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Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 4 - N° 201 - 20 de Março de 2011
GUARACI LIMA SILVEIRA
glimasil@hotmail.com
Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)

 
Adenáuer Novaes:

“O Amor é a força propulsora do Universo”

O conhecido orador e escritor nos fala sobre Psicologia e Espiritismo e explica as diferenças existentes entre as teorias de Sigmund Freud e de Carl Gustav Jung

 

Orador espírita renomado, Adenáuer Novaes (foto) nasceu em 1955, em Acajutiba, no sertão da Bahia. Formou-se em 1981 em Engenharia Civil. Concluiu o curso superior em Filosofia em 1986 e em Psicologia em 1997. Teve seu primeiro contato com o Espiritismo na adolescência, quando frequentou reuniões do Núcleo de Militares Espíritas na Escola de Campinas. Posteriormente, em Salvador iniciou seus estudos espíritas. Fundou junto com outros companheiros, em 1994, um Centro Espírita em Salvador. Trabalha como psicólogo clínico. Pós-graduou-se em Psicologia Junguiana e ministra

cursos nesta área. É um dos diretores da Fundação Lar Harmonia, instituição filantrópica, com amplo trabalho no campo da assistência social, creche-escola, oficinas profissionalizantes, escola integral, serviços médico e odontológico, balcão de justiça e cidadania, editora e ainda núcleo de psicologia e um centro espírita. A Fundação tem sua sede em Piatã, bairro da cidade de Salvador, na Bahia, www.larharmonia.org.br. É autor de vários livros sobre Psicologia e sobre Espiritismo, muitos deles disponíveis para download grátis. (1)

Para a clássica pergunta “Quem sou”? O que a moderna Psicologia aliada ao Espiritismo pode responder?

A resposta merece ser analisada sob o paradigma da imortalidade, mas também sob um olhar psicológico. O ser humano é um Espírito imortal, que se expressa por via de um aparelho psíquico localizado no perispírito, que, periodicamente, utiliza-se de um corpo físico. É também uma personalidade inicialmente coletiva e que, com as experiências adquiridas ao longo de sua evolução, individualiza-se gradativamente na convivência social. O ser humano não é suas referências de nome, filiação, endereço etc., mas algo além do que sabe sobre si mesmo. 

Espírito, Perispírito e Corpo Físico coexistem na pessoa numa perfeita interação, segundo os postulados espíritas. Sendo o Espírito a base orientadora do conjunto, que ações se devem implementar quando a dor visita determinado indivíduo?

É importante se fazer distinção entre Espírito e Perispírito. Este último tem sido considerado tão-somente um corpo energético que molda o físico. Considero que é mais do que isso. É o perispírito o importante veículo que registra todos os fenômenos psicológicos, pois é nele que se situa a mente. A memória, os registros emocionais, as experiências reencarnatórias etc. ficam nele armazenados. Isso significa a transferência do que se pensava estar no Espírito para o Perispírito. No Espírito propriamente dito se situam os paradigmas das leis de Deus. Há uma dinâmica perispiritual que envolve todos os fenômenos psicológicos e mediúnicos. Dito isto, a dor é uma experiência emocional, oriunda do físico ou do psíquico que tem reflexos na consciência do eu e isso pode levar a muitos estados interiores. Pode haver dor sem se ter sofrimento, pois este se deve à interpretação que se dá àquela. É importante salientar que o sofrimento, por si só, não é o fator que promove a evolução do Espírito, mas o que resulta da experiência que se pretende ter e que resulta em aquisição de novo saber. 

O Ser e o Universo devem interagir de que maneira?

O Espírito é senhor do Universo, que existe para a sua evolução. O Espírito não está inserido no Universo, mas é seu cocriador. Tudo que há e que é considerado parte integrante do Universo existe para o Espírito. Tudo o que consideramos como leis de Deus são contingências adequadas a cada nível de evolução do Espírito, sem serem absolutas. O Espírito molda o Universo de acordo com seu saber. Conforme os princípios descobertos pela moderna Física Quântica, é o Espírito que altera o Universo observado, sendo por ele influenciado. A interação deve ocorrer considerando-se a influência mútua. A realidade do Universo é manifestação do Espírito que, pela sua mente, molda-o de acordo com suas necessidades. 

A ciência atual fala da energia escura, enquanto que Kardec fala do fluido cósmico universal. A descoberta dessa energia pela ciência é a mesma energia postulada pelo codificador?

A matéria escura espalhada pelo Universo conhecido é manifestação do Fluido Cósmico Universal. Longe está de ser o próprio fluido citado por Allan Kardec. Ainda existem manifestações do FCU desconhecidas pela Física, que, cada vez mais, dela se aproxima via equações matemáticas. Os aparelhos desenvolvidos pela ciência, diga-se de passagem, de alta precisão, ainda não alcançam a intimidade do que é espiritual, visto que lhes falta o elemento intermediário ainda não descoberto. 

Em seu livro: “Psicologia do Espírito” você se refere a “códigos afetivos”. Poderia explicar o que sejam?

O termo consta do capítulo em que trato das funções do perispírito, quando explico a função perispiritual de decodificação e filtragem. No trecho explico como os estímulos captados pelo corpo, via cinco sentidos, são transformados em fatores que se integram ao perispírito. Trata-se da passagem do estímulo nervoso, transformado em impulso elétrico, captado pelo sistema cerebral, que é codificado para ser retido pelo perispírito. Costuma-se, de forma leiga, falar em energia, generalizando-se as informações referentes ao perispírito, porém a palavra é muito ampla, sendo usada para muitos fenômenos relacionados a movimento de matéria. A codificação do estimulo eletroquímico que chega ao cérebro, para alcançar o perispírito, é necessária pela diferença de vibração entre um e outro. O estímulo eletroquímico, oriundo da área cerebral, é codificado em informação afetiva, compreendendo este termo como aquilo que é subjetivo, não-material, transformado em algo afetável ao novo ambiente, isto é, ao perispírito. Assemelha-se ao fenômeno da geração de eletricidade que, antes movimento circular de um rotor entre ímãs, é depois movimento de elétrons pelos fios condutores. Essa modificação para geração de eletricidade se assemelha à passagem do estímulo eletroquímico gerado no cérebro para informação afetiva que circulará no perispírito. 

Para a psique, qual o efeito da memória e da inteligência na dualidade bem e mal?

A psique, ou mente, é um sistema aberto que recebe contribuições do corpo, do Espírito e do Universo. É um organismo perispiritual a serviço do Espírito, sendo importante veículo de manifestação e de captação da realidade. Nela se processam os fenômenos psicológicos e mediúnicos a serviço do aprendizado do Espírito. A memória é uma função que capacita o Espírito a reter e utilizar informações afetivas para uso de outra função, a inteligência, visando estar no mundo e, nas experiências nele vividas, extrair os paradigmas das leis de Deus. Portanto, Memória e Inteligência são funções perispirituais a serviço do Espírito. A questão do Bem e do Mal, entes imaginários inerentes aos estágios inferiores da evolução do Espírito, diz respeito à cultura e à capacidade de interpretação da realidade. São diferentes percepções das experiências vividas, necessárias à distinção de qualidades do que vai alcançar o Espírito. Não são imutáveis, pois o que foi bem pode ser transformado em mal e vice-versa. Deve o Espírito alcançar a integração desses dois opostos, pois aquilo que nos incomoda e nos atemoriza é o que nos deve fazer crescer. 

Qual a melhor definição e aplicação para “Arquétipos”?

A palavra é bastante limitada para explicar algo tão complexo. O perispírito tem “órgãos”, portanto, estruturas que realizam importantes funções para que o Espírito integre os paradigmas das leis de Deus. Os arquétipos são “órgãos” de captação e adequação das experiências da vida. São estruturas que promovem tendências aos comportamentos humanos. São eles que regulam o que é captado pelo perispírito, bem como moldam os comportamentos coletivos de uma pessoa. São tendências a se ter comportamentos padronizados. Tudo que se faz, na forma de comportamento, passa por um ou mais arquétipos. Para uma melhor compreensão entendamos que, quando o Espírito pretende fazer algo (desejo, ação, pensamento, intuição etc.), esse impulso passa pelos arquétipos, que vão dar materialidade àquela vontade. Tome-se como exemplo a atitude materna que, variando de pessoa a pessoa a forma como é feita, será sempre o desejo de proteção e de nutrição a algo que se perceba como necessitado. Estaremos falando do arquétipo materno, responsável pelo acolhimento, proteção e nutrição de outro. Os arquétipos denunciam as tendências coletivas humanas. 

Qual a melhor definição e aplicação para “Mitos”?

A grosso modo, mito é a interpretação de um processo psíquico ainda não racionalizado. Em sua narrativa, fornecem representações de processos psíquicos que ainda não foram compreendidos pelo ego. São importantes instrumentos de percepção da dinâmica psíquica. Não são fantasias infantis nem devem ser interpretados literalmente. Eles sempre trazem um conteúdo não manifesto de alto valor para se conhecer a natureza humana, bem como para o entendimento do funcionamento da mente. Nos mitos podem ser identificados diferentes arquétipos

Como se formam e quais os efeitos benéficos ou não dos “Ídolos” que construímos?

Os ídolos que se constroem a todo dia são representações do Arquétipo do Herói, necessário ao desenvolvimento do ego. Projetamos em figuras e personagens que se destacam em determinadas habilidades, enquanto não as integramos ao nosso ser. Idolatramos enquanto não adquirimos aquelas ou outras habilidades. São necessários, pois servem ao propósito de motivar e impulsionar o ser humano ao próprio crescimento e desenvolvimento da personalidade. Como tudo que se idolatra, representa um perigo de cooptação do ego, que pode ser assimilado pela forte carga energética disponibilizada. 

Qual a melhor forma de analisar e resolver os “Complexos Emocionais” quando os descobrimos em nós?

Após a percepção de que se tem um complexo, ou de que é movido pela sua força, deve-se buscar dissolvê-lo. A dissolução de um complexo passa pela afirmação de que possui aquelas características denunciadas pelo complexo. Isto quer dizer que se deve admitir que haja um traço na personalidade que provoca aquele complexo. Se, por exemplo, uma pessoa descobriu que tem um complexo de superioridade, deve inicialmente admitir que o ego se vê superior ao que de fato é; isto significa que há, inconscientemente, um sentimento de inferioridade, calcado em alguma experiência que promoveu aquele estado de inferiorização. Se assim é, a pessoa vai tentar se mostrar superior (arrogante, autoritária, exigente com os outros, reconhecimento de valor etc.). Para dissolver o complexo é importante reconhecer essa característica inconsciente, trazendo-a para a consciência, assumindo aquela condição interior e ressignificando a experiência que a gerou, sem se inferiorizar. Todo complexo necessita de uma nova compreensão sobre o evento gerador. 

Situe a diferença entre Freud e Jung e suas proximidades com os postulados espíritas.

São muitas as diferenças entre as teorias de Sigmund Freud e de Carl Gustav Jung. A principal delas é a respeito do conceito de Libido e de Motivação. Para Freud, a libido é a energia sexual; energia que move as pessoas, que as motiva para a vida. Para Jung, a libido é uma modalidade de energia, que tem fins específicos, não sendo o motivador da vida e existência humanas. Para Jung, o que motiva o ser humano para a vida é seu desejo de realização pessoal, de compreensão de si mesmo e de encontro com sua designação pessoal. Esse processo de realização interior Jung denominou de Individuação, que é a realização da máxima e melhor personalidade vivendo no mundo. É se tornar um indivíduo sem perder suas características coletivas. 

Essencialmente, quais são os principais atributos do Espírito?

O Espírito é uma singularidade divina, razão máxima da existência do Universo, que está longe de ser sua morada, sendo apenas um dos infinitos campos de manifestação de sua essência. Creio que os principais atributos do Espírito são: a) conceber a existência de Deus, em todas as suas manifestações e denominações religiosas; b) capacitar-se a interpretar e utilizar o que se conhece pelo nome de Universo, incluindo a propriedade de aglutinar a matéria; e, c) tornar-se capaz de amar, portanto de construir em si mesmo esse sentimento. 

É possível situar o momento em que a mediunidade começa a agir no Espírito?

A mediunidade é uma faculdade que possui um amplo espectro de possibilidades de atuação. Seu surgimento se deu nos primórdios da evolução anímica, quando da passagem do animal ao humano. Nota-se, embrionariamente, nas capacidades intelectivas dos animais, porém sem a sofisticação que adquire no humano. Graças às propriedades do perispírito, o Espírito dela se utiliza para a conexão com diferentes dimensões da matéria no Universo com aqueles que se encontram em outros estados de consciência. É uma faculdade do perispírito com achados orgânicos, a serviço da conexão do Espírito com outras dimensões. 

Donde surgem e é possível administrar os sentimentos? Como está hoje a aplicação da Psicologia aliada aos conhecimentos espíritas no seio das sociedades?

Devemos distinguir sentimentos de emoções. As emoções surgem das relações do corpo com a mente. Os estímulos orgânicos, nas experiências com o meio, provocam emoções. Estas, por sua vez, à medida que o ser evolui, são elaboradas em novas experiências com o meio, gerando sentimentos. É um processo alquímico de transformação em que o afeto perispiritual muda sua vibração para um patamar mais elevado. Pode-se dizer que o sentimento é uma emoção que se consolidou no perispírito, a serviço de experiências mais significativas e complexas para o Espírito. Claro que é possível administrá-los. Quanto mais seja maduro o ego, mais se torna possível administrar os sentimentos. A Psicologia ainda não tem se utilizado dos pressupostos espíritas. Não há uma massa crítica de estudiosos que se dediquem aos estudos de temas fronteiriços. A Psicologia tenta, de um lado, se separar da possibilidade de cooptação pelo Espiritismo. Este, por sua vez, ainda carece de estudiosos das ciências psicológicas para que possibilite esse encontro. 

Reencarnação ainda é um tabu entre os psicólogos ou em que nível este assunto já é importante e aplicado nos tratamentos psíquicos?

Com os trabalhos e estudos em torno da Regressão de Memória, principalmente nos Estados Unidos, a Reencarnação tem sido considerada por muitos profissionais da Psicologia chamada de Transpessoal. Particularmente, não deixo de considerá-la como base de técnicas e de considerações sobre as afecções psíquicas. Em futuro breve não haverá ciência sem a consideração do fato de que o ser humano é fruto de suas experiências pregressas. 

Depressão, angústia, medos. Uma tríade de mal-aventuranças que enxameia milhões de pessoas. Em sua opinião, qual o melhor tratamento?

O melhor tratamento para qualquer afecção que atinge o ser humano é sua autoconsciência de que é um Espírito imortal. Essa consciência o levará à autodeterminação, portanto à autonomia quanto ao seu próprio destino, sem interferir no destino alheio nem se autopunir. O que, por extensão, significa dizer que a ignorância ainda é o principal problema do Espírito. A crença de que será sempre punido quando se equivoca promove a grande maioria das doenças. 

Bom humor, mau humor. Alta estima, baixa estima. Ouvimos e lemos diariamente sobre esses assuntos. Como interromper esse ciclo e a partir de quais princípios? 

A vida requer determinação, coragem para enfrentar desafios e amadurecimento constante. Para isso, é necessário o sacrifício do egoísmo e do orgulho. Só sairemos das oscilações de humor e de estados de espírito quando encararmos, face a face, a própria consciência de que somos a máxima obra divina e que não há limites para a evolução do Espírito. O princípio básico, portanto, é a autoconsciência da própria imortalidade. 

O que é a verdadeira liberdade e como legitimá-la?

A verdadeira liberdade ocorre quando se assume a responsabilidade pelos próprios atos. A legitimação se deve também à consciência de que tudo é permitido, porém nem tudo deve ser conveniente ou adequado. É importante que se deva entender a razão da dialética do bem e do mal, sem fugir do que parece ser negativo. O mal deve ser integrado ao bem a fim de que surja uma outra forma de vivenciar as experiências da vida. 

Um ser muito sensível é corolário de um ser altamente evoluído?

De forma alguma. Ser sensível não implica ter sabedoria. O ser mais evoluído parece-me ser aquele capaz de apresentar as mais variadas soluções para os mais complexos problemas da própria vida. Digo que evolução é complexidade crescente. É saber viver numa sociedade complexa, adaptando-se a ela sem ser cooptado por ela. É saber amar, sem se deixar enviesar por um pieguismo alienante. É aprender e conhecer sobre a Natureza e o Universo e seus intrincados mecanismos de funcionamento. É ser simples, sem inferiorização, sendo sábio sem fugir do mundo.  

Agradecemos e pedimos, por favor, que nos deixe suas considerações finais.

O Amor é a força propulsora do Universo, razão principal para que dele nos utilizemos. Sua força move os mundos e anima a matéria, para que o Espírito alcance a destinação que lhe foi atribuída pelo Criador da Vida. 


(1)
Adenáuer Novaes é autor dos seguintes livros: Psicologia e Espiritualidade – Psicologia e Mediunidade – Psicologia do Evangelho – Jung e a Mediunidade - Alquimia do Amor: Depressão, Cura e Espiritualidade – Psicologia e Universo Quântico – Felicidade sem Culpa.



 


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