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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 98 - 15 de Março de 2009

CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)
 

Amor, não apenas próprio

 

Ocorreu-me, de repente, a lembrança engraçada de uma historinha em quadrinhos, que li na minha infância; muitas vezes é dessa forma que me vem a inspiração para a construção de um artigo.

Relatando de forma resumida, uma menininha morava isolada num castelo repleto de moedas de ouro, e circundado por um fosso escuro, onde vivia um dragão mergulhado em suas águas sombrias. A menininha não dava a menor bola para aqueles milhares de moedas de ouro, mas aquilo era um feitiço. O dragão só deixaria atravessar o fosso alguém que o fizesse, não pelos milhares de moedas, mas pela menininha, que vivia sonhando em ter alguém com quem brincar.

Uma multidão constante cercava a área ao redor daquele fosso imenso com seu castelo no centro. As tentativas para alcançá-lo eram infindáveis. Uns tentavam salto com vara; mas nunca dava certo, e dessa maneira muitos morriam nas garras do dragão, implacavelmente. Outros, nadando, na tentativa de burlar a vigilância do monstro, tinham o mesmo triste destino; uma mulher no meio daquela multidão comentava que seu marido podia treinar pombos que voassem até o interior do castelo, passando por uma das muitas janelas, para trazerem as moedas, de uma em uma. E a melancólica menininha prosseguia, dessas janelas, presenciando o espetáculo lamentável, a respeito do qual nada podia fazer. Suspirava em desânimo, e voltava para o interior da imensa e solitária moradia.

Até que um dia, quando muitos já haviam desistido, um menino sujo e esfarrapado apareceu e viu a menininha na janela, com sua expressão triste. Ele já tinha ouvido as histórias sobre a fortuna existente dentro daqueles muros, mas não deu a isso a menor atenção; somente quando viu a menininha, apiedou-se de que ela ali vivesse daquele jeito tão solitário, e logo teve vontade de entrar para conversar e brincar com ela.

Então aconteceu o fenômeno. Quando o menino pensava na melhor forma de atravessar aquelas águas, o dragão ameaçador, de repente, emergiu e, estranhamente dócil, formou, com seu imenso corpo, uma ponte entre a margem onde se achava o menino e o outro lado, a ilhota onde ficava o castelo. A menininha exultou, vendo o espetáculo da janela mais alta; e o menino, agradecido, atravessou alegremente, encontrando pouco depois a pequena. O dragão, então, inesperadamente, transformou-se numa linda e permanente ponte de ouro, que libertou a menininha de seu cativeiro. Ela e seu amigo, a partir de então, brincavam muito de empilhar aquele amontoado enorme de moedas, e atravessavam, sempre que queriam, para a outra margem.

Conto esta historieta a propósito do que é notório; a tendência do ser humano a supervalorizar as transitoriedades ilusórias da vida, em detrimento da preciosidade do afeto e do amor entre as pessoas.

Sem embargo, percebe-se que flui muito mais facilmente a crítica impiedosa do que o elogio encorajador; alguém certa vez comentou, desencantadamente, que ouvira da pessoa, com quem estivera envolvido, que ele deveria "demonstrar menos seus sentimentos", naquela manifestação típica de pobreza de espírito que considera as expansões espontâneas de afeto como atestado de falta de amor-próprio – no uso da conhecida e lastimável política tacanha de não se elogiar, não se demonstrar amor e afeto pelo próximo para "não dar cartaz".

E, no entanto, os seres humanos chegam muitas vezes ao extremo de se aviltarem e de se corromperem por causa de um quinhão de dinheiro a mais. Os pruridos de amor-próprio, tão tenazmente mantidos na hora de se mostrar um pouco mais de lealdade, de amor e de ternura, se esvaem como névoa, quando o objeto da cobiça é o dinheiro, ou são os bens materiais. Travam-se batalhas judiciais seculares nas disputas pelas posses de bens familiares; nos casos de separação conjugal, o "cartaz" que não se deu ao cônjuge em outros tempos felizes, a título da preservação do amor-próprio, é enxovalhado da forma mais rasteira, ao desviar-se para o reles aparelho de DVD que "é meu de direito, pois fui eu que comprei". As pessoas, tão zelosas em não demonstrarem afetividade por escrúpulos mesquinhos, não se doem de abrirem mão tão grotescamente da sua dignidade na luta cruenta por valores tacanhos, quase sem se darem conta da contradição clamorosa nos seus posicionamentos.

É relevante fazer notar que qualquer crítica vinda de bocas não adestradas no amor e no elogio justo se desautoriza por si própria, por carecer de respeitabilidade e da expressão da sensatez.

Alguém que conheci outrora, extrato do equilíbrio na educação e criação de seus filhos já adultos, pessoas amorosas e espiritualmente elevadas, me afiançou tê-los criado "na base do elogio" – e eu entendi plenamente o que aquela amorável senhora quis dizer. Ela não se referia a "elogios" desmerecidos, mal colocados, e exclusivos no processo de educação. Mencionava o seu uso de entremeio à orientação sensata e madura, que ensina as crianças a desenvolverem as próprias forças, no amadurecimento da consciência plena do seu valor e potencial humano, para superar com sucesso seus desafios. E isto é exemplo a ser seguido em qualquer nível do relacionamento humano.

Projetar no seu próximo energias positivas, reconhecendo as suas melhores qualidades, distinguindo-o com amizade e com carinho, é fazer como o dragão, que vê a luz no coração do menino e se transforma em ponte para fortificar e participar da felicidade do semelhante. Quem, ao contrário, age como a multidão tola em torno do fosso, pensando apenas em si próprio e em bens materiais, sem afeto e compaixão a oferecer, isola-se – decreta sua própria prisão para longe do oásis valioso do amor, habitat da verdadeira felicidade, onde todos celebram a perenidade e as alegrias inestimáveis da união e da luz, para muito além da ilusão errônea e fugaz em torno de "moedas de ouro" e de uma coisa que, mal conceituada de "amor-próprio", é, antes, desamor e "egoísmo cego".


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita