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Estudando a série André Luiz
Ano 2 - N° 61 - 22 de Junho de 2008

MARCELO BORELA DE OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)  

Obreiros da Vida Eterna

(Parte 17)

André Luiz

Damos continuidade ao estudo da obra Obreiros da Vida Eterna, de André Luiz, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier e publicada em 1946 pela editora da Federação Espírita Brasileira, a qual integra a série iniciada com o livro Nosso Lar.  

Questões preliminares

A. Que é que mais preocupava Cavalcante nos últimos momentos de sua existência?

R.: Seu último desejo era rever pela última vez a esposa que o abandonara, porque queria pedir-lhe perdão, visto que se sentia culpado direto pelo gesto dela e não desejava partir sem a reconciliação conjugal. (Obreiros da Vida Eterna, cap. 18, pp. 268 a 274.)

B. Como era o ambiente espiritual no hospital em que Cavalcante estava internado?

R.: Era péssimo. A enfermaria estava repleta de cenas deploráveis produzidas por entidades inferiores que, retidas pelos próprios enfermos, em grande viciação da mente, postavam-se em leitos diversos, infligindo-lhes padecimentos atrozes, sugando-lhes vampirescamente preciosas forças, bem como atormentando-os e perseguindo-os.  (Obra citada, cap. 18, pp. 274 a 277.)

C. Como foi o encontro entre Cavalcante e sua esposa?

R.: A ex-esposa, que já havia desencarnado, semelhava-se em tudo a sombra espectral. Quando viu o leito do ex-marido, fitou-o com intraduzível impressão de horror e gritou, longamente, perturbando-lhe a hora de alívio. O moribundo voltou-se e viu-a. Alegre sorriso estampou-se-lhe no rosto e ele, falando com enorme dificuldade, pediu-lhe perdão, o que lhe fez imenso bem. Mas a ex-companheira também pediu-lhe perdão dizendo: "O' Joaquim! perdoa-me! Nada tenho contra ti. O tempo ensinou-me a verdade. Sempre foste meu leal amigo e dedicado marido!" Cavalcante escutou-a, esboçando expressão de intensa alegria, e murmurou: "Agora, estou satisfeito, graças a Deus!...". (Obra citada, cap. 18, pp. 277 a 281.)

Texto para leitura

108. Cavalcante pressente a morte próxima - O caso Cavalcante chegara ao seu processo final. A cirurgia no apêndice inflamado fora tardia. O enfermo perdia forças e, porque não conseguia alimentar-se como devia, não encontrava recursos para compensar as perdas vultosas. O intestino inspirava repugnância e compaixão. Trilhões de bacilos de variadas espécies ali se encontravam. Cavalcante não suportava nenhuma alimentação e seu estômago expulsava até a própria  água simples, deixando-o exausto, em vista do tremendo esforço despendido nos reiterados acessos de vômito. De fato, as condições orgânicas do enfermo mostravam o final de um processo, apesar da vontade de viver que a mente do enfermo assinalava. Passados mais de quatro dias de observação do moribundo, Jerônimo deliberou fossem desatados os laços que o prendiam à esfera física. Com a intuição da morte próxima, Cavalcante chamou o capelão, a fim de ouvi-lo em breve confissão. O enfermo pediu, também, a ajuda do padre para encontrar pela Última vez a esposa, que o abandonara por outro homem, havia muitos anos. Ele desejava pedir-lhe perdão, porque se sentia culpado direto pelo gesto dela. O padre, embora não parecesse intimamente interessado em ajudá-lo nesse propósito, prometeu-lhe prosseguir nas diligências para encontrar a esposa, e sugeriu-lhe descansasse. O mau cheiro que exalava do enfermo incomodava o sacerdote. Suas palavras em resposta às dúvidas de Cavalcante denotavam impaciência e mesmo irritação. O doente tinha evidente receio da morte. "Acha que me demorarei muito tempo no purgatório?", perguntou-lhe Cavalcante. "Que idéia! – resmungou o padre, entediado – falta-lhe suficiente confiança no poder de Deus?" Essas Últimas palavras foram pronunciadas com tamanha irritação, que o enfermo lhe percebeu o descontentamento, sorriu humilde e calou-se. (Cap. 18, pp. 268 a 271)

109. O tratamento frio da religiosa abate Cavalcante - Ao sair do quarto, o padre, aliviado, encontrou certo médico e indagou: "Afinal, que acontece ao Cavalcante? morre ou não morre? Estou cansado de tantos casos compridos". O clínico respondeu-lhe: "Tem sido gigante na reação. Considerando-lhe, porém, os males sem cura, venho examinando a possibilidade da eutanásia". "Parece-me caridade – redargüiu o religioso – porque o infeliz apodrece em vida..." O médico abafou o riso e despediram-se. A cena chocava pelo desrespeito. Ambos os profissionais, o da Religião e o da Ciência, notavam situações meramente superficiais, incapazes de penetração nos sagrados mistérios da alma. Cavalcante recebia, porém, a assistência carinhosa de Jerônimo e Bonifácio. O Assistente comentou então: "O pobre sacerdote ainda não possui olhos de ver. Cavalcante foi, antes de tudo, perseverante trabalhador do bem". O enfermo chorava copiosamente. A atitude do padre advertira-o do seu deplorável estado e ele passou a sentir também o cheiro desagradável das próprias vísceras, agravando-se-lhe o mal-estar. Pediu, assim, o comparecimento de determinada religiosa, dentre as muitas que atendiam a casa. Experimentava funda sede de consolo, necessitava de coragem que lhe viesse do exterior. Quem sabe encontraria no coração feminino o reconforto que o confessor não lhe soubera dar? A "irmã de caridade" não trazia, porém, melhor humor. Fez questão de escutá-lo, alçando desinfetante enérgico ao nariz, o que lhe infundiu surpresa ainda mais dolorosa. Cavalcante chorou, queixou-se. Não desejava partir sem a reconciliação conjugal. Precisava viver mais alguns dias. A "irmã de caridade", depois de ouvi-lo, com impassível frieza, foi mais sucinta: "Meu amigo – disse, áspera – tenha fé.  A casa está  repleta de enfermos, alguns em piores condições". Como o doente insistisse nas solicitações, concluiu ríspida e secamente: "Não tenho tempo". (Cap. 18, pp. 271 e 272)

110. O temor da morte prejudica o enfermo - Cavalcante deu curso a pranto silencioso, recordando, de alma oprimida por angustiosa saudade, a infância e a juventude. Percorrera as estradas terrenas, de coração aberto à prática do bem. Não compreendia Jesus encerrado nos templos de pedra, à distância dos famintos e sofredores que choravam por fora. Valera-se de toda oportunidade para testemunhar entendimento cristão e, porque amara o exercício do bem, constante e fiel, era aborrecido aos sacerdotes e familiares em geral. A parentela, inclusive a esposa, considerava-o fanático, desequilibrado e imprestável. Ele perseverara mesmo assim. No entanto, embora as condições elevadas em que desenvolvera a fé, ignorava as lições do Além-Túmulo e receava a morte. Estimaria obter a certeza do destino a seguir. A visão mental do enfermo, segundo as concepções católicas, punha-lhe arrepios no espírito exausto e a probabilidade dos sofrimentos purgatoriais enchia-o de temor. Desejava algo de melhor, de mais belo que o velho mundo em que vivera até então... Suspirava por ingressar em coletividade diferente, em que pudesse encontrar corações a pulsarem sintonizados com o dele. Sentia fome e sede de compreensão, de profunda compreensão, mas, prejudicado pelos princípios dogmáticos da escola religiosa a que se filiara, repelia a ação dos benfeitores espirituais. Jerônimo tentou propiciar-lhe sono brando, para subtrair-lhe os temores em socorro direto, fora do corpo físico. O enfermo lutava, contudo, por manter-se vigilante. Temia dormir e não despertar. Seu desejo era ver a esposa, antes do fim, dizia de si para consigo. Compreendia perfeitamente a atitude da esposa. Provavelmente, ele faltara com a necessária demonstração de amor dentro do próprio lar, e queria pedir a ela perdão pelo seu descaso... Apesar de pensamentos tão elevados, o que mostrava um coração generoso, Cavalcante permanecia cego para o chamado "outro lado da vida", de onde Jerônimo e seus amigos tentavam ajudá-lo, sem êxito. Evidentemente, o Assistente poderia aplicar-lhe recursos extremos, mas absteve-se. Inquirido por André acerca de seus infindos cuidados, ele explicou, muito calmo: "Ninguém corte, onde possa desatar..." (Cap. 18, pp. 272 a 274)

111. Entidades desencarnadas perturbam o recinto - Cavalcante insistia mentalmente, em suas orações, na presença da esposa que o abandonara, sem saber, porém,  que ela já havia desencarnado há  mais de um ano, num catre, vítima de uma infecção decorrente de sífilis. Jerônimo decidiu então agir, precipitando o fim do processo, ao abrir pequenos vasos do intestino para que a hemorragia se fizesse ininterrupta, até à noite, quando seria efetuada a liberação. Pediu então a Bonifácio que trouxesse ao recinto a companheira desencarnada. O enfraquecimento físico do enfermo em poucas horas ampliaria as percepções visuais de Cavalcante e, desse modo, ele poderia ver a esposa antes do decesso que se aproximava, dormindo menos inquieto. O relógio assinalava poucos minutos além do meio-dia, quando André e o Assistente se ausentaram do hospital, para ali retornar mais tarde. A enfermaria estava repleta de cenas deploráveis. Entidades inferiores, retidas pelos próprios enfermos, em grande viciação da mente, postavam-se em leitos diversos, infligindo-lhes padecimentos atrozes, sugando-lhes vampirescamente preciosas forças, bem como atormentando-os e perseguindo-os. Desde o início do atendimento de Cavalcante, André pensara em melhorar o ambiente e chegou mesmo a consultar Jerônimo quanto a isso. O Assistente dissera-lhe, contudo, que era inútil qualquer esforço extraordinário, pois os próprios enfermos, em face da ausência de educação mental, se incumbiriam de chamar novamente os verdugos, atraindo-os para a suas mazelas orgânicas. André revelou ter experimentado enorme dificuldade para desempenhar os deveres que ali o retinham, porquanto as interpelações dos desencarnados infelizes o atingiam intensamente. Eles pediam toda a sorte de benefícios, reclamavam melhoras, explodiam em lamúrias sem fim. Sereno e forte, Jerônimo conseguia trabalhar de mente centralizada na tarefa, inacessível às perturbações exteriores, mas  André não alcançara ainda semelhante poder. "Os pedidos, os lamentos, os impropérios feriam-me a observação, impedindo-me de conservar a paz íntima", anotou André Luiz. (Cap. 18, pp. 274 a 277)

112. Cavalcante reencontra a esposa - Ao cair da noite, os benfeitores espirituais voltaram ao hospital. Cavalcante avizinhava-se do coma. O sangue alagava lençóis, que eram trocados repetidamente. O agonizante inspirava dó. Abriram-se-lhe certos centros psíquicos, no avançado abatimento do corpo, e o infeliz passou a enxergar os desencarnados que ali se encontravam, sem ver, porém, os seus benfeitores. A cena que ele presenciou era terrível. "Estarei no inferno ou vivemos em casa de loucos? – bradou Cavalcante – Oh! os demônios! os demônios!... Vejam o `espírito mau' roendo chagas!..." E, de fácies contraída, apontava mísero ancião de pernas varicosas. A entidade desencarnada lhe dizia não ser o diabo e, sim, que o doente lhe devia... Os vizinhos de enfermaria pensaram que Cavalcante delirava. Doentes e enfermeiros, alarmados, optavam pela  remoção do moribundo. Tinham medo. Cavalcante desvairava. Consolavam-se, porém, na expectativa de que a hemorragia abundante prenunciasse o fim próximo. Jerônimo ministrou-lhe, então recursos de reconforto e o enfermo aquietou-se devagarinho. Pouco tempo depois, Bonifácio entrou conduzindo verdadeiro fantasma. A ex-esposa, convocada à cena, semelhava-se, em tudo, a sombra espectral. Ela não via Bonifácio, mas obedecia-lhe à ordem. Quando viu o leito do ex-marido, fitou-o com intraduzível impressão de horror e gritou, longamente, perturbando-lhe a hora de alívio. O moribundo voltou-se e viu-a. Alegre sorriso estampou-se-lhe no rosto: "Pois és  tu, Bela? Graças a Deus, não morrerei sem pedir-te desculpas!..." A ternura com que se dirigia à ex-esposa causava compaixão. Ela abeirou-se do leito, tentando ajoelhar-se, e disse, aflita: "Joaquim, perdoa-me, perdoa-me!...". O enfermo replicou, carinhoso: "Perdoar-te de quê? Eu, sim, fui injusto contigo, abandonando-te ao léu da sorte... Por favor, não me queiras mal. Não te pude compreender noutro tempo e facilitei-te o passo em falso, colaborando, impensadamente, para que te precipitasses em escuro despenhadeiro". E Cavalcante continuou: "Não entendi o problema doméstico tanto quanto devia... Hoje, porém, que a morte me busca, desejo a paz da consciência. Confesso minha culpa e rogo-te perdão... Desculpa-me...". O moribundo falava com enorme dificuldade, mas aquilo lhe fazia imenso bem. Sua mente apaziguara-se. Ele contemplava a esposa, reconhecido, quase feliz. (Cap. 18, pp. 277 a 279)

113. A eutanásia - A ex-companheira de Cavalcante lhe disse, por fim: "O' Joaquim! perdoa-me! Nada tenho contra ti. O tempo ensinou-me a verdade. Sempre foste meu leal amigo e dedicado marido!" O moribundo escutou-a, esboçando expressão de intensa alegria, e murmurou: "Agora, estou satisfeito, graças a Deus!...". Nesse instante, o mesmo médico que ali estivera pela manhã avizinhou-se do leito para a inspeção noturna, acompanhado de diligente enfermeira. Cavalcante chamou-o e lhe disse: "Veja, doutor, minha esposa chegou, enfim! Estou contente, conformado... Mas minha pobre Bela parece enferma, abatida... Ajude-a por amor de Deus!" Em seguida, relanceando o olhar pela extensa enfermaria, onde se misturavam encarnados e desencarnados, ele indagou ao médico: "Por que motivo tantos loucos foram internados aqui? Olhem,  olhem  aquele! Parece sufocar o infeliz..." E indicava certa entidade desencarnada que assediava pobre doente atacado de asma cardíaca. O médico não teve dúvida: era o fim. Jerônimo, a essa altura, pediu a Bonifácio levasse a ex-consorte de Cavalcante, acentuando não ser mais conveniente a presença dela ali. A desventurada mulher reagiu, pois queria ficar, mas Bonifácio empregou força magnética mais ativa para alcançar o objetivo. Reparando que Bela se afastava aos gritos, o moribundo pôs-se a bradar, alucinado: "Volta, Bela! Volta!" O clínico pensou que seria impossível continuar assim e decidiu aliviá-lo. Jerônimo penetrou-lhe o íntimo. O doutor pretendia praticar a eutanásia e não havia tempo a perder. André segurou a fronte de Cavalcante e Jerônimo lhe aplicou passes longitudinais, preparando o desenlace. Mas Cavalcante continuava reagindo. "Não, não posso morrer! tenho medo! tenho medo!", exclamava. O clínico não se demorou muito e, como o enfermo lutava, desesperado, em oposição ao auxílio espiritual, não foi possível aplicar-lhe o golpe extremo, que liberaria sua alma. O clínico ministrou-lhe, então, a chamada "injeção compassiva", ante o gesto de profunda desaprovação do Assistente. Em poucos instantes, Cavalcante calou-se. Seus membros enrijeceram, vagarosamente. Imobilizou-se a máscara facial. Cavalcante estava morto. No entanto, sua alma continuava presa ao corpo inerte, em plena inconsciência e incapaz de qualquer reação. "A carga fulminante da medicação de descanso, – explicou Jerônimo– por atuar diretamente em todo o sistema nervoso, interessa os centros do organismo perispiritual. Cavalcante permanece, agora, colado a trilhões de células neutralizadas, dormentes, invadido, ele mesmo, de estranho torpor que o impossibilita de dar qualquer resposta ao nosso esforço". Somente vinte horas depois é que foi possível a libertação do recém-desencarnado, após serviço muito laborioso para Jerônimo e André,  e mesmo assim Cavalcante não se retirou em condições favoráveis. Apático, sonolento, desmemoriado, foi conduzido à Casa Transitória de Fabiano, demonstrando necessitar de maiores cuidados. (Cap. 18, pp. 279 a 281) (Continua no próximo número.)  
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita