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Memória
Ano 2 - N° 80 - 2 de Novembro de 2008

Texto de JOSÉ FRANCO
Fotos de LUIZ ALFREDO
 


O feitiço contra o feiticeiro
Zé Arigó na prisão

 

“O curandeirismo é punido para se resguardar a incolumidade pública. O indivíduo que, sem ser médico, faz a determinação de uma doença ou enfermidade pelos sintomas; que, sem ser médico, faz operações; que, dizendo-se um “aparelho” de um espírito, em transe, receita ou opera, ou fornece “garrafadas”, “raízes de mato”; que usa “passes”, atitudes, posturas, palavras, rezas, encomendações, benzeções, esconjuros, ou qualquer outro meio para facilitar partos, curar a tosse rebelde, mordeduras de cobra, câncer, debelar a febre, tuberculose, hemorragia, espinhela caída, catarata, surdez etc.

Capa da revista que publicou a matéria

- esse cidadão representa um tremendo perigo para a saúde de um indeterminado número de pessoas, cuja tutela incumbe, inquestionàvelmente, ao Estado.” Dito isto, o escrivão Osório, da Comarca de Congonhas do Campo, prosseguiu a leitura da sentença do Juiz Márcio Aristeu Monteiro de Barros, informando ao réu, “Ze Arigó”, a pena de dezesseis meses de prisão que lhe foi imposta pelo crime de curandeirismo, figura delituosa que é prevista no art. 284 do Código Penal Brasileiro.

   

SEXTA-FEIRA, 20, a notícia curta mas incisiva, transmitida pelas estações de rádio e televisão, deve ter traumatizado milhares de pessoas em todo o País: José Pedro de Freitas, “Zé Arigó”, conhecido até no exterior por suas aparentes curas mediúnicas, fora condenado a cumprir pena no xadrez de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais. Essa era a segunda vez que o conhecido "médium" enfrentava a Justiça. Pelo mesmo delito já havia sido condenado (e indultado pelo Presidente Kubitschek)     em     1956.     A sentença,

proferida naquela tarde de sexta-feira, colheu de surpresa os habitantes de Congonhas, onde Arigó, modesto funcionário público, é estimado e admirado por muitos. Ele, porém, recebeu resignado a notícia desfavorável. Afirma-se convencido de que cumpre na Terra uma missão sobrenatural: “Agora vou ter muito tempo para ler o Evangelho” - disse, a caminho da prisão.

Desde a audiência de instrução e julgamento, em vinte e dois de outubro, estava sendo aguardada a sessão pública durante a qual o magistrado de Congonhas, presentes as partes, daria publicidade à sentença, condenando ou absolvendo José Pedro de Freitas, denunciado pelo Conselho Regional de Medicina da Associação Médica de Minas Gerais. Esperava-se a fixação do dia da audiência, quando o advogado de Arigó, Professor Jair Leonardo Lopes, foi surpreendido pela informação, extra-oficial, de que seu cliente havia sido condenado. Contra o “mago” de Congonhas - cidade que se transformou, nestes últimos dez anos, na Meca de doentes das mais distantes origens - já havia sido encaminhado à Delegacia de Vigilância mandado de prisão. O patrono de José Pedro de Freitas dirigiu-se, imediatamente, àquela cidade, onde nem mesmo o acusado e seus familiares sabiam da decisão. Arigó voltava do seu sítio vestindo, como de seu hábito, calça e camisa-esporte, quando foi informado da sentença. Dispôs-se a se apresentar ao Juiz, o que fez em seguida. A poucos passos de sua residência, dez minutos mais tarde, Arigó subia as escadas do Foro, em companhia do pai, Sr. Antônio de Freitas, e de seu filho Tarcísio. Populares aproximaram-se, perguntando: “Que aconteceu?” À chegada do Juiz, instantes depois, disse-lhe o defensor do “médium”: “Meritíssimo, tomando conhecimento de que meu cliente foi condenado, e sendo certo que não quer ele fugir à ação da Justiça, aqui está para apresentar-se a Vossa Excelência!”

Após a prolongada leitura da sentença, que ocupava várias páginas datilografadas em espaço dois, o réu levantou-se e agradeceu ao Juiz e ao Promotor Marcelo José de Paula. Nessa altura, já havia gente chorando no recinto do tribunal. Parentes e amigos do réu. A emoção redobrou, quando uma tia de Arigó, entrando na sala de audiências, bradou em pranto convulsivo: “Conforme-se, meu filho, porque até Jesus foi condenado!”

Como  a   delegacia  de  Congonhas  não

dispõe de veículo para conduzir presos, Arigó foi para o xadrez dirigindo seu jipe, acompanhado por dois soldados da Força Pública e pelos filhos e irmãos (ele tem seis filhos). O jipe era seguido por numerosos automóveis, cujas buzinas soavam lùgubremente, expressando a fé de alguns adeptos nos misteriosos poderes do “médium”, os quais, para seu infortúnio, não bastaram para comover a Justiça.


Publicado na revista
O Cruzeiro, em 12 de dezembro de 1964.

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita