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por Ricardo Baesso de Oliveira

 

Pá de cal no Relativismo moral


A filosofia moral reconhece duas posições ideologicamente bem definidas:  o Relativismo moral e o Realismo moral.

Segundo o Relativismo moral, a ideia de que o que é “certo” ou “errado” depende do contexto cultural, histórico ou individual.  Não existem valores morais universais válidos para todos os povos e tempos.

O Realismo moral, por sua vez, assume a posição de que existem verdades morais objetivas, independentes das opiniões ou costumes humanos. Certas coisas são moralmente certas ou erradas em si mesmas, seja qual for a cultura ou época. Por exemplo, o realista diria que torturar inocentes ou escravizar pessoas é errado, independentemente de haver uma sociedade que a considere aceitável.

Em síntese, para o relativista moral o certo e o errado variam conforme cultura, tempo ou indivíduo. Para o realista moral o certo e o errado existem objetivamente, mesmo que culturas discordem.

Grande parte dos cientistas sociais ainda crê na inexistência de princípios morais universais.

Kardec posicionou-se fortemente a favor do Realismo moral, afirmando no primeiro capítulo do Evangelho segundo o Espiritismo, que a Lei divina é universal, de todos os tempos e lugares. Variável é apenas a lei dos homens.

Uma posição recente que põe por terra os argumentos daqueles que ainda defendem o relativismo moral veio de um dos expoentes da antropologia mundial, o professor de Oxford, Harvey Whitehouse, em um livro recente, Herança.

Segundo ele, estudos liderados pelo antropólogo Oliver Scott Cury demonstraram que grande parte da moralidade humana está enraizada em uma única preocupação: cooperação. Para ser mais específico, sete princípios de cooperação são considerados moralmente bons em todos os lugares e formam a base de uma bússola moral universal. São eles: ajudar os parentes, ser leal ao grupo, retribuir favores, ser corajoso, demonstrar deferência aos superiores, compartilhar coisas de maneira justa e respeitar a propriedade alheia.

Essa nova ideia foi bastante significativa porque, até então, parecia bastante razoável afirmar – como os relativistas culturais sempre fizeram – que não existem valores universais morais, e cada sociedade teve que criar sua própria bússola moral única. Segundo Whitehouse, não é o caso. Isso porque essas intuições morais evoluíram devido a seus benefícios para a sobrevivência e reprodução. A teoria da “moralidade como cooperação” propõe que, juntos, esses sete princípios de cooperação compõem a essência do pensamento moral em todos os lugares. No final das contas, toda ação humana que provoca um julgamento moral pode ser diretamente atribuída a uma transgressão contra um ou mais desses princípios cooperativos. Ele comenta que essa teoria precisava ser empiricamente demonstrada. Como, então seria possível estabelecer que esses sete princípios são de fato universais?

Ele esclarece:

“A resposta está em um estudo sem precedentes sobre o raciocínio moral dos seres humanos ao redor do mundo. Eu e meus colaboradores reunimos uma amostra de sessenta sociedades que foram objetos de extenso estudo por antropólogos. A principal conclusão aqui é que os sete princípios cooperativos parecem ser considerados moralmente bons em todos os lugares”.

É certo que o Espiritismo deve caminhar com a ciência, mas o que se vê, às vezes, é o contrário: a ciência caminhando com o Espiritismo.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita