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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 94 – 15 de Fevereiro de 2009

JOSÉ CARLOS MONTEIRO DE MOURA
jcarlosmoura@terra.com.br
Belo Horizonte, Minas Gerais (Brasil)

 

Ética na comunicação social

Linguagem sã e irrepreensível para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer de nós” – Paulo:  Tito, 2: 8.

 

A maior caridade que praticamos com a Doutrina Espírita é a sua própria divulgação” – Emmanuel.

 

1. A ética ou moral constitui a chamada “filosofia do agir”, de cunho eminentemente prático, e visa alcançar o bem puro e simples do homem, segundo o conceito desenvolvido por Jacques Maritain (INTRODUÇÃO GERAL À FILOSOFIA, Ed. Agir, Rio de Janeiro, 1953, p. 151). Dentro dessa idéia geral, ela se volta muito mais para o homem, no particular aspecto de sua bondade ou perfeição, em face de sua capacidade de exercitar o livre-arbítrio. As obras preparadas e produzidas por ele somente a interessam desde que se mostrem reveladoras do seu “agir”, entendido como o “livre uso de nossas faculdades” (op. cit. p. 151). Daí a razão por que se diz que a Ética é a Filosofia Prática por excelência. 

 

2. As normas morais não se impõem coercitivamente ao homem, ao contrário do que se verifica no âmbito do Direito. As sanções decorrentes de suas violações se apresentam como o efeito inevitável da reação da consciência de cada um diante do mal provocado, sendo irrelevante o fato de a justiça terrena não se pronunciar a respeito.

 

Em relação a elas é inteiramente pertinente a recomendação de Paulo na primeira carta aos Coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma” (I Cor., 6:12).

 

Daí se percebe a grande distância que ainda existe entre os campos da moral e do direito, de que os romanos já davam notícia no famoso aforismo: “Non omne quod licet honestum est” (nem tudo o que é lícito é honesto).

 

3. Todas as atividades humanas sujeitam-se aos dois ordenamentos legais: o ético e o jurídico.  As situações que se acham expressamente disciplinadas pelos chamados Códigos de Ética – destinados especificamente a profissionais de determinadas áreas – interessam mais ao Direito do que à Ética propriamente dita, porquanto cuidam de estabelecer normas reguladoras do exercício da profissão e de definir as infrações cometidas por esses profissionais, cominando-lhes as sanções respectivas. Algumas são de tamanha gravidade que se transformam em objeto de tratamento jurídico-penal, a exemplo do que ocorre nas hipóteses delituosas contidas na Lei 5.250/67, que regula a liberdade de manifestação do pensamento e de informação (Lei de Imprensa).

 

4. Tais considerações se aplicam a todos os que trabalham na área da comunicação, seja como profissionais, seja como simples colaboradores eventuais. Delas não escapam, portanto, os que se encontram de alguma forma comprometidos com a divulgação da Doutrina dos Espíritos, sobre os quais, inclusive, recai uma enorme responsabilidade. Enquanto que aos que se dedicam à comunicação em sentido genérico basta, na grande maioria das vezes, o acomodamento à licitude formal de suas ações, sem maiores preocupações com o seu aspecto. Ao comunicador espírita isso não é suficiente. A advertência de Paulo haverá de estar sempre à frente de todas as suas atividades, lembrando-lhe que nem sempre a atitude permitida pela lei dos homens está convenientemente adequada aos propósitos superiores do Espiritismo. 

 

5. As polêmicas de cunho doutrinário, que já se tornaram um lugar comum em alguns órgãos da imprensa espírita, e que hoje ganham força e alcance desmedidos através da Internet, afrontam violentamente os postulados da verdadeira ética. Nenhum benefício trazem para o Espiritismo e, como ações reveladoras do “agir” de seus autores, demonstram que eles permanecem estacionados naquela situação mencionada por Kardec em O LIVRO DOS MÉDIUNS, quando se referiu à pouca compreensão, por um grande número de adeptos, da verdadeira essência da Doutrina, indispensável à criação de um “laço forte” que prenda entre si todos os seus trabalhadores (op. cit. item 334, p. 430). Isso, contudo, não significa a proibição ou a censura às discussões sérias a respeito de alguns temas modernos, e que não podem ser desconhecidos ou omitidos pelos espíritas, como é o caso, por exemplo, da questão relativa às pesquisas com embriões vivos, do aborto, da eutanásia e do reconhecimento oficial das chamadas uniões homo afetivas, que, no nosso modo de ver, são inteiramente incompatíveis com o Espiritismo.   

 

Referidas polêmicas acabam, seguindo a linha natural de episódios desta natureza,  por se transformarem  em um  instrumento de agressões recíprocas. Por outro lado, não conseguem esconder que se prestam muito mais ao indesejável extravasamento do orgulho e vaidade de seus participantes do que à divulgação do Espiritismo.

 

Os meios de comunicação espírita não podem ser reduzidos à condição de arena dos conflitos pessoais, ainda mesmo quando tais contendas venham mascaradas de uma postura de intransigente defesa dos postulados kardequianos. Os que agem dessa forma, não obstante a boa intenção que os move, esquecem-se de que o Codificador sempre recomendou a tolerância em face de opiniões e conceitos divergentes. A sua divisa – trabalho,   tolerância, solidariedade –  se encontra presente em todas as suas ações e pronunciamentos, dentre os quais merece  especial  destaque o  constante de  A Constituição do Espiritismo, in verbis “Se tenho razão, todos acabarão por pensar como eu; se estou em erro, acabarei por pensar como os outros”.      (OBRAS PÓSTUMAS, p. 349 ).

 

6. Compete, pois, a todos quantos se acham comprometidos com a Comunicação Social Espírita, a consciente utilização dos recursos que a tecnologia oferece, a fim de colocar o Espiritismo a serviço de toda a humanidade, como doutrina de consolação e esperança. O emprego desses recursos, ainda que bem-intencionado, para criar, alimentar ou fomentar disputas de conteúdo doutrinário, implica um indisfarçável desserviço à Doutrina, mesmo porque torna público o que deveria permanecer limitado aos recintos internos das instituições espíritas.

 

As divergências, que porventura existam entre os seus adeptos, deverão ser resolvidas em torno do diálogo e da compreensão. Diante das incongruências de Pedro, das pretensões descabidas de João e André, da incredulidade de Tomé ou da aleivosia de Judas, Jesus não se utilizou das armas do revide, não discutiu com eles, nem se pôs a alardear publicamente os seus defeitos. Em seus sermões – que era o meio de comunicação com as massas de que dispunha – jamais tornou públicos esses procedimentos e atitudes, embora tenha corrigido, até com severidade, os seus autores, como no episódio em que Pedro demonstrou seu inconformismo e incompreensão em face da missão do Mestre: “Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (Mat., 16: 23). 

 

7. O maior desafio da área da Comunicação Social Espírita diz respeito à imperiosa exigência de se fazer com que o bom senso esteja presente em todas as suas  atividades. No seu caso específico, ética e bom senso se identificam e daí resultam alguns parâmetros dentro dos quais suas ações devem desenvolver-se.

 

Divulgar, sem polemizar.

 

Manter-se fiel aos princípios doutrinários, sem permitir que isso se transforme em pretexto para disputas pessoais. 

 

Reconhecer, na nobilitante tarefa de levar o Espiritismo ao alcance de um maior número de pessoas, uma oportunidade de resgate pessoal e não um favor que se presta aos destinatários das informações.

 

Nunca omitir que, por maior que seja o grau de conhecimento doutrinário atingido, ninguém pode, em face da própria indigência espiritual de toda a humanidade, arvorar-se na condição de Mestre.

 

Jamais se deixar envolver pelo sensacionalismo, pela ânsia do furo de reportagem, pela divulgação, em primeira mão, da novidade, uma vez que, a esse respeito, Kardec foi incisivo ao afirmar: “Se é certo que a utopia da véspera se torna muitas vezes a verdade do dia seguinte, deixemos que o dia seguinte realize a utopia da véspera, porém não atravanquemos a Doutrina de princípios que possam ser considerados quiméricos e fazer que a repilam os homens positivos” (A Constituição do Espiritismo, OBRAS PÓSTUMAS, p. 348). 

 

Finalmente, ter sempre em mente que, embora o escândalo se faça muitas vezes necessário, o responsável por sua causação não se exime de sofrer as sérias consequências decorrentes da inexorável lei de causa e efeito.

 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita