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Clássicos do Espiritismo
Ano 5 - N° 225 - 04 de Setembro de 2011
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

 

O Espiritismo perante a Ciência

 Gabriel Delanne

(Parte 18)

Damos continuidade nesta edição ao estudo do livro O Espiritismo perante a Ciência, de Gabriel Delanne, conforme tradução da obra francesa Le Spiritisme devant la science, publicada originalmente em Paris em 1885.

Questões preliminares

A. Depois da fase das mesas girantes, que tipo de fenômeno foi registrado na Europa?

Foi o fenômeno da escrita automática, por meio do qual os Espíritos escrevem frases e textos sobre os mais diversos assuntos e com o emprego de línguas muitas vezes desconhecidas do médium, ao qual se deu o nome de mediunidade mecânica. (O Espiritismo  perante a Ciência, Terceira Parte, Cap. III - As objeções.)

B. Os textos obtidos na escrita automática não podem ser o resultado de uma ação reflexa da inteligência do médium?

Muitos incrédulos acham que sim, isto é, que a ação de escrever automaticamente é devida a um modo de ação particular do sistema nervoso, a uma espécie de ação reflexa da inteligência do médium. Mas os fatos provam que tal explicação é inaceitável diante de fatos como o que foi relatado por Crookes, no qual a médium escreveu uma palavra que fora ocultada pelo dedo do ilustre cientista, que não podia transmitir à senhora o seu pensamento, pois que ele também ignorava a palavra ocultada. Em outros casos, como o relatado pelo Sr. Des Mousseaux, a mensagem foi grafada em língua hebraico-siríaca, que ninguém conhecia, a qual, levada à escola de línguas estrangeiras, verificou-se tratar-se de um dialeto fenício, que se empregava há mais de 2.000 anos, nos arredores de Tiro. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. III - As objeções.)

C. Quais são as faculdades medianímicas menos sujeitas a suspeita?

Segundo Delanne, as faculdades menos sujeitas a suspeita são a vidente e a auditiva. Ora, se o médium descreve a figura, as vestes, os gestos habituais de um ser que nunca viu, e se se reconhece que essa descrição é precisamente a do parente morto, em quem ninguém pensava, é preciso admitir que a visão é real, e ainda, que a personalidade descrita existe, de maneira positiva, diante dos olhos do médium. (Obra citada, Terceira Parte, Cap. III - As objeções.)

Texto para leitura

438. Na experiência narrada por Crookes, em que ficou provado que a inteligência que se manifesta é capaz de ler uma palavra desconhecida do médium e do experimentador, pôde-se ver a frase seguinte: “Uma senhora escrevia automaticamente por meio da prancheta.” Expliquemos esse novo gênero de mediunidade.

439. Como já o dissemos, as primeiras manifestações se deram em Hydesville por pancadas nas paredes; depois, passou-se ao emprego da mesa, mas esse processo era longo e incômodo, de sorte que os Espíritos indicaram outro. Certa vez, um dos seres invisíveis que produzia a manifestação ordenou ao médium que apanhasse uma cesta e lhe fixasse um lápis, que os colocasse sobre uma folha de papel branco e pusesse as mãos na borda da cesta, sem premi-la. Seguidas as recomendações, com grande espanto dos assistentes obtiveram-se algumas linhas de uma escrita indecisa. O fenômeno se reproduziu muitas vezes e logo se espalhou.

440. Os Espíritos, em lugar de se servirem da mesa e de responderem por pancadas, agiam diretamente sobre a cesta, com o fluido fornecido pelo operador. O processo foi rapidamente aperfeiçoado; viu-se que a cesta era apenas um instrumento, não importando a forma e a natureza, e construiu-se uma prancheta, isto é, uma pequena placa de madeira sobre três pés, com um lápis na extremidade.

441. Obtiveram-se, assim, verdadeiras cartas ditadas pelos Espíritos, com tal rapidez, como se tivessem eles próprios escrito. Mais tarde viu-se ainda que a cesta ou a prancheta eram simples acessórios, apêndices inúteis e o médium, tomando diretamente o lápis, escreveu mecanicamente sob a influência dos Espíritos. A faculdade de escrever inconscientemente sobre os mais diversos assuntos, ciência, filosofia, literatura, e com o emprego de línguas muitas vezes desconhecidas do médium, tomou o nome de mediunidade mecânica. Verificou-se, com o exercício, que todos os sentidos se podiam prestar às manifestações de além-túmulo e logo se contaram os médiuns videntes, auditivos, sensitivos e outros.

442. Para um incrédulo, é incontestável que a mediunidade mecânica está sujeita às mais graves objeções. Afastando qualquer ideia de embuste, ele pode acreditar que a ação de escrever automaticamente é devida a um modo de ação particular do sistema nervoso, a uma espécie de ação reflexa da inteligência do médium. É verdade que isto é bem hipotético, mas essa teoria, já bastante difícil de conceber, é inútil e inaceitável diante da experiência de Crookes já relatada. O médium escrevente não podia ver a palavra do Times, oculta pelo dedo do ilustre químico; este não podia transmitir à senhora o seu pensamento, pois que ignorava a palavra indicada; a intervenção de uma inteligência estranha, manifestada pela Senhorita Fox, é a única explicação plausível.

443. O Sr. Des Mousseaux conta que estava em casa de uma família onde costumava passar as tardes e que aí se fez uma experiência em presença de muitos sábios linguistas. Nessa época, só se conheciam as comunicações pela mesa, mas o resultado não foi por isso menos convincente. Obteve-se por esse processo um ditado em língua hebraico-siríaca, que ninguém conhecia, o qual, levado à escola de línguas estrangeiras, verificou-se tratar-se de um dialeto fenício, que se empregava há mais de 2.000 anos, nos arredores de Tiro. O Sr. Des Mousseaux, muito cético a princípio, declarou-se convencido da intervenção de uma inteligência estranha à dos assistentes, mas concluiu atribuindo ao Diabo essas maravilhosas manifestações. Nós, que não acreditamos nem em Satã, nem nos demônios, preferimos admitir que um Espírito se manifestou desse modo para dar um testemunho brilhante da existência do mundo oculto.

444. Fomos nós próprios testemunhas, em Paris, de uma comunicação escrita em caracteres árabes, por uma pessoa que nunca saiu da França, e cuja instrução não deixa supor uma trapaça. O mesmo fato se reproduziu de outra forma. Desta vez, o ditado dos Espíritos foi feito em dialeto italiano, em resposta a uma pergunta formulada nesse idioma. Convém dizer que o médium não conhece mais o italiano que o árabe.

445. Acontece, por vezes, que o Espírito comunicante, desejoso de se fazer reconhecer, emprega a mesma escrita que tinha em vida e se assina como costumava fazê-lo. Se não há sempre provas tão palpáveis, o que é bastante raro, aliás, verifica-se, muitas vezes, nas comunicações dos Espíritos, um caráter de sabedoria, uma altura de vistas, e tão sublimes pensamentos, que não poderiam emanar do médium, comumente um ser vulgar e que não se distingue dos seus semelhantes por qualidades especiais.

446. Eis, a propósito, o que refere Sarjeant Cox, distinto jurisconsulto, escritor e filósofo de grande valor. Narra ele ter ouvido um moço de escritório, sem conhecimentos, sustentar, quando estava em transe, conversação com um grupo de filósofos sobre a presciência, a vontade e a fatalidade, e lhes levar vantagem. “Propus-lhe – diz Sarjeant – as mais difíceis questões de psicologia, e recebi respostas sempre sensatas, cheias de vigor, e expressas invariavelmente em linguagem escolhida e elegante. Um quarto de hora depois, entretanto, em seu estado natural, era incapaz de responder à mais simples questão filosófica e, com dificuldade, conseguia achar a linguagem para exprimir ideias comuns.”

447. As faculdades medianímicas menos sujeitas a suspeita são, inegavelmente, a vidente e a auditiva. Como o nome indica, a primeira consiste no poder de que são dotadas certas pessoas, de ver os Espíritos. Neste caso, não há dúvida, porque se o médium descreve a figura, as vestes, os gestos habituais de um ser que nunca viu, e se se reconhece que essa descrição é precisamente a do parente morto, em quem ninguém pensava, é preciso admitir que a visão é real, e ainda, que a personalidade descrita existe, de maneira positiva, diante dos olhos do médium.

448. Diz Allan Kardec, na Revue Spirite, que o Sr. Adrien possuía esse poder no mais alto grau. Conhecemos, também, em Paris, uma parteira, a Sra. R., que vê continuamente os Espíritos, a tal ponto que custa a distingui-los dos vivos.

449. Aqui não se deixará de apontar imediatamente a grande palavra alucinação: é o refúgio dos incrédulos, o cavalo de batalha de todos os que combatem o Espiritismo. Mas, atribuir os fenômenos a essa causa é conhecê-los bem pouco. A alucinação é um fato anormal, que se produz, quase sempre, em consequência de acidentes patológicos, ou nos momentos que precedem o sono ou o acompanham, enquanto que nos médiuns a vista dos Espíritos é, por assim dizer, permanente. Não se deve esquecer, também, que aquele estado mórbido só pode apresentar à imaginação doente quadros que nada têm de comum com a vida real, fenômenos puramente subjetivos, e em nenhum caso pôde um alucinado dar os sinais exatos de pessoa que nunca viu, de forma a fazê-la reconhecer por seus parentes ou amigos.

450. Já citamos muitos sábios que partilham de nossas ideias, nomes ilustres e reverenciados, para poder afirmar nossa crença na imortalidade da alma, sem temor da zombaria. Procuramos colocar à vista do leitor esse majestoso conjunto de testemunhas a fim de patentear, àqueles que o ignoram, que o Espiritismo é uma ciência, cujas bases estão assentes na hora atual de maneira inabalável. Não se pode dizer que sejam superstições grosseiras as nossas ideias, como o faziam outrora, porque se um erro pudesse propagar-se tão universalmente, se homens de estudo, autoridades científicas, filósofos, pudessem, em todas as partes do mundo e simultaneamente, delas ser vítimas, seria preciso convir que havia aí um fenômeno mais estranho que os fatos espiríticos.

451. Afinal, que existe de tão extraordinário em crer nos Espíritos? Todas as filosofias espiritualistas demonstram que temos uma alma imortal, as religiões o ensinam em toda a superfície da Terra. Demonstrado que essas almas se podem manifestar aos vivos, parece natural que nossa convicção se espalhe, com rapidez, pelo Universo inteiro. Por meio das mesas girantes, dos médiuns mecânicos ou outros, podemos ter a convicção de que os seres que nos foram caros, os mortos que havemos chorado, estão a nosso lado, velam solicitamente pela nossa felicidade e nos sustentam moralmente na vida. Nada vemos aí que possa ferir a razão.

452. O Espiritismo tem, é verdade, muitos inimigos interessados em sua perda; de um lado os materialistas, de outro os sacerdotes de todas as religiões, de sorte que seus infelizes partidários estão entre o martelo e a bigorna, a receber rudes golpes de todos os lados.

453. Os materialistas têm argumentos extraordinários; não concebem a boa-fé nos seus adversários e declaram que os fenômenos espiritistas são todos devidos à mistificação ou à prestidigitação. Para essas pessoas, só existem duas classes no mundo: a dos enganadores e a dos enganados. Ora, não partilhando dessa opinião, seremos, necessariamente, enganadores, e nossos médiuns vulgares charlatães.

454. Para que não se nos acuse de tisnar intencionalmente o quadro, poderíamos citar numerosos extratos onde se pede nada menos que a prisão para punir as práticas espiritistas. Alguns, havendo notado que o século não se presta mais à perseguição brutal, fizeram vibrar outra corda: pretenderam que todos os adeptos da nova doutrina fossem loucos e que somente eles possuíssem a sabedoria impecável. Arrogaram-se o direito de somente eles terem bom senso e assim nos maltratam em seus escritos, da pior maneira.

455. Vamos dar uma amostra dessas amenidades, citando dois artigos de Jules Soury, aparecidos na République Française, de 7-10-1879. O método do jornalista é simples: consiste em negar sem provas, como sempre, em proceder por afirmações sobre os assuntos em litígio e em insinuar que os espíritas, mesmo os mais autorizados sábios, estão atingidos de mania arrazoante, como consequência de sua avançada idade, que não lhes permite mais julgar de maneira sã o que se passa sob seus olhos. Ouçamos esta obra-prima de má-fé: “Ele (Zöllner) precisamente fez acompanhar por Weber e Fechner as experiências que crê ter instituído com Slade; nunca esquece de citar esses sábios ilustres, como testemunhas dessas experiências, e de fato, o testemunho deles não deixaria de ter peso, se um não tivesse 66 anos e o outro 79!”

456. Nosso crítico não se contenta em suprimir moralmente as ilustrações que o incomodam; ele chama Zöllner de louco lúcido e declara que o professor Ulrici está atacado de mania discursadora.

457. Se Jules Soury se limitasse a dizer semelhantes coisas, poder-se-ia ter complacência com ele, porque o bom senso público faz justiça a essas insanidades, mas ele vai mais longe e trata o médium Slade como um explorador vulgar. Vamos citar alguns trechos de uma brochura de Fauvety e da Sra. Cochet, muito bem escrita, onde são postos a nu os artifícios do nosso crítico: “Não hesitais em apresentar Slade, na França, como um refinado velhaco; vejamos, entretanto, as vossas provas. Credes ter denunciado à perspicácia de vossos leitores que Henry Slade tem alta estatura, braços compridos, mãos compridas, dedos compridos. Estendei-vos com prazer sobre sua palidez de espectro, seus olhos brilhantes, seu riso silencioso. De sorte que esse retrato lembra o do lobo do chapeuzinho vermelho e o do Mefisto de Fausto. As pessoas imaginativas irão até colocar garras no fim desses longos, longos, longos membros, e os espíritos positivos suporão que se trata de um dom que deve auxiliar singularmente as agilidades de passe-passe de um prestidigitador. Chama-se a isso proceder por insinuação; muito hábil, senhor, passemos. Lembrais o processo intentado contra Slade, na Inglaterra, em outubro de 1876. Há ainda aí uma prova de habilidade, sabendo-se como há inclinação para se ver um culpado num acusado. Entretanto, todas as vossas pesquisas não vos põe na traça do embuste. A acusação é pueril e não repousa em nenhum dado positivo, enquanto a defesa traz à barra do tribunal os homens mais notáveis da Inglaterra e, principalmente, aquele a quem chamais ‘o grande êmulo de Darwin’, Alfred Wallace. Mais um louco lúcido. Não devo insistir nesse processo que acabou, na Corte de Apelação, por uma absolvição. Sigo-vos, agora, a Berlim. Em Berlim, Slade teve a seu favor todos os sábios. E contra quem? Um prestidigitador, que imita o que chamais ‘as ligeirezas de Slade’.”

458. É assim que procedem os detratores do Espiritismo: afirmam, sem provas, fatos de nenhuma forma demonstrados e partem dessas afirmações falsas para tirar consequências contra a doutrina. Tal modo de agir denota ideia preconcebida ou ignorância do assunto. Inclinamo-nos a crer que aí predomina a paixão, porque, quando se propõe aos nossos aristarcos (1) produzirem-se os fenômenos diante deles, eles se esquivam prudentemente para não se inclinarem diante da evidência. Foi o que aconteceu com Jules Soury: convidaram-no para uma sessão espírita e ele recusou-se obstinadamente. (2) 

 

 

(1) Aristarco [do antr. Aristarco, gramático e crítico grego que viveu no séc. II a.C.] significa: crítico ou censor severo, mas judicioso. 

(2) Um moderno êmulo de Soury, Paul Heuzé, empregou os mesmos processos e teve a mesma atitude. Cabem-lhe as mesmas respostas.

 


 

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita