“A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e
tudo querem explicar a seu modo, dará origem a
opiniões dissidentes.” (ALLAN KARDEC)
Em novembro de 2025,
a FEAL – Fundação Espírita André Luiz publica o
livro O Espiritismo é Obra de Jesus,
de autoria de Paulo Henrique de Figueiredo e outros
autores .
Do capítulo “7 – As vidas passadas de Rivail”, da
Segunda Parte intitulada “O restabelecimento do
Espiritismo” analisaremos alguns itens.
1º) O Espiritismo é Obra de Jesus: 7.3 – Meu
querido discípulo de Atenas
Um exemplo notável de espírito marcado foi Allan
Kardec. Ele iniciou sua colaboração com Jesus muito
antes da doutrina espírita, tendo sido seu precursor
em diversas encarnações. Uma delas, segundo
revelações espirituais, foi como Platão, o grande
filósofo grego nascido por volta de 428 a.C., em
Atenas. Platão foi um dos pilares da filosofia
ocidental, fundador de uma das primeiras
instituições de ensino superior do mundo ocidental.
Kardec, ao tomar conhecimento dessa identidade
anterior, fez a seguinte prece:
A revelação que me foi feita sobre a minha
existência sob o nome de Platão impõe-me
uma obrigação adicional, pois dissipa as dúvidas que
ainda podiam existir em mim sobre a minha missão.
Tenho a satisfação de ver que isso não me enche de
orgulho, mas que faz nascer em mim o sentimento de
um dever adicional; isso dá-me uma maior força
moral. Ficarei muito feliz em ver nossos esforços
coroados de sucesso no interesse da humanidade e
poder me entregar sem perturbações a todas as
meditações que um assunto tão sério comporta. É isso
que espero, de acordo com suas promessas e a bondade
de Deus Todo-Poderoso (CDOR Canuto 1857
MM_DD_AKD_02).
Platão foi discípulo direto de Sócrates, e em
manuscritos preservados, há uma mensagem atribuída
ao próprio Sócrates, na qual ele se refere à missão
de Kardec e confirma essa ligação espiritual entre
mestre e discípulo:
Há preocupação e agitação por toda a parte;
questiona-se de forma muito mais séria se a tua obra
é a de um louco ou de um filósofo, e se os sectários
que te seguem
são alucinados deslumbrados por miragens enganosas, ou
crentes convencidos por provas incontestáveis. [...]
Continua, pois, o teu caminho pelo mar desconhecido; és
o Cristóvão Colombo que caminha com certeza em direção à
verdadeira Terra Prometida. Nos exércitos em marcha,
sempre houve, e ainda haverá por muito tempo,
retardatários, mas isso não importa! O sucesso está
garantido para a grandiosa obra para a qual chamei o meu
velho amigo, o meu querido discípulo de Atenas.
Sócrates (CDOR Lucas 1862_MM_DD, p. 19).
O espírito que animou Platão e mais tarde Kardec – não
realizou tais missões por acaso ou improviso. Ele foi
enviado por Jesus à Terra após extenso preparo,
conhecendo desde antes o planejamento de suas
reencarnações. Como veremos a seguir, ele teve
existências marcantes ao longo da história da
humanidade, compondo uma trajetória coerente e
progressiva.
Identificações
reencarnatórias atribuídas a Allan Kardec aparecem em
comunicações recebidas por médiuns independentes uns dos
outros e em dossiês que ele próprio reservou à
posteridade, orientado por Jesus, para quando não
houvesse mais contemporâneos seus, evitando ferir
susceptibilidades. […]
Na mensagem de Sócrates a expressão “meu velho amigo”
caberia a Críton, enquanto “meu discípulo de Atenas”
corresponderia mais a Platão. Por isso, não parece
adequado vinculá-las de forma definitiva a apenas um
deles.
Do tópico “Resumo da doutrina de Sócrates e Platão” da
Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo,
destacamos o último parágrafo:
Se Sócrates e Platão tivessem
conhecido os ensinos que o Cristo daria quinhentos anos
mais tarde e os que agora dão os Espíritos, não teriam
falado de outro modo. Não há nisto nada que deva
surpreender, se considerarmos que as grandes verdades
são eternas e que os Espíritos adiantados devem tê-las
conhecido antes de virem à Terra para onde as trouxeram;
que Sócrates, Platão e os grandes filósofos daqueles
tempos bem podem, depois, ter sido dos que secundaram o
Cristo na sua missão divina, e que foram escolhidos
para esse fim precisamente por se acharem, mais do que
outros, em condições de lhe compreenderem as sublimes
lições; que, finalmente, podem hoje fazer parte da
plêiade dos Espíritos encarregados de ensinar aos homens
as mesmas verdades. (grifo
nosso)
Pelo que Allan Kardec afirma ao final, compreendemos que
Sócrates e Platão, na condição de desencarnados,
poderiam ter feito parte da plêiade de Espíritos
envolvidos na Codificação Espírita.
É importante destacar que Platão, um suposto personagem
anterior do Codificador, segundo se sabe, acreditava na
reencarnação, fato que os autores de O Espiritismo
é Obra de Jesus confirmam:
Platão e Sócrates adotavam a doutrina da reencarnação,
já amplamente conhecida em sua época, admitida por
Pitágoras, indianos e egípcios. Mas que deixou Allan
Kardec surpreso foi encontrar em Platão a teoria da
escolha das provas, revelada pelos espíritos:
Nos surpreendeu estranhamente, porque o confessamos, com
toda a humildade, que o que Platão havia escrito
sobre esse assunto especial, nos era, então, totalmente
desconhecido, prova nova, entre mil, que as
comunicações que nos foram feitas não são o reflexo de
nossa opinião pessoal (RE58, set, p. 5).
No final de A
República, Platão apresenta a alegoria do Fuso da
Necessidade como parte do Mito de Er (Livro 10,
614b-621d), uma narrativa que descreve o destino das
almas após a morte e o processo de reencarnação. […]. (o
grifo do último parágrafo é do original, o restante é
nosso)
Destacamos, nestas três obras da Codificação, um ponto
de grande relevância que, não raro, escapa à atenção de
espíritas empenhados em “descobrir” reencarnações de
vultos do Espiritismo:
1ª) O Livro dos Espíritos, capítulo “VII –
Retorno à vida corpórea”, tópico “Esquecimento do
passado:
Embora em nossa vida
corpórea não nos lembremos com exatidão do que fomos […]
nas existências anteriores, temos a intuição de tudo
isso, sendo as nossas tendências instintivas uma
reminiscência do nosso passado, […]. (grifo
nosso)
2ª) O Céu e o Inferno, Primeira Parte,
capítulo “III – O céu”, item 9:
Para cada nova
existência, o Espírito traz consigo o que adquiriu
nas anteriores, em aptidões, conhecimentos
intuitivos, inteligência e moralidade. Cada
existência é assim um passo adiante no caminho do
progresso. (grifo
nosso)
3ª) Revista Espírita 1867, mês de março,
artigo “Da homeopatia nas doenças morais”:
Segundo a Doutrina
Espírita, não só o Espírito sobrevive, mas preexiste ao
corpo; não é um ser novo; quando nasce, traz as
ideias, as qualidades e as imperfeições que possuía;
assim se explicam as ideias, as aptidões e as tendências
inatas. […] (itálico
do original, negrito nosso)
Assim, se Allan Kardec tivesse sido Platão, seria de se
esperar que trouxesse em sua bagagem espiritual a crença
na reencarnação. Contudo, não nos parece que isso tenha
ocorrido. Citaremos dois artigos da Revista
Espírita 1858, os seguintes trechos:
1º) Mês de setembro, do artigo “Platão: doutrina de
escolha das provas”:
[…] Todo o mundo sabe que
a ideia da reencarnação remonta à mais alta antiguidade,
e que o próprio Pitágoras a hauriu entre os Indianos e
os Egípcios. Não é, pois, de se admirar que Platão,
Sócrates e outros, partilhassem uma opinião admitida
pelos mais ilustres filósofos da época; mas o que,
talvez, seja mais notável é encontrar, nessa época, o
princípio da doutrina de escolha das provas, ensinada
hoje pelos Espíritos, doutrina que pressupõe a
reencarnação sem a qual não teria nenhuma razão de ser.
Não discutiremos hoje essa teoria, que estava tão
longe do nosso pensamento quando os Espíritos no-la
revelaram, que nos surpreendeu estranhamente, porque o
confessamos, com toda a humildade, que o que Platão
havia escrito sobre esse assunto especial, nos era,
então, totalmente desconhecido, prova nova, entre
mil, que as comunicações que nos foram feitas não são o
reflexo de nossa opinião pessoal.
2°) Mês de novembro, do artigo “Pluralidade das
Existências Corpóreas”, a certa altura o Codificador
esclarece:
[…] quando a doutrina
da reencarnação nos foi ensinada pelos Espíritos, ela
estava tão longe do nosso pensamento, que tínhamos
feito, sobre os antecedentes da alma um sistema
diferente, de resto, partilhado por muitas pessoas. A
doutrina dos Espíritos, sob esse assunto, portanto, nos
surpreendeu; diremos mais, contrariou, porque derrubou
as nossas próprias ideias; […] não cedemos ao
primeiro choque; combatemos, defendemos a nossa opinião,
levantamos objeções, e não nos rendemos senão à
evidência, e quando vimos a insuficiência do nosso
sistema para resolver todas as questões que esse assunto
levanta.
Diante disso, surge a inevitável indagação: teria
Platão, ao retornar ao palco terreno como Allan Kardec,
esquecido sua crença na pluralidade das existências? Tal
hipótese não nos parece lógica nem racional, pois o que
seria de esperar é justamente o contrário.
2º) O Espiritismo é Obra de Jesus: 7.7 – Outras
vidas de Allan Kardec
Platão não foi a única, tampouco a primeira existência
marcante vivida pelo espírito que animou Hippolyte Léon
Denizard Rivail em benefício da humanidade. Entre as
encarnações mais conhecidas, segundo comunicações
mediúnicas, destaca-se aquela ocorrida no tempo dos
druidas, nas Gálias, onde viveu acompanhado de seu
espírito familiar, Zéfiro – o mesmo que, mais tarde, lhe
revelaria essa memória espiritual. Nessa época, seu nome
era Allan Kardec.
Foi justamente esse nome, Allan Kardec, que Rivail
adotou como pseudônimo ao lançar O Livro dos
Espíritos. Seu objetivo era claro: dissociar sua
identidade reconhecida como pesquisador e escritor nos
meios educacionais e científicos, da autoria da obra,
que pertencia aos espíritos superiores.
Importante ressaltar que Rivail jamais tornou
públicas essas revelações durante sua vida terrena.
Contudo, ele organizou um dossiê contendo documentos,
relatos e provas relacionados a essas experiências e
informações espirituais, reservando esse material à
posteridade, com o intuito de possibilitar uma futura e
mais ampla compreensão da gênese e da missão do
Espiritismo.
Em encarnações anteriores, ele esteve diretamente
envolvido nas duas primeiras revelações, exercendo
papéis essenciais para o progresso moral e espiritual da
humanidade. Essas vidas passadas foram reveladas a Allan
e confirmadas por espíritos superiores por intermédio de
diversos médiuns, independentes entre si, desde os
primeiros anos de sua atividade espírita.
O professor Rivail deixou documentos nos quais revela
ter sido:
· o
profeta Elias do Antigo Testamento,
· Platão
na Grécia Antiga,
· João
Batista, na época de Jesus
e o reformador Jan Huss
entre os séculos 14 e 15.
A questão, porém, é saber se são verdadeiras revelações
ou apenas opiniões pessoais. Para melhor compreensão,
vejamos este trecho da fala de Allan Kardec, inserido no
“Discurso de encerramento do ano social 1858-1859”,
publicado na Revista Espírita 1859, mês de
julho:
[…] Um Espírito poderia
dizer, pois, que é o Sol que gira e não a Terra, e sua
teoria não seria mais verdadeira porque vinda de um
Espírito. Que aqueles que nos supões uma credulidade tão
pueril, saibam, pois, que tomamos toda opinião
manifestada por um Espírito por uma opinião individual;
que não a aceitamos senão depois de tê-la submetido ao
controle da lógica e dos meios de investigação que a
própria ciência espírita nos fornece, meios que todos
vós conheceis. (grifo
nosso)
Podemos completar com o seguinte trecho do tópico
“Diversidade dos Espíritos” do capítulo I da obra O Que
é o Espiritismo:
Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são,
de certo modo, o reflexo do mundo corpóreo; neles se
encontram os mesmos vícios e as mesmas virtudes; há
entre eles sábios, ignorantes, pseudossábios, prudentes
e levianos, filósofos, argumentadores, cultores de
sistemas; […] cada um fala segundo suas ideias, e o
que dizem é, muitas vezes, apenas a sua opinião pessoal.
É por isso que não se deve crer cegamente em tudo o que
dizem os Espíritos. (grifo
nosso)
Eis, portanto, a orientação objetiva de Allan Kardec: “não
se deve crer cegamente em tudo o que dizem os Espíritos”.
3º) O Espiritismo é Obra de Jesus: 7.8 – Os
Espíritos revelaram a trajetória espiritual de Rivail
Em 1865, Rivail passou a utilizar uma propriedade na
Villa Ségur – conjunto residencial reservado, com
jardins internos e vegetação abundante. […]
Foi também nessa residência que ocorreu, ainda em
1865, uma relevante comunicação mediúnica. Kardec
dialogou com o espírito da Sra. Foulon, amiga
próxima do casal e também médium, que havia desencarnado
no início daquele mesmo ano.
[…].
[…] em 29 de outubro, por intermédio do médium senhor
Tailleur, em uma reunião privada, Rivail confirmou as
revelações de suas existências passadas:
KARDEC – [Os espíritos] me disseram várias vezes que eu
tinha sido Jan Huss. Diga-me, por favor, querida senhora
Foulon, o que você acha disso.
FOULON – Eu acredito.
K – Mas no seu estado espiritual e no grau de elevação
em que você se encontra, você deveria saber com certeza
se isso é verdade ou não. Não me importo com isso, mas,
como fato, gostaria muito de saber se é confirmado.
F – Temo enganar-me ao falar de mim mesmo; pergunto a
Espíritos mais avançados do que eu, e me dizem: sim,
ele foi Jan Huss.
K – E antes disso, você vê o que eu fui? Disseram-me
isso muitas vezes, mas como não há provas materiais, não
é sem interesse recolher o maior número possível de
opiniões.
F – João Batista,
o precursor.
K – E antes de João?
F – Elias, depois Platão.
K – Foi o que me disseram muitas vezes
(CDOR Kempf 1865_10_29). (grifo
nosso)
Observe caro leitor, que a viúva Foulon é sincera ao
dizer “Eu acredito”, deixando claro que se trata
apenas de sua opinião. E diante disso, vale o que
acabamos de destacar no item anterior.
Importa também ressaltar que, ao afirmar “disseram-me
isso muitas vezes”, Allan Kardec não dá como assunto
resolvido, como que passado pelo Controle Universal do
Ensino dos Espíritos.
4º) O Espiritismo é Obra de Jesus: 7.9 – Uma nova
hipótese
Por fim, as etapas desta obra desde a concepção até a
conclusão – foram amplamente debatidas com os espíritos
[no Grupo mediúnico Mateus]. Eles não apenas orientaram
a pesquisa, mas também indicaram caminhos, sugeriram
temas e ofereceram reflexões que se integraram ao
conteúdo.
O diálogo e a mensagem a seguir são, portanto, fruto
dessa interação contínua entre encarnados e
desencarnados, buscando resgatar e esclarecer aspectos
da história espiritual e filosófica que antecederam o
Espiritismo:
São Paulo, 9 de junho de 2025.
Diálogo com um espírito por meio da médium inconsciente
D.:
Pergunta:
Nessa primeira parte nós vamos revelar o que Kardec
deixou nos documentos e agora chegou o momento. Por
exemplo, que ele foi Elias, foi Platão, depois retornou
como João Batista, juntamente com Jesus. Em seguida,
vamos explicar o trabalho de Orígenes, que recuperou a
filosofia de Platão para explicar o Cristianismo, nos
primeiros séculos após Jesus.
Existe alguma informação de que Kardec tenha sido
Orígenes?
Resposta:
[4 minutos em silêncio, consultando os espíritos];
informaram que sim. Porque entre o tempo em que Orígenes
desencarna até ser Kardec foram muitos anos, e ele teve
de passar por um período inicial do Cristianismo, a
escola de Alexandria, para justificar aquilo que já
havia dito como Platão. Para fortalecer as ideias que
eram muito complexas, e não puderam ser ditas por Jesus.
Depois, viu que também não estava bem claro nos livros
de Platão. Olha que interessante, vou dizer uma coisa.
Jesus, para trazer essa nova compreensão, a nova vida, a
partir dele, contou com o apoio daqueles que poderiam
ser os comunicadores dele. Os porta-vozes de sua
doutrina.
P:
O espírito de Kardec foi um intérprete fiel em muitas
vidas.
R:
Foi, mas o próprio Jesus sabia que não poderia ser de
uma só vez e por apenas uma abordagem das ideias. Por
isso foram em vários momentos da história.
P:
Então tudo ocorreu por um planejamento?
R: Sim, claro. E foi muito minucioso.
P:
Então essa informação de que Kardec foi Orígenes se
confirma?
R: Sim, Orígenes explicou os ensinamentos de Jesus de
uma forma condizente. Estabeleceu uma transição do
pensamento de Jesus dentro do contexto de uma
compreensão filosófica mais profunda. Inclusive para que
isso não fosse destruído pelos desvios místicos que
estavam ocorrendo.
P: Podemos constatar, por exemplo, que o líder gnóstico
Basilides estava destruindo, enquanto Orígenes, ligado
ao verdadeiro Cristianismo, estava renovando o
entendimento, para preparar a chegada do Espiritismo
como o Consolador prometido.
R: Exato. Orígenes escreveu para que a doutrina de Jesus
fosse considerada, e não destruída. Esse é um processo
de recuperação ainda em andamento, que não vai terminar
agora.
Em seguida, o espírito fez o seguinte relato:
Platão retorna como Orígenes
Nos primeiros séculos do Cristianismo, surgiam
interpretações místicas e dogmáticas que distorciam o
sentido das parábolas e alegorias de Jesus.
Nesse cenário, Orígenes deu continuidade ao Cristianismo
Filosófico iniciado por seu mestre, Clemente de
Alexandria.
Segundo a tradição espiritualista, Platão teria
reencarnado como Orígenes para preservar a doutrina do
Cristo até a chegada do Consolador prometido. Sua missão
consistia em evitar que os ensinamentos de Jesus se
perdessem nos desvios e disputas da época. O longo
processo entre a desencarnação de Platão e seu retorno
como Allan Kardec atravessou muitos séculos, exigindo
uma etapa intermediária.
Essa etapa foi justamente a encarnação como Orígenes, na
qual ele pôde escrever e ensinar de modo a justificar e
fortalecer as ideias complexas que já havia defendido em
Atenas. Reconhecia que, em sua obra anterior, nem sempre
fora suficientemente claro, e buscou então oferecer uma
compreensão mais ampla e fundamentada. A presença
espiritual de Jesus sempre amparou aqueles que seriam
comunicadores e intérpretes de suas alegorias –
verdadeiros porta-vozes de sua palavra.
Ciente de que a educação da humanidade não poderia ser
realizada de uma só vez nem por um único método, o
Cristo articulou um plano gradual, desenvolvido em
etapas sucessivas. Platão surgiu como precursor das
ideias cristãs; séculos mais tarde, Orígenes retomou
esses princípios na era cristã; por fim, Kardec fundou o
Espiritismo. Em todas essas etapas, ciência e filosofia
se uniram para completar e esclarecer a mensagem moral
do Cristo.
Um espírito.
Grupo mediúnico Mateus.
São Paulo-SP, 9 de junho de 2025.
A hipótese de Orígenes
ajuda a compreender o fio que une Platão a Kardec na
preservação do Cristianismo. Mas a missão desse
espírito não começou ai suas raízes remontam ainda
mais longe, ao tempo de Israel, quando apareceu sob a
figura de Elias. Foi nesse momento que se manifestou
pela primeira vez na Terra como profeta e
reformador, inaugurando a dimensão social e espiritual
de uma obra que atravessaria séculos. (nesse
último parágrafo o grifo é nosso)
Essa é a primeira vez que encontramos menção ao filósofo
Orígenes como um personagem anterior de Allan Kardec.
Além disso, surpreendeu-nos a afirmação de que sua
primeira encarnação do Codificador na Terra teria sido
como o profeta Elias. É provável que parte do movimento
espírita – especialmente o grupo comumente conhecido
como “chiquistas” – não receba bem essa hipótese.
Cabe-nos ainda apresentar a seguinte explicação dada
pelos autores de O Espiritismo é Obra de Jesus,
que julgamos levará os leitores a uma interpretação
equivocada:
Por outro lado, é natural que alguém pergunte: se Kardec
sabia, desde 1858, que havia sido Platão, por que
publicou mensagens espirituais assinadas com esse nome?
Ele próprio respondeu a essa questão na Revista
Espírita de 1865, ao tratar da identidade dos
espíritos historicamente conhecidos. Kardec utilizou
exatamente o nome de Platão como exemplo e explicou:
Aqueles que chegaram a
uma certa elevação formam famílias similares pelo
pensamento e o grau de adiantamento, dos quais todos os
membros estão longe de nos serem conhecidos. Se um deles
se manifesta, o fará sob um nome nosso conhecido, como
indício de sua categoria. Evocando-se Platão por
exemplo, pode ocorrer que ele responda ao chamado; mas
se não pode, um Espírito da mesma classe responderá por
ele: este será seu pensamento, mas não sua
individualidade (RE65, fev, p. 9). (grifo
do original)
Várias vezes vimos confrades explicar a manifestação de
Platão pela possibilidade de um Espírito ter se
apresentado em seu lugar e expressar o seu pensamento.
Entretanto, o texto de Allan Kardec citado como apoio
não afirma exatamente isso. O detalhe que muitos deixam
escapar é que a substituição só ocorre quando o
Espírito evocado não pode comparecer; nesse caso
outro vem em seu lugar, ou seja, isso não vale para
as manifestações espontâneas que é exatamente o caso das
de Platão bem como as de João Batista e a de Orígenes.
Todo estudioso do
Espiritismo sabe que entre as várias assinaturas dos
autores da mensagem constante em de “Prolegômenos” ,
em O Livro dos Espíritos, a de Platão está no
meio. Na questão 1009 ,
uma das mensagens também leva a sua assinatura. É
importante relembrar que, além dessas, há mais quatro
mensagens na Revista Espírita em reuniões
da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – SPEE:
1ª) Comunicação
espontânea na sessão realizada em 18 de novembro de
1859 ;
2ª) Comunicação
espontânea na sessão de 20 de janeiro de 1860 ;
3ª) Ditado espontâneo na
sessão de 03 de fevereiro de 1860, assinada em conjunto
com Moisés e Julien ;
4ª) Em comunicação
coletiva na sessão de 1º de novembro de 1867 .
Na Revista Espírita
1860, mês de março, há registro da ata da sessão
realizada em 27 de janeiro de 1860 na Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, na qual temos esta
informação: “3º Dois ditados espontâneos foram
obtidos simultaneamente; o primeiro de Abeilard, pelo
senhor Rose, o segundo de João, o batista, pelo
Senhor Colin.” (grifo
nosso)
Na Revista Espírita
1861, vamos encontrar a “Epístola de Erasto aos
Espíritas lioneses”, lida em 19 de setembro de 1861, na
qual ele designa João Batista como “eminente guia
espiritual” .
Na Revista Espírita
1862, temos informação de que o Espírito João
Batista foi o guia protetor espiritual da Sociedade
Espírita de Saint-Jean d'Angély, onde sempre se
manifestava por evocação de seus membros.
Em novembro de 1862,
ainda nessa obra, no artigo “Os mistérios da Torre
Saint-Michel de Bordeaux” ,
temos relatado perguntas e respectivas respostas ao
Espírito Guilhaume Remone (grande parte delas), à sua
mulher e, por fim, ao guia espiritual São João Batista.
Guilhaume, respondendo à
pergunta sobre onde se encontrava a sua mulher, disse: “Não
sei o que ela se tornou, mas vos será fácil disso se
informar, junto de vosso guia espiritual, São João
Batista.” (grifo
nosso)
As questões dirigidas a
São João Batista, guia espiritual, foram: 29 a 35, 40 a
46, 54 a 56 e 83 a 84 ,
perfazendo um total de dezenove perguntas.
Tendo a Sociedade Espírita de Saint-Jean d'Angely como
guia e protetor João Batista, então, a coisa torna-se
mais estranha ainda, pois teríamos um Espírito encarnado
exercendo essa tarefa, algo nunca visto em obras da
Codificação.
Na Revista Espírita
1859, mês de dezembro, no “Boletim da Sociedade
Parisiense de Estudos” da sessão do dia 22 de setembro,
há registro de uma manifestação espontânea de Orígenes
através da senhoria L. J…
Ora, como é de conhecimento de todos nós que estudamos
os fascículos da Revista Espírita, Allan Kardec
presidia as reuniões da SPEE. Se nelas ocorreram
manifestações desses três personagens – Platão, João
Batista e Orígenes, e se os supusermos como
reencarnações anteriores do Codificador, estaríamos
diante de uma manifestação de Espírito de pessoa viva –
e não, como alguns afirmam, de uma manifestação anímica.
Entretanto, tais ocorrências não devem sequer ser
consideradas manifestações de Espírito de pessoa viva,
pelo simples motivo de que, para esse tipo de
manifestação ocorrer, a pessoa cuja alma se manifesta
jamais estará em estado de vigília, mas sim dormindo ou
em estado de êxtase, conforme se encontra na
Codificação.
Diante disso, cabe aos que defendem a hipótese de
manifestações de pessoas vivas a obrigação de demonstrar
que, em todas as ocasiões em que qualquer um dos
personagens se manifestou, o Codificador se encontrava
em condições que permitissem a emancipação da alma. Só
assim poderão provar que as suas opiniões não se baseiam
em “achismos”, “confidências” ou “revelações místicas”.
Sobre esse tema temos um
ebook, produto de pesquisa mais aprofundada, intitulado Manifestações
de Espírito de pessoa viva (em que condições elas
ocorrem), disponível em nosso site .
Por essa razão, aqui não estenderemos mais nossos
argumentos; pois esses foram desenvolvidos nele.
Na Revista Espírita
1869, mês de setembro ,
foi publicado o artigo “Precursores do Espiritismo – Jan
Huss”, do qual extraímos:
Evocado por um de nossos médiuns, o Espírito de João
Huss deu a seguinte comunicação,
que nos apressamos em mostrar aos nossos leitores, bem
como uma instrução do Sr. Allan Kardec sobre o mesmo
assunto, porque nos parecem bem caracterizar a
natureza do homem eminente, que se ocupou com tanto
ardor, desde o século quinze, a preparar os elementos da
emancipação e da regeneração filosóficos da Humanidade. (grifo
nosso)
A mensagem de Jan Huss
ocorreu em 14 de agosto de 1869 e
a de Allan Kardec em 17 de agosto de 1869 .
Portanto, trata-se do mesmo Espírito manifestando-se
como dois personagens. É importante ressaltar que
diferença das manifestações anteriores é que, nessa
ocasião, o Espírito se apresentou como Jan Huss, já que
foi esse personagem quem foi evocado; a dada como Allan
Kardec, por sua vez, foi espontânea.
Diante de todos os elementos apresentados, entendemos
que os supostos personagens anteriores de Allan Kardec,
listados na obra em análise, devem ser considerados
apenas como hipóteses de estudo, nunca como afirmações
definitivas. Ainda que tais conjecturas possam encontrar
respaldo em opiniões de determinados Espíritos, carecem
da comprovação necessária para que sejam reconhecidas
como parte do Controle Universal do Ensino dos
Espíritos. Por isso, não podem ser tomadas como verdades
absolutas, mas apenas como possibilidades sujeitas à
análise crítica e ao exame cuidadoso dos fatos.
Referência bibliográfica:
FIGUEIREDO, P. H. et al. O Espiritismo é Obra de
Jesus. Guarulhos (SP): FEAL, 2025.
KARDEC, A. O Céu e o Inferno. Brasília: FEB,
2013.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Brasília: FEB, 2013.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. Brasília: FEB,
2013.
KARDEC, A. O Que é o Espiritismo. Rio de Janeiro:
FEB, 2001.
KARDEC, A. Revista Espírita 1858. Araras (SP):
IDE, 2001.
KARDEC, A. Revista Espírita 1859. Araras (SP):
IDE, 1993.
KARDEC, A. Revista Espírita 1860. Araras (SP):
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KARDEC, A. Revista Espírita 1861. Araras (SP):
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KARDEC, A. Revista Espírita 1867. Araras (SP):
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KARDEC, A. Revista Espírita 1869. Brasília: FEB,
2009.
Internet:
SILVA NETO SOBRINHO, P. Manifestações de Espírito de
pessoa viva (em que condições elas ocorrem),
disponível em: Manifestações
de pessoas vivas. Acesso
em: 22 nov. 2025.
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· O
filósofo Platão foi uma das reencarnações de Allan
Kardec?