disposições
medianímicas, no transe
provocado pelas
entidades sofredoras ou
perniciosas. "Mui
frequentemente, diante
de alguém acometido pela
epilepsia,
assevera-se que se trata
de `mediunidade a
desenvolver', qual se a
faculdade mediúnica fora
uma expressão patológica
da personalidade
alienada. Graças à
disposição simplista de
alguns companheiros
pouco esclarecidos,
faz-se que os pacientes
enxameiem pelas salas
mediúnicas, sem qualquer
preparação moral e
mental para os elevados
tentames do intercâmbio
espiritual", asseverou
Bezerra de Menezes. Ele
lembrou então que,
embora toda enfermidade
proceda do Espírito e
seja a terapêutica
espírita de relevante
valia, devemos
considerar que antes de
qualquer esforço externo
é preciso predispor o
paciente à renovação
íntima – intransferível
– , ao esclarecimento, à
educação espiritual, a
fim de que se
conscientize das
responsabilidades que
lhe dizem respeito,
dando início ao
tratamento que melhor
lhe convém, partindo de
dentro para fora.
Posteriormente, e só
então, será lícito que
participe dos labores
significativos do
ministério mediúnico,
na qualidade de
observador, cooperador e
instrumento, se for o
caso. No caso específico
da epilepsia, não
obstante suas causas
reais e remotas estejam
no Espírito que ressarce
débitos, existem fatores
orgânicos que expressam
as causas atuais e
próximas, nas quais se
fundamentam os
estudiosos para
conhecerem e tratarem a
enfermidade com maior
segurança, através dos
anticonvulsivos. Mirando
a enferma, Bezerra
prosseguiu: "Pela lei
das afinidades, o
Espírito calceta é
atraído antes da
reencarnação à progênie,
na qual se encontram os
fatores genéticos de
que tem necessidade para
a redenção. Quase sempre
seus genitores estão
vinculados, em grupos
familiares, a esses
Espíritos em trânsito
doloroso, o que
constitui, normalmente,
manifestação
hereditária, com
procedência nos graves
males do alcoolismo
paterno, no uso dos
tóxicos, a se
expressarem por meio de
fatores múltiplos, tais
a fragilidade orgânica,
as excitações psíquicas,
as infecções agudas que
geram sequelas
lamentáveis..." (Cap.
11, pp. 102 e 103)
59. As falsas
epilepsias -
Depois de dissertar
sobre as opiniões de
mestres diversos acerca
das causas dos variados
tipos de epilepsia,
Bezerra de Menezes
asseverou que em todos
eles sempre há de se ter
em conta os fatores
cármicos incidentes, que
Impõem ao devedor o
precioso reajuste com as
leis divinas,
utilizando-se do recurso
da enfermidade-resgate,
de elevado benefício
para todos. Philomeno
indagou então se as
sessões mediúnicas
produziriam resultado
salutar em casos desse
porte. A resposta foi
clara: "Sem dúvida, a
dívida persiste enquanto
se não a regulariza.
Considerando-se que o
devedor se dispõe à
renovação, com real
propósito de
reajustamento íntimo,
modificando as
paisagens mentais a
esforço de leitura
salutar, oração e
reflexão com trabalho
edificante em favor do
próximo e de si mesmo,
mudam-se-lhe os quadros
provacionais, e
providências relevantes
são tomadas pelos
Mensageiros
encarregados da sua
reencarnação,
alterando-lhe a ficha
cármica". E adicionou:
"Como vê, o homem é o
que lhe compraz, o que
cultiva... O Evangelho,
dessa forma, é a mais
avançada terapêutica de
que se tem notícia para
o homem que se resolve
vivê-lo em plenitude".
Philomeno perguntou,
depois, se não poderiam
ocorrer manifestações de
epilepsia simulacro, ou
seja, obsessões cruéis
produzindo aparentes
estados epilépticos, e
Bezerra esclareceu
dizendo que, sem dúvida,
há processos de obsessão
que fazem lembrar crises
epilépticas, tal a
similitude da
manifestação. Na
obsessão, contudo, o
hóspede perturbador
exterioriza a
personalidade de forma
característica, através
da psicofonia
atormentada, diferindo
da epilepsia genuína,
em que, após a
convulsão, vem o coma.
Na obsessão, o transe
sucede à crise, no qual
o obsessor se manifesta.
Há também, e são mais
comuns, casos em que o
epiléptico sofre a
carga obsessiva
simultaneamente, graças
aos gravames do
passado, em que sua
antiga vítima se investe
da posição de cobrador,
complicando-lhe a
enfermidade, então, com
caráter misto. Em todos
esses, como noutros
casos, é conveniente,
portanto, cuidar-se de
examinar as síndromes
das enfermidades
psiquiátricas, a fim de
não as confundir com os
sintomas da mediunidade,
no seu período inicial,
quando o médium se
encontra atormentado.
"Nesse sentido –
concluiu Bezerra – é
mister evitar-se a
generalidade, isto é, a
simplificação do
problema com arremetidas
simplistas, como é de
hábito muitos fazerem".
Quanto à contribuição
fluidoterápica, nas
diversas expressões em
que se apresenta, é de
valor inconcusso, de
indiscutível benefício,
desde que o paciente se
disponha realmente a
ajudar-se. (Cap. 11, pp.
103 a 105)
60. O caso
Vivianne - A
jovem epiléptica vivera
no último quartel do
século passado, quando
fora artista sem grande
sucesso no teatro.
Portadora de invulgar
beleza, cedo se entregou
a toda sorte de
dissipações, nas quais
manteve graves conúbios
com pessoas pervertidas,
deixando-se arrastar a
gravames muito sérios...
Ao aproximar-se dos
quarenta anos, como não
se celebrizasse no
teatro, consorciou-se
com astuto chantagista
que a utilizava na arte
da exploração de
cavalheiros idosos e
irresponsáveis,
mantenedores da arte
galante que conduz aos
prazeres fugidios. Seu
sucesso financeiro foi
grande. Diversas vezes
foi à Europa, a expensas
de cidadãos apaixonados,
entregando o corpo e a
alma às mais torpes
sensações. À medida que
os anos passavam, mais
aumentava sua ganância,
convertendo-se em
infeliz negociante de
prazeres, mediante a
utilização de jovens
mulheres, que ludibriava
e escravizava. A certo
trecho descartou-se de
seu esposo, inditoso
comparsa dos seus
crimes, a quem tirou a
vida, com a ajuda de um
jovem amante. Cansado
deste, e temendo que a
denunciasse,
assassinou-o igualmente.
Viveu assim longos anos,
perseguida pelos
desvarios da posse, que
defendia mediante a
usança de todo artifício
imaginável, agasalhando,
porém, sem perceber, a
memória das vítimas, em
forma de receios e
remorsos que se lhe
infiltraram na mente em
desalinho, até que a
loucura, no fim de sua
existência física,
arrastou-a a um
Manicômio, onde
sucumbiu, esquecida,
malsinada. Desse modo
ingressou no além-túmulo
exaurida e seviciada
pelos antigos
companheiros que a
aguardavam, vingativos,
padecendo, por algumas
décadas, inomináveis
aflições. Seu pai atual
é o antigo esposo, que a
precedeu, a fim de
esperá-la, e que não
vacilou em interná-la na
Casa de Saúde, logo se
lhe agravaram as crises
de epilepsia, depois de
martirizá-la
demoradamente com o
desprezo e o ódio com
que a tratava. A mãe é
uma das jovens
exploradas, que desde
cedo exteriorizou
singular aversão pela
filha, enferma desde os
verdes anos da primeira
infância. A lei de causa
e efeito escrevia,
assim, mais um capítulo
da história dos
padecimentos humanos...
(Cap. 11, pp. 105 e
106)
61. As
terapêuticas da
Justiça Divina -
Bezerra fez pequena
pausa e prosseguiu
relatando o caso
Vivianne. "Condicionada
por longos anos à
dissimulação, à mentira,
ao suborno, acalentando
pavores que a
arrastaram à loucura,
lesou os centros
perispirituais, que, em
se fixando no novo
corpo, alteraram o
metabolismo endócrino,
produzindo a
enfermidade que ora lhe
cobra os delitos
cometidos. Face ao
estado avançado da
enfermidade, porquanto
as fixações mentais
antigas ressurgem como
alucinações que lhe
complicam o quadro
patológico, defronta,
quando se desprende
parcialmente do corpo
nas rudes refregas
convulsivas, o amante
assassinado, ainda no
Plano Espiritual, que a
atemoriza com bem urdida
maldade. O horror que a
assoma se transmite à
aparelhagem orgânica,
motivando nova e penosa
crise, a suceder-se, não
raro, por horas
contínuas". Bezerra
elucidou então que a
jovem, nesse momento,
tem noção do resgate,
reconhecendo a culpa que
arrasta consigo e
aspirando pela
libertação, que
pressente próxima.
Arrependida dos erros
praticados, ela não
estava ali relegada ao
abandono, visto que
antigo afeto em melhor
posição espiritual, que
intercedeu pelo seu
renascimento, vinha
visitá-la com
assiduidade, lenindo-lhe
as aflições e
encorajando-a a
avançar. "Nunca faltam
os sublimes recursos do
amor, mesmo nos abismos
mais infelizes onde
vigem os déspotas e os
maus de todos os
tempos", asseverou
Bezerra de Menezes. De
fato, daí a instantes,
adentrou-se pelo
apartamento respeitável
entidade que saudou o
grupo e se acercou da
enferma, envolvendo-a
com imensa ternura,
aplicando-lhe recursos
refazentes e balsâmicos
e desembaraçando-a dos
fluidos tóxicos que a
entorpeciam. A jovem
despertou e reconheceu a
entidade amiga. Seu
semblante tornou-se
agradável, descontraído,
e ela, tomada por
inusitada emotividade,
deixou-se conduzir pelo
benfeitor, afastando-se
daqueles sítios, em
busca de renovação e
paz. Bezerra disse
acreditar que a jovem em
pouco tempo iria
desencarnar, vitimada
por um colapso cardíaco,
após haver pago os
compromissos negativos
do pretérito.
Philomeno estava
fascinado com os
ensinamentos recebidos.
Ele também supunha,
quando encarnado, que na
epilepsia havia sempre o
fenômeno obsessivo,
sem entender que no
organismo vêm impressas
as necessidades de cada
um, a se traduzirem como
deficiências,
limitações, coarctações,
problemas de saúde...
Idiotia, oligofrenia,
mongolismo, epilepsia,
psicoses várias,
esquizofrenia, demência
são terapêuticas
de que se utiliza a
Justiça Divina para
alcançar os Espíritos
doentes, que tentam
fugir à verdade,
mancomunados com o crime
e a ilusão. Para que
tais cometimentos se
realizem, entram em jogo
os programas
cromossômicos e
genéticos, tão bem
estudados por Mendel no
século passado,
encarregados de
expressar durante a
reencarnação os
impositivos redentores.
(Cap. 11, pp. 107 e
108)
62. Um caso de
histeria - Os
ensinamentos colhidos na
Casa de Saúde
confirmavam o pensamento
de que o homem é o juiz
de si mesmo, recolhendo
da atividade em que se
envolve os frutos
merecidos da plantação
realizada. A
reencarnação, nesse
contexto, afigura-se a
todos nós como uma
escola de recuperação,
em que os Espíritos se
aprimoram e recuperam,
pelo trabalho, o
patrimônio da paz
malbaratada nas
aventuras da insensatez
e da perversidade. Essa
realidade era visível na
problemática das
enfermidades mentais, em
que melhor se desvelam
as paisagens íntimas de
cada ser, uma vez que o
impositivo do resgate
exige da organização
físio-psicológica a
exteriorização dos
abusos e crimes
anteriormente
perpetrados. O homem é a
soma de suas realizações
e ninguém se exime às
consequências da culpa,
que insculpe na
tecelagem sutil e
poderosa do perispírito
o de que tem necessidade
para anular o gravame.
Tais eram as reflexões
que Philomeno fazia
quando Bezerra de
Menezes indicou-lhe a
irmã Angélica, uma
enferma de vinte e cinco
anos, aproximadamente,
que dormia, anestesiada
pelo sedativo utilizado
fazia poucas horas.
Bezerra explicou que ela
dormia também
espiritualmente. "A
continuidade dos fortes
sedativos – elucidou –
, por processo de
assimilação espiritual,
prostra-lhe, também, a
alma aturdida. No
entanto, fenômenos
inconscientes
produzem-lhe sonhos
desagradáveis, por
automatismo psicológico,
que são fruto das
recordações impressas
nos dédalos da memória
perispiritual". Angélica
estava enferma desde os
quinze anos, quando
começou a distonia
nervosa, que se agravava
a pouco e pouco. No
princípio, as crises
eram amenas, tornando-se
mais frequentes nos
últimos meses. A jovem
era portadora de uma
psiconeurose de
natureza histérica de
longo curso, a
caracterizar-se por
ataques violentos de
psicastenia dolorosa,
que surgira em
consequência dos
distúrbios
neurovegetativos que
vinha experimentando há
algum tempo,
acompanhados por outros
distúrbios de ordem
motora. De início, as
síndromes eram
perturbadoras,
revelando-se em estados
de hiperestesia como de
hipestesia, em que
experimentava rudes
embates dos quais saía
triturada emocional e
fisicamente.
Condicionada assim por
impressões profundas da
personalidade
desequilibrada, a
enferma vinha caminhando
de estágio a estágio na
direção da loucura.
(Cap. 12, pp. 109 a
111)
63. A histeria ao longo da história
- Bezerra de Menezes
asseverou que o
tratamento a que
Angélica estava sendo
submetida ser-lhe-ia
bastante salutar. A
enferma contava com a
ajuda de sua mãe,
senhora credenciada por
expressivos títulos de
enobrecimento moral,
cuja interferência pela
oração granjeou a
assistência de generosos
Benfeitores Espirituais
que a vinham auxiliando
em busca de recuperação.
Algumas entidades
perniciosas que a
martirizavam deveriam
corporificar-se por seu
intermédio, mais tarde,
caso ela estivesse
disposta à maternidade,
cessada a doença atual,
fato que se encarregaria
de consolidar-lhe a
cura, ficando assim
liberada em parte de
seus pesados débitos. Ao
contato de Bezerra, que
dela se acercou, o
centro cerebral da
enferma impregnou-se de
coloração específica,
passando a vibrar
singularmente. O
Benfeitor aplicou o
mesmo recurso ao centro
coronário e logo depois
ao genésico. Filamentos
coloridos passaram a
vitalizar os demais, que
se acenderam,
como lâmpadas mágicas,
em que tonalidades
variadas oscilavam,
circulando e vibrando
numa irrigação por toda
a aparelhagem
fisiológica, agora
luminosa aos olhos de
Philomeno, como se as
artérias, veias e vasos
estivessem percorridos
por desconhecido gás
néon, que se
exteriorizava em todas
as direções. A paciente
agitou-se por um
momento, sem despertar,
mas logo se acalmou.
Quando Bezerra desfez o
circuito provocado pela
sua energia através do
centro coronário,
passaram a diminuir as
fulgurações, que se
reduziram
consideravelmente,
permanecendo debilmente
lampejantes. "A histeria
– informou Bezerra –
já era conhecida desde
remota antiguidade.
Fenômenos psíquicos, por
ignorados, muitas vezes
foram com ela
confundidos, como
reciprocamente ocorria".
Referiu então que na
Idade Média a histeria
alcançou o seu período
áureo quando das
ocorrências das
"possessões espirituais
coletivas" que tomavam
de assalto cidades,
regiões e monastérios...
Com João Martinho
Charcot, o célebre
anátomo-patologista do
sistema nervoso, a
histeria voltou à
celebridade nas aulas
por ele ministradas na
Salpêtriere, entre 1873
e 1884, onde era médico
fazia onze anos. Depois,
Pierre Janet transferiu
para a histeria um
sem-número de síndromes
nervosas, descobrindo o
subconsciente,
com o que procurou negar
toda a fenomenologia
mediúnica. Por muito
tempo acreditou-se que a
histeria estava
vinculada
exclusivamente às
questões uterinas.
Freud, ao conceber as
bases da Psicanálise,
discordou frontalmente
dessa tese, comprovando
que estados histéricos
se manifestavam também
nos homens.
Identificando a região
do polígono cerebral de
Wundt e Charcot como a
sede do
subconsciente,
Pierre Janet, seguido
mais tarde por Grasset,
desenvolveu a estranha
tese com que combateu
cegamente a mediunidade,
a partir de 1889, quando
apresentou o resultado
dos seus estudos na obra
"O Automatismo
Psicológico". Desde
então o debate em torno
do subconsciente
vem sendo grande,
ressurgindo na
atualidade sob a
designação de
hiperestesia indireta
do inconsciente
entre os modernos
adeptos da
Parapsicologia,
partidária da
psicologia sem alma.
(Cap. 12, pp. 111 e
112)
64. O caso
Angélica - A
jovem enferma vinha de
um passado moral pouco
recomendável. Jovem e
atraente, aos primeiros
dias do século atual,
consorciou-se por
imposição paterna com um
homem a quem não amava,
mais idoso do que ela e,
além disso,
impossibilitado para o
matrimônio.
Confessando-lhe o seu
problema, o esposo
concedeu-lhe regular
liberdade, desde que se
mantivessem as
conveniências sociais,
para ele relevantes.
Essa conjuntura afetiva
constituía já, segundo
Bezerra de Menezes, uma
medida coercitiva de que
a Vida se utilizava a
fim de discipliná-los
corretamente... Se ela
aproveitasse a
oportunidade, mediante
a austeridade moral que
se impunha, isso a
guindaria a relevante
posição espiritual. Mas
não foi o que aconteceu.
Acobertada pelo marido
insensato, tombou em
quedas sucessivas,
ocultando os frutos das
dissipações por meio de
infanticídios impiedosos
que se repetiram por
quatro vezes
consecutivas, até que
veio a falecer, por
ocasião do último
aborto, em consequência
de hemorragia violenta.
Ao despertar no Além,
reencontrou aqueles que
impedira de renascer,
passando a sofrer-lhes
acrimônias, injúrias e
rudes perseguições. A
Lei, porém, sempre chama
a necessárias contas
todos os seus
desrespeitadores. Ao
reencarnar-se, fixou no
centro coronário, onde
se situa a epífise – a
veladora da sexualidade
– , os abusos
anteriormente cometidos,
que foram sendo
revelados à medida que a
puberdade ativava o
centro genésico,
produzindo-lhe o estado
atual e,
simultaneamente, fazendo
que a memória dos
sucessos infelizes
começasse a trasladar-se
do inconsciente profundo
para o consciente atual,
em forma de tormentosas
crises evocativas das
sensações experimentadas
nas pavorosas regiões de
dor donde proveio. "O
Inconsciente possui,
portanto, fatores
preponderantes, não,
porém, exclusivamente
desta encarnação –
asseverou Bezerra –
conforme desejam os
estudiosos
materialistas, que
apenas percebem os
efeitos sem aprofundarem
as causas..." Seria
Angélica uma obsessa? –
perguntou Philomeno.
"Sim" – respondeu
Bezerra. "Aqui, porém, a
obsessão é efeito,
contingência natural da
sintonia da mente
endividada com as
mentes das suas vítimas.
Nela mesma, na paciente,
nas zonas fisiológicas
estão as distonias
psicofísicas já
instaladas pela
consciência culpada, em
forma de sintomas vários
e desconexos que, no
caso, lhe constituem a
histeria". (Cap. 12, pp.
113 e 114)
(Continua no próximo
número.)