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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 220 - 31 de Julho de 2011

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS 
afv@uol.com.br 
São Paulo, SP (Brasil)
 

Oportunidade perdida


A recente desencarnação do temido terrorista Bin Laden trouxe –  aparentemente – imediato alívio para um considerável contingente de pessoas ao redor do mundo, bem como para o atual governo dos Estados Unidos da América (EUA). Como sói acontecer em tais ocasiões, o presidente do país aproveitou a oportunidade para fazer um pronunciamento nacional a respeito da exitosa operação militar. Buscando reduzir e/ou mesmo eliminar possíveis atritos com a comunidade mulçumana mundial, apressou-se em esclarecer que todos os rigores da religião foram respeitados nas exéquias do corpo inerme. Ipso facto, as comemorações foram estrepitosas naquela grande nação com o povo saindo às ruas em delírio infrene. Os canais de TV exibiram à exaustão - compreensivelmente - as manifestações de alegria dos cidadãos americanos.

Ademais, com o desaparecimento do inimigo público nº 1 da América, uma importantíssima promessa de campanha do presidente Barack Obama foi cumprida. Demonstrando convincente aprovação pela maneira como o assunto foi conduzido, assim como pelo seu desfecho, o eleitor americano catapultou os índices de popularidade do seu presidente – pelo menos num primeiro momento – numa fase extremamente delicada da sua administração dando-lhe esperanças de um segundo mandato. 

Concomitantemente, países aliados elogiaram com veemência, como se viu, a ação militar e, num discurso uníssono tanto quanto monocórdico, admitiram que o mundo ficaria melhor sem a presença daquele ser que conseguiu, um dia, a triste façanha de ter sido o homem mais procurado do planeta. Até mesmo o Secretário das Organizações das Nações Unidas (ONU), o coreano Ban Ki-moon, demonstrou - hélas - apoio ao resultado final da lúgubre iniciativa. Previsivelmente, algumas vozes discordantes partiram do governo paquistanês, que não foi consultado sobre a realização da operação, assim como da rede terrorista Al Qaeda, que jurou vingança pela morte de seu líder fielmente acompanhada por outro grupo extremista, isto é, o Talibã.

É de lamentar, portanto, que a tenebrosa promessa já foi parcialmente cumprida dado que um - previsível - ataque terrorista foi colocado em prática, poucos dias depois, às portas de um quartel militar paquistanês, redundando na morte de cerca de 80 cadetes. Outros tantos têm-se seguido deixando sempre um rastro de morte e destruição. É óbvio que as forças do terror devotadas a implantar - à força - um regime fundamentalista no mundo não deverão parar tão cedo e, em consequência, outras ações dessa natureza deverão acontecer ocasionalmente.  

É também notório que essa guerra não será interrompida tão brevemente, pois ressentimentos e desejos de retaliação abastecem, de modo geral, os dois lados. Por outro lado, não há como negar que Bin Laden colheu, conforme prescrito pelo dito popular, o que ele próprio semeou, isto é: ódio, intransigência e desprezo à vida humana que culminaram com a sua própria desencarnação de maneira violenta. Querendo impor a sua visão de vida, mundo e valores, de maneira tirânica, acabou, em dado momento, perdendo-se completamente. Mais grave ainda: inspirou ou mesmo guiou os seus asseclas a cometer ações absolutamente bárbaras e injustificáveis.

Contaminou com o seu discurso radical e belicoso mentes fracas e corações empedernidos. Ou seja, pessoas ainda completamente despreparadas para aceitar a mais elementar noção do bem ou de respeito aos seus semelhantes. Por isso, as mortes de 3.000 pessoas ocorridas nas ações terroristas de 11 de setembro de 2001 não foram apenas um crime brutal e isolado contra um país, mas contra a humanidade, contra a ideia de diversidade de crenças, opiniões e estilos de vida. Enfim, um crime contra a liberdade de pensar e de ser diferente. Afinal de contas, indivíduos pertencentes a 54 nacionalidades sucumbiram dramaticamente naquele dia de triste memória para a história deste mundo. Em suma, o Espírito de Bin Laden haverá de lamentar amargamente, consoante as leis de Deus – se é que já não começou –, todo o mal que insuflou.

Em contrapartida, a maioria de nós que vivemos no Ocidente recebeu – em algum momento de nossas vidas - algum tipo de orientação religiosa cristã. Com base nessa premissa, desejamos fazer algumas considerações. A primeira diz respeito ao fato de que Bin Laden foi, segundo os relatos jornalísticos, simplesmente executado. Tirar a vida de um ser humano de maneira deliberada – mesmo sendo o famoso e cruel terrorista – não se coaduna, em hipótese alguma, com o ideal cristão que grande parte dos ocidentais receberam nas suas primeiras e básicas noções religiosas. Em segundo lugar, a equipe militar do Seals - que foi exaustivamente treinada para a execução da missão -  poderia, em tese, dominar o líder da Al Qaeda sem baleá-lo mortalmente.

Pelos relatos divulgados, em meio às escaramuças – se é que elas, de fato, aconteceram – Bin Laden poderia ter sido ferido, mas a sua execução sumária foi, – assim depreendemos, – uma decisão tomada antecipadamente. Dito de outra forma, a equipe militar americana – chamada justamente de a elite da elite – penetrou na mansão onde se escondia o líder terrorista visando apenas e tão-somente eliminar a sua vida. Em assim procedendo, as forças militares dos EUA não permitiram que o responsável pelo ataque que ceifou a vida de centenas de pessoas de tantas nações diferentes – e que nada tinham a ver com as incursões político-militares americanas ao redor do mundo – pudesse ser submetido a um julgamento compatível com os seus crimes na isenta Corte Internacional de Haia.

Desse modo, portanto, os EUA – em que pesem toda a dor, sofrimento e angústia gerada pelas suas perdas humanas e materiais – desperdiçaram uma chance singular de mostrar ao mundo que são uma nação que se guia por princípios verdadeiramente cristãos. Analisando esse episódio do ponto de vista Espírita, Allan Kardec nos oferece um interessante e desafiador contraponto ao explorar, na questão nº 887 do Livro dos Espíritos, a recomendação do Cristo para que amemos os nossos inimigos. Com efeito, a resposta dada pelos Espíritos é digna de reflexão – ou seja: “Certo ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso o que Jesus entendeu de dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem. O que assim procede se torna superior aos seus inimigos, ao passo que abaixo deles se coloca, se procura tomar vingança” (ênfase nossa). 

E é exatamente esse o ponto que queremos destacar, pois, ao aplicar a Lei do Talião, a admirável nação da América do Norte perdeu uma ótima oportunidade de mostrar ao mundo – inclusive aos seus inimigos e desafetos – que é capaz de atos piedosos, compassivos e, sobretudo, civilizados. Tivesse deixado que uma corte de juízes isentos e sem nenhum viés ideológico julgasse Bin Laden – aliás, como já se fez em outras tantas oportunidades com notórios criminosos de guerra – exibiria uma grandeza e dignidade incontestes, exemplar e paradigmática. Mais ainda, provaria que não compactua ou emprega a barbárie em suas ações militares. Teria, enfim, contribuído decisivamente para pôr em cheque o mal que advém da fé cega e irracional. Não teria estimulado ainda mais a violência que varre certas áreas do planeta e que leva as pessoas inocentes ao sentimento de pavor e medo incomensuráveis. Por fim, não mitificaria a figura do infeliz malfeitor enquanto disseminador do terror.

Por sua vez, Bin Laden teria oportunidade de pensar, no mínimo, nos seus erros e excessos e rever os seus ideais religiosos. Como afirma Allan Kardec na obra Céu e Inferno: “A punição é antes uma advertência do mal já praticado, devendo ter por fim reconduzi-la ao bom caminho [...]. Se uma alma se arrepende, pode regenerar-se, e podendo regenerar-se pode aspirar à felicidade” (ênfase nossa).

Da forma como desencarnou Bin Laden contribuiu-se pouco ou nada para a sua elucidação espiritual. Confinado numa cela, ele certamente teria muito material para meditar.


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita