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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 203 - 3 de Abril de 2011

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS 
afv@uol.com.br 
São Paulo, SP (Brasil)
 

A pessoa voltada ao bem: dissecando o pensamento
de Kardec


Inserido na obra O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII, item 3, que trata do desafio de sermos perfeitos, um dos mais importantes legados do Codificador da Doutrina Espírita à humanidade, especialmente nesses tempos de grande conturbação e caos, que pretendemos examinar neste artigo. Trata-se do texto O Homem de Bem, pois se Jesus nos recomendou a busca da perfeição, Allan Kardec, por sua vez, nos mostrou o caminho para chegarmos lá.

Ademais, o referido texto pode ser considerado - dada a sua abrangência e multidimensionalidade - como um tratado completo de ética, moral e progresso espiritual adequado a qualquer pessoa interessada em ser melhor, independentemente da religião que professe. Assim sendo, logo em seu introito o Codificador afirmou que “O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei da justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza”. Tal afirmação nos remete às seguintes indagações: estamos em dia com tais imperativos? Podemos relacionar com facilidade o que temos praticado nessas áreas?

O ato benigno mais saliente é a caridade. Às vezes, mesmo quando fazemos doações, estabelecemos pré-condições. Ou seja, não nos desligamos do bem doado, pois queremos saber o que vai ser feito, a quem será dado, se for o caso, por quanto vai ser vendido etc. Em outras situações doamos coisas como se estivéssemos nos desfazendo de objetos inúteis. Assim, não raro, doamos roupas rasgadas e/ou cheirando a bolor, calçados e objetos absolutamente imprestáveis e assim por diante. Não vislumbramos a doação como um presente que gostaríamos de receber se nos encontrássemos na condição de necessitados.

Assevera Kardec que se a pessoa de bem “... interroga a sua consciência sobre os próprios atos (convenhamos tratar-se de ação humana quase sempre deliberadamente esquecida), pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez todo o bem que podia...”.

Nesse sentido, cabe destacar que omissão no bem é oportunidade desperdiçada. Como tal, eventualmente pode acontecer de não surgir outra chance tão cedo. Aliás, relata o Espírito Inácio Ferreira, conforme consta na obra Espíritos e Deuses, uma embaraçosa situação por ele vivida – à qual todos nós estamos igualmente sujeitos –, quando encarnado e vivendo em Uberaba, envolvendo um pedinte alcoolizado – como sói acontecer em qualquer cidade – em que ele não o tratou com a devida atenção. Arrependido tentou reparar o deslize, mas não viu mais o infeliz. Como uma autêntica lição de vida, a oportunidade de auxílio àquela criatura – que ainda continuava dominada pelo vício - só lhe foi concedida quando ambos já estavam do lado de lá.

Como a pessoa de bem vive alinhada à indefectível regra de ouro, faz aos outros tudo aquilo que gostaria que lhe fizessem. Geralmente, esperamos e desejamos o melhor para nós, mas retribuímos o mesmo aos outros? Além disso, é preciso atentar para o fato de que o mundo não vai mudar para melhor por decreto. Essa questão, aliás, remete aos princípios da alteridade e da empatia que devem necessariamente nortear a vida em sociedade doravante.

Consoante a visão kardequiana (absolutamente calcada nos ensinamentos de Jesus), a pessoa de bem “Tem fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e na sua sabedoria”.  Por isso, “... sabe que nada acontece sem a sua permissão, e submete-se em todas as coisas à sua vontade”. Pode-se inferir ainda que as criaturas de bem não se revoltam contra Deus. Ou seja, entenderam definitivamente que Deus é sempre a nosso favor, que as tempestades passam e que o brilho do Sol sempre sucede à escuridão da noite...

Com efeito, a pessoa de bem olha e planta para o futuro. Como já assimilou a lição que é dando que se recebe, faz o bem de todas as formas ao seu alcance. Afinal de contas, “Tem fé no futuro, e por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais”. Em decorrência, não tem dúvidas de que todas as vicissitudes, dores e decepções que o(a) atingem são provas ou expiações necessárias e, por ter fé esclarecida, as aceita sem se queixar. Já sabe, enfim, que se somos escravos do ontem também somos donos do nosso amanhã... Por isso, trabalha denodadamente no seu íntimo para se autoiluminar. Ademais, tem conhecimento que o testemunho é um teste indispensável e a paciência é uma virtude basilar.

Aludindo a um outro aspecto primordial, Kardec ponderou que a pessoa de bem encontra satisfação “nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas venturas que promove, nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos”. De modo geral, entendeu que a verdadeira alegria advém da paz de consciência e de que é melhor dar do que receber. Como legítimo cristão, pensa nos outros, inclusive antes dos seus. Aliás, não pode ter sido por outra razão que Jesus indagou: “Quem é a minha mãe? E quem são os meus irmãos? (Mateus, 12: 48)”.

Para o indivíduo focado no bem, o bem-estar do outro é, de fato, motivo de autêntica preocupação. Ao assim proceder, destrói as ervas daninhas do egoísmo e da indiferença tão presentes no mundo moderno. Aliás, quanta dor e sofrimento poderiam ser eliminados se pensássemos mais no impacto que as nossas decisões e ações têm na vida alheia.

Vale ressaltar que é normalmente reconhecido por ser “... bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque vê todos os homens como irmãos”. A propósito, podemos afirmar – com sinceridade – que somos bons? De modo geral, todos nós assim nos achamos; no entanto, bondade não é uma característica predominante da humanidade – pelo menos ainda. Cabe, então, perguntar: somos compreensivos com os que são diferentes de nós? Afinal, é notório o crescente preconceito entre nós. Segundo pesquisas, jovens não toleram os mais velhos (tal comportamento, aliás, é perceptível dentro dos transportes coletivos, nas relações sociais que primam pela frieza, nas empresas e assim por diante). Quantos homens e mulheres negras, por exemplo, estão no topo das empresas e das universidades? Recentemente, o programa dominical Fantástico noticiava o preconceito que professoras concursadas estavam sofrendo por causa da obesidade de que eram portadoras.  

Além disso, há criaturas humanas encarnadas na atualidade que estão impregnadas pelo mais alto grau de intransigência. Com frequência quase diária, grupos terroristas, por meio de ações cruéis de autoimolação, massacram os seus irmãos, bem como a si próprios num espetáculo dantesco de radicalismo em várias partes do planeta. Em flagrante contraste, a pessoa voltada ao bem é pluralista por excelência considerando, entre outras coisas, que “Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema aos que não pensam como ela”.

Adota a caridade como seu guia, pois, como observou o Codificador com propriedade, “Fora da caridade não há salvação”. Por conseguinte, não há como aspirarmos a um amanhã melhor se não adotarmos tal prática, de abrirmos mão da zona de conforto em que estamos quase sempre completamente mergulhados, e de distribuirmos – pelo menos de vez em quando – algumas migalhas do nosso tempo a algum doente ou necessitado. A caridade, nesse contexto, pode ser também interpretada como o nosso esforço em aceitar com paciência os que nos aborrecem ou perturbam a nossa paz, de endereçarmos uma prece aos que precisam de luz e entendimento mais do que nós.

 O Codificador corretamente identificou que a pessoa de bem não acalenta o ódio, o rancor e tampouco projetos de vingança em sua alma. Como acredita que “a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27), confia na ação profilática da justiça divina. Mais ainda, “sabe que será perdoado, conforme houver perdoado”. Por essa razão, “É indulgente para as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência...” Em suma, não massacra quem errou.

Kardec notou igualmente que a pessoa de bem “Não se compraz em procurar os defeitos dos outros, nem pô-los em evidência”. Ao contrário, “Estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha sem cessar em combatê-las”. Em outras palavras, olha para dentro de si com coragem e sinceridade. Em todas as ocasiões busca dominar os impulsos desequilibrados do ego.

Como já alcançou certa maturidade espiritual, “Não tenta fazer nem o seu espírito, nem os seus talentos, a expensas dos outros”. E coisa raríssima de se pôr em prática hoje em dia: “... aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar as vantagens dos outros”. Em consequência, a pessoa de bem tem verdadeiro espírito de equipe e desprendimento. Por conta disso, reconhece e respeita o valor dos outros. Infere-se que ele(a) combate a ciumeira que não raro nasce das relações humanas.

A pessoa de bem “Não se envaidece em nada com a sua sorte, nem com os seus predicados pessoais, porque sabe que tudo quanto lhe foi dado pode ser retirado”. Em síntese, é uma criatura com consciência. Aliás, especulamos que poucos estão devidamente preparados paras as adversidades nesse mundo. Poucos conseguem divisar a fugacidade das vitórias e realizações humanas... Por isso, permitimos que autênticos Cavalos de Troia adentrem em nossa casa interior. De fato, poucos percebem quão frágeis são as situações de poder, status, riqueza e saúde. Não é por outro motivo que, às vezes, precisamos de remédios amargos para restaurar o nosso equilíbrio espiritual, assim como adquirir a virtude da humildade.

O Codificador ponderou que o indivíduo motivado pela ideia do bem não se escraviza e nem abusa dos bens materiais que lhe foram outorgados pela providência divina. Afinal, “... sabe tratar-se de um depósito, do qual deverá prestar contas..”. Com certeza, muitos poderosos e influentes do mundo moderno, por não terem uma educação espiritual, se depararão com terríveis surpresas do lado de lá. Colherão os frutos do sofrimento e do remorso lancinantes que semearam aqui. Nesse sentido, recentemente chamou-nos a atenção a louvável atitude da família americana Salwen.

Incomodados pelas discrepâncias sociais existentes em seu país, e em comum acordo, eles decidiram doar a metade do patrimônio familiar (cerca de US$ 800 mil) para a organização humanitária The Hunger Project. A doação foi aplicada numa comunidade carente situada em Gana no continente africano. A família tem acompanhado a utilização do dinheiro e relatou a sua experiência no livro The Power of Half (O poder da metade).

Eventualmente, as pessoas voltadas ao bem têm outras criaturas a elas subordinadas. Quando isso ocorre, “... trata-os com bondade e benevolência...”, pois os considera absolutamente iguais, não humilha, enfim, os mais simples. Kardec asseverou que elas usam a “... sua autoridade para erguer-lhes a moral a não para os esmagar com o seu orgulho, e evitar tudo quanto poderia tornar mais penosa a sua posição subalterna”. Com efeito, as posições no mundo são passageiras e os poderosos também são apeados como claramente revela a história humana.

Por outro lado, aquele que se encontra na condição de subordinado “compreende os deveres da sua posição, e tem o escrúpulo de procurar cumpri-los conscienciosamente”. De fato, a nossa civilização clama por pessoas que cumpram a suas missões com zelo, eficiência e responsabilidade. Se todos fizerem a sua parte estarão ajudando o planeta Terra a ser uma morada mais aprazível.

Kardec concluiu esse seminal texto observando que a pessoa de bem “respeita nos seus semelhantes todos os direitos que lhes são assegurados”, até porque deseja que os seus sejam igualmente reconhecidos. Por fim, vale destacar que Allan Kardec nos ofereceu há quase 150 anos atrás orientações concretas, precisas e insofismáveis, além de embasadas no repto de Jesus, a fim de podermos um dia alcançar a perfeição moral.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita