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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 63 - 6 de Julho de 2008

LEONARDO MARMO MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com 
São José dos Campos,
São Paulo (Brasil)


Dinheiro e espiritualidade


Em praticamente todas as épocas da humanidade, a maioria dos religiosos sempre apresentou atitudes polêmicas e por vezes contraditórias a respeito do uso adequado dos recursos materiais em uma vida guiada por ideais espirituais.

Discussões infindáveis sobre o significado espiritual da riqueza material levaram muitos doutrinadores e líderes religiosos a amaldiçoarem, em nome de Deus, o recurso amoedado. No Ocidente, historicamente, essa foi a atitude mais comum, sobretudo dentro do catolicismo. Posteriormente, com o advento do protestantismo, várias vertentes rejeitaram esse paradigma comportamental, elegendo o dinheiro como algo perfeitamente enquadrado em uma vivência ética da criatura humana. De fato, diversos historiadores consideram essa diferença de perspectiva um dos fatores determinantes para o maior desenvolvimento político-econômico da chamada América anglo-saxônica, de cultura predominantemente protestante, quando comparada à América Latina, de tradições majoritariamente católicas.  

Importante registrar que, mais recentemente, a visão “positiva” do bem material por parte dos movimentos protestantes ganhou uma ênfase exagerada, sendo o dinheiro considerado como indicação categórica de vitória espiritual e bênção divina, especialmente por facções do chamado “Neo-pentecostalismo”.  

Entretanto, o bom senso aliado a uma leitura criteriosa do Evangelho de Jesus não permite nenhuma dúvida sobre o comportamento verdadeiramente evangélico do cristão perante os recursos materiais. Realmente, analisados em conjunto, os ensinamentos de Jesus sobre os bens materiais e seu emprego em nossa vida não dão margem a nenhum equívoco.  

Primeiramente, Jesus jamais disse ou deu a entender que o dinheiro, em si mesmo, seria sinal de bênção, privilégio, milagre ou condição espiritual de destaque. Ele mesmo asseverou “O Filho do Homem não tem uma pedra para encostar a cabeça”. E, deixando evidente que o dinheiro não significava vantagem do ponto de vista espiritual, foi contundente ao afirmar “É mais fácil um camelo passar pelo vão de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus”. Para não deixar margem a qualquer dúvida, enunciou as imortais “Bem-aventuranças”, enfatizando que as vantagens materiais não são credenciais de evolução espiritual. Ademais, com raras e especiais exceções, seus discípulos e apóstolos, assim como Ele próprio, eram pessoas das camadas sociais mais humildes e de maneira nenhuma nós podemos admitir que os apóstolos fossem preguiçosos, amaldiçoados ou criaturas afastadas da chamada “Palavra de Deus”. Vale lembrar que os apóstolos, apesar de profundamente identificados com o trabalho apostólico de divulgação evangélica, sofreram muito durante a vida física e, à exceção de João Evangelista, morreram invariavelmente de forma violenta, em condições de penúria material, mas de exuberante vitória espiritual. 

Por outro lado, Jesus igualmente não amaldiçoa o dinheiro e muito menos os ricos. Adverte quanto ao perigo da prova da riqueza, mas não torna a pobreza passaporte para a virtude, como muitos até hoje apregoam. José de Arimatéia, Nicodemos e o famoso “Centurião Romano”, cuja fé foi exaltada pelo Mestre, são exemplos de criaturas de destaque sócio-econômico que receberam atenção e profunda consideração por parte do Mestre. Além deles, a passagem inesquecível de Zaqueu merece análise. Quando esse homem, ao hospedar Jesus e os Apóstolos, decide doar metade de seus bens aos pobres e restituir quatro vezes mais aqueles a quem tivesse lesado, Jesus disse que “a salvação tinha entrado naquele lar”. Ora, Zaqueu era um homem relativamente rico, o que implica que doar cinqüenta por cento de seus bens não significaria necessariamente um empobrecimento propriamente dito. E Jesus não requisitou mais. 

Além disso, o grupo apostólico apresentava elementos de elevada condição social, como é o caso de Mateus. Vale acrescentar que Saulo de Tarso, além de perseguidor do Cristianismo, era um homem de elevada condição social e foi “resgatado” pelo próprio Cristo, em Espírito, às portas de Damasco, o que é confirmado pela aparição do Mestre a Ananias. Obviamente, seria desnecessário comentar sobre a relevância paulina no trabalho apostólico, já que, depois do próprio Jesus, o apóstolo de Tarso foi indiscutivelmente o maior propagador do Cristianismo nascente. 

Aprofundando a questão, é interessante adir que Jesus, em momento algum, instituiu a necessidade de donativos fixos por semana, mês ou ano a quem quer que seja, muito menos a instituições religiosas formais, que, aliás, Ele não cansava de criticar no que se refere ao seu luxo e hipocrisia no trato com as questões espirituais e no contato com os irmãos. Este posicionamento fica evidente, por exemplo, quando o Mestre se refere criticamente às “longas túnicas” usadas pelos religiosos ou quando afirma que, “a pretexto de longas preces, devoram as casas das viúvas”. Obviamente, a idéia de dízimo mensal não tem nenhum respaldo no Evangelho de Jesus e, para ser defendida pelos religiosos, supostamente cristãos, necessita de subsídios do respeitável, porém limitado, Velho Testamento, sobretudo de Malaquias, texto claramente em oposição aos ensinos de Jesus. Afinal, o Mestre várias vezes afirmou: “Tendes ouvido o que vos foi dito, eu porém vos digo....”. Resta saber se nós, como cristãos, confiamos mais em Jesus ou no Velho Testamento! 

Como se não fosse suficiente, Jesus nos deixa as passagens do “Óbolo da Viúva” e da “Parábola do Bom Samaritano”, que são insofismáveis em relação à necessidade de espontaneidade no gesto do bem. Lembremos da Codificação Espírita que nos ensina que Deus não avalia tão-somente a ação propriamente dita, mas igualmente a intenção por detrás da ação. Realmente, imaginar Jesus pedindo donativos mensais seria algo desrespeitoso e trágico, para não dizer ridículo, em se tratando do Espírito mais evoluído que nasceu no Planeta Terra.

A discussão acima não se trata de interpretação forçada, uma vez que o próprio Jesus repreendeu um dos apóstolos quando eles estavam hospedados em Betânia, na casa de Lázaro, e Maria ungiu os pés de Jesus com um perfume muito caro (Evangelho de João, Capítulo 12, a partir do primeiro versículo). Realmente, um dos apóstolos achou um “desperdício” gastar tanto dinheiro (“trezentos denários”) com perfume, ao invés de ajudar aos pobres. Jesus esclareceu: “Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha sepultura. Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me tereis” (João, 12:7-8), denotando que há muitas formas de se fazer o bem e que doar um “presentinho” a quem amamos não é nenhum crime e, dependendo da intenção de quem age fraternalmente, pode ter um significado muito maior do que qualquer “obrigação da Lei”, pois, afinal, a “Lei e os profetas” foram resumidos pelo Homem de Nazaré no Amor, e o Verdadeiro Amor requer espontaneidade em suas ações. 

Logicamente, é perfeitamente lícito e meritório alguém se responsabilizar por um donativo regular a uma instituição de caridade, seja ela vinculada a núcleos religiosos ou não. O problema está em se restringir essa ação somente à igreja a que se está vinculado e tornar esse tipo de caridade um pré-requisito único e imprescindível para a “Entrada no Reino dos Céus”. Vale questionar: Se o cristão dá o seu dinheiro diretamente aos necessitados, sem uso de “atravessadores” (lê-se: instituições religiosas), essa ação valeu menos do que o donativo feito à igreja?! Neste caso, resta saber onde está a igreja na “Parábola do Bom Samaritano”... 

Neste contexto, naturalmente lembramo-nos de Francisco de Assis, que representa uma das mais belas vidas cristãs da História, em função do seu desapego aos bens materiais. No entanto, é fácil notar uma deturpação no entendimento dos exemplos franciscanos, assim como ocorre com o próprio Cristo. Realmente, tornar Francisco de Assis infalível seria considerá-lo igual ou maior do que Jesus, o que é inadmissível. Por outro lado, um entendimento mais profundo da vida cristã de Francisco de Assis passa necessariamente pela compreensão do contexto histórico extremamente conturbado em que ele vivia, sobretudo no que se refere aos hábitos nada cristãos dos religiosos da época. A atitude franciscana, até certo ponto drástica, de rejeição aos bens materiais e de uma vida pobre, foi importantíssima para evolução espiritual do Planeta Terra, uma vez que os religiosos daquele tempo estavam completamente esquecidos do verdadeiro significado do Evangelho. Aliás, muitos historiadores admitem que Francisco de Assis teve papel de destaque na mudança das instituições sociais européias, pois, ao propor uma atitude religiosa alternativa ao “status quo”, ajudou a sociedade a questionar os valores religiosos da Idade Média, contribuindo para o fim do Feudalismo e o advento da Renascença e até mesmo da Reforma Protestante, que foram alguns dos marcos da transição entre as Idades Média e Moderna.  

Logo, apesar da indiscutível relevância na missão franciscana, considerar a rejeição aos bens materiais e a vida exclusivamente pobre um referencial único de atitude cristã seria um erro lamentável com base nos vários ensinos e exemplos de Jesus. De fato, “A liberdade é total para o amor”, denotando que o bem tem vários caminhos e mecanismos de atuar. Nem a mendicância e nem a riqueza fazem o Espírito melhor ou pior, pois “o que é da carne é carne e o que é do espírito é espírito”. Qualquer situação material é meramente uma oportunidade evolutiva de características específicas para o Espírito necessitado de experiência. Desta forma, a afirmação paulina (Efésios, 4:28): “Trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” é a orientação mais segura e condizente com as palavras do próprio Jesus. Realmente, essa proposta pode ser considerada correta, à luz das Leis Divinas do Amor, independentemente dos vários contextos da vida física e, por conseguinte, pode ser generalizada como referencial de comportamento cristão. Compreendendo, em concordância com “O Livro dos Espíritos”, que “trabalho é toda ocupação útil”, o leque de opções dentro da esfera do Amor realmente se torna incalculável, desde que tenhamos boa vontade para começar. Assim sendo, trabalhemos no bem, hoje, amanhã e sempre, das mais variadas formas possíveis, de forma que, quando este trabalho repercuta em qualquer ganho de cunho material, educacional ou espiritual, saibamos que o Pai Maior, que abençoa a caridade espiritual, também abençoa o pão material fornecido com carinho e enternecimento ao nosso irmão, pois ambas as atitudes são, no fundo, o mesmo exercício de Fraternidade e de Amor, que resume todo o Evangelho de Jesus.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita