Cruz e cruzes
“Eles tomaram a
Jesus; e ele
próprio
carregando a sua
cruz, saiu para
o lugar chamado
Calvário, e em
hebraico
Gólgota, onde o
crucificaram e
com ele outros
dois, um de cada
lado e Jesus no
meio. Pilatos
escreveu também
um título e o
mandou colocar
no alto da cruz;
nele estava
escrito: Jesus
Nazareno, rei
dos judeus.” (João,
19:17-19.)
Cairbar Schutel,
no livro Parábolas
e Ensinos de
Jesus,
aborda esse tema
usando o título
“cruz e cruzes”,
cuja passagem
evangélica
identifica a
cruz do Mestre
Jesus e outras
duas dos que
foram
crucificados ao
seu lado, em
aparente
semelhanças de
sentidos para
simbolizar
dores,
sofrimentos,
suplícios e
martírios, mas
com distinção
entre uma e as
outras duas em
contextos
específicos de
ensinamentos e
exemplos para as
nossas vidas.
Cruz
Cairbar Schutel
esclarece que a
cruz no singular
serviu de
instrumento ao
suplício do
Mestre Jesus,
como símbolo de
torturas e
desventuras,
emblema da
malícia humana,
invento satânico
do ódio e da
vingança, que
massacram corpos
e espezinham
almas.
Essa cruz
traiçoeira que é
mãe de todas as
outras cruzes,
falseando a
justiça e a
misericórdia de
Deus,
representando a
maldição do
atraso de mais
de dois mil anos
de progresso
humano,
esmagando
aqueles que
cultuam os
valores
cristãos.
O Cristo tomou e
carregou a sua
cruz sem queixa,
deixando-se
sacrificar, sem
fazer qualquer
reprovação aos
que o haviam
condenado e
abandonado.
Ele testemunhou,
mediante exemplo
de resignação,
obediência e
submissão, como
devemos agir
diante da
vontade de Deus.
Essa cruz,
símbolo da fé
cristã,
representa o
caminho a ser
seguido em
direção da
evolução moral e
espiritual.
Ao longo do
tempo, essa cruz
deixa de ter o
sentido de
sacrifício, dor
e morte para
assumir o
símbolo de fé,
confiança,
coragem, consolo
e esperança na
ressurreição do
Espírito imortal
para os
verdadeiros
valores da vida
com Deus no
coração.
O Cristo,
aceitando a cruz
do calvário pelo
amor a Deus e à
Humanidade,
revelou quão
importante
adquirir e
praticar os
atributos, os
valores e as
virtudes dos
bens celestiais
para incluir na
bagagem
evolutiva rumo à
perfeição.
Jesus é modelo e
guia de
perfeição moral
que devemos
seguir como
roteiro de vida
pelos seus
ensinamentos e
exemplos
deixados na
Terra.
Cruzes
A respeito de
cruzes, Jesus
disse: “Se
alguém quiser
seguir meus
passos, renuncie
a si mesmo, tome
a sua cruz e
siga-me”,
ensinando que
devemos suportar
as dificuldades
da vida,
testemunhando a
própria fé, pois
aquele que
quiser salvar a
vida e os seus
bens materiais,
rejeitando o
Evangelho,
perderá as
vantagens do
reino dos Céus.
O Mestre convida
todos à renúncia
de si mesmo,
carregar a sua
cruz e seguir
seus passos com
esforço,
trabalho e
sacrifício em
direção ao Pai.
Carregar a cruz
que construímos,
representada
pelas provas,
expiações,
dificuldades,
desafios, dores
e sofrimentos,
que surgem como
oportunidades de
aprendizado,
renovação,
transformação e
regeneração no
processo
evolutivo para a
correção de
rumo.
Existem
situações que
consideramos
provas difíceis,
cruzes pesadas
demais pela
dificuldade em
aceitá-las, tais
como: conflitos
na família,
preconceitos na
sociedade,
doenças
prolongadas,
injustiça
aparente,
ingratidão dos
amigos,
dificuldade
financeira etc.
No entanto, Deus
não coloca
fardos pesados
em ombros
fracos, ou seja,
não nos coloca
dificuldades e
sofrimentos
maiores do que
possamos
suportar. O
fardo é
proporcional às
nossas forças,
assim como a
recompensa
será conforme a
nossa
resignação,
coragem e
mérito.
É preciso
abandonar os
vícios reinantes
para se
converter
em discípulo do
Senhor.
Vinicius, no
livro Nas
pegadas do
Mestre, em
“As três
cruzes”, ensina:
“Naquele dia
três cruzes
foram levantadas
no cimo do
Calvário. A do
meio sustinha
Jesus, o Cristo,
cujo crime, como
é sabido,
consistiu em
ensinar ao povo
a doutrina da
igualdade de
direitos perante
a lei natural e
divina, que mana
de Deus. As
laterais
justiçavam,
respectivamente,
à direita e à
esquerda, o bom
e o mau ladrão.
Esses três
supliciados são,
ao mesmo tempo,
três realidades
históricas e
três símbolos.
Jesus
Crucificado é a
imagem do amor e
da dor,
elementos que,
conjugados,
determinam e
promovem a
evolução dos
homens. É a
figura da
justiça aliada à
misericórdia.
O bom e o mau
ladrão
representam a
Humanidade
pecadora em sua
generalidade. O
primeiro reflete
com admirável
justeza os
pecadores
confessos, as
almas simples,
compenetradas de
suas faltas, que
suportam os
sofrimentos e as
angústias da
existência com
resignação e
humildade, sem
murmúrios nem
revoltas, porque
veem nessas
vicissitudes o
efeito das
causas criadas
por elas
próprias. Crendo
firmemente na
justiça, tiram
preciosos
ensinamentos das
provações cuja
aspereza é
amenizada pela
maneira com que
são recebidas.
O segundo
espelha com
notória
fidelidade os
pecadores
relapsos,
impenitentes e
orgulhosos, que
recebem a dor
revoltados,
murmurando e
blasfemando.
Descrendo do
amor e da
justiça,
julgam-se
vítimas de
inexorável
iniquidade, pois
se consideram
isentos de
culpa, vendo-se
através do
orgulho que lhes
oblitera o
entendimento e
ofusca a razão.
A Humanidade
compõe-se de
Dimas e de
Giestas, isto é,
de pecadores
humildes que,
reconhecendo-se
culpados, fazem
da cruz
instrumento de
redenção; e de
pecadores
orgulhosos que
murmuram e
blasfemam
continuamente,
contorcendo-se e
escabujando na
cruz que, para
eles, não passa
do que realmente
é: instrumento
de suplício.”
Em outro texto,
Vinicius, em “A
atração da
cruz”,
esclarece:
“A cruz, de
instrumento de
suplício,
tornar-se-ia ímã
de amor. Mas,
como se sabe, o
ímã só atrai
elementos que
com ele tenham
certa afinidade.
É indispensável
haver
correspondência
entre o corpo
que atrai e o
corpo que é
atraído. Da
mesma sorte, é
mister que o
nível moral do
homem
irreconhecido
suba, que os
sentimentos se
afinem e se
depurem no
cadinho da dor,
para que ele
compreenda a
natureza daquela
obra de redenção
consumada na
cruz do
Calvário, em seu
benefício.
Desde que comece
a reconhecê-la,
ele irá sentindo
necessidade de
manifestar seu
reconhecimento
por aquele que o
amou muito antes
de ser amado,
até que,
dobrando os
joelhos, se
prostrara, como
o leproso
samaritano, aos
pés do seu maior
benfeitor e
salvador – Jesus
Cristo,
rendendo-lhe
assim o
inalienável
preito de imensa
e imorredoura
gratidão.”
Ainda Vinicius,
no mesmo livro,
em “A Paixão do
Cristo”,
expressa que
Jesus é a
redenção humana
e a Humanidade
não deve a sua
salvação à cruz
em si, mas ao
amor do Cristo.
Não se deve
adorar o madeiro
e tampouco a
morte de Jesus
para a redenção,
mas sim a vida,
a palavra de
vida eterna e os
seus
ensinamentos e
exemplos.
A morte de Jesus
ocorreu pela
vontade humana,
enquanto que a
obra da salvação
do mundo obedece
aos desígnios de
Deus. São coisas
bem diferentes.
Jesus vive em
plena atividade
e continua
trabalhando e
agindo, sublime,
forte e poderoso
junto a todos os
corações e não
crucificado e
estagnado em
algum lugar do
espaço.
A sua mensagem
de amor permeia
a todos,
convidando-os a
seguir suas
pegadas no
caminho da
verdade e da
vida eterna em
direção ao Pai.
Por tudo isso,
se quiser seguir
Jesus, renuncie
a si mesmo, tome
a sua cruz e
siga-o.
Bibliografia:
BIBLIA SAGRADA.
SCHUTEL,
Cairbar. Parábolas
e Ensino de Jesus.
28ª Edição.
Matão/SP: Casa
Editora O
Clarim, 2016.
VINICIUS. Nas
pegadas do
mestre. 12ª
Edição.
Brasília/DF:
Federação
Espírita
Brasileira,
2014.