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por Juan Carlos Orozco

 

Cruz e cruzes


“Eles tomaram a Jesus; e ele próprio carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, e em hebraico Gólgota, onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado e Jesus no meio. Pilatos escreveu também um título e o mandou colocar no alto da cruz; nele estava escrito: Jesus Nazareno, rei dos judeus.”
 (João, 19:17-19.)


Cairbar Schutel, no livro Parábolas e Ensinos de Jesus, aborda esse tema usando o título “cruz e cruzes”, cuja passagem evangélica identifica a cruz do Mestre Jesus e outras duas dos que foram crucificados ao seu lado, em aparente semelhanças de sentidos para simbolizar dores, sofrimentos, suplícios e martírios, mas com distinção entre uma e as outras duas em contextos específicos de ensinamentos e exemplos para as nossas vidas. 

Cruz

Cairbar Schutel esclarece que a cruz no singular serviu de instrumento ao suplício do Mestre Jesus, como símbolo de torturas e desventuras, emblema da malícia humana, invento satânico do ódio e da vingança, que massacram corpos e espezinham almas.

Essa cruz traiçoeira que é mãe de todas as outras cruzes, falseando a justiça e a misericórdia de Deus, representando a maldição do atraso de mais de dois mil anos de progresso humano, esmagando aqueles que cultuam os valores cristãos.

O Cristo tomou e carregou a sua cruz sem queixa, deixando-se sacrificar, sem fazer qualquer reprovação aos que o haviam condenado e abandonado.

Ele testemunhou, mediante exemplo de resignação, obediência e submissão, como devemos agir diante da vontade de Deus.

Essa cruz, símbolo da fé cristã, representa o caminho a ser seguido em direção da evolução moral e espiritual.

Ao longo do tempo, essa cruz deixa de ter o sentido de sacrifício, dor e morte para assumir o símbolo de fé, confiança, coragem, consolo e esperança na ressurreição do Espírito imortal para os verdadeiros valores da vida com Deus no coração.

O Cristo, aceitando a cruz do calvário pelo amor a Deus e à Humanidade, revelou quão importante adquirir e praticar os atributos, os valores e as virtudes dos bens celestiais para incluir na bagagem evolutiva rumo à perfeição.

Jesus é modelo e guia de perfeição moral que devemos seguir como roteiro de vida pelos seus ensinamentos e exemplos deixados na Terra.


Cruzes

A respeito de cruzes, Jesus disse: “Se alguém quiser seguir meus passos, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, ensinando que devemos suportar as dificuldades da vida, testemunhando a própria fé, pois aquele que quiser salvar a vida e os seus bens materiais, rejeitando o Evangelho, perderá as vantagens do reino dos Céus.

O Mestre convida todos à renúncia de si mesmo, carregar a sua cruz e seguir seus passos com esforço, trabalho e sacrifício em direção ao Pai.

Carregar a cruz que construímos, representada pelas provas, expiações, dificuldades, desafios, dores e sofrimentos, que surgem como oportunidades de aprendizado, renovação, transformação e regeneração no processo evolutivo para a correção de rumo.

Existem situações que consideramos provas difíceis, cruzes pesadas demais pela dificuldade em aceitá-las, tais como: conflitos na família, preconceitos na sociedade, doenças prolongadas, injustiça aparente, ingratidão dos amigos, dificuldade financeira etc.

No entanto, Deus não coloca fardos pesados em ombros fracos, ou seja, não nos coloca dificuldades e sofrimentos maiores do que possamos suportar. O fardo é proporcional às nossas forças, assim como a recompensa será conforme a nossa resignação, coragem e mérito.

É preciso abandonar os vícios reinantes para se converter em discípulo do Senhor.

Vinicius, no livro Nas pegadas do Mestre, em “As três cruzes”, ensina:

“Naquele dia três cruzes foram levantadas no cimo do Calvário. A do meio sustinha Jesus, o Cristo, cujo crime, como é sabido, consistiu em ensinar ao povo a doutrina da igualdade de direitos perante a lei natural e divina, que mana de Deus. As laterais justiçavam, respectivamente, à direita e à esquerda, o bom e o mau ladrão.

Esses três supliciados são, ao mesmo tempo, três realidades históricas e três símbolos.

Jesus Crucificado é a imagem do amor e da dor, elementos que, conjugados, determinam e promovem a evolução dos homens. É a figura da justiça aliada à misericórdia.

O bom e o mau ladrão representam a Humanidade pecadora em sua generalidade. O primeiro reflete com admirável justeza os pecadores confessos, as almas simples, compenetradas de suas faltas, que suportam os sofrimentos e as angústias da existência com resignação e humildade, sem murmúrios nem revoltas, porque veem nessas vicissitudes o efeito das causas criadas por elas próprias. Crendo firmemente na justiça, tiram preciosos ensinamentos das provações cuja aspereza é amenizada pela maneira com que são recebidas.

O segundo espelha com notória fidelidade os pecadores relapsos, impenitentes e orgulhosos, que recebem a dor revoltados, murmurando e blasfemando. Descrendo do amor e da justiça, julgam-se vítimas de inexorável iniquidade, pois se consideram isentos de culpa, vendo-se através do orgulho que lhes oblitera o entendimento e ofusca a razão.

A Humanidade compõe-se de Dimas e de Giestas, isto é, de pecadores humildes que, reconhecendo-se culpados, fazem da cruz instrumento de redenção; e de pecadores orgulhosos que murmuram e blasfemam continuamente, contorcendo-se e escabujando na cruz que, para eles, não passa do que realmente é: instrumento de suplício.”

Em outro texto, Vinicius, em “A atração da cruz”, esclarece:

“A cruz, de instrumento de suplício, tornar-se-ia ímã de amor. Mas, como se sabe, o ímã só atrai elementos que com ele tenham certa afinidade. É indispensável haver correspondência entre o corpo que atrai e o corpo que é atraído. Da mesma sorte, é mister que o nível moral do homem irreconhecido suba, que os sentimentos se afinem e se depurem no cadinho da dor, para que ele compreenda a natureza daquela obra de redenção consumada na cruz do Calvário, em seu benefício.

Desde que comece a reconhecê-la, ele irá sentindo necessidade de manifestar seu reconhecimento por aquele que o amou muito antes de ser amado, até que, dobrando os joelhos, se prostrara, como o leproso samaritano, aos pés do seu maior benfeitor e salvador – Jesus Cristo, rendendo-lhe assim o inalienável preito de imensa e imorredoura gratidão.”

Ainda Vinicius, no mesmo livro, em “A Paixão do Cristo”, expressa que Jesus é a redenção humana e a Humanidade não deve a sua salvação à cruz em si, mas ao amor do Cristo.

Não se deve adorar o madeiro e tampouco a morte de Jesus para a redenção, mas sim a vida, a palavra de vida eterna e os seus ensinamentos e exemplos.

A morte de Jesus ocorreu pela vontade humana, enquanto que a obra da salvação do mundo obedece aos desígnios de Deus. São coisas bem diferentes.

Jesus vive em plena atividade e continua trabalhando e agindo, sublime, forte e poderoso junto a todos os corações e não crucificado e estagnado em algum lugar do espaço.

A sua mensagem de amor permeia a todos, convidando-os a seguir suas pegadas no caminho da verdade e da vida eterna em direção ao Pai.

Por tudo isso, se quiser seguir Jesus, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-o.

 

Bibliografia:

BIBLIA SAGRADA.

SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensino de Jesus. 28ª Edição. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2016.

VINICIUS. Nas pegadas do mestre. 12ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2014.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita