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por Eder Andrade

 

Limitações do Espírito


Todos nós somos portadores de limitações que nos acompanham há várias encarnações como sombras que seguem nossa jornada evolutiva.

Elas refletem nosso atraso espiritual assim como nossa dificuldade em superar questões pessoais. Em alguns casos são problemas tão antigos quanto nossa existência, pois fazem parte até mesmo das nossas crenças e tradições transgeracionais.

Essas limitações se confundem com nossa história de vida, pois não conseguimos superar nossos bloqueios e atribuímos à nossa maneira de ser. Na verdade podem estar atreladas a questões de escolhas equivocadas da nossa parte, feitas em algum momento de uma existência passada.

Somos portadores de estruturas de pensamento muito empedernidas, cristalizadas por preconceitos e que para serem modificadas envolvem um forte desejo de transformação e mudança.

Segundo Emmanuel, muitos dos nossos erros estão relacionados ao nosso atraso moral e não propriamente a um sentimento de perversidade da nossa parte, segundo ele, somos reféns das nossas limitações e ignorância:

“Recorda que há mais ignorância que maldade, em torno de teu destino”. 1

Se o ser humano tivesse uma maior compreensão da sua realidade espiritual, cometeria menos erros, pois faria escolhas menos equivocadas. Dessa forma cometeria menos imprudências, uma vez que seria capaz de antever as consequências das suas escolhas.

É muito difícil admitir que deveríamos rever nossa história e nossas verdades, principalmente quando elas já se tornaram paradigmas da nossa existência, ou seja, uma crença quase inquestionável.

“No crepúsculo da civilização em que rumamos para a alvorada de novos milênios, o homem que amadureceu o raciocínio supera as fronteiras da inteligência comum e acorda, dentro de si mesmo, com interrogativas que lhe incendeiam o coração.

À margem da senda em que jornadeia, surgem os escuros estilhaços dos ídolos mentirosos que adorou e, enquanto sensações de cansaço lhe assomam à alma enfermiça, o anseio da vida superior lhe agita os recessos do seu, qual braseiro vivo do ideal, sob a espessa camada de cinzas do desencanto.” 2

A grande jornada entre a antiguidade e a sociedade moderna exigiu profundas mudanças e transformações, exigindo a destruição de antigos modelos e renovação de velhas crenças. Tradições que mantém a cultura ancorada em um passado obsoleto e ultrapassado, impedindo que novas ideias e concepções possam ser aceitas. O Velho Mundo deveria dar espaço para uma nova realidade cultural e científica, era o advento da Idade Moderna.

Essa visão épica dos grandes descobrimentos reflete o nosso atraso enquanto pensadores, pois ainda estamos com um pé na Idade Média e esse fato dificulta nossa aceitação de novas ideias e conceitos. Vivemos no presente, mas nossa estrutura de pensamento, em alguns aspectos ainda é ultrapassada.

Sem o paralelo da visão espiritual oferecida por Emmanuel, às vezes fica difícil compreender na íntegra a nossa dificuldade íntima evolutiva:

“De portas abertas à glória do ensino, a Terra, nas linhas da atividade carnal, é, realmente, uma universidade sublime, funcionando, em vários cursos e disciplinas, com dois bilhões de alunos, aproximadamente, matriculados nas várias raças e nações.

Para a maioria dessas criaturas, necessitadas de experiência nova e mais ampla, a reencarnação não é somente um impositivo natural, mas também um prêmio pelo ensejo de aprendizagem”. 2

O homem se assusta com o novo, as mudanças geram desconfianças, pois nossas crenças nos prendem a valores atávicos tanto familiares como sociais, principalmente devido ao medo de nos tornarmos excluídos do grupo social em que vivemos.

O conhecimento da história, associada a visão espiritual de Emmanuel, é reforçado pela psicografia de Chico Xavier, onde interessantes passagens nos ajudam a compreender o processo de renovação e transformação da Idade Moderna:

O comércio se desloca das águas estreitas do Mediterrâneo para as grandes correntes do Atlântico, procurando as estradas esquecidas para o Oriente. Para facilitar a obra extraordinária dessa imensa tarefa de renovação, os auxiliares do Divino Mestre conseguem ambientar na Europa antigas invenções e utilidades do Oriente, como a bússola para as experiências marítimas e o papel para a divulgação do pensamento”3

A evolução intelectual e moral dos espíritos vem passando por grandes ciclos evolutivos ao longo da História da Humanidade terrestre. Desde a Idade da Pedra Lascada mais remota da Antiguidade Oriental, até o atual século XXI.

Encontramos indivíduos visionários capazes de perceber as tênues diferenças entre a sombra e a luz, enquanto outras pessoas permanecem endurecidas em seus pontos de vista. Uma forte cultura atávica tradicional familiar ou até mesmo social, que estabelece um conjunto de crenças e ideias que formam a base da nossa visão de mundo, influenciando como interpretamos a realidade e tomamos decisões.

O rompimento com esse modelo não é uma questão de lógica, às vezes reflete nossa dificuldade de perceber uma realidade que está além do conhecimento convencional.

Um bom exemplo foi no dia 17 de fevereiro de 1600, uma quinta-feira ensolarada, Roma presenciou um espetáculo dantesco. Centenas de pessoas lotaram o Campo dei Fiori, uma praça no centro da cidade, para assistir à morte na fogueira de Giordano Bruno, por ordem da Santa Inquisição, quando disse em suas últimas palavras:

“...que haja nesse espaço inúmeros corpos como nossa Terra e outras terras, nosso Sol e outros sóis, todos os quais executam revoluções nesse espaço infinito”. 4

 

Referências:

1) Xavier, Francisco Cândido; Vida e Caminho (1994) Espíritos Diversos; Carta ao Ano Novo (Emmanuel); Ed. GEEM.

2) Xavier, Francisco Cândido; Roteiro (1952); Cap. 1 - O Homem ante a vida; Cap. 9 - O grande Educandário (Emmanuel); Ed. FEB.

3) Xavier, Francisco Cândido; A Caminho da Luz (1938); Cap XX – Renascença do Mundo – it.: Movimentos Regeneradores; Ed. FEB.

4) Wikipédia (Enciclopédia Livre) - “Condenação à morte de Giordano Bruno, em Roma”.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita