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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 201 - 20 de Março de 2011

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)


Domesticação dos instintos agressivos

 À medida que o ego se faz consciente dos valores ínsitos no Self, torna-se factível uma programação saudável para o comportamento

Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral  e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” -  Allan Kardec[1]


Estudando a história dos povos, não ficará difícil concluir que a gênese dos instintos agressivos - à solta nos dias atuais - se mescla à gênese do próprio homem, portanto, perde-se na noite dos tempos!...  Na frase em epígrafe, observemos que Kardec usou o verbo domar”. E ele estava, (como sempre!), coberto de razão, porque para revertermos os instintos agressivos em “atitudes educadas”, há que se empregar ingentes esforços de autodomesticação. E caso não venhamos a tomar a iniciativa por nós mesmos, os mecanismos divinos passarão a agir tal como ensina Lázaro ao nos admoestar[2]: “(...) Ai do Espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Pois nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora”.

Joanna de Ângelis[3] leva-nos a uma viagem às abissais e ignotas profundezas do “Self”, onde estão firmemente implantadas as raízes dos instintos agressivos, mostrando-nos como extirpá-los. Segundo a nobre Mentora, “uma psicoterapia eficiente libera o paciente não só dos conflitos, mas também das paixões primitivas, que passam a ser direcionadas com equilíbrio, trans­formando os impulsos inferiores em emoções de harmonia. As imagens arquetípicas que emergem do in­consciente pessoal, heranças algumas dos instintos agressivos que predominam em a natureza humana, resultantes do processo antropossociopsicológico, tornam-se diluídas pela razão, em um trabalho de conscientização das suas inclinações más e imediata superação, conforme acentua Allan Kardec, o ínclito Codificador do Espiritismo.

Essas inclinações más ou tendências para atitudes primitivas, rebeldes, perturbadoras do equilíbrio emocional e moral, são heranças e atavismos insculpidos no Self, em razão da larga trajetória evolutiva, em cujo curso experienciou o primarismo das formas ancestrais, mais instinto que razão, caracterizadas pelos impulsos automáticos do que pela lógica do discernimento.   Impregnando o ego com a sua carga de paixões asselvajadas, necessitam ser trabalhadas com afinco, a fim de que abandonem os alicerces do inconsciente, no qual se encontram, e possam ser dissolvidas, substituídas pelos mecanismos dos sentimentos de amor, de compaixão, de solidariedade...

(...) À medida que o ego se faz consciente dos valores ínsitos no Self, torna-se factível uma programação saudável para o comportamento, trabalhando cada dificuldade, todo desafio, mediante a reconciliação com a sua realidade eterna. Os fenômenos que parecem obstar o processo de maturação psicológica cedem lugar aos estímulos pelas conquistas que se operam, emulando a novas realizações edificantes que enriquecem de alegria os relacionamentos familiares, sociais e humanos em geral. É uma forma de o paciente desencarcerar-se dos impulsos perniciosos, que somente contribuem para asselvajar-lhe os sentimentos e emparedar-lhe as aspirações no estreito espaço das ambições tormentosas.

(...) A necessidade de trabalhar as tendências primárias, os instintos dominantes e primitivos, torna-se imprescindível em todos os indivíduos. Todo esse patrimônio psicológico ancestral que nele permanece constitui-lhe patamar inicial do processo para a aquisição da consciência, que não pode ser violentado, sem graves prejuízos, no que diz respeito a outras manifestações que fazem parte da realidade dos próprios instintos. Essa batalha íntima se faz possível graças aos estímulos que decorrem dos primeiros resultados, quando são vencidas as etapas iniciais da luta interna que se processa com naturalidade. Como não se podem preencher espaços ocupados, faz-se imperioso substituir cada impulso perturbador por um sentimento enobrecido, ampliando a área de compreensão da vida e disputando a harmonia no cometimento da saúde.  

Merece seja evocada, novamente aqui, a já analisada sábia proposta de Krishna ao discípulo Arjuna, conforme narrada no Baghavad Gita, quando o primei­ro lhe refere que, na sua condição de príncipe pândava, terá que lutar com destemor contra os familiares do grupo kuru, mesmo que esses sejam numericamente maiores. Não obstante o jovem candidato à plenitude desejasse a paz, foi tomado de temor por considerar que lhe seria impossível combater os demais membros da sua família, gerando uma tragédia de grande porte. Ademais, ignorava onde seria essa batalha vigorosa. Mas o mestre, compassivo e sábio,  admoestou-o, informando que se tratava de familiares, sim, porque procedentes da mesma raiz, mas que os pândavas eram as virtudes, enquanto os kurus eram os vícios, nesse inter-relacionamento que se estreitava na causalidade dos fenômenos, mas que a vitória, sem dúvida, seria daqueles valores nobres, enquanto que a luta teria que ser travada no campo da consciência...  Esse momento do despertar da consciência para a realidade do Si, também significa a alegria de reconhecer a necessidade de libertar-se das paixões dis­solventes, geradoras de tormentos.

Indubitavelmente, o passado programou no ser as necessidades da sua evolução, apontando-lhe uma finalidade, um objetivo que deve ser alcançado medi­ante todo o empenho da sua inteligência e do seu discernimento. Deixando de lado os impulsos meramente instintivos que o vêm guiando através dos milênios, agora desperta para a razão, descobrindo a essencialidade da vida, que nele próprio se encontra como tendência inapelável — o seu destino — que é a harmonia, a plenitude ambicionada... É inevitável que, durante essa trajetória, repontem as dificuldades, hoje ameaçadoras, que fizeram parte das conquistas pretéritas, e, no seu momento, foram os mecanismos de sobrevivência e de vitória do ser em relação ao meio hostil e aos semelhantes primitivos que o buscavam dizimar.  

Vencendo as impressões que permanecem do ontem, o seu vir-a-ser desenha-se atraente e enriquece­dor, por propiciar-lhe metas idealistas que irão desenvolver os sentimentos e a inteligência, encarregados de selecionar os recursos que o podem impulsionar para a conquista da saúde integral e do equilíbrio social”.

Nosso confrade psicólogo, Adenáuer Novaes, nos oferece[4] ricos subsídios para o trabalho íntimo de erradicação dos instintos agressivos, e o segredo está no desenvolvimento da nossa Inteligência Emocional. Segundo Novaes, existem vários tipos de inteligência. A partir do conteúdo da questão número vinte e quatro de “O Livro dos Espíritos”, na qual os Benfeitores Espirituais afirmam que “a inteligência é um atributo essencial do Espírito”, o autor revela que a pobreza de nossa compreensão e da linguagem não nos permite maiores descortinos acerca da essência do Espírito, mostrando que o mesmo acontece com o conceito da palavra “Inteligência”.

Sobre a inteligência, explica Novaes4: “(...) Por muito tempo se considerou a inteligência como o atributo principal para designar o máximo da capacidade do ser humano em face do mundo e seus desafios. A palavra resumia tudo que se queria afirmar a respeito da capacidade de cada ser humano no que diz respeito às suas aptidões intelectuais. Mas, em absoluto, ela não consegue resumir todas as qualidades nem a diversidade da natureza humana. As capacidades intelectivas humanas não mais podem se resumir à palavra inteligência. Ela encerra apenas o domínio lógico-matemático e linguístico-verbal da mente humana. O Espírito, na riqueza de sua evolução e na complexidade de suas potencialidades, tem mais do que a inteligência, como muito bem colocaram os Espíritos na Codificação ao afirmarem que ela é apenas um dos atributos do Espírito. Como a ciência da época não valorizava outras formas de manifestação das capacidades psíquicas do ser humano, confundia-se o Espírito com a inteligência. Mas hoje, após estudos e novas formas de percepção e valorização das capacidades humanas, podemos afirmar que a inteligência em todas as suas manifestações é apenas um dos muitos atributos do Espírito. O domínio das inteligências, pertencente ao Espírito, ainda se encontra de tal forma concebido como um caráter cerebral que não se avança na percepção da totalidade e da realidade psíquica da pessoa. A ciência teima em atribuir ao cérebro os potenciais que pertencem ao Espírito, que se utiliza daquilo que sua estrutura física possibilita manifestar.

A denominação de inteligência obedece a uma época em que faltavam termos para se definir as capacidades do Espírito. Talvez ainda faltem, porém é fundamental entender que a falta não se deve à linguagem, mas ao aprisionamento a paradigmas mecanicistas e estritamente vinculados a uma concepção materialista e utilitarista de enxergar o ser humano. As inteligências definidas pela ciência como capacidades intelectivas, longe de serem meros campos de avaliação do saber, se aproximam, embora que de forma acanhada, das faculdades do Espírito.

Poderíamos redefinir inteligência como uma aptidão do Espírito, que resume grande número de funções independentes, tais como: imaginação, memória, atenção, conceituação e raciocínio, dentre outras... Ela resulta da aprendizagem através da formação de hábitos oriundos dos condicionamentos reflexos bem como da livre expressão do Espírito na utilização do seu livre-arbítrio. É uma função complexa de adaptação ao mundo onde a consciência se torna cada vez mais capaz de compreender, criticar e decidir sobre uma nova situação. Inteligência é a capacidade de ordenar, organizar e utilizar os pensamentos e emoções em proveito próprio; é a capacidade de reunir procedimentos adequados para fazer coisas; é a capacidade de resolver problemas ou de criar situações que sejam valorizadas dentro de um ou mais cenários culturais.

Desviando a concepção de inteligência como algo ligado ao raciocínio e ao conhecimento intelectual, Gandhi dizia que ‘os únicos demônios deste mundo são os que circulam em nossos corações. É aí que a batalha deve ser travada’. Na mesma esteira de Gandhi, Antoine de Saint­-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, afirma que ‘é com o coração que se vê corretamente; o essencial é invisível aos olhos’. Um e outro procuram colocar que existe algo mais além do que a inteligência quer significar. Há capacidades emocionais que fogem do domínio daquilo que se conhece com o nome de inteligência”.

Os famosos testes QI, em razão do amplo leque das potencialidades humanas, se mostram inócuos, uma vez que não podem abranger toda essa superlativa gama de potencialidades; portanto, são ineficazes para medir a inteligência e as aptidões do Espírito.  

Segundo ainda o nosso Adenáuer, os testes de QI abrangem parcialmente apenas duas inteligências: a inteligência linguística ou verbal (do domínio da fala) e a inteligência lógico-matemática (do cálculo, da percepção algébrica). Mas existem outras inteligências, além dessas duas, como por exemplo: a inteligência musical, a inteligência corporal-cinestésica, a inteligência espacial, a inteligência intrapessoal, a inteligência interpessoal, a inteligência intuitiva e a Inteligência Emocional. Nesta última, está a nossa grande aliada para a domesticação dos instintos agressivos. Aprendamos com Adenáuer4 o que é, afinal, a INTELIGÊNCIA EMOCIONAL:

“A Inteligência Emocional é a capacidade de reconhecer sentimentos, e aplicá-los eficazmente como uma energia em favor da sobrevivência, adaptação e crescimento pessoal. É a capacidade de sentir, entender e aplicar eficazmente o poder e a perspicácia das emoções como uma fonte de energia, informação, conexão e influência humanas.

Mahatma Gandhi dizia, demonstrando ter integrado seus defeitos e chegado ao equilíbrio e à harmonia espiritual desejável a qualquer ser humano: ‘Sou um homem mediano com uma capacidade menos que mediana. Admito que não sou intelectualmente brilhante. Mas não me importo. Existe um limite para o desenvolvimento do intelecto, mas nenhum para o do coração’.

O desenvolvimento da inteligência emocional se dá com o aparecimento da empatia, que é a capacidade de se identificar com o outro, sentindo o que ele sente. Isso pressupõe: compreensão, tolerância e paciência. A Inteligência Emocional compreende: Autoconhecimento, Administração de humores, automotivação, educação do impulso e sociabilidade”.

Para melhorar a nossa Inteligência Emocional e despertar os potenciais criativos interiores que a fortalecem, devemos, segundo ainda o nosso confrade Adenáuer, tomar as seguintes atitudes4: “Não nos aborrecermos com coisas pequenas; cultivar otimismo e entusiasmo, que significa ter Deus dentro de si; cultivar a persistência objetiva; desenvolver a própria singularidade (estilo pessoal) e a simplicidade; sempre reconhecer os erros; saber ouvir e escutar o outro; aprender a fazer distinção entre os atos e a pessoa que os pratica; olhar nos olhos da pessoa com quem falar; acreditar naquilo que disser; reconhecer e sentir a emoção, não negá-la ou minimizá-la; cultivar a amorosidade, a humanização e a compaixão.

Para tornar realidade a nossa Inteligência Emocional, devemos considerar que qualquer derrota é aprendizado importante tanto quanto a vitória. Persistir em busca de alternativas diferentes para os problemas aparentemente insolúveis, sem se atribuir incompetência. Além dos objetivos imediatos e mais próximos, devemos desenvolver internamente a crença num objetivo global para a vida como um presente de Deus. Considerar importante planejar, organizar e responsabilizar-se por tudo que ocorre na própria vida. Aprender a guiar-se pela razão e pelos sentimentos, buscando alternativas que conciliem essas possibilidades. Estimular em si mesmo, no próprio caráter, os aspectos mais puros e nobres que possui. Amar a simplicidade, as pessoas, a si mesmo e a vida.    

Fundamental é desenvolver a autoestima. Para tanto não é preciso nada de excepcional na personalidade. É suficiente considerar-se filho de Deus e, portanto, detentor de habilidades mínimas para o desempenho adequado na arte de viver; cultivar a segurança física, valorizando adequadamente o corpo, não se sentindo intimidado ou com medo da vida; ter sua crença pessoal sobre a própria origem divina; ter a certeza de que a própria vida tem significado e uma direção definida; buscar não se perturbar com pequenas derrotas, consciente de que melhorará o próprio desempenho na próxima vez; não permitir que a própria ansiedade atrapalhe o preparo para enfrentar novas provas; enfim, cultivar a simpatia.

(...) As emoções são reconfigurações do Espírito. O uso da inteligência não deve se limitar a conhecer os objetos ou mesmo servir para lhes caracterizar com nomes ou utilidades.   Ela representa aquisição superior do Espírito e deve ser colocada a serviço do amor, sem o qual se torna ferramenta inútil e perigosa.

A Inteligência Emocional, ou a capacidade de administrar afetos, emoções e sentimentos, é o fator mais importante da evolução do Espírito, em seu atual estágio no planeta. Essa aquisição possibilitará a percepção de leis transcendentes que o capacitarão a alcançar limites fora do sistema solar”.                                                                                                      


[1] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 129. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. XVII, item 4, § 5º. 

[2] - Idem, ibidem, cap. IX, item 8, § 2º.

[3] - FRANCO, Divaldo. Triunfo Pessoal. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2002.

[4] - NOVAES, Adenáuer. Psicologia do Espírito.  Salvador: FLH, 2000, cap.: Inteligência.




 


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