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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 142 - 24 de Janeiro de 2010

ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)


Auto-observação: dever
cívico e espiritual

 
De maneira incisiva, Jesus Cristo nos recomendou destruir em nós todas as causas de escândalo, isto é, todo o mal. Ou seja: “Se tua mão direita te serve de causa de escândalo, corta-a e lança-a fora de ti; porque melhor te é que se perca um de teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno” (Mateus, 5: 30).  

E uma maneira eficaz de descobrirmos o mal que ainda há em nós é através da atenta observação do nosso comportamento cotidiano. Nesse sentido, o inolvidável médium Francisco C. Xavier, no livro O Evangelho de Chico Xavier, ponderou que o mal que está presente na criatura humana decorre de suas próprias tentações. Na essência, “Ninguém nos tenta: nós é que somos tentados por nós mesmos...”.  

O pensamento de Chico Xavier estava absolutamente identificado com o do apóstolo Tiago, quando este asseverou que “... cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (1: 14). Grosso modo, concupiscência denota grande desejo por gozos ou coisas de natureza material e que sempre nos afastam das do espírito. Posto isto, o Espírito Ermance Dufaux, no livro Receitas para a Alma, nos conclama a examinarmos periodicamente nosso desempenho no que concerne à iluminação da nossa consciência.  

No mesmo diapasão, o Espírito Emmanuel, na obra Pão Nosso, acrescenta que “Há um esforço iluminativo para o interior, sem o qual homem algum penetrará o santuário da Verdade Divina”. Portanto, os desafios que nos competem, nesse particular, são os de compreendermos e de nos adaptarmos às verdades celestiais. Afinal, tendemos ao péssimo hábito de amoldar a verdade às nossas conveniências.  

Considerando que o nosso comportamento é o espelho da nossa alma, o que irradiamos do nosso interior? Segundo o Espírito Lancellin, na obra Cirurgia Moral, em vez de despendermos tempo propagando maledicências, por que não empregá-lo na auto-observação a fim de melhorarmos nossas emissões espirituais? Assim, se temos dificuldades por onde começar, por que, então, não analisarmos o nosso comportamento à luz dos chamados sete pecados capitais, a saber: avareza, gula, ira, inveja, luxúria, preguiça e vaidade. Ao que nos consta, muito poucos Espíritos presentemente encarnados podem afirmar que já superaram tais deficiências da alma.  

Para Lancellin, “Todos temos uma conduta. Entretanto, isto não basta, sendo necessário que tenhamos uma vida reta”. Assim sendo, algumas indagações devem ser formuladas e respondidas com toda a sinceridade que possuímos. Por exemplo, cumpro meu papel como cidadão (aliás, cabe frisar que o conceito de cidadania abrange importante conquista humana, inclusive espiritual)?   

No ranking da corrupção de 2009, produzido pela ONG Transparência Internacional, ocupamos a 75ª posição com nota 3,7 numa lista de 180 países (A Nova Zelândia é o menos corrupto, com nota 9,4). Como sabemos, a existência de corrupção provoca graves deficiências no funcionamento da sociedade e substancial atraso na marcha do Espírito. Outra pesquisa recentemente realizada pelo instituto Datafolha trouxe a lume resultados deveras decepcionantes quanto ao tópico sob apreço. Ou seja, 13% dos ouvidos pelo instituto admitem ter trocado o voto por emprego, dinheiro ou presente. Isso significa aproximadamente um contingente de 17 milhões de pessoas num universo de 132 milhões de eleitores. 

Além disso, 33% dos brasileiros concordam com a ideia de que não se faz política sem um pouco de corrupção. Tal percepção revela que uma boa parte da população tem uma bússola moral, no mínimo, desajustada. Outros resultados são de causar apreensão: para 92%, há corrupção no Congresso e nos partidos políticos, e para 88% – pasmem –, na Presidência da República e nos ministérios. Ora, como a nação pode progredir se se vota em políticos com ficha ética tão maculada? Como se pode avançar no campo legislativo se escolhemos gente desse jaez? Por outro lado, 31% já colaram em provas ou concursos e 68% já compraram produtos piratas. No geral, portanto, a necessidade de auto-observação é fundamental.  

Mas outras questões do nosso comportamento cotidiano merecem igualmente reflexão, tais como: sou educado no trato com os outros? Afinal, hoje em dia é notória a generalizada falta de cordialidade. Sou desprendido? Lembremos da avareza e do fato de que não levaremos nada de material para a vida espiritual. Só busco o meu interesse particular? A chamada Lei de Gerson é um fenômeno cultural nacional. Honro meu pai e minha mãe? Muitos só lembram dos pais quando necessitam de algo. Ouço meus filhos e me interesso pelos seus problemas? Como abundam os sinais de perigo na atualidade, talvez nunca tenha sido tão crítico o papel dos pais na história da humanidade.  

Ermance Dufaux, por sua vez, sugere questões muito pertinentes, tais como: “Alguém tem algo a se queixar de mim?” Ou ainda, no mesmo padrão, “Que posso fazer para ser mais útil?” De modo geral, tendemos a nos concentrar em nossas necessidades esquecendo as dos outros. A referida mentora propõe também analisarmos o seguinte: “Estou zelando pelo meu corpo físico?” Hoje sabemos perfeitamente o que devemos e o que não devemos fazer. Mas uma questão merece especial atenção: “Como estaria na vida espiritual se a morte me visitasse hoje?” Chegaremos lá em que condição? Em suma, meu comportamento está sintonizado com o que se espera de um cristão?  

Lancellin nos recorda que o hábito da prece nos dará forças para corrigirmos as nossas faltas, “sejam elas quais forem”. Mas pedimos a Deus que nos ilumine quanto aos nossos erros? Afinal, não adianta só pedir ajuda e assistência para as coisas do cotidiano. Por fim, Lancellin nos conclama a acertarmos a nossa vida com a vida do Mestre, para que se façam as correções necessárias.  

Ao pensarmos sobre o dever da auto-observação, imediatamente nos recordamos da história do leproso Tanalli, narrada pelo Espírito Miramez, no livro Francisco de Assis. Em poucas palavras, o autor espiritual relata que em Rivotorto havia um impressionante hospital de leprosos. E em certa ocasião, Frei Pedro e Paulo foram para lá a pedido de Francisco de Assis. Mas um dos pacientes, cujo nome era Tanalli, começou a blasfemar contra Deus e Cristo, bem como a lançar toda a sorte de impropérios contra os solidários visitantes e o próprio Francisco.  

Como paciência tem limite, em dado momento, Frei Pedro, sem o consentimento do doente, colocou-o nos ombros e levou-o onde se encontrava Pai Francisco. Ao vê-los, a primeira reação de Francisco foi de desaprovação. Mas como as almas de escol têm uma capacidade de autocrítica elevadíssima, Francisco, caindo em si, rogou o perdão de todos. Em seguida, “... tomado de amor pelo leproso e com profunda humildade, beijou-lhe o rosto como se fosse de sua própria mãe”. Não bastasse isto, revelando o mais acendrado amor por um semelhante, despiu Tanalli e beijou-lhe as chagas pustulentas como se fizesse a um ente muito querido.  

Francisco ainda falou-lhe com um profundo sentimento de compaixão e orou ao Pai. Sob aquele clima de fraternidade ambos choram. Pediu aos companheiros que trouxessem uma gamela com água morna e três rosas e solicitou-lhes que rezassem. Logo sentiu que alguém lhe tomou as mãos dizendo: “Francisco, cuida destas minhas ovelhas, elas são filhas do Calvário, agredidas pelos seus próprios destinos”. Posto isto, “Francisco foi passando as suas mãos no corpo do leproso e todas as feridas foram se fechando como por encanto”. 

Tanalli passou a ser chamado de Frei Aprígio. Passou muito tempo pregando o Evangelho com Pai Francisco. Mas no ano de 1250 ele sentia que a sua alma ainda precisava de reparos. Embora tivesse adquirido o hábito de rezar, percebia que “... o animal violento e orgulhoso ainda vivia”. Num dos maiores exemplos de auto-observação que tivemos notícias, certa noite, perto de Lecce, pediu a Deus que se as chagas da lepra retornassem, ele seria o homem mais feliz da Terra porque somente ela poderia arrancar do seu coração o orgulho e a violência que ele carregava de priscas eras.  

No dia seguinte, quando acordou, Frei Aprígio voltava a ser Tanalli, o leproso de Rivotorto. Seis anos depois morreu, agradecendo a Deus e a Cristo pela bênção da lepra, que o fizera expurgar do imo da alma o orgulho e a violência. Concluindo com Lancellin, “... é justo que façamos uma cirurgia moral em nós mesmos, em nosso comportamento...”  

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita