Pá de cal no Relativismo moral
A filosofia moral reconhece duas posições
ideologicamente bem definidas: o Relativismo
moral e o Realismo moral.
Segundo o Relativismo moral, a ideia de que o
que é “certo” ou “errado” depende do contexto
cultural, histórico ou individual. Não existem
valores morais universais válidos para todos os
povos e tempos.
O Realismo moral, por sua vez, assume a posição
de que existem verdades morais objetivas,
independentes das opiniões ou costumes humanos.
Certas coisas são moralmente certas ou erradas
em si mesmas, seja qual for a cultura ou época.
Por exemplo, o realista diria que torturar
inocentes ou escravizar pessoas é errado,
independentemente de haver uma sociedade que a
considere aceitável.
Em síntese, para o relativista moral o certo e o
errado variam conforme cultura, tempo ou
indivíduo. Para o realista moral o certo e o
errado existem objetivamente, mesmo que culturas
discordem.
Grande parte dos cientistas sociais ainda crê na
inexistência de princípios morais universais.
Kardec posicionou-se fortemente a favor do
Realismo moral, afirmando no primeiro capítulo
do Evangelho segundo o Espiritismo, que a
Lei divina é universal, de todos os tempos e
lugares. Variável é apenas a lei dos homens.
Uma posição recente que põe por terra os
argumentos daqueles que ainda defendem o
relativismo moral veio de um dos expoentes da
antropologia mundial, o professor de Oxford,
Harvey Whitehouse, em um livro recente, Herança.
Segundo ele, estudos liderados pelo antropólogo
Oliver Scott Cury demonstraram que grande parte
da moralidade humana está enraizada em uma única
preocupação: cooperação. Para ser mais
específico, sete princípios de cooperação são
considerados moralmente bons em todos os lugares
e formam a base de uma bússola moral universal.
São eles: ajudar os parentes, ser leal ao grupo,
retribuir favores, ser corajoso, demonstrar
deferência aos superiores, compartilhar coisas
de maneira justa e respeitar a propriedade
alheia.
Essa nova ideia foi bastante significativa
porque, até então, parecia bastante razoável
afirmar – como os relativistas culturais sempre
fizeram – que não existem valores universais
morais, e cada sociedade teve que criar sua
própria bússola moral única. Segundo Whitehouse,
não é o caso. Isso porque essas intuições morais
evoluíram devido a seus benefícios para a
sobrevivência e reprodução. A teoria da
“moralidade como cooperação” propõe que, juntos,
esses sete princípios de cooperação compõem a
essência do pensamento moral em todos os
lugares. No final das contas, toda ação humana
que provoca um julgamento moral pode ser
diretamente atribuída a uma transgressão contra
um ou mais desses princípios cooperativos. Ele
comenta que essa teoria precisava ser
empiricamente demonstrada. Como, então seria
possível estabelecer que esses sete princípios
são de fato universais?
Ele esclarece:
“A resposta está em um estudo sem precedentes
sobre o raciocínio moral dos seres humanos ao
redor do mundo. Eu e meus colaboradores reunimos
uma amostra de sessenta sociedades que foram
objetos de extenso estudo por antropólogos. A
principal conclusão aqui é que os sete
princípios cooperativos parecem ser considerados
moralmente bons em todos os lugares”.
É certo que o Espiritismo deve caminhar com a
ciência, mas o que se vê, às vezes, é o
contrário: a ciência caminhando com o
Espiritismo.