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Crônicas e Artigos
Ano 2 - N° 61 - 22 de Junho de 2008

RENATO COSTA
rsncosta@terra.com.br

Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

Faz Jesus sofrer a seus amigos?

Uma das vidas relatadas pelo Espírito que ditou a Eudaldo Pagés e Amália Domingo Soler a obra Perdôo-te é facilmente identificada como sendo a de Teresa D’Avilla, a notável mística espanhola do século XVI. Naquela magnífica autobiografia, Teresa (Espírito) conta em detalhes como soube, com certeza, que seus escritos seriam adulterados após a sua morte, de modo a ficarem conformes a uma visão tolerada pela alta hierarquia da Igreja de então. 

A despeito da advertência da própria Teresa (Espírito), no entanto, existe um relato de uma passagem na vida daquela grande médium da Igreja, contado na obra Os Santos que Abalaram o Mundo, de René Fülöp-Miller, que nos parece muito propícia a um estudo. Se verdadeira na autenticidade do relato histórico, ou vítima de uma adulteração cuidadosa e sábia feita posteriormente, o fato é que o dito relato algo importante nos tem a ensinar. 

Conta Fülöp-Milller que, já estando no final da vida, com o corpo cansado pelas muitas provações que sofrera, a destemida amiga de Jesus havia partido com uma caravana para fundar um novo convento em Burgos. As estradas estavam inundadas pelas chuvas e era necessário atravessar o Rio Arlazón antes de se chegar ao destino. Tendo sido destruída a ponte pela força das águas, segundo relata o autor, Teresa atirou-se bravamente à travessia, conclamando suas companheiras com alegria e determinação: “Venha o que vier. Se desmaiardes no caminho, se morrerdes na estrada, se o mundo for destruído, tudo isto está bem, se atingirdes o vosso alvo”. Desse modo, conclamando todas a segui-la, avançou corajosamente pela água gelada. Foi, então, que uma onda a fez escorregar para a parte mais funda do rio. Sem se mostrar aterrorizada, Teresa dirigiu-se, como costumeiro, ao amado Mestre pedindo ajuda. Vamos, pois, ao diálogo. 

– Oh! Senhor, por que puseste tais dificuldades em nosso caminho? 

Aparecendo sobre as águas, na visão espiritual da médium Teresa, Jesus respondeu: 

– É assim que trato meus amigos. 

Ao que Teresa, que segundo Fülöp-Miller jamais perdia a oportunidade de uma resposta, retrucou: 

– Ah! Meu Senhor, é por isso que tendes tão poucos. 

Ora, será verdade que Jesus permite aos seus amigos os maiores sofrimentos? Sem maiores análises, à primeira vista, as palavras de Jesus, escutadas por Teresa, parecem sugerir um Jesus sádico que aprecia ver seus amigos sofrerem para testar sua amizade. Como, no entanto, sentimentos negativos inexistem no psiquismo de um Espírito do adiantamento de Jesus, deve haver outra explicação. Consultando a Codificação, vamos encontrar parte da explicação que desejamos no item 9, Capítulo V, de O Evangelho segundo o Espiritismo, sob o título de “Bem-aventurados os aflitos”: 

“Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso.  

“Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado. Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar. Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus. 

“Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso”

Com o esclarecimento que obtivemos do ESE, as coisas começam a clarear. O sofrimento por que passou Teresa ao longo de toda a sua vida tinha um propósito educativo e não lhe havia sido imposto, mas aceito por ela na espiritualidade com o intuito de enrijecer sua força de vontade direcionada para o bem.  

Resta-nos, ainda, analisar a segunda parte do relato, isto é, a afirmação de Jesus de que era assim que tratava os seus amigos. E, mais, a terceira parte, o comentário final de Teresa, ao dizer que por isso os teria Jesus em tão pequena quantidade. 

O que é ser amigo de Jesus? Observemos bem que não estamos falando de ser Jesus nosso amigo e sim de ser um de nós amigo de Jesus. 

Após algumas pesquisas na Web, procurando por “amigo de Jesus”, encontramos inúmeras páginas, de diversas religiões e crenças, discorrendo sobre Jesus amigo, nosso amigo Jesus, Jesus te ama, Jesus meu amigo... Nenhuma página, no entanto, falava de “amigo de Jesus”. 

Ora, o fato de que Jesus é nosso amigo, seus ensinamentos, seu exemplo de vida, a dedicação e o amor que o Mestre tem-nos dedicado há milhões de anos são testemunho mais do que eloqüente. E nós? Somos amigos de Jesus? 

Em uma passagem do Evangelho de Mateus a que as Bíblias católicas dão o título de “O Juízo Final”, mas que, sob a ótica espírita, se aplica perfeitamente à definição que estudamos, podemos ler como Jesus define os seus amigos: 

"Vinde benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim. Perguntar-lhe-ão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Em verdade vos declaro: todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes" (Mateus, 25 de 35 a 40). 

Ora, se Jesus chamou àqueles que ajudam os necessitados de toda espécie, onde quer que se encontrem, de “benditos de meu Pai”, que “tomarão o Reino” que para eles está preparado; se Jesus nos ensinou que o segundo mandamento é “Amar ao próximo como a si mesmo” e que, junto com o primeiro, “Amar a Deus sobre todas as coisas” resume toda a Lei e os Profetas, fica claro, a nosso ver, que quem segue tais diretrizes merece ser chamado de “amigo de Jesus”. 

Como concluiremos, se analisarmos o comportamento nosso e o das pessoas à nossa volta, assim como o da humanidade ao largo, são poucos, muito poucos os que podem ser chamados de amigos de Jesus, pois, para que um de nós assim possa ser chamado, é necessário nos comprometermos na espiritualidade a vencer todos os obstáculos que surjam à nossa frente na prática no bem e, o que é muito mais difícil, sermos fiéis ao compromisso assumido. Então, como poderemos adquirir fibra para enfrentar todos os obstáculos por maiores que sejam, de modo a nos tornarmos amigos de Jesus como o próprio Jesus os define? Aceitando vir em várias, muitas vidas de provação, de modo a provarmos a Jesus e, sobretudo, a nós mesmos, que jamais esmoreceremos em nosso nobre objetivo.  

Entendemos, assim, a fala de Jesus para Teresa, bem como a sua sábia resposta.
 

Bibliografia:

FÜLÖP-MILLER, René. Os Santos que Abalaram o Mundo. 14.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 112.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

PAGÉS, Eudaldo e SOLER, Amália Domingo. Perdôo-te. 7.ed. Brasília: LGE, 2002.

Bíblia Sagrada. Versão dos Monges de Mardesous. São Paulo: Ave-maria, 1997.
 


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