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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 81 - 9 de Novembro de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Ao educador: algumas metáforas (*) 

O estudo da gramática não faz poetas. O estudo da harmonia não faz compositores. O estudo da psicologia não faz pessoas equilibradas. O estudo das ‘ciências da educação’ não faz educadores. Educadores não podem ser produzidos. Educadores nascem. O que se pode fazer é ajudá-los a nascer. Para isso eu falo e escrevo: para que eles tenham coragem de nascer. (Rubem Alves) 

Falo em nome do educando. Falo em nome próprio, pois continuo a sê-lo. Essa peculiaridade, a mais expressiva, é a itinerância de cada um. Que pessoa não é  educanda? No mínimo, da vida.

Isso me leva a uma pergunta: o que é um ser humano? Um animal político, como afirma Aristóteles? É sabido: embora o ser humano seja também um fato natural (biologismo), ele só se humaniza pela cultura, pela alteridade (humanismo). Neste aspecto, se a humanidade se deve também à natureza, “é o homem que gera o homem”, insistia o filósofo (é o homem e a mulher que geram o homem e a mulher, ousaria complementar).

Sendo assim, arrisco a contar sobre a metáfora do educador. Educador de educandos – sejam eles meninos ou meninas, adolescentes, adultescentes ou adultos, pois aprendemos a vida inteira. Ou pelo menos deveríamos nos abrir a isso...

O educador é um companheiro atento. Deve-se dizer que, nesse papel, prova-se não o rosto como máscara, mas, sem medo, revela-se a parcela da própria inocência – sua cota de poesia, de curiosidade e de fragilidades... Diria mais: o educador não aprendeu a durar e suportar, mas a se encantar e confiar, pois dentro dele sabe que o que importa é o caminho e o amor para dar.

Educar é uma arte que liberta. Sim, pois há ofícios que extenuam e aprisionam... Não sejamos ingênuos, no entanto. É o amor que salva as múltiplas tarefas do educador... Amor por quem? Pelos educandos...

Ver e ouvir. O educador tende a exercitar a dupla tarefa de lançar-se para fora e voltar-se para dentro, pois reconhece o destino humano atrelado ao conhecimento, porém faz sua mediação comprometido com a interpretação socrática do oráculo de Delfos: “conhece-te a ti mesmo”.

É necessário ver. É sábio escutar. Para quê? Sob essas condições, entende o educador, para fortalecer a urgência da reciprocidade do olhar para que ganhem espaço, no mundo dos homens e das mulheres, sujeitos interlocutórios (críticos, sensíveis) e criativos.

Facilitar o conhecimento e, nessa direção, pretende o educador superar, até mesmo, o ego enceguecido/ensurdecido do educando, clara ou obscuramente revelado na sentença “não quero nem saber”. Nesse caso, o educador treina sua atenção para uma ação amorosa e eficaz, apta a retirar o ego-narciso das malhas da autocomplacência – daquele que se fecha, de maneira cômoda, na ilusória ilha do “eu já sei”.

O educador opera na zona do imprevisto, do interdito, do devir. Reconhece, intuitivamente, que há mais para dar além das idéias, conceitos e essências, pois, na verdade, o que importa é a existência-presença de o outro, daquele que aprende (e também ensina). Desse modo, como tudo deve ser considerado no mundo físico, tudo deve ser respeitado nesse universo humano para que o processo educativo tenha fermento e expressão, causando transformação.

Alinhados ao educador há o educando e o mundo.

Um pensamento, bem sei, é do mundo, tanto quanto as utopias.

E se há os horrores do mundo – guerras e massacres, exploração e intolerâncias –, há as esperanças do mundo, há o bom combate – a luta pela justiça é própria do homem, as ações solidárias se acumulam nos cotidianos anônimos. E é esse o humanismo que interessa ao educador...  

Conhecimento sem amor é estéril: pode deformar. Conhecimento sem ética é indecente: faz um elogio à morte, abomina as vidas. Não é esse conhecimento que cativa o educador. Ele, seriamente, o teme, assim como teme o trabalho tomado em si mesmo e sem amor.

Como se prepara um educador? Rubem Alves afirma que não sabe como preparar o educador e talvez, no seu entendimento, isso não seja necessário, uma vez que o educador dorme na figura do professor. Bastaria, então, o despertar para a grande tarefa do educador. E qual seria esta grande tarefa?

Nas palavras de Rubem Alves, “é dizer ‘está ali, está ali – perceba! Olhe!’ – Fernando Pessoa diz; não basta não ser cego pra ver as árvores e as cores, há pessoas que têm vistas excelentes e não percebem nada. É preciso ensinar os nossos alunos a enxergar o mundo”. (1)

Vigilante, o educador nos enreda no tempo e nos faz perceber que o mundo não nos é dado e, desse modo, nos desperta das nossas visões sedentárias para a construção da nossa própria autonomia (segundo a dinâmica do ego-alter), mas somente desenvolvida (e amadurecida) por ações que não sejam míopes nem indiferentes... Há, então, esperança de dias melhores. Saudade do futuro!

 

(1) Referência:

Disponível em http://www.revelacaoonline.uniube.br/a2002/educacao/educador.htm/ 

(*) Escrevo em homenagem a três educadores: Hélcio Ribeiro, Márcio Naves e Patrícia Bertolin – profundamente despertos! A eles, minha gratidão.

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita