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O poeta, cordelista, trovador e palestrante
Marciano Batista de Medeiros (foto) é
natural de Santo Antônio (RN). Membro fundador
da Academia Norte-rio-grandense de Literatura de
Cordel, faz parte da Academia de Letras e Artes
do Agreste Potiguar, é um integrante da Academia
Literária Virtual do Clube da Poesia Nordestina
e é sócio do Instituto Histórico e Geográfico do
Rio Grande do Norte. Tem participado de vários
Jogos Florais de trovas, promovidos pela União
Brasileira de Trovadores, conquistando muitas
classificações. É bicampeão do Festival Vamos
Fazer Poesia e já venceu vários concursos de
literatura de cordel, inclusive em São Gonçalo
(RJ). Também faz palestras sobre temas espíritas
e voltados para a cultura popular. Atualmente
reside em Parnamirim, uma histórica cidade do
Rio Grande do Norte.
Como se tornou espírita?
Eu sempre tive umas intuições de que o
Espiritismo traria uma proposta mais racional
para encarar a vida. Ainda menino no interior do
Rio Grande do Norte tive umas visões mediúnicas,
nesse tempo eu nunca tinha ouvido falar em
Espiritismo, mas uma prima teve problemas de
possessão espiritual e eu só faltava morrer de
medo, achando que a figura de Satanás entrava no
corpo dela e a deixava com tanta força, que não
tinha homem que a conseguisse segurar. Na
realidade foi muito depois que eu fiz essas
interpretações, pois no início da década de
1980, nada sabia sobre esses temas. Ela foi
levada para um médium em pequena cidade vizinha,
melhorou e depois tornou-se evangélica, mas
fiquei com essa lembrança prática, a de
testemunhar um mediunismo natural. Depois viemos
morar em Parnamirim e a partir de 1988 trabalhei
de engraxate na Base Aérea de Natal que fica em
Parnamirim, ali um tenente da aeronáutica
chamado Roberto Cardoso Pedro me deu um exemplar
de O Livro dos Espíritos e foi assim que
tudo começou...
E o que mais lhe chamou atenção nesse
conhecimento?
A partir do tesouro recebido, o livro-base da
codificação, eu me interessei por eventos
espíritas e já saído da Base Aérea, em meados da
década de noventa do outro milênio, tive a
oportunidade de participar de um fórum espírita
promovido por Jacó Melo em Natal. Inda me lembro
do tema que era a morte, então fui assistir e o
primeiro grande orador espírita que pude ouvir
se chama José Raul Teixeira, o escutei até antes
de Divaldo Franco. Eu nunca tinha ouvido alguém
falar das coisas de Deus daquela maneira e com
tanto poder de convencimento. Depois noutros
eventos pude ouvir Izaias Claro, Reynaldo Leite,
Eliseu Florentino da Mota Júnior, Richard
Simonetti, Ary Quadros Teixeira, Clóvis Nunes e
Djalma Argolo, entre outros oradores. Assim
passei a comparecer anualmente à palestra de
Divaldo Franco, promovida em Natal pela
Federação Espírita do Rio Grande do Norte.
O que gostaria de destacar da literatura
espírita?
O livro Paulo e Estêvão, que certamente
daria para gravar vários filmes, em Hollywood ou
na Netflix. Para mim é o romance que me causou o
maior impacto, pela beleza da narrativa e a
preponderância de um português castiço. Chorei
várias vezes ao ler este trabalho de Emmanuel,
psicografado pelo Chico Xavier. E
concomitantemente cito as Memórias do Padre
Germano, editadas por Amalia Domingo Soler.
Há muitos outros, mas estes dois trabalhos
permanecem vivos em meu ser a todo momento.
Quanto aos outros, posso citar o livro Nosso
Lar, que foi feito com uma didática muito
boa, em que o espírito André Luiz organizou a
narrativa em 50 capítulos curtos, que não
ultrapassam 6 páginas, a maioria com 4 ou 5. Mas
a descrição dos ambientes é tão bela, o autor
foi tão habilidoso, que realmente nos coloca
dentro da comovente história de um médico
materialista que, já desnudo da matéria
orgânica, acordou para as leis da eternidade.
De suas vivências espíritas, o que mais lhe
marcou?
Ter conhecido pessoalmente Divaldo Pereira
Franco e ter escrito a sua biografia em versos
de cordel. A então presidente da federação
espírita do Rio Grande do Norte, Sandra Borba,
me apoiou integralmente e assim consegui
entregar um folheto com o referido trabalho a
Divaldo, após sua palestra no Palácio dos
Esportes, ocorrida no ano de 2009. Depois
aprimorei o texto e cheguei a trocar três ou
quatro e-mails com Divaldo, que releu o texto
aperfeiçoado e afirmou ter gostado muito.
De sua atividade de literatura de cordel, como
foi esse interesse?
O cordel é um achado existencial para mim, com o
cordel viajei, conheci Maceió. Fiz uma biografia
do menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela, em
2010. Já escrevi sobre Eurípedes Barsanulfo e
estou agora com mais maturidade preparando um
material histórico sobre a Revolução
Pernambucana, que espero publicar oportunamente.
Fale-nos também de seu trabalho editorial.
Já flertei com o jornalismo espírita e, no tempo
que o arco-íris era preto e branco, acho que
cheguei a publicar um artigo na Revista
Internacional de Espiritismo, com ideias que eu
refaria hoje, mas isso me marcou. Sempre ouvi
falar nos espíritas de Matão, o primeiro deles:
Cairbar Schutel, através da leitura de uma
biografia escrita por Leopoldo Machado, me tomei
de respeito por este baluarte do Espiritismo em
terras brasileiras. E mais recente pude conhecer
a você, o novo amigo Orson Peter Carrara. E
através dos recursos da modernidade, estamos
fazendo agora um grande intercâmbio cultural.
Como tem sido sua atuação na divulgação
espírita?
Sempre atuei desde o início, no extinto Centro
Espírita Adolfo Campelo, que existiu em
Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Depois na
Associação Espírita Trabalhadores da Última
Hora, grupo Espírita Irmã Scheila e Irmãos do
Caminho, entre outros. Nessas atividades fui a
várias localidades do meu estado: Pau dos
Ferros, Caicó, Assú, Touros, Macaíba e
Parnamirim, porém depois da pandemia minha
agenda diminuiu bastante, e hoje estou me
reorganizando e revisitando algumas
instituições.
Qual o grande segredo da literatura de cordel?
Ou, em outras palavras, como é construir um
texto nesse estilo literário?
O cordel é de origem ibérica e encontrou um
ninho perfeito no Nordeste Brasileiro, desde o
velho e inesquecível mestre paraibano Leandro
Gomes de Barros, aos tempos da
contemporaneidade, essa literatura permanece
inapagável. Se há um segredo para a arte do
cordel? Talvez seja o sentimento poético — que
lhe traz sem dúvida alguma, um colorido muito
especial.
Algo mais que gostaria de acrescentar?
Foi uma satisfação responder a este
questionário. Uma honra gigantesca também
estabelecer um vínculo de amizade com você, meu
caro Orson Carrara. Desejo que suas atividades
de comunicador espírita produzam muito mais
frutos e que a Inteligência Suprema do Universo
continue lhe dando eflúvios da mais produtiva
inspiração.
Suas palavras finais.
Não há palavras que possam definir a minha
satisfação espiritual — por começar a trocar
ideias com os guerreiros do bem, alistados no
Exército da Fraternidade em Matão e adjacências.
O mestre potiguar Luís da Câmara Cascudo já
dizia que o povo brasileiro é um povo
eminentemente sentimental; e é dessa
sentimentalidade que eu que me alimento. Então
tudo quanto pertence à brasilidade fala
ardentemente a minha alma. Fico comovido ao
escutar um repentista nordestino e a ouvir um
cantor sertanejo de raiz, principalmente de São
Paulo. Quem conhece um pouco da história de
Emmanuel, sabe por qual motivo ele ajudou a
batizar esse estado, com o nome do apóstolo dos
gentios, pois quando o sacerdote português
esteve encarnado no Brasil — na roupagem do
Padre Manuel da Nóbrega, trouxe
inconscientemente recordações do passado, quando
houvera sido Públio Lentulus e Nestório em
seguida, sempre reverenciando a memória de Paulo
de Tarso, que culminou com o nome do apóstolo
dos gentios, colocado no eminente estado do
Sudeste brasileiro. E por fim deixo aqui um
preito de reverência a todos os paulistas,
paulistanos e demais brasileiros, para que
possam prosseguir semeando os ideais da
imortalidade.

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