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Crônicas e Artigos

Ano 5 - N° 206 - 24 de Abril de 2011

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)


Ônibus 174  

Do interior do homem velho cumpre tirar o homem novo
 
 
“Toda vez que a emoção desce ao estágio primevo, a sensação sobe à inteligência e a enlouquece”.  -   Joanna de Ângelis[1]


Existem vários tipos e graduações de analfabetismos... Citemos apenas três como exemplos: Existe o analfabetismo propriamente dito, isto é, aquele que impossibilita a criatura de ler e escrever.  Existe o analfabetismo funcional, no qual a criatura – embora letrada – não possui a capacidade de interpretar e, consequentemente, não logra aplicar, em seu cotidiano, a essência dos ensinamentos lidos. Existe o analfabetismo emocional, gerador de consequências mais desastrosas do que os dois tipos de analfabetismos citados inicialmente... A incontinência emocional tem gerado sofrimentos atrozes pelo mundo, entre pessoas de todas as faixas etárias e dos mais variados níveis sociais. 

O esfacelamento dos laços familiares nos vórtices alucinantes da vida hodierna tem colaborado enormemente para a recrudescência do egoísmo e despautérios de variegado matiz. Tal o que pudemos observar ao assistir ao filme-documentário sobre o trágico episódio, de triste lembrança, com o ônibus da linha 174 no Rio de Janeiro, anos atrás. Ali está – claramente expresso – o estigma da negligência social fermentada no caldo comburente da exclusão. 

Sandro, o protagonista principal e as tensões esparzidas ao longo de todo o episódio chamam bastante a atenção para o magno problema social gerado pela ausência dos verdadeiros condimentos educacionais e pela desestruturação familiar. 

Não falece dúvida que qualquer um de nós, na pele de Sandro, – provavelmente – seríamos protagonistas das mesmas cenas ou até mesmo piores. Ele, pelo menos, apesar de ter sofrido terríveis revezes e dramas existenciais, desamor, solidão, violência, descaso da sociedade, uso de drogas e sabe Deus mais lá o quê, ainda mostrou germes de bondade em seu coração e algumas noções de valores básicos incrustados nos substratos da consciência. Já o mesmo não podemos dizer com relação aos policiais que o assassinaram e nem mesmo da população que o queria linchar, quando já se encontrava dominado e indefeso. 

Pior ainda é o que estamos testemunhando, hodiernamente, pela mídia, perplexos e horrorizados, ao vivo e a cores: os cruentos quão inomináveis e estarrecedores acontecimentos no Oriente Médio. O que não é capaz de fazer o ser humano (ser humano?!) por inócuas conquistas políticas e econômicas!... Sim, porque, em suma, o que marcou – essencialmente – a presença norte-americana nos sanguinolentos cenários do Iraque, isto é, o verdadeiro motivo, além da retaliação pelo 11 de setembro, ancora-se em motivações econômicas (petróleo) e políticas (ambição de Bush pela reeleição). 

Para a conquista dessas metas, os principais interessados fecham os olhos para os pesados ônus, tanto financeiros quanto em vidas humanas estraçalhadas, e em horrores mil, humanamente inqualificáveis... 

Não basta a um povo estar tão-somente desenvolvido intelectual e tecnologicamente; há que se enfatizar, também, o desenvolvimento moral. Sem este aqueles provocam desastres como os que temos presenciado ultimamente.   

Se a paz depende da justiça, conforme o pensamento de Vieira, em epígrafe, como incentivar noções de justiça nesses povos onde é alto o índice de beligerância?       

Resposta: pela educação!... “Tão somente pela educação” – já dizia Vinícius [2] - “se pode incutir as noções de justiça a esses povos, por isso que o senso de justiça, como, aliás, de todas as virtudes, nasce, cresce e frutifica no coração, e não no cérebro”. 

Continuemos com as lúcidas ilações de Vinícius:

“(...) Educar, formando o caráter, eis o problema máximo cuja solução o momento reclama. O que se tem feito até aqui para extinguir de vez a guerra, tornando-a impraticável? De prático e eficiente, nada!... Diviniza-se a paz, porém, somente nos lábios, nas frases literárias, nos discursos políticos demagógicos. 

A guerra, com sua goela hiante, devoradora de vidas humanas, devastadora impenitente dos campos e cidades, anarquizadora por excelência da ordem e do ritmo vital de povos e nações, tanto como a paz, resultam das consequências inelutáveis e fatais da condição em que se acham estruturadas as organizações político-sociais do nosso mundo. Enquanto estas forem inócuas, prevalecendo a força contra o direito, e a impostura contra a verdade, haverá guerras e convulsões sangrentas. 

O preço da paz é a justiça, aquela justiça, porém, da qual disse o Mestre de Nazaré aos Seus discípulos: ‘Se a vossa justiça não for superior à dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino de Deus’. Sem ela, nunca sairemos das garras aduncas e ferozes, das guerras periódicas desencadeadas em determinadas regiões do planeta, evoluindo para as grandes conflagrações, como as que temos ultimamente. A solução para tão horripilante situação encontra-se nas seguintes estrofes do imortal vate lusitano, Guerra Junqueiro: ‘Acendem-se na rua, à noite, os candeeiros; /Coloca-se um gendarme à porta dos banqueiros; /A polícia fareja os becos e as vielas; /Dobram-se as precauções, dobram-se as sentinelas; /E apesar disto tudo há feras pela rua; /O vício não acaba, o roubo continua, /E é cada vez maior a criminalidade. /Pois bem; iluminai por dentro a sociedade: /Ponde o trabalho e a honra onde estiver a esmola; /Uni o amor ao berço e uni o berço à escola. /Acendei uma luz em cada coração’. 

Tal é o remédio apontado pelo grande pensador, para debelar o crime e moralizar a sociedade.  Realmente, não existe outra panaceia capaz de conjurar os vetustos e renitentes males sociais, senão essa. Tudo o mais são paliativos, são recursos efêmeros cujo efeito consiste em adiar as crises da enfermidade moral de que padecem os homens. E, assim, de delonga em delonga, de adiamento em adiamento, as doenças do Espírito se radicam e se agravam zombando do curandeirismo irracional e inócuo, contra elas aplicado”. 

Vinícius continua[3] oferecendo a receita para a reversão dos desesperadores e quadros de miséria moral: “(...) A nossa sociedade é uma enferma entregue nas mãos de curandeiros charlatões que se preocupam em combater sintomas, visando com isso impressionar a doente cujo estado se agrava continuamente... Todas as perturbações sociais, de caráter nacional ou internacional, são fenômenos acidentais, revelando um estado mórbido geral e permanente que ainda não foi focalizado pelos bisonhos terapeutas que rodeiam o leito da extenuada enferma. A moléstia, no entanto, vai se definindo cada dia com mais evidência: Trata-se de hanseníase da alma assinalada na in­sensibilidade moral que caracteriza o homem deste século. Eduque-se o sentimento, cultive-se a ciência do bem que é a ciência do coração, e ver-se-á a moléstia decrescer, e a enferma entrar em franca convalescença... 

Urge dar essa orientação ao problema educacional. A Humanidade precisa ser reformada. Do interior do homem velho cumpre tirar o homem novo, a nova mentalidade cujo objetivo será desenvolver o amor na razão direta do combate às multiformes modalidades em que o egoísmo se desdobra. A renovação do caráter depende da renovação dos métodos e processos educativos”. 

Joanna de Ângelis complementa1: “(...) Todos estamos destinados à imarcescível glória do Bem, que triunfará, embora a demorada presença do mal que elaboramos em nós mesmos para o suplício que preferimos. Por maior que seja esse período de dominação negativa, cessará ao impositivo da evolução que jamais será detida. 

Conveniente utilizar-se, desde logo, dos antídotos poderosos para as paixões que desgovernam os homens e a época, e de que nos dão excelentes provas a química do amor e a dinâmica da caridade de que o Cristo Se fez paradigma por excelência... 

Pequenos esforços somam resultados expressivos; migalhas reunidas formam volume respeitável; átomos agregados constituem forças atuantes e vivas: Pequeno esforço contra a ira, uma migalha de caridade logo mais, um átomo de amor que se dilata, e será formado o condicionamento para as arrancadas exitosas contra as grandes paixões aniquilantes que devem ser incessantemente combatidas. 

Um pensamento feliz, uma palavra cortês, um aperto de mão, e desabrocham os pródromos das paixões pela fraternidade e pelo Mundo Melhor que desde já está sendo construído pelos lutadores autênticos do Cristo, espalhados em todos os campos de atividade na Terra, esperando pela contribuição da boa vontade de cada um de nós”.   

 

[1] - FRANCO, Divaldo Pereira. Após a tempestade. 3. ed. Salvador: LEAL, 1974, cap. 4.

[2] - VINÍCIUS. O Mestre na Educação.  6. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1976, cap. 23 (in fine).

[3] - VINÍCIUS.  O Mestre na Educação. 6. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1976, cap. 22. 




 


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