A Revue Spirite
de 1867
Allan Kardec
(Parte
14 e final)
Concluímos nesta edição
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1867. O texto condensado
do volume citado foi
aqui apresentado com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Benjamin Franklin
acreditava realmente na
reencarnação?
Sim. Em carta escrita a
Mrs. Jone Mecone em
dezembro de 1770,
Franklin atesta sua
crença na preexistência
da alma e na
reencarnação, crença que
seria por ele
imortalizada no famoso
epitáfio de sua autoria,
que a Revue
novamente transcreveu.
Publicado inicialmente
na Revue de
agosto de 1865, o
epitáfio de Franklin é
uma prova indiscutível
de sua convicção acerca
da pluralidade das
existências.
(Revue Spirite de 1867,
pág. 367.)
B. Que observações fez
Kardec a respeito de
Joana d´Arc?
Kardec disse que Joana
não foi apenas uma das
grandes figuras da
França, mas um imenso
problema e, ao mesmo
tempo, um protesto vivo
contra a incredulidade.
Ela só não constitui
problema nem mistério
para os espíritas, que
entendem muito bem que
ela foi um exemplo
eminente de pessoa
dotada de quase todas as
faculdades mediúnicas,
cujos efeitos, como uma
porção de outros
fenômenos, se explicam
pelos princípios da
doutrina, sem
necessidade de se
recorrer ao
sobrenatural.
(Obra citada, pp. 368 e
369.)
C. Quando e por quem foi
canonizada a heroína e
médium francesa?
Condenada à morte em
1431, como “mentirosa,
perniciosa, enganadora
do povo, adivinha,
blasfemadora de Deus,
descrente na fé de Jesus
Cristo, gabola,
idólatra, cruel,
dissoluta, invocadora
dos diabos, sistemática
e herética”, Joana
d´Arc foi reabilitada em
1456 pelo papa Calixto
III, quando, por meio de
uma sentença solene, foi
declarado que ela morreu
mártir para a defesa de
sua religião, de sua
pátria e de seu rei. A
canonização não veio
nessa ocasião, embora o
papa o quisesse; sua
coragem não foi tão
longe. Pierre Cauchon,
bispo de Beauvais, um
dos juízes de Joana,
morreu subitamente em
1443, fazendo a barba, e
foi excomungado, sendo
seu corpo atirado num
monturo.
(Obra citada, pp. 375 e
376.)
Texto para leitura
180. Parte de uma carta
escrita por Benjamin
Franklin a Mrs. Jone
Mecone em dezembro de
1770 revela que Franklin
acreditava realmente na
preexistência da alma e
na reencarnação, crença
que seria por ele
imortalizada no famoso
epitáfio de sua autoria,
que a Revue
novamente transcreveu.
Publicado inicialmente
na Revue de
agosto de 1865, o
epitáfio de Franklin,
composto por ele mesmo,
foi assim redigido:
"Aqui repousa, entregue
aos vermes, o corpo de
Benjamin Franklin,
impressor, como a
cobertura de um velho
livro cujas folhas são
arrancadas, e o título e
a douradura apagados;
mas, por isto a obra não
estará perdida, porque
ele reaparecerá, como
o acreditava, numa
nova e melhor edição,
revista e corrigida pelo
autor." (Pág. 367.)
181. De Jean Reynaud,
extraído de Pensées
genevoises, por
François Roget, a
Revue transcreve
um pequeno artigo em que
seu autor afirma que a
alma humana reúne e
guarda em seu tesouro as
impressões, as
percepções e os desejos
que esquecemos e que
pareciam perdidos para
sempre; então o resumo
de todo o passado,
tomando vida de uma vez,
reconhecer-se-á
realmente. (Pág.
368.)
182. Em um longo artigo
sobre Joana d’Arc, em
que Kardec arrola o que
vários analistas
disseram sobre a heroína
e mártir francesa, o
Codificador diz que
Joana não foi apenas uma
das grandes figuras da
França, mas um imenso
problema e, ao mesmo
tempo, um protesto vivo
contra a incredulidade.
(Págs. 368 e 369.)
183. Joana d’Arc só não
constitui problema nem
mistério para os
espíritas, que entendem
muito bem que ela foi um
exemplo eminente de
pessoa dotada de quase
todas as faculdades
mediúnicas, cujos
efeitos, como uma porção
de outros fenômenos, se
explicam pelos
princípios da doutrina,
sem necessidade de se
recorrer ao
sobrenatural. (Pág.
369.)
184. Segundo o artigo
reproduzido pela
Revue, assinado pelo
Sr. N. de Wailly e
publicado inicialmente
no Propegateur de
Lille de 17/8/1867,
a mais importante
particularidade, a que
domina todas as outras
no caso Joana d’Arc, são
as vozes que ela
escutava várias vezes
por dia, que a
interpelavam ou lhe
respondiam, cujas
entonações ela
distinguia, referindo-as
sobretudo a São Miguel,
a Santa Catarina e a
Santa Margarida. Ao
mesmo tempo em que isso
ocorria, manifestava-se
uma viva luz na qual ela
percebia a figura de
seus interlocutores. “Eu
os vejo com os olhos de
meu corpo – disse Joana
d’Arc aos seus juízes –
tão bem quanto vos
vejo.” (Pág. 371.)
185. O correspondente da
Revue em
Antuérpia, que enviou a
Kardec o artigo
mencionado, juntou a ele
uma nota, fruto de suas
pesquisas sobre o
processo de Joana d’Arc,
que diz o seguinte:
“Pierre Cauchon, bispo
de Beauvais e um
inquisidor chamado
Lemaire, assistidos por
60 assessores, foram os
juízes de Jeanne. Seu
processo foi instruído
segundo as formas
misteriosas e bárbaras
da Inquisição, que havia
jurado a sua perda. Ela
quis louvar-se no
julgamento do Papa e do
Concílio de Bâle, mas o
bispo se opôs. Um
sacerdote, L’Oyseleur, a
enganou, abusando da
confissão, e lhe deu
funestos conselhos. Por
força de intrigas de
toda sorte, ela foi
condenada em 1431 a ser
queimada viva, ‘como
mentirosa, perniciosa,
enganadora do povo,
adivinha, blasfemadora
de Deus, descrente na fé
de Jesus Cristo, gabola,
idólatra, cruel,
dissoluta, invocadora
dos diabos, sistemática
e herética’. O Papa
Calixto III, em 1456,
por uma comissão
eclesiástica, fez
pronunciar a
reabilitação de Jeanne
e, por uma sentença
solene, foi declarado
que Jeanne morreu mártir
para a defesa de sua
religião, de sua pátria
e de seu rei. O Papa
quis mesmo canonizá-la,
mas sua coragem não foi
tão longe. Pierre
Cauchon morreu
subitamente em 1443,
fazendo a barba. Foi
excomungado, seu corpo
foi desenterrado e
atirado num monturo”.
(Págs. 375 e 376.)
186. Um dos
correspondentes da
Revue em Oloron,
Basses-Pyrénnées, enviou
a Kardec um curioso
relato sobre a aparição
de um Espírito à jovem
Marianne Courbet, uma
camponesa de 24 anos. O
fato se deu no final de
dezembro de 1866. A
aparição, em forma de um
velho de estatura média,
vestido à camponesa,
além de conversar com
Marianne, deu-lhe um par
de óculos e um livro de
orações, após o que
desapareceu. O teor da
conversa com aquele
vulto, que lhe falou de
sua mãe e de uma irmã
falecidas há algum
tempo, impressionou
vivamente a jovem, que
se apressou em relatar o
fato ao cura de Monin.
Este lhe disse que
pensava que houvesse
algo extraordinário
naquele episódio e
aconselhou-a a guardar o
livro com cuidado.
(Págs. 376 a 378.)
187. Como a notícia logo
se espalhou, uma
multidão passou a
visitar a casa da
vidente, a ponto de o
cura de Monin, que a
princípio achara a coisa
muito extraordinária,
ter de dissuadir os
paroquianos de ir
visitar a camponesa. Em
Monin e em Oloron –
informou o
correspondente da
Revue – as opiniões
estavam divididas. Uns
acreditavam em Marianne,
outros não. Entre os
crentes, acrescentou o
informante, a opinião
geral era de que o vulto
teria sido São José,
embora ele não visse ali
senão uma manifestação
espírita cujo fim era
chamar a atenção sobre a
filosofia espírita, numa
região dominada por
influências contrárias.
(Pág. 378.)
188. A
Revue transcreve
artigo publicado pelo
jornal L’Exposition
populaire illustrée
em que a redação deste
refuta crítica que lhe
fora feita por Kardec
por ocasião de seus
comentários sobre as
curas do Sr. Gassner. A
discussão central girou
em torno dos vocábulos
taumaturgo e
milagre, que Kardec
não aceita quando
aplicados aos médiuns
curadores e às suas
curas. A resposta de
Kardec foi publicada em
seguida ao artigo. A
questão dos milagres,
disse o Codificador, já
fora tratada inúmeras
vezes em suas obras, bem
como no número de maio
de 1867 da Revue,
do qual transcreveu
breve trecho. (Págs.
378 a 384.)
189. Concluindo suas
explicações, diz Kardec:
“Se o autor se der ao
trabalho de estudar o
Espiritismo, contra o
qual constatamos com
prazer que ele não tem
uma preconcebida ideia
de negação, nele
encontrará a resposta às
dúvidas que parecem
exprimir algumas partes
de seu artigo,
referentes à maneira de
encarar certas coisas,
salvo, contudo, no que
concerne à ciência das
concordâncias numéricas,
da qual jamais nos
ocupamos, e sobre a
qual, por conseguinte,
não poderíamos ter
opinião formada”.
(Pág. 384.)
190. O Espírito daquele
que foi conhecido na
Terra como o Abade de
Saint-Pierre, que
faleceu em 1743 e a cujo
nome ficará sempre
ligada a lembrança do
seu projeto de paz
perpétua,
comunicou-se a 17 de
maio na Sociedade
Espírita de Paris. De
referida comunicação
extraímos os pontos que
se seguem: I – Em todas
as épocas Espíritos têm
vindo encarnar-se na
Terra, para ajudar o
avanço de seus irmãos.
II – Tendo sido um
desses Espíritos,
coube-lhe o dever de
procurar persuadir os
homens de que virá uma
época em que as paixões
que engendram a guerra
darão lugar à concórdia.
III – Não há um só
espírita que duvide que
aquilo que se chama uma
utopia, um sonho do
Abade de Saint-Pierre,
mais tarde não se
tornará uma realidade.
IV – Ficai bem
persuadidos que esta paz
descerá, sim, sobre a
Terra, embora antes
disso graves
acontecimentos devam
realizar-se neste mundo.
(Págs. 384 a 386.)
191. O número de
dezembro de 1867 se
encerra com duas
comunicações espíritas
recebidas em Paris e
assinadas,
respectivamente, por
François Arago e Moki.
(Págs. 386 a 390.)
192. Na primeira,
intitulada Erros
científicos, o
Espírito de Arago diz
que, do mesmo modo que o
corpo tem os seus órgãos
de locomoção, de
nutrição e de
respiração, o Espírito
tem faculdades variadas,
que se relacionam
respectivamente com cada
situação particular de
seu ser. Se o corpo tem
a sua infância, o
Espírito possui
faculdades que devem,
como tudo o que existe,
passar da infância à
juventude e da juventude
à idade madura. Aos que
negam o Espírito, como
outrora negavam o
movimento da Terra,
digamos: o que é não
pode ficar eternamente
oculto; a luz não pode
tornar-se sombra; a
verdade não pode
tornar-se erro; as
trevas se desfazem ante
a aurora. (Pág.
386 a 388.)
193. Na derradeira
mensagem de 1867, o
Espírito de Moki diz que
o mundo está em crise, a
inquietude faz morada
nos corações humanos.
Assevera o instrutor
espiritual: “O que falta
às populações inquietas,
às inteligências em
apuro, é o senso moral,
atacado, macerado,
semidestruído pela
incredulidade, pelo
positivismo, pelo
materialismo. Acreditam
no nada, mas o temem;
sentem-se no pórtico
deste nada, mas
tremem!...” (Págs.
388 e 389.)
194. Moki, então,
propõe: “Os demolidores
fizeram a sua obra, o
terreno está limpo.
Construí, então, com
rapidez, para que a
geração atual não fique
mais tempo sem abrigo!”.
“À obra, pois. Construí
cada vez mais depressa.
Acolhei o viajante que
vem a vós, mas ide
também procurar e tentai
trazer a vós aquele que
se afasta sem bater à
vossa porta, porque Deus
sabe a quantos
sofrimentos ele estaria
exposto antes de
encontrar o menor retiro
capaz de o preservar do
alcance do flagelo.”
(Págs. 389 e 390.)