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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 63 - 6 de Julho de 2008

CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

A linguagem que Deus
entende

Sendo Deus a Perfeição, o que faz pressupor a autenticidade na sua forma mais absoluta não há de ser aquela muitas vezes usada de maneira irrefletida, nas fórmulas despidas de sinceridade, ao serem pronunciadas nas preces e rituais tradicionais.

Adianto que aqui não vai nenhuma apologia contra qualquer modalidade de ritual, culto, ou expressão religiosa institucionalizada; guardo a convicção, no entanto, de que a validade de qualquer ligação que pretendamos estabelecer com o divino ou com as esferas excelsas da vida está na proporção direta da sinceridade e da autenticidade das intenções de quem a pratica ou pronuncia.

Vocês já ouviram a história dos Santos Indigentes? Um dia, lá estavam à margem da estrada, à beira de um rio, dois homens postados em atitude de oração, bem no momento em que cruzava aquela região silenciosa e deserta um vigário, sob o sol causticante da tarde. Curioso acerca da razão da presença dos dois em atitude tão pitoresca, o sacerdote foi-se aproximando e, à medida que o fazia, se espantando do que lhe foi dado escutar.

Ambos, efetivamente, rezavam, mas nestes termos: "Senhor, como nada mais lhe podemos ofertar, se nos fosse possível, lhe ofereceríamos um par de sandálias novas, do bom couro que sabemos trabalhar; também um prato da melhor pesca do dia para matar a sua fome, e também um pouco de descanso na nossa cabana, e um banho refrescante no rio ao final do dia, que lhe diminuísse o cansaço..."

Horrorizado, e julgando que já ouvira o bastante, o vigário deteve-se e, admoestando severamente os dois homens, que de imediato se interromperam, espantados e intimidados diante da presença autoritária do representante religioso daquelas cercanias, instou-os a que se pusessem de ouvidos para o que seria a verdadeira oração a Deus, asseverando que se mostrava uma temeridade e uma heresia que os dois se pusessem a se dirigir ao Supremo Criador do universo como a um reles pastor dos arredores, supondo absurdamente que Lhe afligissem cansaço, fome, ou as necessidades ordinárias comuns aos reles mortais.

E assim dizendo, transmitiu aos pescadores atentos e confundidos na sua simplicidade os princípios das preces tidas como oficiais a todos os cristãos, fazendo-os repetirem as fórmulas ensinadas até a um ponto que julgou satisfatório. E como os dois, ao final da arenga repreensiva, lhe agradecessem, com profunda humildade, satisfeito e envaidecido de ter pressupostamente favorecido duas almas desorientadas, o sacerdote retomou o caminho, e rumou à embarcação próxima que o aguardava para a travessia até o outro lado do rio.

Embarcou e afastou-se, ao impulso lânguido do remador, esquecido do caso e mergulhado nos próprios pensamentos e preocupações rotineiras, quando de repente um chamado insólito fê-lo se voltar e quedar-se, estarrecido do que tinha diante dos olhos perplexos e dilatados.

Os dois homens que interpelara na estrada, deixando-os na recitação das orações que lhes ensinara, corriam sobre a superfície do rio fundo, na direção do barco, como se a lei da gravidade não existisse, acenando, agoniados, a exclamar:

"– Reverendo! Espere, Reverendo! Esquecemos de uma parte da oração que nos ensinou! Por favor, não se vá sem nos recordar, para que possamos acabá-la!..."

Quedo, estupefato, e instantaneamente aprendendo valiosíssima lição, o orgulhoso sacerdote rojou-se de joelhos dentro do barco, e diante do olhar espantadiço do remador, respondeu, por entre lágrimas, aos dois homens que, desconcertados, nada sabiam do que pensar diante daquele inusitado:

"– Ensinem-me, vocês, a verdadeira oração; porque, na minha vaidade estúpida, me esqueci de que o que valida a prece é, antes de tudo, a pureza do sentimento e a verdade da alma que a pronuncia, acima de quaisquer palavras que tenham sido convencionadas para isso!..."

É este o ponto, a referência: em tempos como os que vivemos, quando a ânsia de reconforto diante dos desafios atordoadores arrasta a todos em busca de um alento que, invariavelmente, é encontrado na sua melhor forma ao voltarmos nossos pensamentos ao amparo indefectível de Deus, justo é reforçarmos em nossa consciência e nos nossos sentimentos a lembrança de que a prece mais eficaz não requer lugares ou fórmulas repetitivas, porém isentas da sinceridade do coração.

Melhor dizendo, a prece mais válida prescinde de todas estas coisas. De forma que, se no recanto mais agradável e silencioso dos nossos lares requisitamos, com fervor e enlevo d’alma, a Misericórdia do Eterno em favor da nossa vida e daqueles que nos são caros, esta surtirá efeito equivalente à proferida no ambiente religioso da Igreja ou Cátedra, desde que emitida com autenticidade de intenção.

Um único agradecimento comovido, proferido silenciosamente pelo coração do justo, será sempre, em qualquer tempo da eternidade, a linguagem entendida e ouvida por Deus, em contrapartida às centenas de Ave-Marias recitadas durante toda uma vida, mecanicamente, sem comprometimento, que nos remeta a alma àquela disposição que as justifique através das nossas obras em vida, em favor do próximo, e do nosso auto-aperfeiçoamento.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita